O que foi encontrado no sítio arqueológico São Raimundo Nonato?

Conheça o sítio arqueológico encontrado na Serra da Capivara, que possibilitou reentender o passado da ocupação do continente

O parque Nacional da Serra da Capivara abarca uma série de importantes sítios arqueológicos da pré-história brasileira (para ler sobre o assunto na Amazônia, clique aqui e aqui) que foram importantíssimos a partir das expedições francesas dos anos 1970 para compreendermos melhor a ocupação do território milhares de anos atrás e a formação dos "paleoíndios" brasileiros. O principal desses sítios encontra-se no Boqueirão da Pedra Furada, estrutura geológica enorme com entradas que formam tocas e um grande buraco visível que dá nome ao lugar.

O sítio encontra-se no atual estado do Piauí, em plena caatinga, mas ainda no Vale do São Francisco. Começou a ser escavado em 1978, durante a missão franco-brasileira iniciada em 1973 no município de São Raimundo Nonato liderada por Niède Guidon, e surpreende pela singular amplitude cronológica que abrange: encontrado há 19 metros da base do vale há uma estratigrafia de, no mínimo, 60.000 ou até 100.000 anos de ocupação humana, além de vestígios de animais como tigres-dente-de-sabre e preguiças gigante.

Durante os 10 anos de escavação inicial do sítio, foram encontrados diversos artefatos líticos (pontas de lança, machadinhos meia-lua, lâminas de pedra lascada, etc.), fogueiras estruturadas, cropólitos, pinturas rupestres e diversas marcas de ocupação humana.

Pintura símbolo do Parque Nacional (Fundação do Museu do Homem Americano)
Pinturas rupestres do Boqueirão (Wikimedia Commons)
Marcas na pedra (Reprodução)

As pinturas marcadas na pedra são úteis na datação do sítio. Como os blocos de parede caíram sobre o sítio, os cientistas conceberam a relação entre a datação da pigmentação e as camadas que estão relacionadas. Estima-se que a marcação mais antiga tem 23.000 anos e trata-se de duas manchas de pigmento vermelho.

Porém, em termos de ocupação humana, o dado de 60.000 anos ainda é a mais consensual. Os primeiros acampamentos pré-históricos provavelmente ocupavam a base da pedra, no encontro entre o chão rochoso e a parede de pedras. Com o passar dos séculos, a erosão e os ventos encobriam os vestígios de areia e pedra sobre os quais os próximos acampamentos se adensavam.

As primeiras camadas da chamada "fase cultural" já envolvem a presença de enterramentos, uso de fogões e prática de pinturas em parede. Datadas de antes de 17.000 anos atrás, esses registros possibilitam o estudo aprofundado das formações sociais e formas de ocupação do nordeste brasileiro e do próprio território brasileiro, chegando a trazer importantes contrapontos à hegemonia da teoria de ocupação americana a partir de Bering e a teoria de Clóvis (assim como foi a Luzia em Lagoa Santa - MG).

Estruturas contemporâneas para visitação das cavernas (FUMDHAM)

A área era amplamente ocupada mesmo em termos contemporâneos. Com o início da colonização portuguesa, diversas tribos que fugiam de diferentes regiões do Brasil buscaram abrigo na Serra da Capivara, aumentando muito a população da região. No fim do século XVII, quando a iniciativa colonial chega ao interior piauiense, há um extermínio generalizado das populações que lá ocupavam. Desde então, foram extintas as populações indígenas da região, somente ocupada por populações alóctones hoje em dia. 

Porém, sabemos que as datações extremamente antigas da ocupação indígena desse território vai botar em xeque a teoria de Clóvis (EUA), que sustentava a ideia de uma única cultura de lascamento generalizada e que marcava a ocupação do território americano do Norte para o Sul. Hoje, podemos dizer que essa teoria não se sustenta tão facilmente: no Brasil já temos registros distintos à cultura Clóvis e muito anteriores às especulações existentes, que fariam sentido somente em consonância com os estadunidenses.

Pontas de lança do tipo Clóvis (Wikimedia Commons)
Indústria lítica do Pleistoceno na Serra da Capivara (Reprodução)

São Raimundo Nonato fica no sul do Piauí, a 520 quilômetros da capital Teresina. O município é a porta de entrada do Parque Nacional da Serra da Capivara, onde os pesquisadores descobriram uma das maiores concentrações de sítios arqueológicos do mundo. São 1.300 sítios arqueológicos catalogados. são os vestígios mais antigos do povoamento das Américas.

“Aqui nós trabalhamos desde 1973. Foi muita pesquisa e nós temos as provas da presença do homem aqui há cem mil anos atrás", Niede Guidon, arqueóloga.

Ainda fora do parque, logo na chegada a Raimundo Nonato, fica o Museu do Homem Americano, que guarda os objetos encontrados na região ao longo de 38 anos de pesquisa. A entrada custa três reais.

Nele, o turista pode se colocar no lugar do arqueólogo, participando das escavações na Serra da Capivara. Com o auxílio de um pincel, ele pode tocar na tela e entre as imagens vão surgindo objetos que são encontrados no parque. “É muito interessante, porque a gente se sente integrado com o ambiente. Como se você estivesse na serra. Você se sente escavando", diz Rafaela Fonseca, estudante.

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Os esqueletos humanos e as urnas funerárias descobertas pelos arqueólogos na região, revelam o ritual do enterro entre os povos primitivos. "A gente tem urnas funerárias com esqueletos de índio, inclusive uma bastante interessante que é uma criança que foi enterrada com arco e com a flecha", diz Gizele felice - arqueóloga

O parque da Serra da Canastra tem 130 mil metros quadrados e abrange onze municípios. Não é póssível seguir em frente sem guia. A trilha é cortada por canyons gigantescos e morros que parecem de mármore cinza e negro. O turista paga dez reais na entrada. O primeiro cenário é a pedra furada, um buraco bem no meio da rocha. "É impressionante ver que isso foi feito em milhões de anos, pela força da natureza”, diz Mariana Nogueira, estudante.

Em mais de 500 sítios há pinturas rupestres. "Normalmente olham para um pré-histórico como um ser que não sabe fazer nada, sem ser lascar pedras. E quando nós vemos essas obras percebemos que são artistas", comenta Janine Sousa, pesquisadora.

É quase impossível conhecer todos os sítios de uma vez. Quem quiser esticar o passeio vai encontrar pequenas pousadas no entorno do parque, com diárias que custam em média setenta reais. A comida é típica do Nordeste: macaxeira, carne de sol, biju de tapioca acompanhada de salada tropical.

Durante a noite a aventura continua. São mais de cem refletores que garantem a iluminação do parque e a visitação do público. "É uma viagem de descobertas, de conhecimento", diz André Pessoa, fotógrafo.
 

O que foi encontrado no sítio arqueológico de São Raimundo Nonato?

Lá, descobriu com a sua equipe 1.350 sítios arqueológicos com cerca de 750 pinturas rupestres, a maior concentração do continente americano, e começou uma disputa científica que procura demonstrar que a presença do homem na região é muito mais antiga do que se imaginava anteriormente.

Foram encontradas pinturas rupestres na cidade de São Raimundo Nonato?

No Sudoeste do Estado do Piauí, no município de São Raimundo Nonato, há outro importante sítio arqueológico onde, desde 1970, diversos pesquisadores vêm trabalhando. Arte rupestre na Serra da Capivara, Piauí. Em 1978, uma missão franco-brasileira coletou grande quantidade de dados e vestígios arqueológicos.

O que foi descoberto no sítio arqueológico do Boqueirão da Pedra Furada em São Raimundo Nonato?

Durante os 10 anos de escavação inicial do sítio, foram encontrados diversos artefatos líticos (pontas de lança, machadinhos meia-lua, lâminas de pedra lascada, etc.), fogueiras estruturadas, cropólitos, pinturas rupestres e diversas marcas de ocupação humana.

O que foi encontrado no Parque Nacional da Serra da Capivara?

A Serra da Capivara representa um dos mais importantes patrimônios culturais pré-históricos. Na UC, encontra-se uma grande concentração de sítios arqueológicos com pinturas rupestres. Os vestígios humanos remontam a 60 mil anos. Estão cadastrados 912 sítios, dos quais 657 apresentam pinturas rupestres.

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