Como podemos incluir um aluno deficiente nas aulas de educação física?

Maria Lu�za Tanure Alves & Edison Duarte  

Como podemos incluir um aluno deficiente nas aulas de educação física?

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  • Introdu��o
  • Material e m�todos
  • Resultados
  • Discuss�o
  • Barreiras relacionadas ao professor
    - Falta de prepara��o profissional    - Curr�culo e atividades    - Ritmo da aula    - Medo, superprote��o e expectativas limitadas
  • Barreiras relacionadas com o aluno
    - Superprote��o dos pais    - Falta de oportunidades    - Falta de confian�a
  • Barreiras administrativas
    - Tempo    - Falta de equipamento apropriado    - Dispensa m�dica  Conclus�o
  • Refer�ncias

Introdu��o

Sassaki (1997), Stainback e Stainback (1999) descrevem que o processo de inclus�o vem sendo discutido e implementado desde a d�cada de 90. O objetivo principal desse movimento � promover a participa��o social concreta das pessoas com necessidades especiais. O princ�pio da inclus�o defende que a sociedade deve fornecer as condi��es para que todas as pessoas tenham a possibilidade de ser um agente ativo na sociedade. Desse modo, temos como pr�-requisito a reestrutura��o da sociedade para que a pessoa portadora de defici�ncia consiga exercer seus direitos. As a��es inclusivas devem estar presentes em todos os aspectos da vida do indiv�duo, tais como no campo educacional, laboral, esportivo, recreativo, entre outros.

Assim sendo, o processo de inclus�o do deficiente visual se mostra uma necessidade. A defici�ncia visual acarreta grande perda de informa��es sobre o meio, prejudicando a intera��o social e poss�veis oportunidades de uma participa��o plena nos diversos aspectos da vida cotidiana. A escassez de informa��es visuais pode ocasionar, caso a crian�a n�o seja adequadamente estimulada, preju�zos em diversos aspectos de seu desenvolvimento, tais como atrasos no campo motor, cognitivo, emocional e social. Dessa forma, � de suma import�ncia que a crian�a cega ou com baixa vis�o seja amplamente estimulada para que possa alcan�ar n�veis de desenvolvimento semelhantes aos seus pares n�odeficientes.

Esse est�mulo deve preceder o per�odo escolar, por�m a escola e, conseq�entemente, a disciplina Educa��o F�sica, exercem papel fundamental nesse processo (Craft, 1990; Conde, 1994; Almeida, 1995; Cobo, 2003; Bueno, 2003).

Nosso objetivo com este trabalho � o de agrupar o maior n�mero poss�vel de informa��es da literatura cient�fica sobre a inclus�o do aluno deficiente visual nas aulas de Educa��o F�sica, servindo, dessa forma, como subs�dio para os profissionais da �rea e outros que trabalhem com essa popula��o. Essas informa��es possibilitar�o uma vis�o sobre a situa��o atual das pesquisas desenvolvidas sobre o tema, al�m de servirem como base para a elabora��o de outros estudos nesse campo.

O entendimento sobre o tema pode trazer novas possibilidades para a pr�tica pedag�gica do profissional de Educa��o F�sica, al�m de possibilitar a revis�o de suas estrat�gias e metodologias empregadas na educa��o do aluno deficiente visual.

Esse conhecimento representa um ponto primordial para a concretiza��o do processo inclusivo. � apenas com o conhecimento sobre as necessidades, as capacidades, as potencialidades e as habilidades de seu aluno que o educador inclusivo ser� capaz de desenvolver pr�ticas eficazes para a inclus�o do aluno cego ou com baixa vis�o.

Material e m�todos

Segundo Turtelli (2003), o presente estudo corresponde � pesquisa do tipo revis�o bibliogr�fica. Dessa forma, a base desta pesquisa consistiu no estudo de livros, de artigos especializados, de disserta��es e de teses, o que possibilitou o acesso e a manipula��o de informa��es relevantes para a reflex�o sobre as rela��es entre inclus�o, defici�ncia visual e Educa��o F�sica escolar.

O levantamento bibliogr�fico foi realizado em bases de dados dispon�veis via internet. Restringimos o per�odo de levantamento bibliogr�fico dos livros, das disserta��es, das teses e dos artigos em peri�dicos de 1990 a 2004. Esse per�odo � considerado de grande relev�ncia uma vez que corresponde ao aumento do interesse da comunidade cient�fica sobre o tema e proporciona uma vis�o dos trabalhos atuais desenvolvidos. Anteriormente a esse per�odo, selecionamos apenas os trabalhos dos autores mais relevantes para o tema de nossa pesquisa, os quais s�o considerados obras cl�ssicas sobre o assunto pela comunidade cient�fica, e s�o utilizados como subs�dio para os trabalhos realizados sobre o tema. Ao todo foram pesquisadas cinco bases de dados digitais a) Bases de dados da ERL - WebSpirs; b) Bases de dados da Bireme; c) Base de dados Dedalus; d) Base de dados Acervus; e) Base de dados Athena.

A busca bibliogr�fica nas bases de dados citadas foi realizada nos computadores das bibliotecas setoriais da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, Estado de S�o Paulo. A base de dados WebSpirs � acess�vel apenas para pesquisadores e institui��es conveniados, enquanto as bases Bireme, Dedalus, Acervus e Athena s�o de acesso livre.

Os materiais bibliogr�ficos selecionados foram adquiridos nas bibliotecas setoriais da Unicamp. Os artigos selecionados n�o-encontrados nas bibliotecas da Unicamp foram pedidos a outras universidades brasileiras pelo sistema Comut.

A pesquisa foi realizada em todas as bases de dados por assunto. Foram utilizadas, como palavraschave, �inclus�o�, �defici�ncia visual�, �cegueira�, �baixa vis�o� e �educa��o f�sica escolar�. Os cruzamentos das palavras-chave foram empregados de acordo com a necessidade de l�ngua portuguesa ou inglesa pela base de dados.

Ap�s o levantamento bibliogr�fico, o material foi estudado por meio da realiza��o de fichamentos, que objetivavam abranger todas as informa��es relevantes para o estudo do processo de inclus�o de deficientes visuais nas aulas de Educa��o F�sica escolar, bem como s�nteses das principais id�ias de cada texto pesquisado. A elabora��o dos fichamentos com as principais id�ias de cada texto objetivou uma posterior correla��o entre os diversos autores. O cruzamento dos resultados e conclus�es apresentados por cada estudo possibilitou uma vis�o sobre os caminhos que as pesquisas sobre o tema v�m seguindo. Dessa forma, pode-se observar os pontos falhos sobre o assunto e tamb�m novos questionamentos para poss�veis estudos futuros.

Resultados

A realiza��o da busca bibliogr�fica, em um primeiro momento, permitiu-nos verificar a pequena quantidade de pesquisas realizadas na �rea. Como resultado de nossa busca inicial, tivemos um n�mero reduzido de trabalhos. Tal condi��o pode ser visualizada na Tabela 1.

Nesta Tabela relacionamos apenas as bases que traziam algum trabalho como refer�ncia para nossa pesquisa. A leitura dos resumos encontrados nos permitiu concluir que a maioria deles n�o abordava o tema, embora apresentassem alguma das palavraschave empregadas na busca. Alguns trabalhos encontrados traziam como tema central o processo de inclus�o do aluno deficiente visual, embora n�o estivessem diretamente relacionados com a sua inclus�o nas aulas de educa��o f�sica escolar. A partir disso, realizamos a primeira sele��o de trabalhos.

Apesar de esses estudos n�o fazerem refer�ncia � inclus�o do aluno cego ou com baixa vis�o no contexto da aulas de educa��o f�sica, entendemos que estes eram importantes para a compreens�o ampla do tema.  

Tabela 1. N�mero de trabalhos encontrados em bases de dados sobre inclus�o, defici�ncia visual e educa��o f�sica escolar.  

Base de dados

�inclus�o� e �defici�ncia visual� e �Educa��o F�sica�

�inclus�o� e �cegueira� e �Educa��o F�sica�

�inclus�o� e �baixa vis�o� e � Educa��o F�sica�

PsycINFO

__

1

__

Sports Discus

1

3

__

Exceptional Child EducationABS

1

__

__

Eric

__

__

   

Como conseq��ncia da escassez de trabalhos espec�ficos encontrados e at� mesmo da aus�ncia deles, realizamos uma busca bibliogr�fica com um car�ter mais amplo, utilizando apenas como palavraschave os termos relacionados com a defici�ncia visual e a inclus�o. Na Tabela 2 apresentamos os resultados obtidos:  

Tabela 2. N�mero de trabalhos encontrados sobre a inclus�o e defici�ncia visual.  

Base de dados

�Inclusion� e �Blindness�

�Inclusion� e �Visual Impairments�

�Inclusion� e �Low Vision�

Angeline

1

3

__

Biological Abstracts

11 

7

1

CAB

12  

1

__

FSTA

1

__

__

Medline

75

25

4

PsycINFO

22 

11

4

Sports Discus

4  

1

__

Infotrac Custom

1

__

Exceptional Child Education ABS

31

22

5

Eric

41 

10

5

Francis

1

2

nternacional Political Sciences Abs

__

__

LISA

__

__

1

                  

A utiliza��o das palavras-chave mostradas nesta Tabela tornou a busca bibliogr�fica menos restritiva, tendo como resultado principal um maior n�mero de trabalhos encontrados. Os estudos encontrados abordavam, em sua maioria, a inclus�o do indiv�duo deficiente, principalmente nos �mbitos educacional, social e esportivo. A partir disso, pudemos selecionar aqueles relevantes para a concretiza��o de nossos objetivos. Aliada a esse processo, ainda realizamos uma busca por meio da an�lise das refer�ncias bibliogr�ficas apresentadas pelos trabalhos selecionados.

Apesar dos escassos resultados encontrados sobre a inclus�o do aluno deficiente visual nas aulas de educa��o f�sica escolar, s�o muitos os estudos realizados sobre o processo inclusivo nos seus variados contextos. Estes est�o concentrados principalmente na �rea de humanas, como sociologia e psicologia.

Notamos que h� grandes lacunas a serem preenchidas a respeito do contexto das aulas de educa��o f�sica. Os estudos nesse campo se mostraram recentes, com in�cio na d�cada de 90, princ�pio das id�ias inclusivistas. Os materiais encontrados de per�odo anterior � d�cada de 90 tratam principalmente do princ�pio da integra��o.

Discuss�o

Para a an�lise dos resultados encontrados, utilizamos como base o estudo desenvolvido por Lieberman e Houston-Wilson (1999), j� que proporciona a compreens�o dos principais impedimentos envolvidos no processo de inclus�o do aluno deficiente visual nas aulas de Educa��o F�sica, bem como as oportunidades ofertadas.

Segundo trabalhos pesquisados, as tentativas de inclus�o de alunos deficientes visuais dentro do contexto escolar deparam-se com algumas barreiras importantes para a sua concretiza��o, as quais s�o classificadas de acordo com as atitudes apresentadas pelos professores, pelos pr�prios alunos cegos ou com baixa vis�o e pela administra��o da escola. Essas barreiras encontradas podem ser:  

Barreiras relacionadas ao professor

Falta de prepara��o profissional

A falta de uma prepara��o profissional de qualidade � apontada como um fator importante na exclus�o do aluno deficiente visual. Os professores se sentem despreparados e incapazes de promover a inclus�o desse aluno. Afirmam ter recebido reduzidas informa��es sobre a defici�ncia visual durante a sua forma��o (Sassaki, 1997; Liberman e Houston-Wilson, 1999; Lima e Duarte, 2001). A solu��o poss�vel para essa situa��o seria a estimula��o de uma prepara��o profissional de qualidade, na qual seriam fornecidas informa��es sobre metodologias e estrat�gias de ensino que auxiliasse no processo inclusivo do aluno deficiente visual. Basicamente, essas informa��es teriam como �nfase as adapta��es que podem ser realizadas nas aulas de educa��o f�sica, bem como em seus recursos esportivos e recreacionais. Nesse sentido, os conte�dos de informa��o sobre as necessidades educativas especiais s�o freq�entemente inexistentes ou pouco direcionados para a solu��o de problemas concretos de planejamento, interven��o e avalia��o que o profissional possa vir a encontrar. Os profissionais de apoio tamb�m s�o inexistentes, e o apoio educativo � fornecido por docentes que n�o s�o da �rea disciplinar.

Curr�culo e atividades

Essa barreira est� relacionada com o curr�culo e com a maioria das atividades propostas durante as aulas de educa��o f�sica escolar. As atividades como basquetebol, futebol, voleibol, em seu formato tradicional, s�o encaradas como desfavor�veis � participa��o independente de alunos cegos ou com baixa vis�o. No entanto essas atividades podem e precisam ser adaptadas (utiliza��o de bolas com guizos, guias, etc.) para que a participa��o do aluno deficiente visual seja poss�vel. Por outro lado, atividades como nata��o, atletismo, artes marciais e gin�stica podem ser incorporadas durante as aulas, j� que proporcionam a independ�ncia e a oportunidade de estudantes deficientes visuais em participar (Rizzo e Vispoel, 1991).

Ritmo da aula

Outro obst�culo encontrado para a inclus�o do aluno cego ou com baixa vis�o � o ritmo adotado pelo professor para a progress�o curricular. Nesse caso, dependendo de fatores como a atividade proposta e as caracter�sticas individuais do aluno, os deficientes visuais necessitam de maior tempo, de explica��es espec�ficas, de demonstra��es, de aux�lio de guias, al�m de respostas quanto ao desempenho alcan�ado.

Entretanto, para que ocorra a participa��o ativa do aluno com defici�ncia visual nas aulas de educa��o f�sica, � necess�rio que o professor molde o ritmo da aula ao seu grupo de alunos, e isso inclui o seu aluno cego ou com baixa vis�o. No contexto inclusivo, o centro da aula deixa de ser o professor e passa a ser o aluno (Rizzo e Vispoel, 1991).

Medo, superprote��o e expectativas limitadas

A concep��o do professor de que seus alunos deficientes visuais s�o incapazes de realizar as atividades propostas e at� mesmo que s�o uma amea�a para sua pr�pria seguran�a traduz-se em uma grande barreira para a sua inclus�o. � fundamental que o educador compreenda que seu aluno cego ou com baixa vis�o, desde que receba informa��es e aux�lios necess�rios, � capaz de realizar as mesmas atividades que o aluno n�o-deficiente. O professor deve estar atento para as adapta��es necess�rias para a pr�tica das atividades propostas. (Lieberman e Houston-Wilson, 1999).  

Barreiras relacionadas com o aluno

Superprote��o dos pais

Essa superprote��o exercida pelos pais sobre seus filhos deficientes visuais impede a participa��o efetiva desse aluno nas aulas de Educa��o F�sica.

Como conseq��ncia, temos a n�o-intera��o da crian�a cega ou com baixa vis�o com o seu ambiente. Em alguns casos, os pais exigem a n�o-participa��o do filho nas aulas de Educa��o F�sica. (Lieberman e Houston-Wilson, 1999).

Falta de oportunidades

Essa barreira consiste na falta de recursos ou de adapta��es necess�rias para a participa��o do aluno deficiente visual. Sendo assim, esse aluno � impedido de participar das atividades propostas na aula de educa��o f�sica. (Lieberman e Houston-Wilson, 1999).

Falta de confian�a

A falta de oportunidades para participar nas atividades da aula de educa��o f�sica se traduz, posteriormente, em uma falta de confian�a para participar em atividades futuras. Os alunos alegam:

  • baixo n�vel de habilidade;

  • medo do rid�culo;

  • medo de fazerem seu time perder;

  • medo de se machucarem ou machucarem os outros.

Como solu��o para essa falta de confian�a apresentada, os alunos cegos ou com baixa vis�o t�m de ser estimulados desde cedo para que assim desenvolvam n�veis de habilidades semelhantes aos das crian�as n�o-deficientes. (Lieberman e Houston- Wilson, 1999).  

Barreiras administrativas

Tempo

As crian�as com defici�ncia visual t�m de dividir o seu tempo com outras atividades como aulas de Braille, orienta��o e mobilidade e terapia educacional. Essa falta de tempo pode impedir a participa��o dessa crian�a em programas de atividade f�sica. (Lieberman e Houston-Wilson, 1999).

Falta de equipamento apropriado

A falta de equipamento apropriado, aliado � aus�ncia de adapta��es nas atividades propostas, impede a participa��o da crian�a deficiente visual nas aulas de Educa��o F�sica escolar. � fundamental que o professor esteja atento para essa necessidade, para que todos os seus alunos tenham oportunidades de participar. (Lieberman e Houston-Wilson, 1999).

Dispensa m�dica

Essa barreira diz respeito aos laudos de m�dicos e oftalmologistas, os quais, por medo ou por desconhecimento, pro�bem o aluno cego ou com baixa vis�o de freq�entar as aulas de educa��o f�sica.

Aliadas aos obst�culos mencionados acima, as atitudes do professor exercem um papel fundamental durante o processo inclusivo. Nesse sentido, o aluno com defici�ncia visual � o menos desejado pelos professores para se ter em classe. Para Wall (2002), essa atitude em rela��o � inclus�o do aluno cego ou com baixa vis�o parece estar associada a dois fatores:

  • � experi�ncia do professor com alunos deficientes visuais;

  • � cren�a do professor a respeito de sua capacidade para ensinar esse aluno. (Wall, 2002).

O autor descreve que os professores com relatos de experi�ncias negativas com crian�as deficiente visuais apresentam atitudes negativas sobre a inclus�o dessas crian�as. No entanto o contato com alunos cegos ou com baixa vis�o pode aumentar a aceita��o desses alunos pelo professor. Sendo assim, a exposi��o a pessoas com defici�ncia visual, em situa��o n�o-amea�ante, pode diminuir a relut�ncia do professor em interagir com o aluno deficiente visual.

Entretanto a exposi��o de professores a pessoas com defici�ncia visual, anteriormente ao contexto educacional, pode acarretar atitudes relativas � inclus�o do aluno cego ou com baixa vis�o tanto negativas quanto positivas no professor. As atitudes positivas s�o conseq��ncia de experi�ncias positivas, nas quais o professor n�o se sentiu amea�ado ou pressionado a atuar de alguma forma. Experi�ncias que geraram desconforto ou aquelas em que o professor se sente pressionado a agir manifestam-se posteriormente em atitudes negativas sobre a inclus�o por parte dele. (Wall, 2002)

Wall (2002) afirma ainda que, com rela��o � cren�a do professor na sua capacidade para educar alunos deficientes visuais, aqueles com um n�mero maior de participa��o em cursos sobre a educa��o especial desenvolvem atitudes mais positivas em rela��o aos professores sem esse tipo de prepara��o.

Professores com experi�ncias diretas ou indiretas na educa��o de alunos deficientes visuais mostram-se menos favor�veis � coloca��o de alunos com baixa vis�o em classes especiais ou em escolas especiais do que os professores que nunca tiveram contato com essas crian�as. Por outro lado, os professores consideram aceit�vel a educa��o do aluno cego total em classes ou em escolas especiais. Tal escolha se deve ao sentimento de despreparo em educar tais alunos adequadamente.

Dessa forma, professores com experi�ncias na educa��o do aluno deficiente visual s�o positivos quanto � inclus�o apenas do aluno com baixa vis�o.

Em rela��o aos professores com menos experi�ncias nesse contexto, eles se mostram favor�veis � educa��o do aluno cego ou com baixa vis�o em ambientes mais restritivos, tendendo a ter menos confian�a em suas habilidades para educar efetivamente esses alunos, apresentando-se, conseq�entemente, menos positivos com rela��o ao processo inclusivo do deficiente visual. (Wall, 2002) Rizzo e Vispoel (1991) descrevem que, no que concerne �s atitudes positivas, estas est�o relacionadas com o tempo de ensino dedicado a alunos com necessidades educacionais especiais e negativamente relacionadas com o tempo de ensino de maneira geral, sugerindo-nos que, para o desenvolvimento de atitudes positivas, s�o mais relevantes as experi�ncias espec�ficas do que um simples acumular de anos de servi�o.

Rizzo e Vispoel (1991) e Rodriguez (2002) descrevem que, ainda com rela��o �s atitudes apresentadas pelos professores frente � inclus�o do aluno deficiente visual, os seguintes fatores tamb�m podem estar associados:

  • g�nero do professor; As mulheres s�o respons�veis por atitudes mais positivas com rela��o ao processo inclusivo de alunos com necessidades educativas especiais.

  • conhecimento da defici�ncia do aluno; O conhecimento da defici�ncia do aluno favorece atitudes positivas para a sua inclus�o.

  • n�vel de ensino em que o aluno se encontra; Os alunos em n�veis mais b�sicos de escolaridade evocam atitudes mais positivas dos professores quando comparados com alunos em n�veis mais avan�ados.

Temos, desse modo, muitos fatores que interferem nas atitudes apresentadas pelos professores com rela��o ao processo inclusivo do deficiente visual. No entanto podemos observar que esses fatores n�o est�o diretamente relacionados com a disciplina educa��o f�sica, a qual � encarada como uma disciplina capaz de criar oportunidades para a inclus�o devido � possibilidade de trabalho de seus conte�dos de diversas formas. Essa possibilidade de trabalhar os variados conte�dos de diferentes maneiras, com diversas atividades, permite a participa��o de alunos com dificuldades para responder a exig�ncias muito restritas e �s quais os professores sentem dificuldade em abdicar. (Rodrigues, 2002).

Rizzo e Vispoel (1991) afirmam que professores de educa��o f�sica s�o vistos como profissionais com atitudes mais positivas frente � inclus�o do que os demais professores. Isso se deve, talvez, aos aspectos fortemente expressivos da disciplina, na qual os professores envolvidos encontram mais facilmente respostas para casos dif�ceis. Por outro lado, a essa disciplina � capaz de proporcionar a participa��o e a satisfa��o elevadas de alunos com os mais variados n�veis de desempenho.

Para os autores, entretanto, a escola apresenta uma cultura de exclus�o de todos aqueles que n�o se enquadram nos padr�es esperados. Nesse sentido, temos a influ�ncia da educa��o f�sica por essa cultura.

O contexto competitivo, por vez muito utilizado nas aulas dessa disciplina, traduz fielmente a cultura de exclus�o dos alunos considerados menos capazes para um bom desempenho em uma competi��o. O professor de Educa��o F�sica deve estar atento �s pr�ticas e �s exig�ncias impostas aos alunos. O profissional inclusivista tem como objetivo principal possibilitar a participa��o de todos os seus alunos, sejam eles deficientes ou n�o.

Conclus�o

� consenso geral, entre os autores pesquisados, a grande necessidade de concretiza��o do processo inclusivo. O entendimento apresentado por eles nos mostra que a inclus�o � vista como um direito fundamental de todo cidad�o, deficiente ou n�o. Esse processo deve ocorrer em todos os aspectos da vida, sejam estes no campo educacional, esportivo, laboral, emocional, entre outros. Para tanto, a sociedade deve se reestruturar para fornecer as condi��es para a participa��o plena de seus integrantes. Isso est� associado, principalmente, ao respeito � diversidade e �s respostas �s necessidades individuais de cada um.

O processo educacional do deficiente visual deve estar centrado nas necessidades e nos anseios do aluno. O professor tem o papel de adequar suas atividades e conte�dos para a realidade de seus alunos, respeitando a diversidade presente em sua sala. No caso do aluno deficiente visual, as principais modifica��es dizem respeito �s adapta��es nas atividades a serem propostas. A crian�a cega ou com baixa vis�o pode participar do desenvolvimento dos mesmos conte�dos que seus pares videntes. A preocupa��o deve residir no fornecimento de condi��es seguras para que esse aluno participe. Com rela��o � educa��o f�sica, ela aparece como uma disciplina prop�cia para a promo��o da inclus�o.

Dentre os principais motivos para esse fato, temos as atitudes dos professores, que aparecem como mais positivas para esse processo; a possibilidade de trabalho de seus conte�dos de diversas formas, com diferentes tipos de atividades, podendo, dessa forma, realizar modifica��es que permitam a participa��o de todos. As atividades propostas s�o amplamente pass�veis de adapta��es e apresentam, geralmente, caracter�sticas l�dicas e recreativas estimulantes � participa��o e � integra��o de todos.

Observamos que muitos s�o os esfor�os empenhados para a promo��o da inclus�o do deficiente visual. No entanto as pesquisas realizadas na �rea nos apontam grandes lacunas a serem preenchidas. Os estudos realizados na �rea carecem de especificidade maior nos aspectos relacionados �s v�rias faixas et�rias presentes na escola. A crian�a deficiente visual � descrita de forma geral nos estudos, n�o havendo especificidades caracter�sticas da idade de cada ciclo escolar. � necess�rio o desenvolvimento de estudos que abordem a defici�ncia visual associada �s nuances encontradas em cada fase do desenvolvimento da crian�a.

Estudos longitudinais tamb�m desempenham um papel importante na evolu��o das pr�ticas inclusivas com o aluno deficiente visual. Nossa pesquisa apontou a inexist�ncia desse tipo de trabalho com o tema. � importante o desenvolvimento de pesquisas nessa �rea para sanar as grandes dificuldades ainda encontradas.

Podemos observar que muitas s�o as atitudes e a��es desenvolvidas para a inclus�o do aluno deficiente visual no contexto educacional. No entanto esse � um processo gradual que ainda necessita de muitos acr�scimos com rela��o �s pesquisas realizadas, bem como no que diz respeito � conscientiza��o das possibilidades para a sua concretiza��o. Os educadores devem se conscientizar da necessidade de atitudes inclusivas em suas pr�ticas educacionais, nas quais a diversidade tem grande valor para o crescimento e o desenvolvimento da sociedade.

Refer�ncias

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RESUMO | A inclus�o tem como objetivo construir uma sociedade capaz de promover a participa��o social concreta de seus indiv�duos. A defici�ncia visual acarreta, para o indiv�duo, uma grande perda de informa��es decorrente das reduzidas oportunidades de intera��o com o meio e com as pessoas que o rodeiam. Nosso estudo consistiu na realiza��o de um levantamento bibliogr�fico sobre o tema, no per�odo de 1990 a 2004, com a respectiva an�lise dos resultados por meio da estrutura��o das principais id�ias de cada autor. Nosso objetivo foi agrupar e analisar os principais trabalhos na �rea, servindo como subs�dio para os profissionais de Educa��o F�sica que atuam com essa popula��o. A disciplina de Educa��o F�sica aparece como prop�cia para a inclus�o do aluno deficiente visual devido � possibilidade de trabalho de seus conte�dos de diferentes formas. Entretanto os professores apresentam atitudes negativas decorrentes, principalmente, das informa��es insuficientes que recebem durante seu processo de forma��o.


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A inclus�o do deficiente visual nas aulas de educa��o f�sica escolar: impedimentos e oportunidades
autores: Maria Lu�za Tanure Alves e Edison Duarte
Faculdade de Educa��o F�sica, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Acta Sci. Human Soc. Sci. Maring�, v. 27, n. 2, p. 231-237, 2005

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7.Ag.2014 publicadopor MJA

Como incluir alunos com deficiência física?

O aluno deve ficar nas primeiras fileiras ou no centro da sala, de forma que todos o vejam - e possam ajudá-lo, caso precise. O ideal é que haja espaço para ele se locomover sem grandes dificuldades.

Como a inclusão pode ser inserida nas aulas de educação física?

A Educação Física Inclusiva resulta do convívio social de todos os alunos, independente do seu talento, deficiência, origem sócio-econômica, étnica ou cultural, cujo objetivo é trabalhar corpo e movimento, sendo consideradas todas as características dos educandos em todas as suas dimensões, tais como: cognitivas, ...

Quais os 2 tipos de inclusão que pode ocorrer na educação física *?

Dentre as modalidades de educação física voltada para estudantes com deficiência duas se destacam: a Educação Física Adaptada, onde o deficiente pratica as atividades físicas separado dos colegas de classe e a Educação Física Inclusiva, onde o deficiente é integrado aos demais estudantes.

Qual a importância da inclusão das pessoas com deficiência nas aulas de educação física?

A participação dessas pessoas nas aulas que têm o lúdico como o maior objetivo pode trazer inúmeros benefícios para os deficientes e os demais alunos, principalmente no desenvolvimento das capacidades perceptivas, afetivas, de integração e inserção social.