O que um dinossauro, um tigre-da-tasmânia, um dodô e um rato-de-fernando-de-noronha têm em comum? Todos são animais que habitaram a Terra e não existem mais. O desaparecimento de seres vivos acontece desde que o mundo é mundo, literalmente. O planeta, de acordo com cientistas, já passou por cinco extinções em massa (leia nos quadros abaixo). "Extinção é um evento natural, nenhuma espécie persiste eternamente, seja por conta da queda de um asteroide, atividade vulcânica ou efeito estufa, entre outros", explica Daniel Brito, doutor em Ecologia e Conservação e professor do departamento de Ecologia da Universidade Federal de Goiás (UFG). Saber disso seria um consolo para o sumiço atual de vários animais. A não ser por um detalhe: as extinções agora são provocadas pelo homem.
A velocidade e a força das ações humanas é tão descontrolada que estamos vivendo a sexta extinção em massa, chamada de aniquilação biológica por cientistas da Universidade Nacional Autônoma do México e da Universidade de Stanford, autores de um estudo publicado em julho. Segundo eles, uma quantidade imensa de animais está morrendo num intervalo de tempo muito curto devido à perda de hábitat, à poluição e às mudanças climáticas.
As extinções em massa não acontecem do dia para noite. Nem todos os dinossauros, por exemplo, morreram com o impacto do asteroide. Muitos sucumbiram depois, porque uma nuvem de poeira na superfície tornou a vida deles e de plantas - que eram seu alimento - impossível. Tendo isso em vista, dá para compreender que a sexta extinção em massa ainda está em curso.
1ª EXTINÇÃO
Ordoviciano ? Siluriano
Quando: entre 495 e 443 milhões de anos atrás.
Principais afetados: trilobites (antrópodes), braquiópodes e graptólitos (invertebrados e animais marinhos).
1ª explicação: espécies não sobreviveram ao frio durante a glaciação.
2ª explicação: o gelo acumulado nos continentes reduziu o nível do mar e
eliminou hábitats naturais.
2ª EXTINÇÃO
Devoniano
Quando: entre 417 e 354 milhões de anos atrás.
Principais afetados: peixes e uma grande variedade de animais marinhos microorganismos como o fitoplâncton.
1ª explicação: aquecimento, seguido de rápida glaciação, associado à diminuição do oxigênio nos oceanos.
2ª
explicação: há evidências de um grande impacto de asteroide no período.
3ª EXTINÇÃO
Permiano - Triássico
Quando: entre 290 e 248,2 milhões de anos atrás.
Principais afetados: répteis anteriores aos dinossauros, mas 90% das espécies sumiram.
1ª explicação: um derramamento de lava onde hoje é a Sibéria.
2ª explicação: um asteroide com
mais de 6 km de diâmetro se chocou com a Terra.
4ª EXTINÇÃO
Triássico - Jurássico
Quando: 200 milhões de anos atrás.
Principais afetados: dinossauros arcaicos, famílias marinhas e grandes anfíbios.
1ª explicação: mudança climática gradual.
2ª explicação: impacto de asteroide.
3ª
explicação: atividade vulcânica provocou aquecimento ou resfriamento.
5ª EXTINÇÃO
Cretáceo
Quando: entre 45,5 e 65,5 milhões de anos atrás
Principais afetados: dinossauros.
1ª explicação: um asteroide atinge a área onde hoje é o Golfo do México.
2ª explicação: fortíssima atividade vulcânica, com
consequências semelhantes ao impacto do asteroide.
6ª EXTINÇÃO
Holoceno
Quando: de 10.000 a.C, acelerando no século 18 até os dias atuais.
Afetados: entre 27,6 mil vertebrados, 177 espécies de mamíferos, como o leão, sofreram declínio populacional entre 1900 e 2015. De 1500 até 2016, foram registradas extinções de 861 espécies (364 das quais são vertebrados). Considerando a biodiversidade
como um todo, 24.431 espécies correm risco de extinção.
Causas: destruição e fragmentação dos hábitats naturais, superexploração, invasão de espécies exóticas, poluição e mudanças climáticas.
As consequências do desaparecimento de uma ou muitas espécies vão além da diminuição da diversidade de vida na Terra. "A natureza entra em desequilíbrio. Ocorre o declínio dos ecossistemas, os serviços ecológicos (como a polinização feita por abelhas e o controle de pragas, por joaninhas, escaravelhos e percevejos, que contribuem com a agricultura), antes prestados por uma espécie, deixam de existir e prejudicam outros seres vivos, inclusive o homem", explica Flávia Lima, professora de Ciências do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação da UFG. Evidentemente, tempos depois de uma extinção, a natureza se reorganiza de alguma forma e a vida no planeta segue. "Não há meios de prever todos os desdobramentos de um processo de extinção", explica Daniel. Uma possibilidade é que a função na natureza cumprida por essa espécie passe a ser realizada por outra, mas isso nem sempre acontece.
"O que aprendemos com as cinco extinções em massa é que, depois delas, a vida na Terra não desaparece por completo, mas a espécie dominante sim. E o homem é a espécie dominante atualmente", alerta ele. Por isso, mais que conter a atividade humana predatória por amor aos animais, é necessário fazê-lo para cuidar da qualidade e preservação da vida humana. Não é exagero afirmar que extinções em massa podem causar crises humanitárias por causa da fome provocada por queda na produção agrícola, por exemplo.
Construindo o conceito de extinção
Para evitar que a sexta extinção em massa prossiga, é preciso reduzir a escala de atividade humana, controlando o crescimento populacional, a produção e o consumo de bens e a emissão de poluentes e toxinas. Em nível global, diversos acordos governamentais já foram assinados. Apesar disso, o índice de fracasso é grande. O Acordo de Paris, por exemplo, foi ratificado por 200 países em 2015, criando o compromisso para a redução de emissões de gases de efeito estufa. No entanto, os Estados Unidos, o maior poluidor do mundo ao lado da China, declinou.
Mas como deixar o assunto mais próximo dos alunos? Ações em menor escala são preciosas para reverter esse cenário trágico. O indivíduo pode viver de forma mais consciente e sustentável do ponto de vista ambiental. E, conforme explica Eduardo Schechtmann, coordenador de Ciências da Escola Comunitária de Campinas (ECC) e autor de livros didáticos, ao falar de extinção na escola, é preciso tomar como alicerce a questão da degradação ambiental e seus efeitos, mostrando aos alunos reações em cadeia, e jamais ensinar extinção como algo isolado.
"É possível explorar o tema no 4º e no 7º ano, de forma que os alunos construam o conceito", diz Eduardo. Vale abordar com a turma animais extintos ou que correm esse risco, buscando informações sobre eles em artigos científicos e textos informativos com linguagem adequada para a faixa etária. "É interessante dividir os alunos em grupos e orientar que cada um se dedique a compreender o que aconteceu ou está acontecendo com um animal, o que provocou ou está provocando seu desaparecimento, e qual o papel dele na natureza. Depois, todos se reúnem para contar o que descobriram, buscando pontos em comum", explica Flávia. Os alunos vão chegar às ações humanas como causadoras do problema - ainda que indiretamente (leia na legenda abaixo). É assim que pesquisadores trabalham, investigando o que aconteceu para tentar antecipar informações sobre o que pode ocorrer no futuro.
Investir no estudo de animais que habitam a região da escola é sempre mais proveitoso que eleger qualquer um ou se deixar levar pelo gosto dos estudantes. Isso porque é possível organizar uma campanha pela preservação da espécie que realmente tenha impacto e mobilize a turma. "Ao se descobrir parte da realidade de determinado processo de extinção, os alunos podem ser, de fato, agentes de transformação", diz Eduardo.
DESEQUILÍBRIO AMBIENTAL É CAUSA E CONSEQUÊNCIA
Em qualquer exemplo que investiguem, os alunos podem compreender as reações em cadeia. A onça-pintada, em risco de extinção, é vítima de caça e a urbanização reduziu seu hábitat natural. A diminuição da espécie faz aumentar a população de porcos selvagens, que destroem plantações, causando prejuízo a agricultores. Esse desequilíbrio é apenas um dos causados pelo predomínio do homem. Em 1900 éramos 1,6 bilhão de pessoas; em 2015, 7,3 bilhões, ou seja, crescemos 341%. Além de diminuir o avanço populacional, as formas de frear o processo são: reduzir a escala de atividade humana e o consumo; emitir menos poluentes, deixar de usar toxinas e agir para evitar mudanças climáticas; preservar espécies ameaçadas e recuperar áreas de hábitats naturais.
Consultoria: Daniel Brito, doutor em Ecologia e Conservação e professor do departamento de Ecologia da Universidade Federal de Goiás (UFG).
IMAGENS: ESTÚDIO PADOCA