Quais as estratégias devem ser utilizadas no ambiente escolar com os alunos que apresentam deficiência visual cegueira?

"(...) amo a vida justamente porque, com todos os meus limites, realizei meus maiores sonhos" (Marco Antonio de Queiroz)


Nas aulas

  • A apresentação inicial do professor ao aluno é importante, visto que o aluno cego identificará seu professor pelo reconhecimento de sua voz.
  • Conhecimento da história deste aprendiz (quando perdeu a visão, estratégias de estudo já construídas, instituição que o acompanha, se possui memória visual, se necessita de material ampliado, se trabalha com Braile ou com softwares, etc.);
  • O conteúdo programático deve ser disponibilizado de forma digital ou em Braile, ou em forma ampliada para alunos com baixa visão;
  • Os textos e demais leituras que serão solicitados aos alunos devem ser convertidos a formatos acessíveis (Braile, áudio, texto eletrônico - email, doc. em disquete, CD, forma ampliada, etc.).
  • Quando forem trabalhadas imagens, explorar a fala narrativa e descritiva;
  • Quando forem trabalhados equipamentos, explorar a fala descritiva e o tato.
  • Caso o aluno deseje gravar (em áudio ou vídeo) a aula, ele deve obter autorização do professor em questão – o professor tem direito autoral sobre a sua aula.
  • A Bibliografia Básica da disciplina deve ser encaminhada (com antecedência) à Biblioteca Central para a produção do acervo digitalizado conforme a necessidade do aluno.

Indicamos algumas instituições, em São Paulo, que podem assessorar nos aspectos pedagógicos pertinentes à educação da pessoa com deficiência visual:

  • Fundação Dorina Nowil para Cegos (www.fundacaodorina.org.br, 5087-0978); Laramara (www.laramara.org.br, 3660-6412); USP (www.braillevirtual.fe.usp.br/pt/index.html)


Na avaliação

  • Importa considerar a flexibilização da metodologia de avaliação conforme histórico do/a aluno/a (sabe Braile, utiliza softwares - DOSVOX, JAWS ou Virtual Vision -, utiliza reglete ou máquina Braile, necessita de material ampliado, etc.);
  • Devem ser exploradas as potencialidades da pessoa – foco na habilidade, não na deficiência, sem minimizar o grau de exigência;
  • O aluno ou professor, ao optar por uma forma adaptada de prova ou por algum apoio pedagógico, deve solicitar estes recursos (com antecedência mínima de 10 dias) junto à coordenação do curso.


Panorama de Recursos na Metodista
Laboratórios de Informática:

  • Dosvox instalado em duas máquinas de todos os laboratórios;
  • Virtual Vision instalado no L343 e no Laboratório Docente – Delta.


Biblioteca Central:

  • Biblioteca Digital para pessoas cegas – máquina disponível com o VIRTUAL VISION; produção de textos digitalizados.
  • Scanner Bookreader no Campus Rudge Ramos e Planalto

Obs. Textos dos docentes podem ser disponibilizados e serão protegidos, no sentido de acesso apenas por pessoas cegas.

Luzia Guacira dos Santos Silva
 


Aluno cego explora com as m�os a cara de um colega

INTRODU��O

Inclus�o � uma tarefa complexa, que exige do educador m�ltiplos saberes da pr�tica educativa, principalmente porque pressup�e o respeito para com as diferen�as existentes entre os educandos, independentemente de sua capacidade ou dificuldade, de sua origem socioecon�mica ou cultural, em escolas e classes que se prop�em a atender �s necessidades individuais e coletivas dos mesmos.

Dessa reflex�o inicial e a partir de infer�ncias a respeito da inclus�o, em classes regulares, de alunos sem o sentido da vis�o � facto relativamente recente e sobre o qual existe um desconhecimento quase que generalizado por parte dos educadores buscamos, neste texto, fazer um recorte da pesquisa empreendida sobre as estrat�gias de ensino utilizadas com um aluno cego, a fim de expor e analisar qualitativamente quais s�o, e como est�o sendo utilizadas essas estrat�gias para facilitar a aprendizagem desse aluno, em classe regular. Em nossa pesquisa enveredamos em um universo escolar da rede particular de ensino o Instituto Educacional Casa Escola � IECE, situada em Natal/RN, que, ao longo de uma d�cada, vem primando por uma pr�tica pedag�gica onde todos possam aprender num mesmo espa�o, interagindo com seus pares. A investiga��o foi empreendida com base em uma pesquisa bibliogr�fica e num estudo de caso, utilizando como recurso metodol�gico a pesquisa participante.

Sabemos que a aprendizagem ocorre quando uma s�rie de condi��es � satisfeita, tais como:

  • quando o aluno � capaz de relacionar, de forma n�o arbitr�ria e substancial, a nova informa��o com os conhecimentos e experi�ncias pr�vias e familiares que possui em sua estrutura de conhecimentos;

  • quando tem motiva��o e disposi��o de aprender significativamente;

  • quando os materiais e conte�dos de aprendizagem t�m significado potencial l�gico;

  • quando existem materiais e instrumentos apropriados,

  • assim como uma adequada organiza��o de tipos espec�ficos de atividades e de estrat�gias de ensino oferecidas.

Baseados em Sanchez (2001) e Haris & Hodges (1999), entendemos como estrat�gias de ensino os procedimentos que incluem opera��es ou atividades que perseguem um prop�sito determinado. S�o, portanto, mais que habilidades de estudo.

A execu��o das estrat�gias de ensino ocorre associada com outros tipos de recursos e processos cognitivos de que disp�e qualquer aprendizagem, tal como nos exemplos citados por Harris & Hodges (1999): processos cognitivos b�sicos; bases de conhecimento; conhecimentos estrat�gicos e os conhecimentos metacognitivos.

Podendo agrupar-se, segundo sua efetividade para determinados materiais de aprendizagem, em estrat�gias de: repasse de informa��es; elabora��o; organiza��o de informa��es e estrat�gias de recupera��o.

No processo educacional de alunos cegos, a utiliza��o de estrat�gias de ensino deve, tamb�m, considerar:

o grau de aceita��o da condi��o de ser cego; as implica��es decorrentes da cegueira; as caracter�sticas e o funcionamento pr�prios de cada sentido � tato, olfato, audi��o, paladar; al�m de instrumentos e recursos did�ticos dispon�veis na atualidade, tais como: a leitura atrav�s do Sistema Braille, o Sorob� para os c�lculos matem�ticos, a audi��o de livros falados, os materiais did�ticos adaptados, a tecnologia, os objetos concretos e reais que o rodeiam, al�m das proposi��es did�ticas e da forma��o do professor que deve ser conceitual, reflexiva e pr�tica.

Vale ressaltar que as crian�as cegas s�o como quaisquer outras. Este � o postulado principal a ser compreendido por todos os educadores que trabalhem com deficientes visuais.

Elas t�m, basicamente, as mesmas necessidades emocionais, intelectuais e f�sicas relativas a todo ser humano. Portanto, cabe ao professor perceber essa similitude, sem esquecer da individualidade de cada uma e, como afirma Amaral (1999, p. 83): ter confian�a na sua experi�ncia e conhecimento (como ser humano e profissional), "al�m de" estabelecer n�veis real�sticos de expectativas para a crian�a, quer na escola, quer no lar (tanto no que se refere �s aquisi��es de conhecimentos e habilidades, quanto � disciplina e conduta). A crian�a responde bem quando sabe que � esperado dela e quando o esperado est� de acordo com suas habilidades.

Logo, � importante que o aluno cego seja orientado a seguir as mesmas regras da sala de aula e as normas de disciplina, exatamente como qualquer outro aluno deve seguir. Deve ser estimulado a participar de todas as atividades do dia-a-dia escolar, sendo-lhe apresentadas alternativas que o tornem capaz de realiz�-las com o mesmo n�vel de dificuldade conferido aos demais alunos.

O professor pode, ainda, solicitar orienta��o da parte de um colega especialista das equipes de educa��o especial existentes nas Secretarias de Educa��o dos estados ou munic�pios, ou de profissionais de institui��es especializadas, que est�o aptos a ajudar o professor a adaptar os materiais para o aluno, a fazer transcri��o do sistema comum de escrita para o Braille e vice-versa, bem como para sugerir modifica��es necess�rias e, at� mesmo, por quest�o de seguran�a, no desenvolvimento das atividades (por exemplo, em atividades pr�ticas, dentro e fora da classe).

Um outro fator a ser salientado � que n�o cabe, nem ao professor de classe comum, nem ao professor especializado, assumir o papel de terapeuta. Ele deve ser competente naquilo que faz, reconhecer seus limites e procurar super�-los a partir da pesquisa em obras afins, consulta a profissionais especializados em outras �reas, com vistas a utilizar m�ltiplas estrat�gias de ensino e avalia��o alternativa para atender �s necessidades de seus alunos. � importante, tamb�m, acreditar na capacidade que eles t�m de aprender e de desenvolver suas potencialidades, no conv�vio com os alunos sem limita��o visual.

� importante que haja uma a��o provocativa do professor, desafiando a todos os educandos a refletirem sobre as situa��es vividas, a formular e reformular hip�teses, encaminhando-se a um saber enriquecido.

Ao planejar atividades de ensino e aprendizagem para uma turma/classe com alunos com defici�ncia visual inclu�dos, necess�rio se faz considerar os est�mulos a serem priorizados na apresenta��o das mesmas. O campo de atividades � vast�ssimo e variado, pois s�o semelhantes �s aplicadas aos alunos videntes. Em quase todas as atividades h� a possibilidade de adapta��o, considerando a necessidade da disciplina ministrada, a disponibilidade de espa�o f�sico e o material existente.
 

1.1. Estrat�gias, atividades e instrumentos favor�veis ao processo de organiza��o dos conhecimentos, tamb�m, por alunos cegos.

Em v�rios documentos oficiais existem recomenda��es quanto ao conte�do curricular a ser trabalhado na classe, que deve ser o mesmo, tanto para os alunos com vis�o em�trope (normal) como para os alunos cegos. Para estes �ltimos, prop�e-se �nfase especial na aprendizagem concreta, na instru��o unificada (associa��o dos demais sentidos) e na autoatividade.

As explica��es de aula podem ser dadas da mesma forma, no entanto, o professor deve primar para que sejam descritivas e concretas e, sempre que poss�vel, possibilitar que o aluno cego manipule objetos e materiais que sejam os mais pr�ximos poss�veis do real e que facilitem a compreens�o e, conseq�entemente, sua participa��o nas atividades.

Para tanto, uma vari�vel muito importante na metodologia � sua adequa��o aos diferentes estilos de aprendizagem dos alunos e, em particular, dos alunos cegos, para propiciar a aquisi��o de estrat�gias de aprendizagem. Conforme Mart�n (2003, p. 291), sempre que poss�vel, o professor deve tentar integrar os seguintes pontos ao estilo particular de cada aluno:

  • Formas de codificar e decodificar a informa��o (dimens�o cognitiva);

  • Motiva��es, interesses, responsabilidades, senso de risco, aten��o, intera��o com os outros membros da comunidade educativa, etc. (dimens�o afetiva);

  • Campo da percep��o sensorial (dimens�o f�sica) e as rea��es entre os distintos est�mulos exteriores.

Quanto �s atividades a serem desenvolvidas com os alunos, os autores ressaltam que representam um elemento curricular caracter�stico da qualidade de aprendizagem do aluno e da maneira como o professor ensina, e que devem ser estruturadas observando os seguintes crit�rios:

  • Que sejam coerentes com as exig�ncias da organiza��o do conte�do;

  • Que correspondam ao n�vel de assimila��o e estrutura��o das informa��es do aluno;

  • Que se adaptem aos canais de recep��o de informa��o preferenciais: auditivo, visual, t�til, etc;

  • Que sejam adequadas ao seu estilo de aprendizagem;

  • Que estejam ligadas �s expectativas, interesses e motiva��es do aluno;

  • Que promovam novos processos do conhecimento. (MART�N et al, 2003, p. 291)

Os crit�rios apontados nos fazem refletir sobre a unidade entre o ensino e a aprendizagem que, segundo Lib�neo (1994), tende a ocorrer quando, de um lado, o professor tem clareza quanto a determinados objetivos e apresenta o conhecimento sistematizado atrav�s de m�todos apropriados e, de outro, quando o aluno � capaz de compreend�-los e aplic�-los com consci�ncia e autonomia.

Para Lib�neo (op.cit. p. 84), o professor prop�e objetivos, conte�dos, tendo em conta as caracter�sticas dos alunos e da sua pr�tica de vida. Os alunos por sua vez, disp�em em seu organismo f�sico-psicol�gico de meios internos de assimila��o ativa (...): percep��o, motiva��o, compreens�o, mem�ria, aten��o, atitudes e conhecimentos dispon�veis

Estabelecendo uma rela��o com os postulados vygotskyanos sobre o ensino e a aprendizagem, destacamos a import�ncia que representa a atividade conjunta, a rela��o de coopera��o entre alunos e entre estes e o professor.

As capacidades cognoscitivas apontadas devem ser habilmente estimuladas atrav�s de um ensino que possibilite o desenvolvimento de habilidades que conduzam o aluno a patamares superiores de representa��o mental dos conte�dos ministrados, como a reflex�o cont�nua, a capacidade de an�lise e s�ntese e a generaliza��o de fatos e id�ias, a compreens�o dos fen�menos naturais, sociais, econ�micos, pol�ticos e econ�micos, que s�o condi��es prec�puas para melhor compreens�o e inser��o no mundo, das a��es e rela��es que se materializam nas pr�ticas sociais.

� interessante ressaltarmos que, para o bom desenvolvimento de canais de recep��o de informa��es, n�o � necess�rio apenas que se deixe o aluno escutar, cheirar, tocar e explorar as coisas, os objetos, mas que o ensine a ouvir, a cheirar, a tocar, para o qual � imprescind�vel a educa��o destes sentidos.

Isto � importante para todas as crian�as, por�m adquire maior relev�ncia no caso das crian�as cegas ou com baixa vis�o devido � utilidade dos sentidos remanescentes na rela��o com os objetos, coisas e pessoas. No estudo de minerais, por exemplo, podemos atrav�s da utiliza��o de estrat�gias de observa��o, trabalhar a nomenclatura das principais texturas (fina, rugosa, suave, lisa, �spera), bem como peso e forma. Na proposi��o dessa atividade, Soler A. (1999) sugere a utiliza��o de uma ficha na qual o aluno ir� registrando as descobertas sobre os minerais observados, tais como: forma, peso, textura, cor, solidez, sabor, odor, composi��o entre outras caracter�sticas observadas.

�, portanto, primordial que todos os educandos, e em particular, o aluno cego, disponham de todos os recursos necess�rios para ter acesso ao curr�culo comum, j� que a dificuldade dos alunos cegos n�o est� relacionada aos conte�dos a serem adquiridos, mas aos meios com os quais o sistema educativo conta para ensin�-los, podendo ocorrer o paradoxo de haver o aluno inclu�do fisicamente na sala de aula, mas precisando de integra��o educativa propriamente dita.

O aluno cego tamb�m deve ser inclu�do em todas as �reas do curr�culo escolar, de que todos os demais alunos deveriam participar: arte, m�sica, dan�a, teatro, educa��o f�sica, biblioteca e outras atividades especiais, como as aulas de campo. O coordenador ou professor especialista poder� sugerir algumas modifica��es que sejam necess�rias nestas �reas, at� mesmo por medidas de seguran�a.

Entre as estrat�gias e atividades desenvolvidas pelos professores da escola que se constituiu em nosso campo de pesquisa, discorreremos, com mais detalhes, sobre: discuss�o em grupo, grava��es, uso de material concreto (minerais, mapas, plantas, animais, entre outros), utiliza��o de maquetes, reprodu��es diversas (de folhas, animais, etc.), dramatiza��es, audi��o de m�sicas, dos sons do pr�prio ambiente etc., trabalhos individuais e em grupos, atividades de pesquisa, aulas de campo.

Observamos que a aquisi��o do conhecimento acad�mico pela crian�a cega investigada se processava atrav�s da leitura no Sistema Braille, do Sorob�, por meio do computador e dos sentidos que lhe restam. Destes �ltimos, o mais utilizado era, sem d�vida, a audi��o, o que contraria ou limita a aprendizagem multisensorial , que favorece um aprendizado mais rico e significativo para a pessoa que n�o disp�e do sentido da vis�o.

O conte�do curricular era o mesmo, tanto para os alunos com vis�o em�trope (normal) como para o aluno cego, e o n�vel de complexidade tamb�m era o mesmo, pois o aluno n�o demonstrava muitas dificuldades em acompanhar o racioc�nio do grupo, embora apresentasse dificuldades na habilidade de escrever e ler no Sistema Braille e de manusear o instrumento de estudos da matem�tica � o sorob�.

O aluno cego seguia as mesmas regras da sala de aula e as normas de disciplina, exatamente como os demais alunos. Era estimulado a usar a bengala perante o que manifestava grande resist�ncia, o que pode ser considerado natural entre os adolescentes cegos. Tamb�m havia aprendido uma t�cnica de autoprote��o, que consistia em elevar a m�o esquerda � altura do rosto e manter a m�o direita na altura da cintura para esquivar-se dos obst�culos.

Percebemos que o aluno j� havia alcan�ado um certo grau de independ�ncia e autonomia em muitas atividades que fazia. Sabia orientar-se espacialmente no �mbito da escola, sem dificuldades, o que se deve ao cuidado que os educadores daquela institui��o tiveram de ambientar o aluno nas depend�ncias da mesma.

Percebemos que a aprendizagem concreta e a instru��o unificada (associa��o dos demais sentidos) e autoatividade eram estimulados, por�m, em doses ainda lentas, devido �s possibilidades que a pr�pria institui��o apresentava e devido ao desconhecimento dos pr�prios professores sobre como proporcionar tais a��es.

As explica��es em sala de aula eram dadas da mesma forma para todos os alunos, sem, no entanto, a devida preocupa��o em primar pela descri��o e pela manipula��o, por parte do aluno cego, de objetos e materiais que facilitassem a compreens�o do que estava sendo exposto. Em alguns momentos, para atender � necessidade individual do aluno, as explica��es eram repetidas individualmente e com a utiliza��o de algum material did�tico que favorecia a compreens�o, tal como quando a professora da 4� s�rie explicava ao aluno a forma��o de Classes Num�ricas utilizando, para tanto, o Sorob� e o Material Dourado (recurso did�tico que auxilia as crian�as a constru�rem o significado dos n�meros, especialmente no que diz respeito � sistematiza��o do Sistema Decimal e � compreens�o dos algoritmos convencionais das quatro opera��es).

Quanto ao processo avaliativo e de promo��o do aluno cego, seguiam os crit�rios adotados para todos os demais alunos tal como orienta os Par�metros Curriculares Nacionais (1999), focalizando a utiliza��o de instrumentos de avalia��o que permitiam ao educando a express�o atrav�s do Sistema Braille ou da verbaliza��o, os aspectos do desenvolvimento biol�gico, intelectual, motor, emocional, social, comunica��o e linguagem; o n�vel de compet�ncia curricular e o estilo de aprendizagem.

Os professores, em geral, utilizavam amplamente a avalia��o escrita. Como sabiam Braille, ditavam as quest�es para que o aluno digitasse as respostas. Vale salientar que as quest�es eram as mesmas dirigidas aos demais alunos. O tempo � que era um pouco mais alargado, devido �s caracter�sticas da pr�pria avalia��o e do aluno.

Os alunos, em geral, s�o avaliados bimestralmente pelos professores atrav�s, tamb�m, de um relat�rio individual onde discorriam sobre os aspectos do desenvolvimento biol�gico, intelectual, motor, emocional, social da comunica��o e da linguagem dos alunos.

O registro do conte�do das aulas, pelo aluno, era feito exclusivamente na m�quina de datilografia Braille, visto que nem ele nem a escola, dispunham de reglete, o que seria de grande valor no momento em que a m�quina falhasse, como certa vez veio a acontecer, ficando o aluno sem fazer os registros, at� que fosse providenciada uma outra m�quina.

O aluno, na institui��o pesquisada, era estimulado a participar de todas as �reas do curr�culo escolar. Logo, era comum v�-lo participando de atividades que envolviam artes, m�sicas, dan�as, teatro, educa��o f�sica, biblioteca e outras atividades especiais, como as aulas de campo, conforme descreveremos a seguir.

H�, na escola, uma vez por semana, o momento do �Cantando Juntos�, onde todos os alunos e seus professores sentam no p�tio para cantarem m�sicas, tais como: M�sica POP e M�sica Popular Brasileira MPB, cujo repert�rio era cuidadosamente escolhido pelos pr�prios alunos. Entre os cantores e grupos musicais escolhidos estavam: Marisa Monte, Caetano Veloso, Rita Lee, Ivete Sangalo, Geraldo Azevedo, Luis Gonzaga, Skank, Tit�s, Kid Abelha, entre outros.

Outra estrat�gia utilizada se constitui em aulas de campo atrav�s das quais o aluno p�de vivenciar momentos de aprendizagem concreta no: Planet�rio e zool�gico em Jo�o Pessoa; nas salinas situadas no munic�pio de Galinhos/RN; no Museu C�mara Cascudo, aqui em Natal; na Bienal do Livro, na UFRN. Nestas aulas eram fornecidas ao aluno cego informa��es adicionais que o aproximassem do que os outros alunos estavam percebendo pelo canal visual. A descri��o do ambiente associava-se, sempre que poss�vel, ao toque das coisas, dos objetos.

Lembramos que o sucesso das aulas de campos depende do conhecimento que o professor venha a ter da �rea a ser estudada, da defini��o clara dos objetivos a serem alcan�ados, dos procedimentos e de quais materiais did�ticos s�o mais adequados � realidade tanto de alunos com defici�ncia visual, quanto de alunos videntes.

A dramatiza��o tamb�m se constitui em uma estrat�gia bem utilizada pelas professoras. Observamos que o aluno cego representava os textos trabalhados com desenvoltura ap�s terem sido lidos, interpretados e reescritos em classe.

Nas aulas de T�cnicas Agr�colas , atrav�s da execu��o do Projeto Viveiro no qual se desenvolviam atividades de cultivo da terra, planta��o de hortas e, se incentivava o cuidado com animais dom�sticos (tais como: coelhos, tartarugas, jabutis e aves) pudemos observar que a professora utilizava a estrat�gia de observa��o e registro, por ela mesma, do que fora observado.

Em atividades que requeriam a representa��o do conte�do estudado atrav�s de imagens n�o-verbais, como o desenho, as professoras estimulavam o aluno cego a faz�-lo ao mesmo tempo em que os demais alunos produziam os seus, adaptando a atividade � sua defici�ncia e utilizando material espec�fico, tal como uma base de cart�o revestida com tela sobre a qual o aluno colocava o papel of�cio e com um l�pis cera fazia o desenho que ficava em relevo. Tamb�m era comum o aluno desenhar utilizando-se de tinta a dedo e cola colorida.

Um dos recursos que foi por n�s estimulado entre as professoras das duas s�ries investigadas, constituiu-se na confec��o e exposi��o de Murais, pain�is e cartazes t�teis de temas estudados, nos quais as informa��es tamb�m apareciam em Braille.

A finalidade did�tica dos cartazes, pain�is e murais t�teis pode ser diversa. No estudo dos conte�dos de Ci�ncias, por exemplo, as mais importantes s�o as seguintes: classificar e estudar materiais selecionados, representar espacialmente a distribui��o de materiais extra�dos da natureza, estimular a criatividade e a imagina��o dos alunos, conservar e colecionar materiais naturais.

Nas aulas de Educa��o F�sica, em 2002, no entanto, pudemos observar a promo��o de jogos onde o aluno cego estava inclu�do, interagindo em todos os momentos, com ou sem ajuda dos colegas. Jogos onde n�o existiam vencedores nem perdedores, fortes, nem fracos, mas onde todos eram incentivados a valorizar a inclus�o de todos, respeitando as diferentes possibilidades de participa��o. Tamb�m havia um clima de cumplicidade entre os participantes, pois lhes era dado o direito de refletirem sobre possibilidades de mudar o jogo, na perspectiva de que ningu�m ficasse de fora.

Uma estrat�gia bastante positiva e muito utilizada pelos professores, conforme observamos nas aulas de Artes, Educa��o F�sica, Inform�tica, Ingl�s e nas atividades da professora titular (tamb�m denominada de polivalente), tanto na 3� quanto na 4� s�rie, foi possibilitar ao aluno cego expressar-se verbalmente sobre a compreens�o que tinha em rela��o a tudo o que era proposto em sala de aula e sobre suas experi�ncias anteriores. Tal procedimento permitiu ao pr�prio aluno, em nosso entender, conscientizar-se de seus conhecimentos do ponto de vista cient�fico e de senso comum, o que potencialmente contribuiu para que assimilasse os conceitos trabalhados e reconstru�sse seus pr�prios conceitos.

Como podemos perceber, o tato � um grande fornecedor de conhecimentos e, portanto, imprescind�vel no desenvolvimento da aprendizagem de pessoas cegas. O tato � o sentido que oferece ao c�rebro os mais variados tipos de informa��o procedentes dos meios externo e interno, em raz�o dos receptores pr�prios desse sentido se distribu�rem ao longo de toda a superf�cie cut�nea e estarem ligados �s vias nervosas correspondentes para enviar ao c�rtex cerebral uma ampla gama de informa��es codificadas.

Para que uma pessoa assimile e acomode aprendizagens atrav�s dos est�mulos t�teis, entre outros, � imprescind�vel o bom desenvolvimento biol�gico e afetivo do sentido do tato, ou seja, � preciso desenvolver experi�ncias positivas do contato pele a pele como o aconchego de uma crian�a no colo de seus pais, por exemplo, que desencadeia sentimentos profundos de afeto, amor, dedica��o entre outros. Tais experi�ncias s�o, segundo Rios Gonz�lez (1984, apud SOLER, 1999), de extrema import�ncia para a forma��o dos indiv�duos.

Para o bom desenvolvimento do tato n�o � necess�rio, apenas, que se deixe a crian�a tocar e explorar as coisas, os objetos, mas que a ensine a tocar. Para tanto, � imprescind�vel a educa��o deste sentido. Salientamos que isto � importante para todas as crian�as, por�m, adquire maior relev�ncia no caso das crian�as cegas ou com vis�o subnormal devido � utilidade do tato para elas na rela��o com os objetos, coisas e pessoas.

Todas as a��es educativas, at� ent�o descritas fruto da observa��o em classe durante nossa pesquisa est�o de acordo com as estrat�gias e atividades propostas pelos autores pesquisados, pois apontam para uma aprendizagem onde a intera��o com o outro e com o objeto direto do conhecimento se torna imprescind�vel, n�o s� para os alunos videntes, mas tamb�m e, necessariamente, para os alunos sem o sentido da vis�o.

� preciso acrescentar que � de fundamental import�ncia, para responder a essas exig�ncias, que se promova uma boa forma��o inicial, bem como uma forma��o permanente e diversificada dos professores, a fim de que possam melhorar suas habilidades de trabalho, de avalia��o e de registro de suas a��es educativas.


CONSIDERA��ES

O estudo que desenvolvemos junto a uma escola da rede particular de ensino do munic�pio de Natal/RN, possibilitou-nos a reflex�o, entre outros aspectos, sobre as estrat�gias de ensino poss�veis, tamb�m, de serem utilizadas com alunos cegos, a fim de proporcionar-lhes aprendizagens significativas.

Do que foi pesquisado, parafraseando o grande mestre Paulo Freire (1989), atrav�s das �leituras de mundo� (no campo de pesquisa) e da �leitura da palavra� (leituras dos autores pesquisados e dos discursos proferidos na escola campo de pesquisa), podemos concluir, nesse momento, que uma crian�a cega n�o � uma crian�a menos desenvolvida que as videntes, ela apenas estabelece rela��o com o mundo que a cerca de forma diferente, pois se utiliza de meios e instrumentos pr�prios para faz�-lo, tais como: habilidades perceptivas t�teis e sinest�sicas; sistemas simb�licos alternativos e recursos materiais como a bengala; sistema de escrita Braille; materiais did�ticos adaptados.

A conviv�ncia com a diferen�a nos faz perceber, entre tantas outras coisas, que n�o � a falta do sentido da vis�o, por exemplo, que tem condenado pessoas � marginalidade, ao esquecimento, ao abandono e, sim, a arrog�ncia das rela��es de poder institu�das e das concep��es ideologias de homem e sociedade ideais, concebidas ao longo da hist�ria da humanidade. Assim, as pessoas cegas podem ser olhadas e entendidas como pessoas diferentes, sim, enquanto apar�ncia, enquanto forma de comunica��o, enquanto indiv�duo, mas iguais �s demais pessoas, enquanto capacidade produtiva e relacional, com enorme potencial a ser desenvolvido e com possibilidades de desenvolver v�rios trabalhos e servi�os de que a sociedade precise, desde que lhes sejam oferecidas oportunidades e condi��es necess�rias.

Temos claro que s�o muitas as dificuldades encontradas nas escolas para atender �s crian�as com necessidades educacionais especiais em geral, tais como: falta de informa��o e de compromisso �tico e pol�tico com a profiss�o; dificuldades de adapta��o de material; resist�ncia da fam�lia e desinforma��o; problemas s�cioecon�micos dos educandos e educadores; falta de apoio por parte das escolas, dos colegas e do pr�prio governo, em suas tr�s inst�ncias; alto custo de materiais; arraigamento a procedimentos metodol�gicos que enfatizam a defici�ncia como explica��o para o atraso na aprendizagem, em detrimento das possibilidades de desenvolvimento e de aprendizagem que o aluno apresenta.

Contudo, acreditamos nas possibilidades aqui apresentadas como meio de dinamizar a pr�tica e de promover uma educa��o que possibilite n�o s� �s pessoas com defici�ncia visual, mas a todos os considerados 'especiais', a oportunidade de avan�arem no desenvolvimento de suas capacidades e potencialidades, com vista ao exerc�cio de sua cidadania.


REFER�NCIAS

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  • BRASIL, Secretaria de Educa��o Fundamental. Par�metros Curriculares Nacionais: introdu��es aos Par�metros Curriculares Nacionais/ Secretaria de Educa��o Fundamental. Bras�lia: MEC/SEF, 1997.
  • CARVALHO, Rosita �dler. Removendo barreiras para a aprendizagem. Porto Alegre: Media��o, 2000.
  • DIRETRIZES NACIONAIS PARA A EDUCA��O ESPECIAL NA EDUCA��O B�SICA. Bras�lia: MEC/CNE, 2001.
  • FELIPPE, Vera L. R., FELIPPE, Jo�o A. de M. Orienta��o e Mobilidade. S�o Paulo: Laramara � Associa��o Brasileira de Assist�ncia ao Deficiente Visual, 1997.
  • GONZ�LEZ, J. A. T. Educa��o e diversidade: bases did�ticas e organizativas; Trad. Ernani Rosa � Porto Alegre: Artmed Editora, 2002.
  • HARRIS, Theodore L. HODGES, Richard E. Dicion�rio de Alfabetiza��o. Porto Alegre: Artes M�dicas Sul, 1999.
  • LIB�NEO, J. C. Did�tica. S�o Paulo: Cortez, 1994. (Col. Magist�rio 2� Grau. S�rie forma��o do professor).
  • MARTIN, M.B. BUENO, S. T. Defici�ncia Visual: aspectos psicoevolutivos e educativos. S�o Paulo: Santos Editora Ltda, 2003.
  • MASINI, Elcie F. S. Interven��o educacional junto a pessoa deficiente visual. In: Defici�ncia: alternativas de interven��o. S�o Paulo: Casa do psic�logo, 1997.
  • SOLER, MiquelAlbert Mart�. Did�ctica multisensorial de las ci�ncias: un nuevo m�todo para alumnos ciegos, deficientes visuales, y tambi�n sin problemas de visi�n. Barcelona: Once/Piad�s, 1999.

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Estrat�gias de Ensino utilizadas, tamb�m, com um Aluno Cego, em Classe Regular
Luzia Guacira dos Santos Silva
(Secretaria Municipal de Educa��o Natal/ RN)
Educa��o Infantil e Ensino Fundamental.
Fonte: UFPI

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29.Mai.2014
publicadopor MJA

Quais estratégias o professor pode utilizar com alunas ou alunos com deficiência visual?

Como mostrado neste trabalho, o uso de materiais ou recursos didáticos são essenciais para auxiliar os alunos portadores de deficiência visual. Vários meios foram apresentados, desde o método de descrição oral até o uso de maquetes que se moldam a cada assunto da disciplina de Física.

Que estratégias de ensino podem ser utilizadas com uma pessoa cega?

O professor deve primar para que as explicações sejam descritivas e concretas e, sempre que possível, possibilitar que o aluno cego manipule objetos e materiais que sejam os mais próximos possíveis do real e que facilitem a compreensão e participação nas atividades.

Quais as melhores estratégias de ensino para pessoas com cegueira?

*As crianças cegas precisam aprender a orientar seus corpos e a se movimentar com confiança. Atividades físicas e jogos em grupo fornecerão boa prática. No começo as crianças precisarão ser movidas durante a atividade para que compreendam o que estão fazendo. Os professores devem insistir em postura correta.

Como lidar com os alunos com a deficiência visual na escola?

Como lidar com a deficiência visual na escola? A escola pode recomendar aos pais e responsáveis que busquem fazer o exame de acuidade visual das crianças sempre que notarem comportamentos relacionados a dificuldades de leitura, dores de cabeça ou vista cansada durante as aulas.

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