Desde setembro as nascentes da região, inclusive a nascente histórica do Rio São Francisco, estão em níveis elevados
Com as chuvas registradas nos últimos dias na região, a nascente histórica do Rio São Francisco transbordou na manhã desta terça-feira (4), no Parque Nacional da Serra da Canastra, em São Roque de Minas. Esse volume de água chama a atenção dos turistas e repete o mesmo fenômeno registrado pela última vez em 2018.
Segundo Carlos Henrique Bernardes, chefe do Parque Nacional da Serra da Canastra, desde setembro as nascentes da região, inclusive a nascente histórica do Rio São Francisco, estão em níveis elevados. Para ele, é natural neste período de intensas chuvas que o nível da água suba repentinamente.
"Tendo em vista as chuvas diárias e considerando que toda região é uma grande área de recarga, é natural que em uma época como essa, de grande pluviosidade, ocorram esses aumentos repentinos no volume de água. Obviamente, as nascentes estão com bastante água e quando chove muito em pouco tempo ocorre essa subida do volume de água, não quer dizer que esse volume visto no vídeo se manteve. Foi repentino e assim que terminou a chuva a água abaixou. Mas, felizmente, estamos com um bom volume de água nas nascentes da nossa região, inclusive na nascente histórica do São Francisco", disse o diretor do parque Carlos Henrique.
Em setembro do ano passado, Carlos Eduardo disse ser indescritível a felicidade de ver a nascente fluindo, mesmo com o cenário de seca na ocasião. "A gente fica feliz também de ver o nosso esforço. O trabalho de toda equipe nessa gestão que vem trazendo esse tipo de resultado. A nascente continua fluindo e alimentando as nossas esperanças de um futuro mais sustentável e de desenvolvimento econômico compatível e conciliado com a preservação ambiental, que é o que todos nós queremos”, afirmou na ocasião.
O vídeo acima, que circula nas redes sociais com a admiração dos turista, mostra a água passando por cima da primeira ponte sobre o ainda riacho
SECA DE 2014
Em 2014, a seca da nascente, que é a principal em toda extensão do Rio São Francisco, foi anunciada no dia 23 de setembro pelo então chefe do parque, Luiz Arthur Castanheira e noticiada em primeira mão pelo g1.
O São Francisco é o maior rio totalmente brasileiro e a bacia hidrográfica abrange 504 municípios de sete unidades da federação – Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Goiás e Distrito Federal. Ele nasce na Serra da Canastra, em Minas, e desemboca no Oceano Atlântico na divisa entre Alagoas e Sergipe.
"Essa nascente é a original, a primeira do rio e é daqui que corre para toda a extensão. Ela é um símbolo do rio. Imagina isso secar? A situação chegou a esse ponto não foi da noite para o dia. Foi de forma gradativa, mas desse nível nunca vi em toda a história”, afirmou em entrevista à reportagem no ano de 2014. Dois meses após a seca, a nascente voltou a brotar água e a recuperação foi registrada aos poucos.
O diretor do Parque Nacional da Serra da Canastra, Luiz Arthur Castanheira, disse em entrevista ao G1 na tarde desta terça-feira (23) que a nascente do Rio São Francisco, situada em São Roque de Minas, secou. Segundo Castanheira, essa nascente é a principal de toda a extensão do rio, que tem 2.700 km. O São Francisco é o maior rio totalmente brasileiro, e sua bacia hidrográfica abrange 504 municípios de sete unidades da federação – Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Goiás e Distrito Federal. Ele nasce na Serra da Canastra, em Minas, e desemboca no Oceano Atlântico na divisa entre Alagoas e Sergipe.
Principal nascente do rio está seca (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)
Segundo Castanheira, o motivo é a estiagem. "Essa nascente é a original, a primeira do rio e é daqui que corre para toda a extensão. Ela é um símbolo do rio. Imagina isso secar? A situação chegou a esse ponto não foi da noite para o dia. Foi de forma gradativa, mas desse nível nunca vi em toda a história”, afirmou.
O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, disse ao G1 que, embora a notícia ainda não tenha chegado oficialmente ao conhecimento do comitê, não causa surpresas em virtude de essa ser uma das estiagens mais graves desde que foi iniciado o acompanhamento histórico do rio. Para ele, a situação é preocupante, já reflete no nível das barragens e ameaça a biodiversidade do São Francisco.
“Isso não é comum, é preocupante. Não há dúvida de que algo em grande escala está mudando em nosso ecossistema. As principais barragens do Alto São Francisco, que são a de Três Marias e Sobradinho, estão sendo ameaçadas e se aproximam do limite de volume útil de água. Ou seja, a água dos principais afluentes está chegando ao nível zero, e a biodiversidade do rio está comprometida, além de a qualidade do rio estar se deteriorando", explicou Miranda.
O volume útil da Represa de Três Marias, que é a primeira barragem construída ao longo do rio, chegou a registrar 6% nesta semana. A de Sobradinho, 31%. “São níveis baixíssimos e que causam impactos catastróficos, como já vem ocorrendo no Baixo São Francisco. Com o nível baixo, o oceano está invadindo o rio e salinizando a água doce”, concluiu Miranda.
Ele ressaltou que, apesar de a nascente em São Roque de Minas, no Centro-Oeste do estado, não ser determinante para o volume de água da bacia, ela serve como um "termômetro", uma vez que o nível dos reservatórios da região é fundamental para o São Francisco.
Soluções
O presidente do Comitê da Bacia do rio diz que não se pode contar com o período mais úmido que deve vir
após outubro. Ele defende que, independente das mudanças climáticas, a questão é emergencial e, para ser amenizada, deve-se mexer no modelo da bacia enérgica do São Francisco, realizando um grande pacto das águas.
Anivaldo Miranda pontuou ainda que o poder público deve tratar a bacia hidrográfica com prioridade por ser uma das principais do Brasil e estar entre as mais vulneráveis. “O rio atravessa quase 1 milhão de quilômetros quadrados de região semiárida, atende a região nordeste e grande parte de Minas, onde há grande vulnerabilidade hídrica”, afirmou.
Diante dessa situação crítica, que na visão do especialista começou a se agravar em abril do ano passado, o Comitê da Bacia do São Francisco vai realizar audiências públicas com pessoas diretamente ligadas à bacia. O diálogo terá duração de 18 meses e será feito com o governo federal, municípios, usineiros, mineradores, pescadores, população nativa das comunidades ribeirinhas e comunidade civil. O objetivo das audiências será discutir sobre o futuro da bacia e apresentar a urgência de investir na recuperação hídrica do São Francisco.
Principal nascente que secou fica na cidade mineira de São Roque de Minas (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)
Incêndios
Para piorar a situação, a seca tem causado vários focos de incêndio no Parque Nacional da Serra da Canastra nos últimos meses – levando à utilização da pouca água do São Francisco para apagá-los. Em julho, o fogo devastou cerca de 40 mil hectares de vegetação nativa. “Combatemos as chamas usando água do parque, mas isso não foi o fator mais agravante. O que pesa mais é a seca, a falta de chuva. Corre pouquíssima água, e
essa realidade é triste”, disse o diretor do parque. O incêndio mais recente durou quatro dias e, pouco depois, outros focos foram registrados.
A estiagem deste ano ocorre em todo o país há vários meses, exceto na região Sul. Em Minas, diversas regiões enfrentam o problema da seca, entre elas cidades do Triângulo Mineiro, Zona da Mata e Centro-Oeste do estado, que já chegaram a decretar situação de emergência pelo desabastecimento e a multar moradores flagrados desperdiçando água.
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E as previsões são pouco animadoras. A primavera começou às 23h29 desta segunda-feira (22) e, de acordo com o meteorologista Marcelo Pinheiro, da empresa Climatempo, a tendência é que na estação a temperatura fique de 2ºC a 3ºC acima da média nas regiões Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. No Sul, a temperatura pode ficar até 3ºC acima da média.
Além disso, a primavera deve ser caracterizada por temperaturas um pouco acima do normal e chuvas dentro da média na maior parte do país – porém ainda insuficientes para resolver o problema de falta d’água nos reservatórios. Especificamente para a região afetada pela seca no Centro-Oeste de Minas Gerais, a previsão é de que o período de chuvas só comece em outubro.
*Colaboraram Palmira Ribeiro e Anna Lúcia Silva
Incêndio no parque no dia 8 desse mês controlado com apoio de aeronaves (Foto: Edvaldo Fausto/Divulgação)