Jornalismo Por 01/10/2008
União de abordagens Nas escolas brasileiras, a perspectiva tradicional, a crítica e a cultural dividem espaço nas salas de aula (leia o quadro acima). E isso é positivo. Para falar do rio que passa pela cidade, por exemplo, o professor pode começar pelo estudo da nascente e dos municípios que ele banha, abordando o conceito de mata ciliar (análise descritiva da perspectiva tradicional); trabalhar o impacto da produção industrial e as dificuldades econômicas dos
ribeirinhos (relação entre a economia e as consequências sociais defendidas pela perspectiva crítica); pedir pesquisas sobre a relação da população com o curso d’água e a importância para a cultura local (objetos de estudo da perspectiva cultural). Para quem dá aulas, o desafio é se preparar, buscando vivência cultural e formação embasada em teorias, com o domínio das didáticas específicas (leia entrevista abaixo). "Para que os alunos compreendam as transformações no território e
relacionem os conteúdos estudados ao que viram na televisão ou a algo que ocorreu na vizinhança, eles precisam entrar em contato com conceitos estruturantes da área, como paisagem, lugar e território", destaca Levon Boligian, autor de livros didáticos. Mitos pedagógicos Com as mudanças nas metodologias de ensino, muitas práticas foram colocadas em segundo plano, quando ainda deveriam figurar como estratégias de ensino:
Geografia está só no livro didático Evitar mapas de contorno Não é preciso memorizar Ajuda tecnológica A disciplina tem como uma de suas principais ferramentas a cartografia. Logo, nenhum estudo dessa área será completo se a criança não souber interpretar e produzir mapas. Essa alfabetização cartográfica começa nas séries iniciais (com a
confecção de planos da sala de aula ou da escola e de mapas do tesouro) e perpassa toda a escolaridade. "Os desenhos de observação são essenciais em Geografia. Com a intervenção do professor, a garotada entende que as noções espaciais são usadas por todas as pessoas diariamente e que é possível representar a realidade de uma maneira que todos entendam", ressalta Sueli Furlan, selecionadora do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10. O aprendizado dessa linguagem comum se dá quando as noções
topológicas (perto e longe, alto e baixo, por exemplo) e de proporção, redução e escala são trabalhadas em sala de aula, assim como o significado das legendas e dos símbolos que representam a paisagem. Mas as atividades de cartografia ganham outra dimensão com o uso da tecnologia. "Páginas gratuitas na internet, como as do Google Earth, proporcionam a visualização das cidades, permitindo a localização de lugares", exemplifica Levon Boligian. Uma idéia é dar coordenadas geográficas para
que os alunos encontrem no globo o ponto correspondente, levando-os a ref letir sobre o significado de cada número. "Com uma seqüência de atividades bem elaborada, a turma vai entender latitude e longitude e a importância da divisão do planeta em linhas de localização", diz Bolivian. Já no estudo sobre a ocupação de regiões, esse mesmo programa permite comparar imagens. Fotos aéreas de São Paulo e de uma cidade africana, por exemplo, levam à reflexão sobre as diferentes formas de ocupar e
organizar o espaço, revelando um pouco da cultura desses lugares. Apesar da importância da cartografia, a observação continua sendo a essência do trabalho do geógrafo. Por isso, as saídas a campo estão cada vez mais presentes no planejamento das aulas. "Nelas, o estudante colhe informações que garantirão a compreensão da realidade", destaca Sueli Furlan. Esse tipo de estudo não requer viagens longas: pode ser realizado no bairro ou em uma visita ao centro da cidade. Porém é fundamental
haver uma orientação clara do professor na produção de pautas de observação e na escolha de materiais que permitam detectar as mudanças ocorridas no local, como fotos antigas, mapas e ilustrações. Leituras múltiplas Todo o esforço de unir as perspectivas tradicional, crítica e cultural na sala de aula, e juntar a elas
os recursos adequados para ensinar, tem como finalidade fazer com que o estudante avance nos conhecimentos geográficos (leia o quadro abaixo) e perceba quanto eles são aplicados no dia-a-dia, seja no mapa mental elaborado quando ele vai de casa para a escola, seja na observação e na compreensão dos costumes locais. "A idéia é fazer os jovens entenderem que ser cidadão é também ter o sentimento de pertencer a uma realidade na qual as interações entre a sociedade e a natureza formam um todo que
está constantemente em transformação", acredita Sueli. 5 perguntas Alexandre Orsi Professor de
Geografia de 6ª série Qual era a perspectiva dominante no ensino de Geografia quando você se formou? Quando sua atuação mudou? O que você aprendeu? Que recursos você usa? Como
a cultura é abordada? Linha do tempo do ensino de Geografia no Brasil 1837 O Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, é a primeira escola brasileira a incluir Geografia nas disciplinas obrigatórias. A intenção é criar uma elite nacional capaz de ocupar quadros políticos e administrativos. 1900 A área ganha espaço nas escolas de todo o país. Acredita-se que, conhecendo as características físicas do local, o sentimento de nacionalismo e patriotismo será despertado nos estudantes. 1905 O livro Compêndio de Geografia Elementar, de Manuel Said Ali Ida (1861-1953), propõe o estudo do Brasil por regiões, abrindo espaço para melhor conhecer o território nacional. 1934 O departamento e o curso superior de Geografia são criados na Universidade de São Paulo. A maioria dos professores era da escola francesa e defendia a abordagem tradicional. 1966 O livro Geografia do Subdesenvolvimento, de Yves Lacoste, é lançado no Brasil. Com a publicação, as teorias da Geografia crítica começam a ecoar em todo o país. 1971 Durante o período militar, Geografia e História são aglutinadas na disciplina Estudos Sociais. O governo acredita que o conhecimento dessas áreas é uma ameaça à hegemonia nacional. 1978 Milton Santos (1926-2001), considerado o maior geógrafo do Brasil, publica o livro Por Uma Geografia Nova, no qual preconiza a importância do estudo das questões sociais. 1990 Com a pesquisa que mostrou a deficiente formação dos estudantes americanos, se inicia um debate sobre o papel da disciplina no século 21 e os reais objetivos de aprendizagem. 1993 Inaugurado o Núcleo de Pesquisa Sobre Espaço e Cultura da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, que divulga estudos e pesquisas realizados de acordo com essa abordagem. 1998 A publicação dos PCNs lista os objetivos da disciplina. Os alunos precisam compreender as relações entre a formação da sociedade e o funcionamento da natureza com base na paisagem. FONTES: PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (PCNS), O ENSINO DE GEOGRAFIA NO SÉCULO XXI, DE JOSÉ WILLIAN VESENTINI, E ROBERTO LOBATO CORRÊA Metodologias mais comuns no ensino de Geografia Até meados de 1970, o ensino da disciplina era ancorado apenas em uma abordagem. Depois, duas novas correntes surgiram. TRADICIONAL CRÍTICA CULTURAL Qual a importância do ensino da Geografia nos anos iniciais do ensino fundamental?Por meio da geografia, nas aulas dos anos iniciais do ensino fundamental, podemos encontrar uma maneira interessante de conhecer o mundo, de nos reconhecermos como cidadãos e de sermos agentes atuantes na construção do espaço em que vivemos. E os nossos alunos precisam aprender a fazer as análises geográficas.
Qual o papel da Geografia no ensino fundamental?Ler o mundo da vida, ler o espaço e compreender que as paisagens que podemos ver são resultado da vida em sociedade, dos homens na busca da sua sobrevivência e da satisfação das suas necessidades. Em linhas gerais, esse é o papel da geografia na escola.
Qual o principal objetivo do estudo da Geografia na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental?A geografia é uma área da ciência de suma importância, principalmente na educação infantil, pois nessa fase a criança precisa explorar o mundo que a rodeia como forma de orientar-se, localizar-se, deslocar-se e agir no meio.
Qual o papel da Geografia no ensino fundamental e sua função no ensino das crianças?Envolver a Geografia no aprendizado das crianças é fundamental, pois através dessa ciência as crianças aprendem noções de espaço e tempo e com isso aprendem a conhecer o lugar onde vivem e como nos situamos e nos orientamos no espaço.
Qual é a importância da Geografia na escola?Estudar o espaço geográfico pode ser útil para desvendar e entender os problemas socioespaciais. Resumindo, a importância da Geografia reside nas suas contribuições para o conhecimento sobre o espaço humano e suas formas de transformação e ocupação.
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