O manual do paciente em quimioterapia foi elaborado com o objetivo de orientar os pacientes e familiares e/ou acompanhantes sobre conhecimentos básicos da doença, diagnóstico e tratamento. Alerta sobre os sinais de alarme, como febre, e sobre as possíveis reações adversas ao tratamento e o que fazer para prevení-las ou minimizá-las. Show Orienta também sobre os cuidados de higiene, alimentação e comportamento durante o tratamento, assim como os direitos e benefícios sociais em função do diagnóstico. É importante lembrá-los que este manual deverá complementar as orientações dadas pela equipe médica e de enfermagem, com as quais qualquer dúvida adicional deverá ser esclarecida. Dra. Leila Pessoa de Melo O corpo humano é formado por tecidos e os tecidos são formados por células. As células são as menores unidades que constituem o nosso corpo, elas crescem e morrem de maneira ordenada e regular. O sangue é responsável pela irrigação e oxigenação dos tecidos, defesa do organismo e pela coagulação. Quando há problemas na fabricação do sangue, o paciente pode apresentar cansaço, indisposição, dores musculares e dor de cabeça, falta de ar, infecções ou sangramentos. O sangue é produzido na MO, localizada dentro dos ossos (“tutano”). Quando ocorre infiltração da medula óssea por células estranhas (tumorais), a MO não funciona adequadamente e o paciente pode apresentar anemia, queda da imunidade e sangramentos. As células sadias que formam os tecidos são como tijolos na construção de uma casa. Porém, elas podem ficar doentes, crescendo de forma desordenada, como se fôssemos construir uma casa com tijolos com formas e tamanhos diferentes. Nestes casos, há formação do câncer, também chamado de neoplasia. Esse crescimento desordenado de células pode comprometer outros órgãos e tecidos próximos ou afastados do local originalmente doente, é o que chamamos de metástase. a) Leucemias As leucemias caracterizam-se por uma proliferação descontrolada de um determinado grupo de células na medula óssea e eventualmente no sangue e em outros órgãos. Podem ser classificadas em linfoide ou mieloide, de acordo com o tipo de célula comprometida, em aguda (células imaturas, jovens) ou crônica (células mais maduras). Somente através de exames específicos (mielograma, biópsia de medula óssea, medula óssea, imunofenotipagem, cariótipo), e que o hematologista poderá dizer qual é o tipo de leucemia e o tratamento. O tratamento pode ser desde observação, tratamento com quimioterapia oral até tratamentos mais intensivos com necessidade de internação, este último, nos casos das leucemias agudas. Algumas vezes, pode ser necessário, um transplante de medula óssea, posteriormente. b) Linfomas Os linfomas são tumores do sistema linfático. Desta forma, sua principal manifestação clínica é o desenvolvimento de massas tumorais ou adenomegalias, conhecidas como “ínguas” em regiões do corpo como: pescoço, axila, virilha, baço, fígado, estômago, amígdalas ou medula óssea. Dividem-se basicamente em Linfoma de Hodgkin e Linfomas não-Hodgkin. Há uma grande heterogeneidade neste grupo de doenças, de forma que o tipo específico de linfoma só poderá ser definido por meio de biópsia da massa ou do gânglio acometido. Devido à grande variedade de subtipos de linfomas, há diversos protocolos de tratamento, que serão explicados caso a caso pelo hematologista ao paciente. c) Mieloma múltiplo Mieloma múltiplo é uma doença específica dos plasmócitos, células encontradas na medula óssea. No decorrer da doença, pode haver lesões ósseas (líticas), fraturas aos mínimos traumas e dor óssea. Podem ocorrer ainda anemia, infecções e sangramentos, quando a doença passa a prejudicar o funcionamento adequado da medula óssea. É comum a produção de uma substância chamada proteína monoclonal pelas células doentes, a qual muitas vezes provoca danos aos rins, podendo levar à necessidade de sessões de hemodiálise, em casos mais graves. O tratamento envolve basicamente associações de quimioterapia com outras medicações (talidomida e corticoide) e na maioria dos casos, pode haver necessidade de um transplante autólogo de medula óssea. São exames coletados por meio de uma punção em uma veia do braço. Geralmente, é necessário jejum de 8 a 12 horas. Existem vários tipos de exames de urina (urina 1, cultura de urina e urina de 24 horas). É importante se informar com o laboratório de análises clínicas como estes exames deverão ser colhidos. Neste exame, é retirada uma parte do tecido acometido (massa, tumor ou gânglio) suspeito de câncer, para confirmar o diagnóstico e o tipo do tumor. É, quase sempre, um procedimento cirúrgico. Pode haver a necessidade de realização de uma biópsia de medula óssea para verificar se há doença neste órgão. Esta biópsia é realizada com anestesia local, no próprio ambulatório do Serviço de Hematologia. O paciente pode sentir dor e desconforto na hora da biópsia, porém, geralmente, há melhora após o final do procedimento. Este exame é realizado por meio de uma punção no osso esterno (peito) ou do quadril. É realizado com anestesia local, no ambulatório do Serviço de Hematologia. Ele avalia como está o funcionamento da medula óssea e se há indícios de doença neste órgão. São exames realizados para avaliar se a doença está localizada ou disseminada, tais como: tomografias, PET-CT ou PET Scan, ressonância nuclear magnética, raio-X, ultrassonografia. Estes exames são importantes para programar e também avaliar a resposta ao tratamento. O ecocardiograma é geralmente solicitado e serve para avaliar a função do coração. Tratam-se de endoscopia digestiva alta e colonoscopia. São exames que podem ser necessários, se houver suspeita de acometimento do estômago ou intestino. Geralmente, o tratamento dos tumores hematológicos (linfomas, mieloma e leucemias) não é cirúrgico. A cirurgia é realizada, na maioria das vezes, para retirar um fragmento do tumor para confirmar o diagnóstico (biópsia) ou em casos de urgência (por exemplo, para descompressão da coluna devido à massa tumoral). O tratamento dos cânceres hematológicos, em geral, é realizado com quimioterapia associada ou não à radioterapia. É um tipo de tratamento que utiliza medicamentos para combater o câncer. Estes medicamentos podem ser administrados de várias formas, tais como: via oral por meio de comprimidos, injeções intramusculares, injeções subcutâneas, infusões intravenosas, além de injeções intratecais (coluna). Frequentemente, dois ou mais medicamentos são utilizados em combinação. Esses medicamentos não conseguem diferenciar as células doentes das células saudáveis. Por este motivo, pode haver diferentes efeitos colaterais destas medicações tais como: queda de cabelo, feridas na boca, diarreia e queda da imunidade. Após a avaliação do paciente, o médico fará o planejamento do tratamento: tipo de quimioterapia que o paciente irá receber, duração do tratamento, necessidade de radioterapia. O tratamento será administrado por profissionais capacitados da equipe de enfermagem e pode ser feito das seguintes maneiras: Ambulatorial – o cliente vem de sua residência para receber o tratamento no Serviço de Hematologia; Internado – o cliente é hospitalizado durante todo o período do tratamento. O tratamento pode ser realizado das seguintes formas: Via oral (pela boca): são medicamentos em forma de comprimidos, cápsulas ou líquidos que você pode tomar em casa. Intravenosa (pela veia): a medicação é aplicada na veia ou por meio de cateter (que é um tubo fino colocado na veia), na forma de injeções ou dentro do soro. Intravenosa – Cateter (Port-A-Cath®): a medicação é aplicada diretamente no cateter através de uma agulha apropriada denominada agulha Hubber, na forma de injeções ou dentro do soro. Intramuscular (pelo músculo): a medicação é aplicada por meio de injeções no músculo. Subcutânea (abaixo da pele): a medicação é aplicada por meio de injeção no tecido gorduroso acima do músculo. Intratecal (pela espinha dorsal): é pouco comum, sendo aplicada no líquor (líquido da espinha), administrada pelo médico, em uma sala própria ou no centro cirúrgico. Tópico (sobre a pele): o medicamento, que pode ser líquido ou pomada, é aplicado na pele. Consiste na aplicação de radiação na área do tumor. A radiação destrói as células do câncer. Em geral, são realizadas sessões diárias com duração de poucos minutos, exceto finais de semana e feriados. Antes de realizar a radioterapia, o paciente é avaliado por um médico radioterapeuta e ele fará o planejamento do tratamento radioterápico. A quimioterapia pode provocar alguns efeitos colaterais, que dependem do tipo de medicamento utilizado e da fase do tratamento. Os mais comuns são: feridas na boca (mucosite), náusea, vômitos, queda da imunidade facilitando o aparecimento de infecções, cansaço devido anemia e sangramentos devido à diminuição do número de plaquetas. Devido à queda da imunidade, você fica mais predisposto a infecções. A febre é um sinal de alerta para a presença de infecção. Febre é a temperatura maior ou igual a 37,8°C, o que requer a sua ida imediata ao Pronto Socorro para iniciar medicação adequada. Outros sinais de alerta para infecções são: tremor, calafrios, palpitação, respiração ofegante, tosse, pouca urina ou dificuldade para urinar. NUNCA FIQUE EM CASA COM FEBRE! Se você não está familiarizado com o uso do termômetro clínico, solicite orientação à enfermeira da Quimioterapia. Para cuidar-se:
Caso os sintomas persistam ou apareça falta de ar, procure seu médico imediatamente. Diante de sangramentos (na gengiva, na pele, pelo nariz, pela vagina ou pelo ânus) ou diante de manchas roxas na pele, pequenas ou grandes, você deve logo procurar o Pronto Socorro porque isso pode significar que as plaquetas estejam baixas e que uma transfusão de plaquetas pode ser necessária. É um dos efeitos mais indesejados, mas não são todos os quimioterápicos que causam este problema. Caso aconteça, saiba que é sempre passageiro. Todos os pelos do corpo podem cair, inclusive os pubianos, os cílios e as sobrancelhas. Alguns pacientes podem ter queda parcial e outros, total, dependendo da sensibilidade ao quimioterápico. Normalmente, a queda começa poucas semanas após o início da quimioterapia, mas é reversível. Um novo cabelo começa a nascer mesmo durante o tratamento.
A quimioterapia pode causar inflamação ou mesmo úlceras (aftas) na boca, chamada mucosite. Neste caso:
Os medicamentos utilizados para melhorar estes sintomas são Plasil® (metoclopramida), Dramin® (dimenidrinato) ou Vonau® (ondansentrona). Geralmente são prescritos com 6 a 8 horas de intervalo entre as tomadas; Outros cuidados:
Consiste na liberação de fezes líquidas ou pastosas pelo intestino, três ou mais vezes ao dia, acompanhada ou não de cólicas abdominais. No caso de diarreia, siga o recomendado:
As medidas neste caso são:
Dependendo do tipo de medicamento, você pode apresentar alterações na pele, como vermelhidão, coceira, descamação, ressecamento e manchas. As unhas também podem apresentar escurecimento e rachaduras. Alguns cuidados:
Geralmente, as alterações desaparecem após o tratamento. A menstruação pode apresentar alterações; o fluxo menstrual pode aumentar, diminuir ou parar completamente. Após o término da quimioterapia, o ciclo menstrual geralmente retorna ao normal. Caso não aconteça, fale com seu médico. É a vermelhidão no rosto, que pode aparecer imediatamente ou em até 24 horas após a administração da quimioterapia. Caso o sintoma não melhore espontaneamente, piore ou apareça inchaço no pescoço, procure logo o hospital.
Caso sejam percebidas alterações na região de implantação, como: vermelhidão, aumento da temperatura no local, saída de algum líquido, dor, inchaço ou tenha febre (temperatura maior ou igual a 37,8°C), comunicar imediatamente ao médico ou à enfermeira do Serviço de Hematologia de São José dos Campos. O fato de estar com o “port” não altera as atividades diárias. Após a cicatrização do local da inserção, pode-se dormir do lado em que está implantado o “port”. Quando estiver recebendo quimioterapia ou qualquer outro medicamento, comunicar imediatamente à enfermagem qualquer alteração como dor, queimação local, sensação que o curativo está molhado ou mal estar. Se você faz quimioterapia em dias seguidos, poderá ser necessário permanecer com a agulha no cateter até o término do ciclo. Neste caso, a enfermeira fará um curativo oclusivo, onde a agulha ficará totalmente coberta, e será necessário redobrar os cuidados com o cateter. No banho, deve-se evitar molhar o curativo e, à noite, evitar deitar sobre o lado do cateter. A infusão da quimioterapia fora da veia é chamada de extravasamento e pode causar feridas no local. A injeção de medicamentos na veia deve ser SEMPRE sem dor. Caso você sinta algo diferente, mesmo que seja apenas um inchaço no local da aplicação, peça para suspender imediatamente a infusão. O extravasamento pode ser perigoso. Para prevení-lo:
Tente manter as suas atividades normalmente, mas respeite seus limites. No colégio, procure informar sobre seu tratamento para que você possa continuar seus estudos normalmente. Procure um amigo que possa repassar as atividades de classe. Evite aglomerações e contato com pessoas resfriadas/gripadas. Se você já pratica esportes ou deseja iniciar atividades físicas, não há contraindicação à prática de exercícios durante o tratamento. É possível que você se sinta menos disposto e um pouco mais cansado, sendo necessário sempre ficar atento para não ultrapassar seu limite de esforço. Algumas atividades deverão ser realizadas somente com o consentimento do seu médico. Evite atividades físicas que possam provocar traumatismos (futebol, voleibol, basquete, lutas marciais, etc.). As relações sexuais devem ser evitadas durante o período de baixa imunidade. Entretanto, você poderá retornar às atividades sexuais quando a imunidade estiver recuperada. É importante que, sendo paciente homem ou mulher, seja utilizado preservativo (camisinha) durante o tratamento quimioterápico ou radioterápico. AS MULHERES EM IDADE FÉRTIL NÃO PODEM ENGRAVIDAR DURANTE O TRATAMENTO, POIS O BEBÊ PODE NASCER COM PROBLEMAS SÉRIOS DEVIDO À QUIMIOTERAPIA. VOCÊ DEVERÁ USAR SEMPRE MÉTODOS ANTICONCEPCIONAIS (PÍLULAS E PRESERVATIVOS – CAMISINHA). Não use qualquer bebida alcoólica no período da quimioterapia e durante a aplasia da medula. Muitos medicamentos, mesmo os homeopáticos e os “chás naturais”, podem interferir no tratamento quimioterápico ou aumentar os efeitos colaterais. Por isso, nesta fase de tratamento, você deve usar somente aqueles prescritos pelo seu médico. Se for preciso o uso de outro tratamento, discuta com o médico e o farmacêutico sobre os efeitos e os riscos de associar tais medicamentos. Não. Você deve tomar medidas contraceptivas como, por exemplo, o uso de pílulas anticoncepcionais e preservativos (“camisinha” masculina ou feminina). Se você pretende engravidar após o término do tratamento, converse antes com seu médico. Sim, deve haver acompanhamento odontológico durante todo o período de tratamento. Idealmente os procedimentos dentários devem ser realizados antes de iniciar o tratamento quimioterápico. O dentista deve estar bem familiarizado com as doenças do sangue. Deve-se evitar procedimentos dentários na fase de baixa imunidade. Se for um caso de urgência, peça orientação ao seu médico. A saúde da boca é de extrema importância para uma melhor evolução do tratamento quimioterápico, principalmente no que se refere às mucosites e às infecções. É importante lembrar que a higiene bucal com fio dental, escova macia e creme dental deve ser realizada cuidadosamente, depois de todas as refeições, com o objetivo de prevenir tanto a cárie como a inflamação gengival. Após a alta hospitalar, você receberá: a receita com os medicamentos para usar em casa; as orientações para os sinais de alarme, ou seja, aquelas alterações que, se surgirem, você deve procurar o médico imediatamente; a data do retorno ao hospital ou ao Serviço de Hematologia, e as solicitações dos exames que serão colhidos no dia da consulta de retorno. Mesmo após a alta definitiva do tratamento, será necessário seu retorno periódico ao Serviço de Hematologia para consultas e exames de acompanhamento. Caso possua cateter totalmente implantado (Port-A-Cath®), você deverá comparecer ao Serviço de Hematologia a cada 30 dias para o procedimento de limpeza do cateter. No caso do tratamento em casa, com o uso de comprimidos quimioterápicos, você deve observar com cuidado a duração do tratamento e o horário certo da tomada dos comprimidos. Lembre-se que alguns medicamentos sofrem interferências com a alimentação, converse com o seu médico sobre como devem ser tomados os comprimidos, se junto ou distante das refeições. Depois que você toma o medicamento, ele fica um tempo no organismo fazendo o efeito e, após este tempo, ele é eliminado pela urina e pelas fezes. Por isso, é importante que você tenha alguns cuidados especiais quando estiver usando este tipo de medicamento:
Sim. Você tem direito a benefícios como:
De acordo com o tipo de tratamento, poderão ser necessários hemogramas de controle até mesmo a cada 48 horas, para avaliação dos níveis de plaquetas, leucócitos e hemácias; você será instruído pela equipe. LEMBRAMOS a você que, nestes casos, deverá comparecer ao nosso serviço de segunda a sexta-feira, no período da manhã. Como a pessoa fica após quimioterapia?A recuperação após a terapêutica é lenta por se tratar de um tratamento muito agressivo, onde até o emocional pode afetar o organismo. O paciente fica sensível e vulnerável. As consequências pós-quimioterapia são severas, podendo acarretar problemas no coração, fígado, pulmões e órgãos reprodutivos.
O que não fazer depois da quimioterapia?Evite a ingestão de bebidas junto às refeições e aumente a quantidade de líquidos para 2 a 3 vezes por dia para eliminar os resíduos tóxicos do tratamento. Bebidas fortes, como café, devem ser evitadas, pois favorecem os vômitos. 4. Evite fazer esforços que prejudiquem a digestão e descanse após as refeições.
Quanto tempo leva para sair o efeito da quimioterapia do corpo?Os comprimidos em geral ficam por poucos dias (tamoxifeno 7 dias, anastrozol 2 dias, por exemplo). Os que mais costumam demorar, são os chamados anticorpos monoclonais(herceptin, por exemplo), que podem permanecer por até alguns meses.
Quantos dias a pessoa passa mal depois da quimioterapia?Isso ocorre geralmente cerca de duas a três semanas após o início da quimioterapia e é completamente reversível após o término do tratamento.
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