Conhecer as deficiências e saber como denominar as pessoas

Surdo com S maiúsculo, surdo com s minúsculo, deficiente auditivo ou pessoa com deficiência auditiva? Você já deve ter lido por aí as baboseiras clássicas que dizem que surdo é só quem usa Libras, tem surdez “total” e de nascença, faz parte da comunidade surda sinalizante e não vê a surdez como uma deficiência – e que o resto é “só” deficiente auditivo.

Para progredir nessa conversa, você deve se ater aos dados e fatos e ler/ouvir o que as pessoas surdas têm a dizer, ok? Antes, uma reflexão pertinente: essa discussão é tão bizarra quanto querer categorizar alguém entre “muito preto” e “pouco preto” ou então como “gay de verdade” e “gay de mentira”. É ridículo, ainda mais em tempos nos quais se fala tanto em diversidade e inclusão, querer subcategorizar pessoas que possuem a mesma deficiência sensorial e dizer qual delas é ‘superior’ à outra.

Os vendedores de ‘tecnologias de acessibilidade para surdos’ virão com aquele velho papo datado e chato de ‘ponto de vista clínico ouvintista’ que possui um viés e tanto; além disso, esse papo também tem o objetivo de manipular a opinião pública e negar a diversidade da surdez. É lamentável que isso continue acontecendo em pleno ano de 2022.

Portanto, muito cuidado com generalizações grosseiras que ousam falar em nome de todas as pessoas surdas. A surdez é diversa e ninguém tem competência para falar em nome ‘dos surdos’. Se você chamar um surdo oralizado e um surdo sinalizado para palestrar sobre surdez, os pontos de vista de ambos serão diametralmente diferentes – e está tudo bem, porque diversidade é isso! Não existe e nunca existirá um “jeito certo” de ser surdo. Assim como não existe um “jeito certo” de ser gay, trans, negro, etc. Ok?

Conhecer as deficiências e saber como denominar as pessoas

A surdez tem graus: leve, moderado, severo e profundo. Nem todos os tipos e graus de surdez são considerados pela LEI BRASILEIRA como deficiência auditiva.

Chamar uma pessoa com surdez leve, moderada, severa ou profunda de surdo está 100% correto. Entretanto, chamar qualquer pessoa que possui algum grau de surdez de DEFICIENTE AUDITIVO está errado, já que a lei não considera todas essas pessoas como pessoas com deficiência auditiva.

O termo ‘deficiente auditivo’ sequer deve ser usado. O correto é pessoa com deficiência auditiva. É mais simples do que parece. O que acontece é que meteram língua de sinaisno meio dessa questão, complicaram tudo à toa e querem que a sociedade acredite que só pode ser chamado de surdo quem usa Libras e não escuta nada.

Vide essa história de querer diferenciar “surdos” de “Surdos”, como se quem usa S maiúsculo fosse “superior” na fila do pão da surdez apenas porque usa Libras. “Ah, mas é uma diferença cultural”. Beleza: você já viu alguém se denominar “Preto” com P ou “Gay” com G para se diferenciar dos outros? Eu, não. Dar palco para certas bizarrices não condiz com as práticas nem com a luta pela diversidade e inclusão.

Os termos usados são:

  1. Pessoa com deficiência auditiva (todos os que têm algum grau de surdez considerado como Deficiência Auditiva pela lei brasileira)
  2. surdos (pessoas com algum grau de perda auditiva, independente da mesma ser considerada como deficiência ou não pela lei)
  3. Surdos (pessoas surdas que fazem parte da comunidade surda usuária de língua de sinais e se identificam com a cultura surda)

Segundo o dicionário, surdo é:

aquele que não ouve ou ouve mal, ou que perdeu o sentido da audição; mouco.” Você notou que o significado de surdo no dicionário inclui tanto quem ouve pouco, como quem não ouve nada?

E qual é o significado de surdez?

Falta ou perda absoluta ou diminuição considerável do sentido da audição.” Inclui a falta, a perda absoluta ou a diminuição considerável da audição. Tudo isso é surdez – ou perda auditiva, chame como preferir.

O que é considerado deficiência auditiva pela lei?

Vamos à legislação brasileira. Aqui explicamos quem a lei brasileira considera uma pessoa com deficiência auditiva.

De acordo com os critérios da lei, uma pessoa com deficiência auditiva pode ser surda oralizada, surda sinalizada, surda bilíngue. Isso não importa, o que vale é que a audiometria dessa pessoa atenda as exigências da lei no quesito “deficiência auditiva”.

Nas leis mais antigas, utilizava-se “surdos ou pessoas com deficiência auditiva”, assim, passava a impressão de separação em dois grupos.

A maioria dos surdos NÃO usa Libras

Conhecer as deficiências e saber como denominar as pessoas

A maioria dos surdos no Brasil e do mundo NÃO usa Língua de Sinais. Dados divulgados pelo IBGE em 2021, da Pesquisa Nacional de Saúde. E todo mundo já sabia disso, só faltavam os dados oficiais corroborarem. Duvida? Abra um chamado no Portal da Transparência e descubra você mesmo quantos alunos a maior escola especial para surdos sinalizados do país possui.

O Relatório Mundial da Audição, da Organização Mundial de Saúde, mostra que 1,5 bilhão de pessoas no mundo têm algum grau de surdez, mas apenas 30 milhões de pessoas são prováveis usuários de língua de sinais.

Conhecer as deficiências e saber como denominar as pessoas

Os DADOS nos mostram uma realidade bem diferente do que aquela que os ouvintes que querem falar pelos surdos e os vendedores de tecnologias de acessibilidade ‘para surdos’ querem que você acredite.

O que diz a Lei Brasileira de Inclusão?

Nas leis mais recentes, por exemplo, a Lei 13.146/2015 (Lei Brasileira de Inclusão, alinhada com os conceitos internacionais), usa-se pessoa com deficiência auditiva, para TODOS OS SURDOS. Usar língua de sinais não muda nada.

Segundo o Ministério da Saúde (2017), surdez é a impossibilidade ou dificuldade de ouvir. Notou que OFICIALMENTE, não encontramos nada que justifique diferença entre os termos?

“Ah, mas os gringos e a comunidade surda sinalizada diferenciam surdos de deficientes auditivos!”. Enquanto cidadãos de um país, estamos submetidos às suas leis. E ficar criando caso por causa de nomenclaturas que dizem, no final das contas, a mesma coisa, é de uma perda de tempo sem precedentes.

Além do mais, fazer diferenciação entre “surdos” e “deficientes auditivos” é uma forma de beneficiar apenas as pessoas que são consideradas pessoas com deficiência auditiva pela lei, deixando de fora todos os outros que têm algum grau de surdez. E qualquer grau de surdez impacta negativamente a vida de uma pessoa.

Essa balela toda tem origem antiga. Em 2022, ela serve apenas a um propósito: reforçar o capacitismo e confundir a opinião pública, puxando a sardinha para o lado dos surdos sinalizados (já que muitos produtos-serviços de acessibilidade são direcionados a eles, além da maioria absoluta das verbas públicas relacionadas à população com deficiência auditiva).

Na vida prática, na hora do vamos ver, para quem tem algum grau de surdez, nada muda. Por último, para a medicina, deficiência significa insuficiência ou ausência de funcionamento de um órgão.

Vamos ser racionais?

Para quem insiste no aspecto cultural: a cultura varia muito com o tempo, lugar e pessoas. Além disso, como a surdez era uma deficiência que dificultava ainda mais a comunicação quando não havia tecnologias para ouvir e oralização difundida, as pessoas que desenvolviam alguma língua gestual criavam laços entre si, tendo menos contato com ouvintes. Por consequência, em uma comunidade fechada, com pouca ou nenhuma troca de informações com a maioria mundo afora, conceitos se fortaleceram e se enraizaram mais facilmente através dos anos.

Além disso…

Estamos vivenciando uma maior aproximação entre surdos sinalizados e surdos oralizados, o que nos dá mais força na luta por acessibilidade para TODOS. Mas ainda há muito a evoluir, e essas briguinhas patéticas “surdo X deficiente auditivo” em nada ajudam. Enquanto a comunidade surda sinalizada e seus simpatizantes insistirem nessa divisão, todos nós perdemos. No fim das contas, somos todos SURDOS, independente da lei nos considerar pessoas com deficiência auditiva.

Capacitismo e surdez

Há quem rejeite ser chamado de “surdo” e prefira “deficiente auditivo” porque acha que isso suaviza sua deficiência aos olhos dos outros. Isso é capacitismo: não querer ser visto como uma pessoa que usa língua de sinais por causa do modo como você enxerga essas pessoas. Reflita!

A surdez é diversa. Usar libras, aparelho auditivo ou implante coclear não te torna “menos” ou “mais” surdo do que ninguém. Desça do pedestal do julgamento.

E quem só aceita ser chamado de “Surdo” e rejeita dizer que é uma pessoa com deficiência auditiva também deveria refletir, uma vez que faz uso de direitos e benefícios que são destinados…a pessoas com deficiência auditiva!

Respeito, sempre!

É claro que não vamos esquecer do respeito às escolhas individuais de cada um. Você prefere ser chamado de surdo, porque não se sente bem com a palavra deficiente? Prefere deficiente auditivo? Curte dizer que é “Surdo”? Sem problemas. Mas em termos de leis, direitos e vida prática, a lei brasileira é soberana.

Que tal parar de complicar o que não precisa ser complicado? As consequências da insistência nisso levam a apenas duas coisas ruins: falta de acessibilidade e afastamento entre pessoas que têm a mesma deficiência.

CLUBE DOS SURDOS QUE OUVEM

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LIVROS CRÔNICAS DA SURDEZ

Neste link você encontra os seguintes livros:

  1. Crônicas da Surdez: Aparelhos Auditivos
  2. Crônicas da Surdez: Implante Coclear
  3. Saia do Armário da Surde

Qual o termo correto para se referir a pessoas surdas?

Para se referir a uma pessoa com perda total de audição, o certo é dizer que ela é surda e não surda-muda.

Como se referir a uma pessoa surda e muda?

Portanto, o uso correto dos termos são: Deficiente Auditivo ou Pessoa com Deficiência Auditiva: pode ser relacionado a quem tiver perda auditiva, seja moderada ou total. Geralmente é comum para pessoas que não escutam bem, mas ainda escutam algo.

Qual é a denominação surdo

A designação "surdo-mudo" é uma denominação incorreta atribuída ao surdo, sendo ainda utilizada em certas áreas e divulgada nos meios de comunicação, principalmente na televisão, nos jornais e na rádio.

Como se referir a uma pessoa muda?

Mudo: Se refere à pessoa que não fala ou perdeu a capacidade de falar, que não emite sons. Mudinho: Diminutivo da palavra “mudo”, mas soa pejorativa, não acha? Surdo: Se refere à pessoa que não ouve ou ouve pouco. Surdo-Mudo: São duas deficiências distintas.