O que estabeleceu o Tratado de Madri assinado por Espanha e Portugal em 1950?

Planisfério de Cantino (1502), mostrando o meridiano de Tordesilhas. Imagem: Biblioteca Estense (Itália) / Domínio público

O Tratado de Tordesilhas foi um documento assinado em junho de 1494, na vila espanhola de Tordesilhas. Os protagonistas foram Portugal e Espanha, que delimitaram, através de uma linha imaginária, as posses portuguesa e espanhola no território da América do Sul, chamado de “Novo Continente”.

Essa linha imaginária passava a 370 léguas de Cabo Verde. O território a oeste da linha ficaria com a Espanha e a leste, Portugal. De acordo com alguns mapas, o território português no Brasil começava próximo a onde atualmente se encontra Belém, no Pará, e descia em linha reta até perto de Laguna, em Santa Catarina. O objetivo era acabar com as disputas de território desde que o novo continente havia sido “descoberto”, dois anos antes.

Com o passar do tempo, os portugueses começaram a invadir o território espanhol. Dessa maneira, o Brasil começou a ter os contornos que conhecemos hoje. A Espanha, que precisava tomar conta de um domínio muito extenso, não conseguiu se defender das investidas portuguesas. Assim, em 1750, o Tratado de Tordesilhas foi oficialmente desconsiderado e atualizado para o Tratado de Madrid.

Por que Portugal e Espanha?

Esses dois países não dividem apenas a Península Ibérica*. No século XV, os dois países eram as maiores potências mundiais na expansão marítimo-comercial da Europa, que buscava aumentar seus lucros à procura de novas rotas comerciais.

Enquanto Portugal conquistou uma série de domínios ao longo da costa africana, os espanhóis finalizaram a formação de seu Estado nacional em 1492 e a nação apostou no projeto do navegador Cristóvão Colombo, que chegou ao continente americano achando que estava nas Índias.

Acordos anteriores

Depois da chegada de Cristóvão Colombo à América em 1492, a corte espanhola começou a se preocupar em proteger legalmente os territórios "recém-descobertos" e os portugueses sentiram seu império ameaçado. O rei espanhol Fernando II de Aragão pediu intercedência do papa Alexandre VI, que usou Cabo Verde como referência. Estabelecendo uma linha a 100 léguas da ilha, o papa demarcou todo o território a oeste dela como pertencente à Espanha. Na América do Sul, isso significa sua quase totalidade. O documento que criou essa regra se chamou Bula Inter Coetera.

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Com isso, Portugal não teria a posse de territórios na "recém-descoberta" América. O limite também dificultaria as navegações portuguesas no Oceano Atlântico, extremamente estratégico para seus negócios. Alguns historiadores dizem, também, que o rei D. João II sabia da existência de terras na parte sul do novo continente, mesmo sem ter desembarcado oficialmente no Brasil (o que só ocorreria em 1500).

Como potência militar e econômica, a coroa portuguesa ameaçou os espanhóis e pediu a revisão do acordo. Para evitar conflitos, as duas nações abriram negociações para estabelecer um novo tratado que deveria contemplar os interesses dos dois. Assim chegou-se ao acordo de Tordesilhas.

Erramos: Versão anterior deste texto informava que Açores é atualmente o Cabo Verde. O correto é que tanto Açores como Cabo Verde são arquipelágos, que hoje formam a chamada Macaronésia, ao lado dos também arquipélagos Canárias, Madeira e Selvagens. A informação foi corrigida. 

* Península é um espaço de terra que é quase uma ilha, porém ainda mantém um trecho de conexão com o continente. No caso da Península Ibérica, ela está banhada pelo mar mediterrâneo e pelo oceano atlântico, e unida ao continente pela fronteira da Espanha com a França.

O Tratado de Madri foi um acordo diplomático que Espanha e Portugal assinaram em 13 de janeiro de 1750. Esse tratado redefiniu as fronteiras entre as posses das duas nações na América e foi realizado para encerrar as disputas de terra travadas pelos colonos das duas nações. Por meio desse acordo, parte considerável das fronteiras do Brasil foi delimitada.

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Resumo sobre Tratado de Madri

  • O Tratado de Madri foi um acordo diplomático assinado por Portugal e Espanha em janeiro de 1750.

  • Seu objetivo foi redefinir as fronteiras entre as colônias das duas nações na América.

  • Os portugueses abriram mão da Colônia do Sacramento, mas asseguraram a posse de regiões na Amazônia, sul e oeste do Brasil.

  • As Guerras Guaraníticas foram uma das principais consequências desse tratado.

Como ocorreu o Tratado de Madri

O Tratado de Madri foi um acordo diplomático assinado por Portugal e Espanha em 13 de janeiro de 1750. Esse acordo se deu como forma de tentar resolver os problemas de fronteira que existiam entre Portugal e Espanha na América. Quando o acordo foi assinado, o rei de Portugal era João V e o rei da Espanha era Fernando VI.

O Tratado de Madri, apesar de ter tido uma validade muito curta (em 1761 foi realizado um novo acordo que resultou no Tratado de El Pardo), foi muito importante, pois consolidou alguns princípios que foram fundamentais para resolução de conflitos entre lusos e hispânicos. Por meio desse acerto, uma série de territórios que, em teoria, eram da Espanha, passaram a ser de Portugal.

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Disputas entre Portugal e Espanha pelas terras na América antes do Tratado de Madri

Os portugueses cederam a Colônia do Sacramento à Espanha por meio do Tratado de Madrid.[1]

As disputas por terras na América entre espanhóis e portugueses vinham sendo travadas desde o século XV. Elas se iniciaram tão logo Cristóvão Colombo chegou às Antilhas, em 1492. Nesse contexto, a solução se deu por meio do Tratado de Tordesilhas, de 7 de junho de 1494, que traçou um meridiano a 370 léguas de Cabo Verde.

Esse acordo determinou que as terras a oeste do meridiano pertenceriam a Espanha, enquanto as terras, a leste, seriam de Portugal. Acontece que na prática, o tratado nunca foi plenamente respeitado porque portugueses procuraram expandir suas posses até a foz do Prata, enquanto os espanhóis avançavam pelas Filipinas.

A situação se agravou quando as coroas lusa e hispânica foram unificadas com a União Ibérica. Isso aconteceu em 1580, quando Filipe II, rei da Espanha, foi coroado também como rei de Portugal. Essa situação fez com que as fronteiras praticamente deixassem de existir, e o fluxo de colonos pelas terras de Portugal e Espanha na América do Sul foi bastante comum.

Os colonos portugueses passaram a ocupar cada vez mais os territórios a oeste do meridiano e que, na teoria, eram terras espanholas. Essa expansão se deu por meio de bandeiras, que procuravam metais preciosos e índios para serem escravizados, pelo crescimento da pecuária, pela formação de missões jesuíticas, e pela criação de colônias portuguesas em regiões como a Amazônia e o Sul do Brasil, por exemplo.

Um dos locais de maior tensão no contexto da América do Sul foi a Colônia do Sacramento, fundada pelos portugueses na foz do Prata, em 1680. Essa colônia ficava de frente para Buenos Aires e foi parte do esforço português de controlar a bacia Platina. Entre 1680 e 1750, a Colônia do Sacramento mudou de mãos diversas vezes.

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Em 1713, algumas questões territoriais foram debatidas por meio do Tratado de Utrecht e foi decidido que as colônias portuguesas na Amazônia seriam mantidas, além de ter sido reafirmado que Colônia do Sacramento pertencia a Portugal. Enquanto isso, a presença portuguesa em Mato Grosso e Goiás era cada vez maior devido à mineração.

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O que foi definido pelo Tratado de Madri

Mapa do Brasil após o Tratado de Madri.[2]

As hostilidades entre Portugal e Espanha por questões de fronteira aumentaram consideravelmente no século XVIII, e então um grande esforço diplomático foi realizado por Portugal para acabar com essas disputas. A Espanha se tornou mais aberta a realizar um acordo diplomático com Portugal a partir do reinado de Fernando VI, iniciado em 1746.

Para as novas negociações, foram nomeados José Carbajal y Lancaster pelo lado hispânico e Alexandre Gusmão pelo lado luso. O diplomata nomeado pelos portugueses era nascido no Brasil, sendo essa nomeação considerada técnica, uma vez que ele tinha bom conhecimento das necessidades e das condições dos portugueses na bacia Platina.

A estratégia utilizada por Gusmão foi abrir mão de determinadas terras para garantir outras que tivessem maior potencial econômico para Portugal. Além disso, foi determinada a escolha da geografia das regiões para delimitação das fronteiras. Com isso, ficou convencionado que grandes rios ou grandes montanhas seriam determinantes para a marcação de fronteiras.

Por fim, foi estipulada a aplicação do princípio do uti possidetis, ou seja, foi determinado que as terras pertenceriam a quem as ocupava. Como muitas terras a oeste do meridiano de Tordesilhas eram ocupadas por portugueses, elas ficaram com Portugal. Na prática, esse tratado permitiu que Portugal conseguisse assegurar o controle de regiões na Amazônia, no Centro-Oeste brasileiro e na região Sul.

Em troca de consolidar seu domínio nesses locais, os portugueses abriram mão da Colônia do Sacramento, entregando-a aos espanhóis, interessados em reforçar o seu controle sobre a bacia do Prata. Além disso, Portugal reconhecia as Filipinas como terras pertencentes à Espanha.

Consequências do Tratado de Madri

Um dos pontos de maior desdobramento desse tratado se deu na região Sul do Brasil. Isso porque os Sete Povos das Missões (atual Rio Grande do Sul) foram confirmados como terra portuguesa, e isso obrigou jesuítas espanhóis e os índios que residiam nessas missões a abandonarem essas terras para que fossem ocupadas por Portugal.

A resistência dos índios e dos jesuítas deu início às Guerras Guaraníticas, quando tropas espanholas e portuguesas foram enviadas a Sete Povos das Missões para garantir que os jesuítas e os índios abandonassem o local. Milhares de índios morreram nesse conflito, que se estendeu de 1753 a 1756.

Por fim, o Tratado de Madri finalizou algumas disputas de fronteira (mas não todas elas), definiu grande parte das fronteiras do Brasil e reforçou a ocupação do interior do Brasil.

Créditos da imagem

[1] Denis Kabanov e Shutterstock

[2] Shadowxfox / Commons / CC BY-SA 4.0

O que estabeleceu o Tratado de Madri assinado por Espanha e Portugal em?

O Tratado de Madrid foi um acordo diplomático assinado por Portugal e Espanha em 13 de janeiro de 1750. Foi realizado para resolver as disputas territoriais que os dois países tinham desde o fim da União Ibérica (século XVI). Oficializou a expansão territorial do Brasil e incentivou sua povoação.

O que foi o Tratado de Madri e qual seu objetivo?

O Tratado de Madri foi um acordo diplomático assinado por Espanha e Portugal em 1750. Esse acordo foi resultado das disputas territoriais travadas pelos colonos das duas nações. Foi estabelecido o princípio do uti possidetis, que determinou que alguns territórios pertenceriam a quem os ocupava.

Quais foram os tratados estabelecidos entre Portugal e Espanha antes do Tratado de Madri?

O Tratado de Tordesilhas (1494) definiu as áreas de domínio do mundo extraeuropeu. O Tratado de Lisboa (1681) tratou da devolução da Colônia do Sacramento, ocupada pelos espanhóis no ano de sua fundação. O apoio da Inglaterra foi decisivo para Portugal conseguir essa vitória diplomática.

Qual foi a importância do Tratado de Madrid?

Graças ao Tratado de Madri (1750) foram os desbravamentos dos sertanistas recompensados pelo reconhecimento, por parte da Espanha, dos direitos dos brasileiros sobre os territórios povoados por eles e portugueses além do meridiano de Tordesilhas.

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