Em qual cidade histórica houve um declínio da Educação Física como preparação integral do homem?

Em qual cidade histórica houve um declínio da Educação Física como preparação integral do homem?
Em qual cidade histórica houve um declínio da Educação Física como preparação integral do homem?

Da pr�-hist�ria � regulamenta��o: 

breve ensaio sobre a hist�ria da Educa��o F�sica

From pre-history to the regulamentation: a brief essay on the history of Physical Education

Em qual cidade histórica houve um declínio da Educação Física como preparação integral do homem?

 

Licenciado em Educa��o F�sica pela Universidade Castelo Branco (UCB/RJ)

P�s-graduando em Elabora��o e Gest�o de Projetos s�cio-esportivos pela UCB/RJ

Integrante do grupo de Cultura Corporal da UCB/RJ

Rafael Vallad�o

(Brasil)

 

Resumo

          Muito se questiona sobre o real significado da Educa��o F�sica e atrelado a isso muitas defini��es vem surgindo ao longo do tempo. Desde as �pocas mais long�nquas at� os dias atuais o homem vem praticando atividades f�sicas, por�m � necess�rio buscar o entendimento de que se essas atividades seriam realmente a pr�tica do movimento humano consciente. O presente estudo realizou uma revis�o de literatura, objetivando tra�ar uma linha de tempo, em um breve ensaio hist�rico sobre a Educa��o F�sica no mundo, at� a culmin�ncia de sua regulamenta��o como profiss�o no Brasil em 1998.

          Unitermos:

Educa��o F�sica. Hist�ria. Regulamenta��o.

Abstract

          Much has been questioned about the real meaning of Physical Education and combined with the many definitions it has emerged over time. Since the most remote times until the present day man is practicing physical activities, but it is necessary to seek the understanding that if such activities would be really the practice of human movement conscious. This study conducted a literature review, aiming to draw a line in time, in a brief essay on the history Fitness in the world, until the culmination of its regulamentation as a profession in Brazil in 1998.
          Keywords: Physical Education, History, Regulamentation.

 
Em qual cidade histórica houve um declínio da Educação Física como preparação integral do homem?
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - A�o 13 - N� 129 - Febrero de 2009

Em qual cidade histórica houve um declínio da Educação Física como preparação integral do homem?

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Educa��o F�sica antes ou depois de Cristo: quando come�a essa hist�ria?

    A Hist�ria da Educa��o F�sica (...) ter� tamb�m, nesse esfor�o de delineamento, que lidar com os problemas relativos a indefini��o do seu campo de conhecimento, principalmente da Educa��o F�sica. Afinal, o que � Educa��o F�sica? Essa quest�o tem mobilizado continuamente os pesquisadores na nossa �rea e est� longe de ser respondida (MELO, s/d , p. 12)

    Movimento humano consciente; aprendizagem relacionada ao movimento; estudo da motricidade humana; possibilitar a realiza��o de uma infinidade de movimentos: andar, saltar, pegar, rebater e outros, s�o defini��es corriqueiras atribu�das � Educa��o F�sica (SODR� e GUIMAR�ES, 2008). Medina citado por Fensterseifer (1999) elucida que, antes de tudo, a Educa��o F�sica precisa, urgentemente, entrar em crise, questionar criticamente seus valores, sendo capaz de justificar-se a si mesma e procurar a sua identidade. Provavelmente esse deva ter sido o motivo do professor Jorge Steinhilber, ter intitulado seu livro de: Educa��o F�sica existe?

    Isso acaba por nos reportar a tempos long�nquos da hist�ria onde caberiam questionamentos como: na condi��o de nomadismo e/ ou seminomadismo, no qual dependia de sua velocidade, for�a, agilidade, para ca�ar, pescar e sobreviver, nas realiza��es de grandes caminhadas, constantes migra��es, nas dan�as para saudar seus deuses, nas lutas contra tribos rivais, j� praticava o homem a Educa��o F�sica?

    Se formos considerar que Educa��o F�sica seja movimento humano consciente, talvez estes � praticassem. Ou talvez n�o. Para ter consci�ncia de seu pr�prio movimento o homem deve antes aprend�-lo com algo, com algu�m e/ ou consigo mesmo. Com a descoberta do fogo, � prov�vel que um indiv�duo tenha ensinado aos outros como produzi-lo, atrav�s da execu��o de determinados movimentos. Mas talvez, n�o tenha sido preciso um n�made, ter consci�ncia de velocidade, tempo de rea��o, n�vel de freq��ncia card�aca, volume de oxig�nio ou t�cnicas de atletismo para salvar sua vida fugindo de um predador, o que anularia a mesma defini��o de movimento humano consciente e estudo da motricidade humana. Talvez a primeira aula de Educa��o F�sica, tenha sido dada, pelo primeiro homem (ou mulher) primitivo que ensinou ao seu primeiro filho, algum tipo de movimento para atingir, com ele, determinado objetivo.

    Esse homem pr�-hist�rico, n�made, descobriu uma outra possibilidade de conseguir seu alimento que n�o fosse atrav�s da ca�a de outros animais, mas atrav�s do cultivo do solo, da planta��o, da agricultura. Isto gerou uma sedentariza��o em um corpo fisiologicamente adaptado � atividade f�sica, constante e intensa, aumentando o tempo ocioso, levando � �esportiviza��o� de atividades que antes eram praticadas apenas por raz�es utilit�rias, guerreiras ou ritual�stica.

    Alguns povos surgidos a mais ou menos 6 mil anos, tais como os chineses, conseguiram atingir um est�gio civilizat�rio, e parece terem sido os primeiros a racionalizar o movimento humano com a cria��o do Kong-Fu (a arte do homem) em 2.700 a.C., e na �ndia surgiria o yoga, ambos dando � este um forte conte�do m�dico (OLIVEIRA, 1994), no que se refere a Antiguidade Oriental. Quanto a Antiguidade Ocidental a civiliza��o grega marcou uma nova era, dando o in�cio aut�ntico da Educa��o F�sica, como por exemplo os Jogos Ol�mpicos, criados em 776 a.C., em homenagem � Zeus. Na Gr�cia antiga, segundo Oliveira (1994) s� tr�s tipos de acontecimentos marcavam o verdadeiro esp�rito nacionalista do povo hel�nico: a imin�ncia de um perigo externo, a religi�o e as festas esportivas. O esporte grego tinha um car�ter natural, basicamente fundamentado no correr, saltar e lan�ar e eram realizados no estado de nudez. Mas isto nos remete a outro questionamento: Educa��o F�sica � Esporte?

    Em 146 a.C. os gregos deixaram-se dominar pelos romanos, pela destrui��o de Corinto e Cartago nas Gueras P�nicas, marcando o decl�nio da civiliza��o grega, apesar desta ter influenciado, fortemente, a cultura romana (WIKIP�DIA, 2008). Os romanos, j� sobre influ�ncia grega, edificaram seus est�dios, circos, anfiteatros, Coliseu, enfim, locais que poderiam abrigar at� 385 mil espectadores, segundo Oliveira (1994), onde as multid�es exaltadas entusiasmavam-se com as exibi��es tr�gicas dos gladiadores lutando entre si, ou com animais, para matarem ou serem mortos. Em sua maioria escravos. A Educa��o F�sica come�a a ganhar uma concep��o tr�gica.

    Com o in�cio da era Crist�, Roma come�a a perseguir os crist�os primitivos e obrig�-los a participarem dos espet�culos de barb�rie, onde eram entregues aos le�es, aos olhares de multid�es euf�ricas. Outro fato que merece destaque � a prolifera��o das termas, que serviam para preencher a ociosidade. Era um relaxamento dos costumes romanos, que contribuiu para o decl�nio do imp�rio, uma vez que a moral romana havia repudiado a nudez grega na pr�tica esportiva. Nas termas at� as crian�as podiam banhar-se nuas. No ano de 391, Teod�sio declarou o Cristianismo como religi�o oficial do Imp�rio Romano, e anos mais tarde decretaria o fim dos jogos Ol�mpicos, em 395, estando a civiliza��o romana em vias de completa deteriora��o (CAPINUSS�, 2006).

Na Idade das Trevas e Renascimento havia Educa��o F�sica?

    A Idade M�dia, tamb�m chamada por alguns historiadores de Idade das Trevas, teve in�cio na Europa com as invas�es germ�nicas provocando a queda do Imp�rio Romano do Ocidente, com a deposi��o de R�mulo Augusto, �ltimo imperador do Ocidente, em 476, no s�culo V, estendendo-se at� o s�culo XV, caracteriza-se por uma economia ruralizada do feudalismo, domina��o pol�tica da Igreja Cat�lica e sociedade hierarquizada (SUA PESQUISA, 2008).

    A atividade f�sica (ou Educa��o F�sica?) na Idade M�dia era exclusivamente utilizada para o treinamento dos cavaleiros para as guerras, uma vez que a Igreja Cat�lica que legitimou o seu poder atrav�s da f� (ou imposi��o da f�), fez valer o desprezo pelo culto ao corpo, dando uma extrema import�ncia a salva��o da alma, segundo Capinuss� (2006).

    Afogado em cren�as e dogmas religiosos, surge um homem que s� era encorajado � conquista da vida celestial. O total descaso pelas coisas materiais estabelecia um absoluto div�rcio entre o f�sico e o intelectual. (...) s� convinha a sa�de da alma, onde o �nada para o corpo� era um princ�pio que suprimia a Educa��o F�sica do horizonte cultural desse momento hist�rico (OLIVEIRA, 1994, p. 32-33).

    Para Oliveira (1994) predominaram esportes como equita��o, ca�a, esgrima, lan�a, arco e flecha, os torneios e as justas, que serviam em tempos de paz para preparar os cavaleiros para guerras. J� para Capinuss� (2006), os cavaleiros tamb�m se preparavam para a guerra com a pr�tica de esgrima, o manejo do arco e flecha, as marchas, a corrida a p�, a equita��o e os jogos, representados, tamb�m, pelos torneios e pelas justas, al�m de outras provas de menor representatividade.

    O Esporte Medieval, que para Capinuss� (2006), n�o pode ser considerado Educa��o F�sica, era uma forma recreativa de passar o tempo e exercer um treinamento militar. Por�m, com o fim da Idade das Trevas, a ascens�o das monarquias europ�ias, os descobrimentos mar�timos, a Reforma Protestante e em especial o surgimento do movimento de redescoberta da cultura cl�ssica, por volta do s�culo XV - o Renascimento � faz com que a Educa��o F�sica, para Oliveira (1994), volte a ser assunto dos intelectuais, em uma reintegra��o do f�sico, do est�tico �s preocupa��es educacionais.

    Um grande exemplo desses intelectuais, preocupados com a educa��o, � Jean-Jacques Rousseau que dedicava uma aten��o especial � educa��o do corpo, como se pode observar em sua obra Em�lio ou Da Educa��o, citado por Goellner (1997, p. 2):

    Os exerc�cios cont�nuos assim deixados unicamente � dire��o da natureza fortificam o corpo sem embrutecer o esp�rito, como tamb�m formam em n�s a �nica esp�cie de raz�o de que a inf�ncia seja suscet�vel e a mais necess�ria em qualquer idade.

    Neste contexto surgia uma pedagogia mais liberal, pela valoriza��o do ser humano, anulando o autoritarismo do ensino escol�stico, at� ent�o predominante na filosofia medieval.

    � no per�odo do Renascimento que a Educa��o F�sica se reintroduz-se no ideal da educa��o cortes�, trazendo consigo os exerc�cios f�sicos, como o salto, a corrida, a nata��o, a luta, a equita��o, o jogo da pelota, a dan�a, a pesca. Nesse per�odo pensadores como Da Vinci, Montaigne, Francis Bacon, o m�dico italiano Mercuriale, Locke, Pestalozzi, e o j� citado Rousseau, come�aram a dedicar reflex�es, investiga��es, pesquisas e estudos sobre a import�ncia dos exerc�cios f�sicos para o bem estar do homem, antes totalmente ignorado na Idade M�dia. Era o in�cio da forma��o de uma gin�stica, com par�metros verdadeiramente m�dicos (OLIVEIRA, 1994).

A modernidade e o sonho de Coubertin

    As explica��es teol�gicas, metaf�sicas, dogm�ticas e imposi��es de f� religiosa n�o satisfaziam mais o homem moderno. Era necess�rio o desenvolvimento de algum m�todo que pudesse explicar os fen�menos naturais, sem necessariamente estar este atrelado � alguma causa divina. � nesse clima cultural do s�culo XVII, que entra em cena um homem que, segundo Aquino et al (1988), para ele tudo era duvidoso, nada podia ser considerado como certo, a n�o ser �penso, logo existo�, que � a id�ia central da D�vida Met�dica, que aceita somente o que a raz�o pode compreender e demonstrar. Este homem era Ren� Descartes.

    Descartes, considerado por muitos o pai do m�todo cient�fico, junto com Galileu, desenvolveu o "cogito" cartesiano, tendo como um de seus subprodutos a no��o moderna do corpo-m�quina, limitando ao prisma das ci�ncias f�sico-biol�gicas ("naturais"), e retirando a possibilidade de compreens�o da dimens�o social (pr�tico-moral) do "humano" bem como da dimens�o subjetiva (est�tico-expressiva) (FENSTERSEIFER, 1999).

    Na medida em que o m�todo cient�fico utilizado para dar conta da explica��o da sociedade � tomado das ci�ncias f�sicas e biol�gicas, o fato social e o sujeito que o constr�i � o homem � aparecem como que aprisionados nos limites dessas ci�ncias (...) As quest�es sociais passam a ser "naturais" e o homem social passa a ser "homem biol�gico" ( SOARES apud FENSTERSEIFER, 1999, p. 140).

    � nesta separa��o corpo/mente, reduzindo este a uma dimens�o an�tomo-fisiol�gica, que se tornara objeto dos �m�todos de gin�stica�, ignorando as rela��es sociais devido a pretensa neutralidade atribu�da ao "mito do homem natural e biol�gico". A concep��o exclusivamente natural, biol�gica e de sa�de do corpo, na atualidade, � considerada como uma subvers�o dos objetivos da Educa��o F�sica por Oliveira (1994):

    A coloca��o dos cursos de Educa��o F�sica nos Centros e Institutos de Sa�de subverteu os seus objetivos. Educa��o F�sica � Educa��o. Deve ser inclu�da, portanto, nos Centros de Ci�ncias Humanas e Sociais das Universidades a que pertencem. � uma ci�ncia que deve conhecer as divisas entre o adestramento e a educa��o. � a ci�ncia que lida com pessoas, e n�o com objetos (p. 105).

    Os s�culos que se seguem ao surgimento da era da Raz�o, encontraram nas Revolu��es Industrial e Francesa um mundo diferente. As m�quinas come�am a substituir o trabalho dos homens e a burguesia assenta-se definitivamente no poder, explorando o trabalhado assalariado para acumula��o de riquezas, promovendo a concorr�ncia do proletariado entre si para obten��o de trabalho, para exercer sua domina��o de classes (MARX e ENGELS, 2005).

    Segundo Melo e Alves Junior (2003) o tempo livre para as divers�es dos oper�rios eram entendidas como perniciosas pelas classes dominantes, pois al�m de se oporem a l�gica do trabalho �rduo era uma forma de manuten��o dos antigos estilos de vida, sem falar que nos momentos de Lazer os trabalhadores se reuniam e tomavam consci�ncia de sua situa��o de opress�o e articulavam estrat�gias de luta e resist�ncia.

    Em contra partida, Marx citado por Vallad�o e Parangaba (2008), afirma que na Inglaterra, por exemplo, durante 36 horas consecutivas, com apenas 2 horas de pausa para comer e dormir, trabalhadores que na maioria possu�am entre 11 e 17 anos, tinham uma jornada de 14, 15 e 16 horas ininterruptas, em alguns dias da semana. A perman�ncia destes numa mesma posi��o ao longo de todas essas horas de trabalho, acarretou o aumento dos mesmos problemas posturais do trabalhador para os jovens.

    Todos esses fatores concorreram para que muitos dedicassem uma aten��o maior � Educa��o F�sica, onde segundo Oliveira (1994), destacam-se quatro correntes que caracterizam a hist�ria desta ci�ncia no s�culo XIX:

a.     Corrente alem�

    Inicialmente inspirada por Rousseau, reencarnando os ideais cl�ssicos da educa��o hel�nica, passou a ser inclu�da nos deveres dos indiv�duos, com id�ias pedag�gicas sufocadas por um novo modelo de gin�stica alem�. Com a derrota para Napole�o em Jena (1805) a Alemanha mergulhou em um profundo sentimento nacionalista desenvolvendo uma gin�stica para formar o forte no ideal do �Viver quem pode viver�.

b.     Corrente sueca

    Os suecos esperavam obter atrav�s de uma gin�stica racional e cient�fica, uma ra�a livre do crescente processo de alcoolismo e tuberculose. A gin�stica na Su�cia preocupava-se com a execu��o correta dos exerc�cios, inspirados por Pestalozzi.

c.     Corrente francesa

    Constitui-se nos primeiros est�mulos que vieram a instituir os alicerces da Educa��o F�sica brasileira. O que caracteriza a gin�stica francesa era o seu esp�rito militar n�o sendo adequada � ambientes escolares. Apesar disso foi introduzida nas escolas francesas tendo suas aulas ministradas quase sempre por suboficiais do Ex�rcito, sem cultura geral nem forma��o pedag�gica.

d.     Corrente inglesa

    � a �nica das quatro nesse per�odo com uma orienta��o n�o-gin�stica, foi concebida em uma atmosfera para envolver a pr�tica esportiva, incorporando definitivamente o esporte na escola, com uma conota��o verdadeiramente educativa, dando grande import�ncia ao fair-play.

    E � da Inglaterra a origem de um personagem que atrav�s da realiza��o de seu sonho, acabaria por mudar a hist�ria da Educa��o F�sica (e do Esporte) para sempre. Foi com Pierre de Fredy, o bar�o de Coubertim, franc�s formado em filosofia, interessado por m�sica, poesia, literatura, hist�ria e esporte, que o mundo viu ressurgir os Jogos Ol�mpicos na Era Moderna. E foi no dia 6 de janeiro de 1896, que finalmente a chama ol�mpica p�de brilhar novamente, em Atenas, com a presen�a de 311 atletas n�o profissionais nas disputas, representando 13 pa�ses. O lema de Coubertin era: O importante n�o � vencer, mas competir, e com dignidade. O bar�o faleceu na Su��a, em 1937, onde foi enterrado e seu cora��o foi colocado em uma coluna de m�rmore, em Ol�mpia na Gr�cia, como era de sua vontade (NETSABER; OLIVEIRA, 1994, 2008)

A Educa��o F�sica no Brasil: da proclama��o da Rep�blica ao fim da ditadura militar (1889-1985)

    No Brasil, o professor Paulo Guiraldelli J�nior (2007), em seu livro Educa��o F�sica Progressista, demonstra quatro grandes tend�ncias que nortearam concep��es de Educa��o F�sica no final do s�culo XIX e no transcurso do s�culo XX:

a.     Tend�ncia Higienista

    Predominou no final do s�culo XIX �poca da proclama��o da Rep�blica e in�cio do XX, entre 1889 e 1930. �A Educa��o F�sica � produto do pensamento liberal� (GHIRALDELLI, 2007, p.22), na qual o liberalismo acreditava na escola como a redentora da humanidade. Rui Barbosa defendia na �poca que a Educa��o F�sica deveria enraizar nas juventudes h�bitos higi�nicos, a sa�de individual das pessoas, sa�de moral na quais os jogos, o desporto, a gin�stica deveriam levar � esse fim.

b.     Tend�ncia Militarista

    Predominou entre 1930 e 1945, durante a Segunda Grande Guerra. A Educa��o F�sica Militarista, tinha a �nica e exclusiva fun��o de preparar o cidad�o para guerra. Nessa �poca a Educa��o F�sica era totalmente seletora, tendo fortes tend�ncias eugenistas, onde os mais valorizados eram os mais forte, os mais bem preparados, na qual o cidad�o deveria se tornar um �cidad�o-soldado�, capaz de obedecer cegamente e se servir de exemplo para o restante da juventude pela sua bravura e coragem. As barras de ferro para exerc�cio, pranchas de abdominais, dos equipamentos p�blicos de lazer, por exemplo, s�o resqu�cios dessa �poca.

c.     Tend�ncia Pedagogicista

    Nem a Educa��o F�sica higienista nem a militarista, colocam de forma sistem�tica e contundente, a Educa��o F�sica como uma atividade prioritariamente educativa. Existe uma diferen�a entre instru��o e educa��o, assim algumas disciplinas escolares s�o instrutivas outras, como a Educa��o F�sica, educativas. E � justamente a Educa��o F�sica Pedagogicista que est� preocupada com a juventude que freq�enta as escolas. Nesse contexto, a Educa��o F�sica � encarada como algo �til e bom � sociedade, al�m de propagar o sentimento de valoriza��o profissional que permeia essa tend�ncia, que predominou entre 1945 e 1964.

d.     Tend�ncia Competitivista

    Essa � a tend�ncia da ditadura militar p�s 64, assim como Educa��o F�sica Militarista, a Educa��o F�sica Competitivista tamb�m est� a servi�o de uma hierarquiza��o e elitiza��o social. Os competitivistas s�o voltados ao culto do atleta-her�i, onde o mais importante � aquele que sobe ao podium. No �desporto de alto n�vel� que � o �desporto espet�culo�, h� uma exacerba��o de interesses neste, por parte dos meios de comunica��o, explicitamente incutido na popula��o pelo governo militar. Uma vez que o povo est� mais preocupado com o rendimento de seus her�is nas Olimp�adas e Copas do Mundo, a aten��o para os abusos cometidos pela ditadura � desviada.

    Para Castro (s/d), a influ�ncia positivista predominava na Educa��o F�sica, na �poca da repress�o, provocando limita��o da pesquisa de car�ter filos�fico, tornando esta um instrumento das ideologias das classes dominantes, a propagar seus valores autorit�rios e acr�ticos. Por�m a ditadura, com seu imp�rio de arbitrariedades, pris�es, crimes, mortes, torturas, sequestros e aliena��o em massa atrav�s do Esporte no Brasil, s� duraria at� 1985, com a elei��o de Jos� Sarney de Ara�jo Costa, o primeiro presidente n�o-militar desde 1964, ano do golpe.

    Um ano antes da elei��o de Sarney, a Federa��o Brasileira das Associa��es de Professores de Educa��o F�sica (FBAPEF), junto �s Associa��o de Professores de Educa��o F�sica (APEF'S), apresentaria na C�mara Federal o projeto de Lei n�mero 4.559 / 84, para regulamentar a profiss�o de Educa��o F�sica no Brasil, que n�o seria aprovada naquele per�odo (VALLAD�O e PARANGABA, 2008). Nesse contexto, conv�m questionar os motivos para a regulamenta��o ocorrer (ou n�o ocorrer?) anos depois.

1998, o ringue est� montado: por que a regulamenta��o?

    Sancionada a Lei 9696/98, em 1� de setembro de 1998 que regulamente a profiss�o de Educa��o F�sica, mas sem aprofundar muito a quest�o, que provavelmente daria um artigo completo (ou mais que isso), para trat�-la, busca-se aqui expor alguns fragmentos do pensamento de quatro pesquisadores not�veis, nesta batalha de argumentos, sendo dois � favor do processo de regulamenta��o: S�rgio Sartori e Jorge Steinhilber; e dois contra este: Lino Castellani Filho e Hajime Nozak, dando suas contribui��es para o fechamento deste ensaio sobre a hist�ria da Educa��o F�sica culminando com sua regulamenta��o no Brasil.

    Inicialmente com os opositores da regulamenta��o, para Castellani Filho (s/d), ainda com a regulamenta��o, a lei n�o tem o poder � como muitos foram levados a acreditar � de alterar as rela��es de poder, por exemplo, entre os m�dicos e os profissionais de Educa��o F�sica, de modo que n�o ser� por seu interm�dio que eles deixar�o de receitar atividades f�sicas aos seus �auxiliares�, os professores de Educa��o F�sica.

    Castellani Filho (s/d) afirma tamb�m, que ao longo do embate pela regulamenta��o, fez-se alus�o, de forma sutil e na maioria das vezes, subliminar, que haveria a possibilidade dela vir a impedir que os donos das academias, entre outros estabelecimentos, fossem pessoas de fora da �rea, apenas interessadas em lucrar �s custas da explora��o da atividade comercial nas pr�ticas corporais e da explora��o da for�a de trabalho do profissional de Educa��o F�sica, o que n�o acontece.

    J� Nozaki (1999), afirma que o processo de regulamenta��o al�m de antidemocr�tico, pelo tom da pressa e pela aus�ncia de discuss�o junto aos professores de Educa��o F�sica, trazia um retrocesso no campo da produ��o de conhecimento na �rea na medida que ignorava tais debates, apontando para uma adapta��o proveniente do sistema capitalista, estimulando a concorr�ncia, colocando os trabalhadores em confronto uns com os outros, promovendo a reserva de mercado. Al�m dos pressupostos corporativistas uma vez que foi necess�rio, segundo Nozaki (1999), atacar outros trabalhadores para o processo de regulamenta��o.

    Aos autores favor�veis � regulamenta��o destaca-se primeiramente Sartori citado por Vallad�o e Parangaba (2008), que defende esta pelo contexto da �poca, no qual nem sempre, os professores de Educa��o F�sica, podiam exercer o que, por forma��o, era um direito de trabalho, pois precisavam concorrer com outros indiv�duos, �s vezes completamente despreparados e que, por isso, aceitavam condi��es salariais e de trabalho incompat�veis, al�m de n�o possu�rem os requisitos de preparo (quando estes existiam), tamb�m ocorrendo a obten��o da habilita��o e t�tulo prec�rio para o exerc�cio profissional, devido ao ritmo acelerado de constru��o de centros formadores de professores de Educa��o F�sica.

    Para Steinhilber (1998), a regulamenta��o � um direito de tornar jur�dico aquilo que, de fato, a sociedade consome, aceita, acredita, respalda e vive; � estabelecer um c�digo de �tica profissional e, seguramente, corroborar para melhoria do exerc�cio profissional, dado que a competi��o por compet�ncia estaria motivando os profissionais a uma constante atualiza��o. Para o mesmo autor, n�o se trata de corporativismo mas de defesa ao atendimento condigno e respons�vel, garantido � popula��o, pela lei 9696/98, al�m de ser uma medida necess�ria em face do interesse social e humano, e n�o a pura e simples reserva de mercado. A profiss�o regulamentada � a possibilidade de fiscalizar o exerc�cio dos profissionais de Educa��o F�sica com vistas no bem-estar da sociedade (STEINHILBER, 1998).

    Independente da posi��o, contr�ria ou � favor, faz-se mister ao profissional de Educa��o F�sica abandonar a sua postura apol�tica, acr�tica incutida em seu corpo pelo positivismo da ditadura militar, e atuar junto aos grandes pensadores para a constante contesta��o e reorganiza��o de sua profiss�o, se despindo da roupagem de analfabeto pol�tico.

    O pior analfabeto � o analfabeto pol�tico. Ele n�o ouve, n�o fala, nem participa dos acontecimentos pol�ticos. Ele n�o sabe que o custo de vida, o pre�o do feij�o, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do rem�dio dependem das decis�es pol�ticas. O analfabeto pol�tico � t�o burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a pol�tica. N�o sabe o imbecil que, da sua ignor�ncia pol�tica nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que � o pol�tico vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais (BRECHT apud OLIVEIRA, 1994, p. 6).

Considera��es finais

    Ao longo de toda a pesquisa pode-se observar que a hist�ria da Educa��o F�sica se confunde com a hist�ria dos Esportes, cabendo entre outros questionamentos o de se Educa��o F�sica � Esporte. Questiona-se tamb�m durante o texto o real sentido da profiss�o: o que � Educa��o F�sica? Movimento humano consciente? Estudo da motricidade humana? Assunto que vem preocupando os pesquisadores da �rea j� alguns anos. Longe de ter a pretens�o de querer responder a tais questionamentos, buscou-se, atrav�s de uma linha de tempo, analisar como as sociedades ao longo da hist�ria lidavam com a Educa��o F�sicas, e como esta se desenvolveu.

    Conclui-se que n�o h� uma precis�o, ou verdade absoluta que ratifique o surgimento da Educa��o F�sica, em determinado per�odo hist�rico, no entanto a atividade f�sica (de qualquer natureza), seja ela manifestada atrav�s da dan�a, dos jogos, das lutas, das corridas, do saltar, caminhar, pular, est� presente na vida humana desde os tempos mais remotos, muito antes do homem se tornar civilizado e/ ou se organizar em cidades.

    � not�ria a necessidade de investiga��es mais aprofundadas no que concerne a hist�ria da Educa��o F�sica, e empreender a busca incessante por sua identidade e status junto �s demais ci�ncias, al�m de estudos mais espec�ficos que embasem a real necessidade (ou a n�o-necessidade) da regulamenta��o da profiss�o de Educa��o F�sica no Brasil.

Refer�ncia

  • AQUINO, R. S. L. de; et al. Hist�ria das sociedades: das sociedades modernas �s sociedades atuais. 3. ed. Rio de Janeiro: Ao Livro T�cnico, 1988

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Outros artigos em Portugu�s

 
Em qual cidade histórica houve um declínio da Educação Física como preparação integral do homem?

revista digital � A�o 13 � N� 129 | Buenos Aires,Febrero de 2009  
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Onde nasceu a história da Educação Física?

A EDUCAÇÃO FÍSICA surgiu na Grécia antiga, por volta de 386 a.C. Na época, a disciplina estava incluída na Academia de Platão, considerada a primeira escola de Filosofia do mundo ocidental. Seus objetivos?

Foi uma época onde começou a profissionalização da Educação Física?

A profissionalização da Educação Física aparece no Brasil República, com as escolas de Educação Física que tinham como objetivo principal a formação militar. Em 1930, com as reformas de Getúlio Vargas, a área ganha destaque nas políticas públicas com a criação do Ministério da Educação e Cultura (MEC).

Em que momento da história a Educação Física passa a fazer parte da vida do homem?

Podemos dizer que o início da Educação Física remonta aos tempos do homem primitivo. Quando esse precisava expandir e fortalecer suas capacidades físicas com a finalidade de sobrevivência.

Como surgiu a Educação Física no mundo com o homem primitivo?

Tudo começou quando o homem primitivo sentiu a necessidade de lutar, fugir ou caçar para sobreviver. Assim o homem à luz da ciência executa os seus movimentos corporais mais básicos e naturais desde que se colocou de pé: corre, salta, arremessa, trepa, empurra, puxa e etc.