O que ocorreu com a taxa de fecundidade no Brasil nas últimas décadas?

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A taxa de fecundidade representa uma estimativa do número de filhos que uma mulher apresenta ao longo da vida durante sua fase fértil ou período reprodutivo.

Ela é calculada entre a razão entre o número de nascimento e o número de mulheres em idade fértil.

Taxa de Fecundidade no Brasil

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) a taxa de fertilidade de uma mulher é representada pelo período reprodutivo entre os 15 a 49 anos.

No Brasil, essa taxa tem caído nas últimas décadas e continuará a diminuir até o ano de 2040. Note que a taxa de fecundidade total em 2000 no país era de 2,39, já em 2015, ela diminuiu para 1,72.

Isso ocorreu porque diversos programas de instrução, sobretudo para adolescentes (educação sexual), bem como o conhecimento e distribuição dos métodos anticoncepcionais tem sido uma realidade.

Além disso, a mulher moderna tem mudado sua mentalidade em relação à criação de filhos e até mesmo do casamento.

Com o crescimento da inserção da mulher no mercado de trabalho e da urbanização, muitas delas atualmente preferem não ter ou ter no máximo dois filhos.

Segundo pesquisas do IBGE (2012), as maiores taxas de fecundidade atingem mais as mulheres negras e pardas sem instrução. Já as mulheres brancas que apresentam maior grau de instrução e renda, têm menos filhos.

Além disso, muitas mulheres estão gerando crianças em idade mais avançada (depois dos 20 anos).

Além do aumento da urbanização, da inserção da mulher no mercado de trabalho e do aumento de uso dos métodos contraceptivos, a diminuição da taxa de fecundidade pode estar relacionada a outros fatores, por exemplo, redução das taxas de mortalidade infantil, planejamento familiar, melhoria e expansão da educação.

Esse panorama determina os resultados de estudos do IBGE sobre a diminuição da taxa de fecundidade que ocorrerá nas próximas décadas no país.

Esse dado pode gerar um aumento proporcional de idosos e diminuição de crianças. Isso pode acarretar um problema relacionado com a diminuição e falta de mão de obra no país.

Importante destacar que as cinco regiões do Brasil apresentam diferenças, cujas maiores taxas de fecundidade do país estão concentradas nas regiões norte e nordeste, seguidas do centro-oeste, sudeste e sul.

Taxa de Fertilidade no Mundo

Vale lembrar que a diminuição da taxa de fecundidade na contemporaneidade tem sido uma tendência mundial.

Muitos lugares do mundo, por exemplo, Portugal, tem sido incentivado por programas do governo para aumentar o número de filhos, uma vez que isso indica uma diminuição demográfica, gerando um país com número grande de velhos e pequeno de jovens. Em 2010, a taxa de fecundidade no país chegou a 1,32 filhos por mulher.

No geral, a Europa apresenta uma taxa de fertilidade abaixo da média com 1,5. A África é um dos continentes que apresenta as maiores taxas de fertilidade com uma média de 4,5.

Na Ásia e na Oceania a média é de aproximadamente 2,5. Na tabela abaixo, podemos ver a taxa de fertilidade nos países da América do Sul, no ano 2000.

Muitos estudiosos do tema apontam que o aumento da entrada de imigrantes nesses países pode facilitar e ser uma grande solução para aumentar a taxa de fecundidade no futuro.

Esse fator não comprometerá a população economicamente ativa e o aumento do número de idosos.

Taxa de reposição populacional

A taxa de reposição populacional, como o próprio nome indica, corresponde a reposição da população e está intimamente relacionada com a taxa de fecundidade.

Segundo dados estatísticos, a média de fecundidade deve ser de 2,1, uma vez que um casal é formado por duas pessoas, o que equilibra o número de habitantes no mundo.

Em outras palavras, para assegurar a reposição populacional as taxas de fecundidade devem ser superiores a 2,1.

Isso significa que no Brasil, a média da taxa de fecundidade está inferior ao nível de reposição populacional, com 1,32 em 2015.

Complemente sua pesquisa:

  • Taxa de Natalidade e Mortalidade
  • Crescimento populacional
  • Crescimento Vegetativo
  • Expectativa de Vida

A transição da fecundidade no Brasil e no mundo

[EcoDebate] A história da humanidade é a história da luta pela sobrevivência. Desde o surgimento do Homo Sapiens até o século XIX as taxas de mortalidade sempre foram altas, forçando as famílias a terem também altas taxas de fecundidade para garantir a sobrevivência da espécie.

Contudo, as taxas de mortalidade começaram a cair com o avanço da produção de bens e serviços, a melhoria do padrão de vida, os avanços na medicina e a ampliação da infraestrutura de saneamento básico. A redução da mortalidade infantil aumento o número de filhos sobreviventes e as famílias passaram a atingir o número ideal de filhos mais cedo. Paralelamente, o processo de urbanização e industrialização possibilitou um avanço da educação, da renda e da maior autonomia feminina. Diversas transformações socioeconômicas contribuíram para a reversão do fluxo intergeracional de riqueza, fazendo com que o fluxo que ia dos filhos para os pais se invertesse para ir dos pais para os filhos, como mostrou Caldwell (1982).

A queda das taxas de mortalidade infantil e a mudança na relação custo/benefício dos filhos (provocada pela reversão do fluxo intergeracional de riqueza) são os principais impulsionadores da transição da fecundidade. A redução do número médio de filhos nas famílias já vinha acontecendo nos países europeus, na América do Norte e na Austrália e Nova Zelândia desde o início do século XX. Mas, na média mundial, a Taxa de Fecundidade Total (TFT) era alta e estava em torno de 5 filhos por mulher na década de 1950. No caso brasileiro, a TFT estava acima de 6 filhos por mulher na década de 1950, conforme mostra o gráfico abaixo, que apresenta os dados das novas projeções da Divisão de População da ONU (Revisão 2019).

Taxa de Fecundidade Total (TFT) para o Brasil e o mundo: 1950-2100

UN/Pop Division: World Population Prospects 2019 //population.un.org/wpp2019/

A transição da fecundidade (passagem de altas para baixas taxas de fecundidade) teve início na segunda metade da década de 1960, tanto no Brasil como na média mundial. Até o quinquênio 1980-85, o Brasil com TFT de 3,8 filhos por mulher tinha uma fecundidade mais alta do que a média mundial com 3,6 filhos por mulher. A partir do quinquênio 1985-90, o Brasil (com TFT de 3,1 filhos) passou a ter taxas de fecundidade abaixo da média mundial (TFT de 3,4 filhos). O Brasil passou a ter uma TFT abaixo da taxa de reposição (2,1 filhos por mulher é o número que permitir estabilizar a população no longo prazo) no quinquênio 2005-10, com uma taxa de 1,9 filhos por mulher. Na projeção média da ONU, a taxa de fecundidade brasileira deve cair até o mínimo de 1,6 filho por mulher na década de 2040 e depois subir ligeiramente para 1,7 filho por mulher no final do século. Por conta das baixas taxas de fecundidade a população brasileira vai alcançar 229 milhões de habitantes em 2045 e depois deve cair para 181 milhões de habitantes em 2100.

Já a TFT mundial, que está em 2,47 filhos por mulher no quinquênio 2015-20, deve continuar caindo lentamente e só deve alcançar o nível de reposição no final do atual século. Em consequência a população mundial que está em 7,7 bilhões de habitantes em 2019 vai continuar crescendo e deve alcançar a cifra de 10,9 bilhões de habitantes em 2100.

O gráfico abaixo mostra as taxas específicas (por idade) da fecundidade mundial. Nota-se que a fecundidade cai em todos os grupos etários, mas entre 1950 e 2020 as quedas são maiores nos grupos etários acima de 30 anos. Contudo, no restante do século, as taxas vão cair mais nas idades mais jovens e vai haver um processo de “envelhecimento” da estrutura das taxas de fecundidade específica. Para o quinquênio 2095-00 estima-se que a cúspide da distribuição será no grupo 30-34 anos.

Taxa de fecundidade específica para o mundo: quinquênios selecionados 1950-2100

UN/Pop Division: World Population Prospects 2019 //population.un.org/wpp2019/

No caso Brasileiro a queda foi maior do que na média mundial e inicialmente a fecundidade também caiu nos grupos etários superiores. Mesmo com uma queda mais rápida da TFT brasileira, a taxa de fecundidade entre as adolescentes (15-19 anos) no Brasil é mais alta do que na média mundial. Isto quer dizer que o Brasil tem uma estrutura das taxas específicas de fecundidade mais rejuvenescida. Para o quinquênio 2015-20 as taxas específicas de fecundidade são muito próximas para os quatro grupos etários. Para o restante do século, a Divisão de População da ONU estima que haverá uma queda expressiva da gravidez na adolescências e um aumento do grupo 30-34 anos. Isto quer dizer que o Brasil terá uma estrutura de fecundidade mais envelhecida.

Taxa de fecundidade específica para o Brasil: quinquênios selecionados 1950-2100

UN/Pop Division: World Population Prospects 2019 //population.un.org/wpp2019/

A estrutura diferenciada das taxas específicas de fecundidade se reflete no número de nascimentos anuais. A tabela abaixo mostra o número de nascimentos anuais no Brasil em dois quinquênios selecionados. Nota-se que os números totais de nascimentos são próximos, com 2,9 milhões de nascimentos tanto em 1955-60, quanto em 2015-20. Nos grupos etários entre 20 e 39 anos, os números anuais de nascimentos também são próximos. O que difere bastante é o número de nascimentos entre as adolescentes de 15-19 anos, que no quinquênio 1955-60 era de 299 mil e passou para 486 mil em 2015-20. Nos dois últimos grupos etários a diferença se inverte, pois nasciam muito mais crianças entre as mulheres acima de 40 anos no quinquênio 1955-60 do que no quinquênio 2015-20. Porém, no próximos anos o grupo etário 30-34 anos apresentará o maior número de nascimentos no quinquênio 2030-35. Ou seja, houve um processo de rejuvenescimento da fecundidade no Brasil, mas nos próximos anos deverá ocorrer o contrário, ou seja, um envelhecimento da estrutura da fecundidade e uma tendência de adiamento dos filhos por parte das mulheres.

Número de nascimentos anuais no Brasil (em mil), dois quinquênios selecionados

Quinquênios

Total

15-19

20-24

25-29

30-34

35-39

40-44

45-49

1955-1960

2.878

299

741

749

547

335

153

54

2015-2020

2.934

486

740

707

595

323

78

6

UN/Pop Division: World Population Prospects 2019 //population.un.org/wpp2019/

O número de nascimentos anuais no mundo que estava em torno de 100 milhões na década de 1950, subiu para 140 milhões no quinquênio 1985-90, caiu ligeiramente em seguida e voltou para a casa dos 140 milhões no quinquênio 2010-15. Este número vai ficar mais ou menos constante até a década de 2050 e deve chegar a 126 milhões no final do século.

Número anual de nascimentos no mundo (em milhões): 1950-2100

UN/Pop Division: World Population Prospects 2019 //population.un.org/wpp2019/

O número de nascimentos anuais no Brasil era de 2,5 milhões em 1950 e subiu até o pico de 4 milhões no quinquênio 1980-85. A partir daí o número de nascimento no Brasil apresenta uma queda acentuada. A partir do quinquênio 2010-15, o número de nascimentos ficou abaixo de 3 milhões, deve chegar a 2,5 milhões em 2025-30 (o mesmo nível de meados do século passado). A partir de 2055-60 o número de nascimentos anuais no Brasil deve ficar abaixo de 2 milhões e ficar em 1,5 milhão no final do século.

Número anual de nascimentos no Brasil (em milhões): 1950-2100

UN/Pop Division: World Population Prospects 2019 //population.un.org/wpp2019/

Nota-se que a transição da fecundidade no Brasil ocorre de maneira muito mais rápida do que a média mundial. Entre os fatores que explicam esta rápida queda da fecundidade estão a urbanização, os avanços na educação, o aumento da renda e do padrão de consumo no longo prazo, a entrada da mulher no mercado de trabalho e a reversão do fluxo intergeracional de riqueza nas famílias.

O fato é que o Brasil já tem uma dinâmica demográfica mais próxima dos países desenvolvidos do que dos países de renda média e baixa. Como o país está avançado na transição demográfica, vai passar também por uma transição na estrutura etária e terá um processo acelerado de envelhecimento populacional. O Brasil do século XXI será totalmente diferente, em termos demográficos, do que nos 500 anos anteriores.

José Eustáquio Diniz Alves
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: //lattes.cnpq.br/2003298427606382

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/06/2019

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O que vem ocorrendo com a taxa de fecundidade no Brasil nas últimas décadas?

Em 1960, a taxa de fecundidade no Brasil foi de 6,3 filhos por mulher. Desde então, a redução ocorreu de forma gradativa: 1970 (5,8), 1980 (4,4), 1991 (2,9), 2000 (2,3) e, em 2006, com 2 filhos por mulher, registrou média abaixo da necessária para a reposição populacional.

O que ocorreu com a taxa de fecundidade ao longo dos anos no Brasil por que isso ocorreu?

O Brasil passou por uma acelerada queda de fecundidade nas últimas décadas, chegando a uma média atual de 1,7 filhos por mulher, mas a taxa declinou de forma considerável entre as mulheres mais vulneráveis, grupo que compreende as mulheres mais pobres e as mulheres negras.

O que está acontecendo com a taxa de fecundidade brasileira?

Segundo o IBGE, a queda da fecundidade ocorreu em todas as faixas etárias. Houve, no entanto, uma mudança na tendência de concentração da fecundidade entre jovens de 15 a 24 anos, observada nos censos de 1991 e 2000. As mulheres, de acordo com dados de 2010, estão tendo filhos com idades um pouco mais avançadas.

O que aconteceu com a taxa de fecundidade do Brasil entre 1960 e 2010?

A taxa caiu de 6,3 filhos por mulher em 1960 para 5,8 em 1970, 4,4 em 1980 e 2,9 em 1990. De acordo com o organismo, a taxa de 2010 está abaixo do nível que garante a substituição natural das gerações.

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