Como funciona cobra de duas cabeças?

O registro foi feito por pai e filho que encontraram a espécie no jardim da casa onde vivem em Buenos Aires, na Argentina e depois libertaram o animal que normalmente vive debaixo da terra.

O pesquisador Henrique Costa estava acessando a plataforma "iNaturalist", quando viu o registro feito por Mateo Cocimano.

"O indivíduo fotografado era praticamente branco, com manchas amarelas, o que não é comum para a espécie que costuma ter tonalidade que varia de rosa e marrom até a coloração preta. Pensei então que pudesse ser alguma mutação genética e decidi entrar em contato com a família", explica.

Cobra-de-duas-cabeças estava no jardim da casa de argentino — Foto: Mateo Cocimano

A partir da suspeita, Henrique Costa entrou em contato com um colega de profissão para tentar identificar a espécie. "Conversei com o herpetólogo Ricardo Montero, que também é da Argentina e ele me ajudou a confirmar a espécie conhecida cientificamente como Amphisbaena darwini. O nome inclusive é uma homenagem a Charles Darwin", relembra.

Ainda segundo o pesquisador, após a identificação foi constatado que o animal tinha uma condição chamada amelanismo.

"O albinismo é quando falta o pigmento total da cor natural do animal. E nesse individuo da foto, apesar de ter o corpo praticamente todo branco, ele possuía manchas amarelas, ou seja, havia uma mínima pigmentação, portanto, foi classificado como amelânico", explica.

Com a descoberta, Henrique Costa convidou sua aluna de mestrado Carolina Paiva para buscar informações na literatura sobre anfisbenas com essa anomalia. E o resultado surpreendeu.

"Descobrimos que só haviam, 5 casos de anomalias cromáticas em anfisbenas. Quatro relatavam espécies com piebaldismo, com coloração normal (marrom) com manchas esbranquiçadas, a grosso modo, algo como vitiligo. E um registro, de uma espécie da Europa, com albinismo. Mas até então, nenhum registro citava a cobra-de-duas-cabeças com amelanismo, ou seja, se tratava de algo raro na natureza. O primeiro registro em todo mundo", conta.

Entenda porque anfisbenas são chamadas de cobra-de-duas-cabeças — Foto: Foto: martin_arregui/iNaturalist

Por que cobra-de-duas-cabeças?

Para começar, apesar do nome popular, esse animal não é uma cobra. O herpetólogo Henrique Costa afirma que cientificamente, as espécies desse grupo são chamadas de anfisbenas.

"Eles fazem parte de um grupo de lagartos, que ao longo da evolução perderam as patas. Portanto, apesar do nome, não são cobras. Ela é chamada popularmente assim, devido a suas características. O corpo desses répteis é longo, e, assim como as serpentes, não tem patas. E além disso, a sua cauda é curta e arredondada, apresentando mais ou menos a mesma largura da cabeça, parecendo que são, duas cabeças, uma em cada ponta", conta o herpetólogo Henrique Costa.

Atualmente existem cerca de 200 espécies de anfisbenas no mundo e o Brasil é o país que tem maior diversidade desses animais. "Nós temos aproximadamente 80 espécies de cobras-de-duas-cabeças no país. A maior porcentagem desses répteis vive no Cerrado e na Caatinga", destaca ele.

Esses animais vivem enterrados, no subsolo e se alimentam de invertebrados, como larvas de besouros, cupim e formigas.

Cobra-de-duas-cabeças — Foto: Foto: Gustavo Fernando Durán/trekman/iNaturalist

Inofensivas, mas espertas

Como elas vivem debaixo da terra não é tão simples encontrá-las. "É mais comum quando tem fortes chuvas e aí as galerias subterrâneas que elas escavam ficam encharcadas, e como elas precisam de ar para respirar, elas acabam saindo para respirar e não morrerem afogadas. Ou então quando alguém está passando um trator, ou fazendo a aragem de terra. Ou mexendo no jardim, em regiões onde se adaptam ao ambiente urbano, então é possível mexer e encontrar", diz.

Uma outra curiosidade é que quando as anfisbenas se sentem ameaçadas, a cauda delas pode se mover tanto quanto a cabeça, ajudando a confundir o predador, que não sabe onde atacar. Algumas espécies podem soltar um pedaço da sua cauda, tal como alguns lagartos fazem, para confundir seus predadores e escapar.

Ciência Cidadã

Henrique Costa afirma que sempre acessa plataformas de ciência cidadã para encontrar espécies de anfisbenas distribuídas no mundo. E que essa história mostrou o quanto os biólogos dependem do apoio da população.

"Esse registro mostra o quanto é importante ter essa troca entre cientistas e cidadãos. Afinal, nós pesquisadores, não podemos estar em todos os lugares. E com essa troca de informações podemos encontrar registros incríveis e muito raros. Uma prática onde todos ganham: as pessoas colaboram e a ciência amplia seus conhecimentos científicos", finaliza Henrique Costa.

Quem é o dono da cobra de duas cabeças?

O fundador da organização, Nick Evans, explicou nas redes sociais que o animal tem hábitos noturnos e que não é considerado venenoso. Evans também esclareceu que as cobras de duas cabeças (bicéfalas) podem ser encontradas tanto em cativeiro quanto na natureza, mas que são muito raras.

Qual o perigo da cobra de duas cabeça?

Apesar de as anfisbenas não possuírem veneno, algumas espécies são capazes de morder – e com força. Assim, é importante respeitar o ser vivo em questão, evitando pegá-lo ou confrontá-lo. Se você agir dessa forma, não terá nenhum risco de ser mordido. A cobra-de-duas-cabeças tem olhos bem pequenos.

Como funciona a cobra de duas cabeças?

Como cobras de duas cabeças se locomovem e se alimentam Como as cabeças se movem em direções opostas e de forma independente entre si, a cobra precisa adotar um mecanismo eficaz de locomoção. “Ela repousa uma cabeça sobre a outra. Esta parece a maneira mais inteligente para elas se moverem”.

Como nasce a cobra de duas cabeças?

Estes animais são ovíparos, ou seja, se reproduzem através de ovos. Entretanto, por viverem embaixo do solo, é muito difícil observar seus hábitos na natureza. Entretanto, sabe-se que em nosso país, já são conhecidas 67 diferentes espécies desses animais.