Pais devem evitar dar colheradas na boca da criança (Foto: Mães de Peito)
A cena é sempre a mesma. “Olha o aviãozinho” ou “se comer tudo, vai ganhar um sorvete” ou ainda tentar distrair a criança com TV ou tablet para tentar colocar uma colherada atrás da outra na boca do pequeno. A alimentação dos filhos é um grande desafio para a maioria dos pais que se queixam que os filhos não comem, então, utilizam todos os recursos disponíveis para que a criança se alimente pois temem que adoeçam, por exemplo.
“A maioria dos pais chega ao meu consultório reclamando que o filho não come quando a maioria das criança come normal, come bem. Como é possível se ninguém come termos uma epidemia de obesidade infantil?”, questiona o pediatra catalão Carlos González, autor do livro “Meu filho não come!”.
Ele explica que os pais só têm uma obrigação no quesito alimentação: precisam oferecer opções saudáveis e colocar a comida na mesa na frente da criança e não falar nada como “olha que gostoso essa merluza ou come o brócolis ou pega um pouco da cenoura”. Se a criança vai comer uma colherada de arroz ou raspar o prato tanto faz. “Obrigar a comer só vai piorar. Não quer comer, sem problemas, vá brincar, sem gritos, sem ameaças. A criança vai voltar em pouco tempo e dizer que está com fome”, diz o pediatra que foi descrito pelo jornal britânico The Guardian como o “pediatra que quer que os pais quebrem as regras”.
Ele explica que a criança vai comer quando tiver fome e é normal ela dar uma, duas colheradas e depois não querer mais nada ou querer comer uma fruta, por exemplo. González ressalta que os pais precisam ter alimentos saudáveis em casa senão a criança só irá querer comer balas, bolachas e outras besteiras. “O problema é melhorar a alimentação dos adultos, não das crianças”, ressalta.
SEM COLHERES DIRETO NA BOCA
O pediatra diz que em nenhuma idade os pais devem dar colheradas na boca da criança, ou seja, ela deve comer sozinha desde a introdução alimentar. “Se a criança a partir dos seis meses consegue colocar um brinquedo na boca ou um pouco de terra, pode levar sozinha a comida até sua boca”, diz.
Se os pais acharem que ainda assim devam dar o alimento na colher, ele aconselha a nunca enfiar diretamente na boca, mas deixar a colher perto da criança e ela ir com a cabeça em direção ao alimento, nunca ao contrário. “Experimente pedir para seu marido ficar dando comida na sua boca e verá que não é nada agradável”, exemplifica.
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RECOMPENSAS SÃO ERRADAS
O pediatra diz que não adianta também fazer barganhas na esperança da criança comer melhor. “Se você oferecer um prêmio, como um brinquedo ou um sorvete, para que coma algo é porque o que você está oferecendo é horrível senão ele não ganharia o prêmio. Por isso digo, coloque na mesa a comida e não fale nada. Varie o cardápio. Alguns dias eles vão provar e outros não. Criança não gosta de alimentos desconhecidos e preferem comer o que a mãe come, vão imitar ela”, diz.
González afirma que é normal que a criança torça o nariz para a lentilha em um dia e no outro devore um prato de macarrão. “Quer fazer um prato, faça. Um dia ela vai comer muito e no outro não”.
Forçar também não fará com que a criança coma bem nem fazer comparações com o irmão que come melhor. “Comer não é castigo”, afirma. E como saber se a criança está saudável? Ela corre, brinca, sorri, então, está tudo bem.
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Imagine o cenário: hora do almoço, mãe ou cuidadora atarefada com todas as muitas atividades que devem ser feitas no dia, seja em relação aos cuidados da casa ou seja em relação a tarefas e horários de trabalho fora que devem ser cumpridos. Correria total. Almoço na mesa. Chega o pequeno de 2 anos e pouco, com um brinquedinho na mão, pega a colher e começa a comer devagar…devagar…devagar…brinca um pouco…fica com um tanto de comida na boca, sem mastigar, sem engolir…devagar e sempre…Não há dúvida: a mãe ou cuidadora atarefada pega imediatamente a colher e manda ver, para terminar aquela refeição mais rapidamente.
Pois é. Não é fácil coordenar tudo o que se tem que fazer no dia a dia com a paz que se deve ter no momento da refeição.
Crianças de 1 ano já podem “ajudar” na hora da refeição. É importante que os pais ou cuidadores coloquem uma colherinha na mão dos pequenos, para iniciar um “treinamento” enquanto vão dando a parte principal. E assim vamos até 2 anos mais ou menos.
Entre 2 e 3 anos as crianças já seguram uma colher com segurança e várias já conseguem se alimentar sozinhas.
Depois dos 3 anos a criança já deve comer sozinha. Há que se ter muita calma nesta hora. Por isso, para evitar a cena descrita acima, uma boa dica é planejar com antecedência o tempo que se deve ter para a criança comer. Nada de colocar as crianças na correria do dia a dia. Planeje com calma o momento da refeição e deixe-a comer com calma também.
Uma boa dica é que todos almocem juntos. Isso faz com que a família ou um adulto cuidador vá orientando a criança à medida em que também almoça.
Transforme momentos corridos da vida em um período calmo onde também se pode ter prazer e paz.