O navegador Cristóvão Colombo, morto há mais de 500 anos, ainda hoje é considerado um herói. E isso embora seu ato heroico tenha sido fruto de um engano. Ele nada sabia da existência do novo continente quando partiu rumo ao Ocidente em busca de uma nova rota marítima para a Índia. Até a morte, acreditou que encontrara tal rota.
Filho de um tecelão genovês, Cristóvão Colombo (1451–1506) tornou-se navegador por necessidade. Com a falência da empresa do pai, descobriu no comércio marítimo um novo meio de vida. Em 1477, estabeleceu-se em Lisboa, junto com o seu irmão Bartolomeu, que era cartógrafo. Seu destino era a Índia, a terra do ouro e das especiarias. Para chegar até lá, nessa época, ainda era necessário contornar a África.
Dados totalmente falsos
Colombo sonhava encurtar essa rota, embora tenha se baseado em dados totalmente falsos, enganando-se quanto à distância prevista. Depois que a coroa portuguesa rejeitou o seu plano de alcançar as Índias pelo Atlântico, apresentou o mesmo projeto ao rei espanhol, em 1485.
Economicamente debilitada pela expulsão dos mouros e dos judeus, a Espanha precisava urgentemente de novas fontes de riqueza. Até mesmo a vaga perspectiva de encontrar ouro no novo caminho marítimo era bem-vinda.
A família real obrigou a cidade portuária de Palos, que caíra em desgraça junto à coroa por pagamento irregular de impostos, a entregar três embarcações tripuladas a Colombo. A 3 de agosto de 1492, as caravelas Pinta, Nina e Santa Maria partiram de Palos com destino incerto.
Em 11 e 12 de outubro de 1492, Cristóvão Colombo escreveu em seu diário de bordo: "Pode ser que esta seja minha última anotação; que eles joguem o diário de bordo na água. Talvez eles o esqueçam e, um dia, a rainha saberá que eu não era um fantasista, um sonhador fora da realidade. Eu vi uma luz. Como se alguém movimentasse uma tocha".
Colombo, vice-rei
Colombo desembarcou numa ilha das Bahamas, hoje chamada Samana Cay. Convicto de que havia chegado ao planejado destino, batizou a nova terra de Índias Ocidentais. Com a permissão da coroa espanhola tomou posse de tudo como "vice-rei".
Em seu livro Nascimentos, o escritor uruguaio Eduardo Galeano descreveu assim a chegada de Colombo ao Novo Mundo: "Cai de joelhos, chora, beija o solo. Avança tremendo, pois há mais de um mês dorme pouco ou nada, e a golpes de espada derruba uns arbustos. Depois, ergue o estandarte. De joelhos, os olhos no chão, pronuncia três vezes os nomes de Isabel e Fernando. Ao seu lado, o escrivão Rodrigo de Escobedo, homem de letra lenta, levanta a ata. Tudo pertence, desde hoje, a esses reis distantes: o mar de corais, as areias, os rochedos verdíssimos de musgo, os bosques, os papagaios e esses homens de barro que ainda não conhecem a roupa, a culpa, nem o dinheiro, e que contemplam, atordoados, a cena. (...) Em seguida, correrá a voz pelas ilhas: 'Venham ver os homens que chegaram do céu!'".
Na falta de ouro, escravos
Colombo escreveu em seu diário, no dia 12 de outubro de 1492: "Acredito que os nativos me consideram um deus, e os navios são para eles monstros que emergiram do fundo do mar durante a noite. A aparência deles igualmente nos surpreende, porque são diferentes de todas as raças humanas que vimos até agora. Sem dúvida, são bondosos e pacíficos. Acredito que não conhecem o ferro. Eles tampouco sabiam o que fazer com as nossas espadas".
A falta de defesa provou-se fatal para os nativos. Colombo não encontrou nem ouro, nem outras mercadorias. Para poder apresentar um êxito à coroa espanhola, decidiu escravizar a população da ilha. "Levarei seis desses homens na viagem de volta, para apresentá-los ao rei e à rainha. Eles devem aprender a nossa língua", anotou Colombo em 12 de outubro de 1492.
Os seis transformaram-se em centenas de milhares. No final da conquista espanhola, a população das Índias Ocidentais estava dizimada. Colombo realizaria mais três viagens ao Novo Mundo, sem saber que não se tratava da Índia e, sim, do continente que um cartógrafo alemão batizou com o nome do navegador italiano Américo Vespúcio: América.
Apesar de não ser fácil determinar exatamente qual a época em que os portugueses terão começado a desenvolver o plano da descoberta do caminho marítimo para a Índia, alguns historiadores consideram que a ideia teria vindo do infante D. Henrique. Todavia, pensa-se que apenas após se ter arrendado o comércio da Mina a
Fernão Gomes, em 1469, é que se definiu, no plano das viagens, a necessidade de fazer um reconhecimento rápido da costa africana para sul, o que, obviamente, tinha como objetivo a descoberta da possível ligação do Oceano Atlântico com o Índico.
Tal objetivo foi atingido em 1488, na altura em que
Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança, dando por acabado este ciclo de explorações, em que muitos outros navegadores, como Diogo Cão, tinham participado.
Após ter recebido, em 1492, o relatório de Pero da Covilhã, que tinha ido por
terra recolher informações sobre o Oriente, D. João II começou a preparar a primeira viagam marítima até à Índia ordenando a construção dos navios necessários, apesar de só no reinado de D. Manuel I tal viagem ter tido lugar. Este monarca, fazendo prevalecer a sua opinião sobre uma maioria de cortesãos que se pronunciava negativamente, designou
Vasco da Gama para chefiar a expedição, acabando a pequena armada por partir a 8 de junho de 1497. Constituída por três navios, as naus S. Rafael, S. Gabriel e Bérrio, capitaneadas por Paulo da Gama, Vasco da Gama e Nicolau Coelho,
respetivamente, a armada levava cerca de centena e meia de marinheiros e soldados, dos quais metade terá falecido durante a viagem devido ao escorbuto.
Monumento aos Descobrimentos, em Lisboa
Infante D. Henrique, o grande impulsionador dos descobrimentos portugueses
Réplica de caravela portuguesa da época dos descobrimentos
Vasco da Gama, navegador português, comandante da frota que descobriu o caminho marítimo para a Índia
Nau da "carreira da Índia"
Estátua de Vasco da Gama, em Évora
Vasco da Gama partiu de Lisboa e seguiu a linha da costa de Cabo Verde até à
Serra Leoa, atingindo a Baía de Santa Helena a 7 de novembro de 1497, a Baía de S. Brás a 25 de novembro, Moçambique (onde tomou um piloto mouro) a 2 de março de 1498, Mombaça a 7 de abril e
Melinde a 14 de abril (onde contratou o excelente piloto árabe Ibn Madjid), chegando finalmente a norte de Calecute a 20 de maio desse ano. A 29 de agosto, os três navios partiram de regresso, tendo sido a nau Bérrio a primeira a chegar a
Lisboa, a 10 de julho de 1499. Não se conhece, porém, a data exata da chegada de Vasco da Gama a Portugal.
Além de, a bordo, se terem determinado latitudes por observações solares, o que já não era novidade, supõe-se que terá sido na armada de
Vasco da Gama que se usaram tábuas quadrienais solares pela primeira vez.
Com o regresso das naus a Lisboa, estabeleceu-se uma ligação marítima que, durante muitas décadas, iria ser explorada pela Coroa e serviria para o estabelecimento da Índia
Portuguesa. De facto, a descoberta do caminho marítimo para a Índia permitiu que se estabelecesse uma nova rota a ligar diretamente as regiões produtoras das especiarias aos mercados europeus. Dominada pelos portugueses até meados do século XVII, a Rota do Cabo possibilitou um grande desenvolvimento económico da
metrópole.