por: Eleonora Moraes
Normal vem de "norma", palavra que se relaciona com o que é mais usual e comum, com a regra. Bem… em se tratando de parto, nossa norma no Brasil tem sido a cesárea, que digamos de passagem, não é parto. Cesárea é uma cirurgia de grande porte, que corta 7 camadas de tecidos e é feita para extrair o bebê do útero materno.
A nossa taxa de cesáreas, segundo o Ministério da Saúde em 2016, é de 57% no geral (público
e privado) e de espantosos 85% no setor privado de saúde. E ao contrário do que muitos pensam, a cesárea traz mais riscos para mãe e bebê, como complicações cirúrgicas, hemorragias, maior risco de mortalidade materna e de outras complicações¹.
Ah mas e os bebês? Para eles é mais seguro nascer por cesárea, não é? Não é verdade, sobretudo quando a cesárea é de hora marcada e feita por conveniência e não por real necessidade médica. Temos um risco muito aumentado de bebês internados em UTI
nas cesarianas programadas e um dado curioso é que apesar do aumento das cesáreas, a incidência de hipóxia e paralisia cerebral, que sempre foi atribuída ao parto normal, não diminuiu com o aumento das taxas de cesáreas².
Mas... acreditando que o fisiológico deva ser a norma no futuro para os nascimentos brasileiros: foquemos no parto vaginal e vamos chamá-lo de parto normal :-)
“A nossa taxa de cesáreas, segundo o Ministério da Saúde em 2016, é de 57% no geral (público e privado) e de espantosos 85% no setor privado de saúde.”
Como acontece o parto?Um bebê saudável, de uma gestação saudável, pode nascer entre 38 a 42 semanas. Opa! mas isso da UM MÊS de intervalo, está certo? SIM! Pra viver um parto fisiológico temos que aguardar pacientemente seu início. E começa aqui o aprendizado maior da maternidade/paternidade: não temos o controle sobre este momento, nem de quando irá começar, nem de como o parto será. Mas, de toda forma, vale a pena aguardar com cuidado e paciência e viver as contrações que vierem, que por si só, trazem inúmeros benefícios para mãe e bebê mesmo que o desfecho seja por cesárea. |
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O que faz o trabalho de parto acontecer são as contrações uterinas ritmadas e frequentes de boa intensidade por várias horas seguidas. Estas contrações fazem com que a parte inferior do útero (o colo do útero) se abra em até 10 centímetros e depois empurre o bebê para baixo no canal vaginal para que o nascimento possa acontecer.
É bem difícil definir de um modo único quando o trabalho de parto realmente começa, mas em linhas gerais podemos dizer que o trabalho de parto começou quando se percebem contrações ritmadas, (pelo menos 2 contrações a cada 10 minutos) e com uma duração de pelo menos 40/50 segundos cada por mais de 2 horas seguidas. Para conseguir medir esta frequência, anote o horário do início de uma contração, conte sua duração em segundos e anote e faça o mesmo com as próximas, durante um período de 10 minutos desde a primeira contração. Mas faça isto eventualmente! Nada de ficar neurótico com o relógio ou aplicativos de celular para registrar o tempo todo. Quanto menos no mental você ficar, mais fácil do fisiológico acontecer.Pra entender melhor como acontece o parto, vamos dividi-lo em FASES. São 6 fases diferentes, e cada uma tem um tempo muito distinto e variável de duração. Vamos entendê-las?
| 1 - Pródomos:São contrações muito irregulares e que geralmente não trazem muito desconforto e dor. Muitas mulheres passam por ela sem nem mesmo perceber, outras já sentem mais desconforto e se enganam facilmente achando que já é o trabalho de parto de verdade. Esta etapa pode demorar dias e são comuns os alarmes falsos, quando parece ter engrenado com contrações ritmadas e de repente tudo para. |
- Ritmo das contrações: desordenado, vindo em blocos e espaçando. Duração irregular entre 20 a 60 segundos cada.
- Dilatação do colo do útero: nesta fase o colo, que é grosso e posterior) pode afinar e vir pra frente. Não é esperada dilatação nesta etapa.
- O que você vai sentir: barriga endurecer, principalmente mais na região baixa da barriga, cólicas como as menstruais, pode ser que o tampão saia e o intestino solte! Tudo normal e esperado. Essas contrações podem ser mais frequentes a noite.
- O que fazer? Seguir a rotina. Se distrair, passear no parque, ir no cinema, alternar entre momentos de movimentação do corpo (caminhadas curtas ou yoga) e de descanso. Se tiver muito desconforto, bolsa de água quente na lombar ou no baixo ventre e banhos quentes e demorados podem ajudar.
2 - Fase Latente:Trabalho de parto começando de verdade! Contrações ficam mais regulares, com duração e frequência mais definida. Difícil ignora-las mas geralmente é possível ficar em qualquer posição sem grandes desconfortos. Nesta fase não há ainda a necessidade de procurar a assistência para verificar o coração do bebê e vitalidade da mãe. Pode-se passar tranquilamente em casa aguardando a fase ativa chegar. Dura algumas horas apenas mas sendo prolongada (+ de 8 horas) é importante procurar a assistência pra uma avaliação. |
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- Ritmo das contrações: regulares, no útero todo, geralmente vindo uma a cada 10 minutos, chegando a 3 contrações em 10 minutos. Duração mais regular, com pelo menos 40 segundos em cada contração.
- Dilatação do colo de útero: de 0 a 3 cm
- O que você vai sentir: barriga endurecer como um todo, dor na lombar no momento das contrações são comuns. Pode sair o tampão nesta fase ou um pouquinho de sangue
vermelho escuro (como início de menstruação)
- O que fazer? Se concentrar mais, encontrar posições confortáveis e procurar DESCANSAR. Se não conseguir ficar deitada, posições semi inclinadas ou na bola suíça com apoio a frente ajudam muito. Bolsa de água quente e massagem na lombar são uma benção neste momento!
3 - Fase Ativa:
Hora de chamar a assistência ou ir para a maternidade. Contrações ficam mais fortes e frequentes, com duração e frequência bem definidas. Impossível ignora-las e muito difícil ficar em posições onde seu tronco fique para trás (jogada no sofá) ou na posição horizontal (deitada).
- Ritmo das contrações: regulares, no útero todo, geralmente vindo de 3 a 4 contrações a cada 10 minutos com duração de pelo menos 50 segundos em cada contração.
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| 4 - Fase de transição:É uma fase dentro da fase ativa, quando a dilatação vai dos 8 aos 10 cm. É chamada "a hora da covardia", tida como o momento mais difícil do trabalho de parto, onde se associa uma pico maior de dor e contrações muito fortes. É um momento importante de liberação de adrenalina para a fase final do parto! Depois dela vem o expulsivo e logo o bebê nasce.
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- O que você vai sentir: um misto de dor, cansaço, contrações muito fortes e bem comum um medo de que "não vai aguentar"! Mas você vai! Logo esta fase passa. É geralmente bem rápida.
- O que fazer? Vocalizar, abusar do chuveiro quente ou banheira, se movimentar e contar com o apoio da assistência, da doula ou de seu acompanhante de parto. Lembre-se que este é o momento mais difícil e que no expulsivo TUDO vai mudar pra melhor!!
5 - Expulsivo:Nesta fase a cabeça do bebê fica bem mais baixa e começa a fazer pressão na parte final do intestino (reto). Vem aí uma vontade incontrolável de fazer força. A pressão é muito grande durante as contrações e obedecer o corpo e fazer força da medo no começo, mas depois percebemos que ajuda a administrar a sensação da contração e pode ser até prazeiroso.
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- O que você vai sentir: pressão, vontade de empurrar e geralmente vontade de assumir posturas verticais.
- O que fazer? obedecer o comando do corpo, fazendo os puxos (força) apenas quando a vontade vier. Acocorar, sentar na banqueta de parto ou ficar de 4 apoios pode ajudar muito abrindo a saída para o bebê nascer.
6 - Dequitação da placenta:O bebê já nasceu e deve estar em seus braços! Pouco tempo depois a placenta irá nascer.
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Bibliografia:
1. Deneux-Tharaux C, Carmona E, Bouvier-Colle MH, Breart G. Postpartum maternal mortality and cesarean delivery. Obstetrics and gynecology. 2006 Sep;108(3 Pt 1):541-8. PubMed PMID: 16946213. Epub 2006/09/02. eng
1. Clark SL, Belfort MA, Dildy GA, et al. Maternal death in the 21st century: causes, prevention, and relationship to
cesarean delivery. Am J Obstet Gynecol 2008;199:36.e1-36.e5.
1. Diretrizes de Atenção à Gestante: a operação cesariana. Relatório de recomendação. Brasília: Conitec. Comissão Nacional de incorporação de tecnologia no SUS; 2015.
2. Geller EJ, Wu JM, Jannelli ML, Nguyen TV, Visco AG. Neonatal outcomes associated with planned vaginal versus planned primary cesarean delivery. Journal of perinatology : official journal of the California Perinatal Association. 2010
Apr;30(4):258-64.
PubMed PMID: 19812591. Epub 2009/10/09. eng.
2. Homer CS, Kurinczuk JJ, Spark P, Brocklehurst P, Knight M. Planned vaginal delivery or planned caesarean delivery in women with extreme obesity. BJOG : an international journal of obstetrics and gynaecology. 2011 Mar;118(4):480-7. PubMed PMID: 21244616. Epub 2011/01/20. eng.
3. Balaskas J. Parto ativo: guia prático para o parto natural. 2. ed. São Paulo (SP): Ground; 1993.
Humanizar é acreditar na fisiologia da gestação e do parto. | Leia mais: |
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