O que era o princípio originário de todas as coisas para os primeiros filósofos?

O que era o princípio originário de todas as coisas para os primeiros filósofos?

Os filósofos pré-socráticos foram os primeiros a explicarem o mundo sem recorrer ao sobrenatural, sem recorrer ao místico. Anteriormente a eles, o mundo era explicado através da mitologia. A mitologia, no seu tempo, era o que estabelecia as regras sociais e estabeleciam a unidade do povo grego. Os pré-socráticos eram estudiosos da physis (a natureza), aquilo que é natural, que ia em contraposição ao sobrenaturalismo vigente.

Água, Ápeiron e Arithmós
O primeiro filósofo foi Tales de Mileto. Tales acreditava que a primeira substância era a água, a água era a origem única de todas as coisas. Ele acreditava que era possível ver a água em tudo. Se tudo era água, tudo era um por conclusão lógica. Logo o universo inteiro era caracterizado pela unidade na visão de nosso primeiro filósofo.

Anaximandro de Mileto acreditava que o universo tenha sido criado por modificações de um princípio originário (arché). Esse princípio era o ápeiron (infinito). Esse primeiro princípio tinha de ser naturalmente não-gerado, pois aquilo que foi gerado tem necessariamente um fim. Logo esse princípio era o princípio de todas as coisas, mas não teve um princípio próprio.

Pitágoras de Samos acreditava na unidade entre todos os seres existente. O que unia todos os seres era a arithmós (no caso, a matemática). O esforço intelectual conseguiria unificar numericamente todas as coisas. Os números são, portanto, a alma das coisas.

Heráclito e Parmênides
Comecemos por Heráclito: tudo é contínua mudança, isto é, estamos numa constante alteridade. Daí surge o clássico exemplo do rio: quando banhamo-nos no rio, somos uma coisa e o rio outro; quando banharmo-nos novamente, seremos outra coisa e o rio outra. O ser está em constante mudança, tudo está em constante mudança.

Parmênides afirmará o contrário, o ser não está em contínua mudança, mas em estado de permanência. Parmênides entrará em duas noções: “o que é” e “o que não é” – o segundo revelar-se-á impossível segundo o pensamento de Parmênides. O ser é, foi e sempre será o mesmo. O não-ser não é e nunca será. O ser não pode vir a tornar-se outro ser, pois para ser outro ser ele teria de ser o não-ser – e isto é uma impossibilidade lógica. Quando um ser é criado, ele já tem dentro de si todas as potencialidades que o definirão. Logo ele nunca se torna o que ele não poderia vir a ser, tudo já está delimitado em sua potencialidade.

Os pré-socráticos foram os primeiros a levarem o mundo ao conhecimento científico. Eles deram os passos iniciais para construção de um pensamento racional e, portanto, foram importantíssimos para o progresso da humanidade. Se não fosse por o pontapé que eles deram, nossa civilização não teria progredido tanto.

Escrito por: Gabriel Dutra, aluno do 2º semestre do curso de Filosofia da Ítalo

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Para os filósofos pré-socráticos, a arché ou arqué (em grego clássico: ἀρχή), seria o elemento que deveria estar presente em todos os momentos da existência de todas as coisas do mundo. No caso de Tales de Mileto, por exemplo, a água era um elemento puro, e através dela podia-se criar várias coisas; o início, o desenvolvimento e o fim de tudo. Princípio único.

Um dos pré-socráticos, Diógenes de Apolônia, explicou o raciocínio que levou os filósofos desse período à ideia de arché:

"[..] Todas as coisas são diferenciações de uma mesma coisa e são a mesma coisa. E isto é evidente. Porque se as coisas que são agora neste mundo - terra, água, ar e fogo e as outras coisas que se manifestam neste mundo -, se alguma destas coisas fosse diferente de qualquer outra, ele seria diferente e diferenciava sua natureza própria e se não permanecesse, então não permaneceria puro, e através disso descobriu que ocorreu muitas mudanças e diferenciações, então as coisas não poderiam, de nenhuma maneira, misturar-se umas as outras, nem fazer bem ou mal umas as outras, nem a planta poderia brotar da terra, nem um animal ou qualquer outra coisa vir a existência, se todas as coisas não fossem compostas de modo a serem as mesmas. Todas as coisas nascem, através de diferenciações, de uma mesma coisa, ora em uma forma, ora em outra, retomando sempre a mesma coisa."[1]

Os princípios (arché)[editar | editar código-fonte]

Tales de Mileto: a água[editar | editar código-fonte]

Para Tales de Mileto, a arché seria a água. Jostein Gaarder observa que provavelmente ao visitar o Egito, Tales observou que os campos ficavam fecundos após serem inundados pelo Nilo. Tales então viu que o calor necessita de água, que o morto resseca, que a natureza é úmida, que os germens são úmidos, que os alimentos contêm seiva, e concluiu que o princípio de tudo era a água. É preciso observar que Tales não considerava a arché água como nosso pensamento de água líquida, e sim, na água em todos os seus estados físicos. Tudo, então, seria a alteração dos diferentes graus desta. Aristóteles atribuiu a Tales a ideia de uma causa material como origem de todo o universo.

“... a água é o princípio de todas as coisas...”

Anaximandro de Mileto: o Ápeiron[editar | editar código-fonte]

Rudini observa que Anaximandro tinha um argumento contra Tales: o ar é frio, a água é úmida, e o fogo é quente, e essas coisas são antagônicas entre si, portanto um o elemento primordial não poderia ser um dos elementos visíveis, teria que ser um elemento neutro, que está presente em tudo, mas está invisível.

Anaximandro foi um dos pré-socráticos que mais se diferenciou na sua concepção da arché por não a ver como um elemento determinado, material. Considerava o infinito como o princípio das coisas, e o chamou de Éter, considerava então, que o limitado não poderia ser a origem das coisas limitadas. Explica que as coisas nascem do infinito através de um processo de separação dos contrários (seco-úmido).

"Anaximandro ainda afirmaria que os primeiros animais nasceram no elemento líquido e, pouco a pouco, vieram para o ambiente seco, mudando o seu modo de viver por um processo de adaptação ao ambiente, extremamente coerente com as teorias evolucionistas de Charles Darwin."

“... o ilimitado é imortal e indissolúvel...”

Anaxímenes de Mileto: o ar[editar | editar código-fonte]

Anaxímenes de Mileto, discípulo de Anaximandro, discorda de que os contrários podem gerar várias coisas. Colocou o ar como Arché, porque o ar, melhor que qualquer outra coisa, se presta à variações, e também devido a necessidade vital deste para os seres vivos. A rarefação e condensação do ar formam o mundo. A alma é ar, o fogo é ar rarefeito; quando acontece uma condensação, o ar se transforma em água, se condensa ainda mais e se transforma em terra, e por fim em pedra. Destacou-se por ser o primeiro a fornecer a causa dinâmica que faz todas as coisas derivarem do princípio uno (condensação e rarefação).

“... do ar dizia que nascem todas as coisas existentes, as que foram e as que serão, os deuses e as coisas divinas...”

Xenófanes de Cólofon: a terra[editar | editar código-fonte]

O elemento primordial para Xenófanes é a terra, através do elemento terra desenvolve sua cosmologia. Sua filosofia tinha sua lógica, pois, afinal, tudo o que existe começa na terra e tudo volta para a terra, tanto animais quanto plantas.

Apesar de tudo, ainda temos aqueles que acreditam que a água seja o começo e questionam o porquê da terra como justificativa, se a maior parte do planeta era feita de água. Tal questão era respondida com a justificação de que o fundo do oceano era feito de terra.

“... tudo sai da terra e tudo volta à terra...”

Heráclito de Éfeso: o fogo[editar | editar código-fonte]

Heráclito atribuiu o fogo como princípio de todas as coisas. "O fogo transforma-se em água, sendo que uma metade retorna ao céu como vapor e a outra metade transforma-se em terra. Sucessivamente, a terra transforma-se em água e a água, em fogo." Mas Heráclito era mobilista e afirmava que todas as coisas estão em movimento como um fluxo perpétuo. Ou seja, usa o fogo apenas como símbolo de todo este movimento. Heráclito imaginava a realidade dinâmica do mundo sob a forma de fogo, com chamas vivas e eternas, governando o constante movimento dos seres.

“... descemos e não descemos nos mesmos rios; somos e não somos...”

Pitágoras de Samos: o número[editar | editar código-fonte]

Os pitagóricos interessavam-se pelo estudo das propriedades dos números - para eles o número (sinônimo de harmonia) era considerado como essência das coisas - é constituído então da soma de pares e ímpares, noções opostas (limitado e ilimitado) respectivamente números pares e ímpares expressando as relações que se encontram em permanente processo de mutação. Teriam chegado à concepção de que todas as coisas são números.

“... o princípio das matemáticas é o princípio de todas as coisas...”

Os pitagóricos se dispersam e passam a atuar amplamente no mundo helênico, levando a todos os setores da cultura o ideal de salvação do homem e da polis através da proporção e da medida.

Empédocles de Agrigento: os quatro elementos[editar | editar código-fonte]

Empédocles acreditava que a natureza possuía quatro elementos básicos, ou raízes: a terra, o ar, o fogo e a água. Não é certo, portanto, afirmar que “tudo” muda. Basicamente, nada se altera. O que acontece é que esses quatro elementos diferentes simplesmente se combinam e depois voltam a se separar para então se combinarem novamente. O que unia e desunia os quatro elementos eram dois princípios: o amor e o ódio. Os quatro elementos e os dois princípios seriam eternos e imutáveis, mas as substâncias formadas por eles seriam pouco duradouras.

Jostein Gaarder afirma que talvez Empédocles tenha visto uma madeira queimar, alguma coisa aí se desintegra. Alguma coisa na madeira estala, ferve, é a água, a fumaça é o ar, o responsável é o fogo, e as cinzas são a terra. As verdades não seriam mais absolutas, como nos eleatas, mas proporcionais à medida humana. As coisas são imóveis, mas o que percebemos com os sentidos não é falso. Então, as duas forças atuariam nas substâncias, o amor e o ódio. O amor agiria como força de atração e união, o ódio como força de dissolução. Em quatro fases, existe a alternância dos dois. Estabelece um ciclo, com a tensão da convivência dessas forças motrizes.

Anaxágoras de Clazomena: as homeomerias[editar | editar código-fonte]

Anaxágoras achava que a natureza era composta por uma infinidade de partículas minúsculas, invisíveis a olho nu. Assim, em tudo existia um pouco de tudo. Segundo Jostein Gaarder, de certa forma, nosso corpo também é construído dessa forma. Se retiro uma célula da pele de meu dedo, o núcleo desta célula contém não apenas a descrição da minha pele. Em cada uma das células existe uma descrição detalhada da estrutura de todas as outras células do meu corpo. Em cada uma das células existe, portanto, “um pouco de tudo”. O todo está também na menor das partes.

Anaxágoras chamou as infinitas partículas de homeomerias, ou sementes invisíveis, que diferiam entre si nas qualidades. Todas as coisas resultariam da combinação das diferentes homeomerias.

“...todas as coisas estavam juntas, ilimitadas em número e pequenez, pois o pequeno era ilimitado...”

Demócrito: os átomos[editar | editar código-fonte]

Os atomistas seguiram a linha de que a natureza era composta por partículas infinitas. Diziam que tudo que realmente existia era constituído de átomos e de vazio (este último os espaços entre os átomos). Considera que nada pode surgir do nada, assim, os átomos eram eternos, imutáveis e indivisíveis. O que acontecia, era que eles eram irregulares e podiam ser combinados para dar origem aos corpos mais diversos. Demócrito é considerado o mais lógico dos pré-socráticos.

Convém acrescentar, contudo, que o suposto equívoco de Demócrito seria, grosso modo, um erro de nomenclatura dos descobridores do átomo. Ao teorizarem e, posteriormente, visualizarem a estrutura atômica, deram-lhe o nome de "átomo" em referência às ideias de Demócrito. O fato dessa estrutura ser composta e, portanto, divisível, deve-se mais a um erro de atribuição do que à má fundamentação da visão atomista.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • SAMPAIO, Rudini Menezes. Disponível em: <http://www.ime.usp.br/~rudini/>. Acesso em: 01 de mar. 2006.
  • CONSCIÊNCIA. Pré-socráticos. Disponível em: <http://www.consciencia.org/>. Acesso em: 01 de mar. 2006.
  • OLIVEIRA, C. G. M. Pré-socráticos. Disponível em: <http://www.filosofiavirtual.pro.br/>. Acesso em: 01 de mar. 2006.
  • GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia: Romance da história da filosofia. São Paulo: Companhia das Letras, p. 45-60, 1995.
  • SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-Socráticos. Primeiros mestres da filosofia e da ciência grega. 2ª ed. Porto Alegre: Edipucrs, 2003;
  • SPINELLI, M.. "A Noção de Archê no Contexto da Filosofia dos Pré-Socráticos". In: Revista Hypnos, PUC/São Paulo, v. 07, n. 08, 2002, p. 72–92.

Referências

  1. Fragmento 2 de Diógenes de Apolônia, OS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS, GERD A BORNHEIM

Qual seria o princípio de todas as coisas para esse filósofo?

O PRINCÍPIO DE TODAS AS COISAS: Os primeiros pensadores centraram a atenção na natureza e elaboraram diversas concepções de cosmologia (procurar a racionalidade constitutiva do universo), explicar, diante da mudança (do devir) a estabilidade, o uno.

Quem são os primeiros filósofos e o que eles tomavam como princípio?

Segundo uma tradição, que remonta aos próprios gregos antigos, o primeiro filósofo da história teria sido Tales de Mileto. Ele ficava indignado por “todas as coisas estarem cheias de deuses”. Dessa maneira, tentou explicar que a água era a origem única (physis) de todas as coisas.

O que pensavam os primeiros filósofos?

Os primeiros filósofos, como buscavam as suas respostas na natureza e também viam por meio desta as explicações sobre a origem, as transformações e a ordem de todas as coisas que ocorriam, se perguntavam como tais transformações poderiam ocorrer, buscavam entender qual era o início de todas as coisas.

Qual e o princípio de tudo resumo?

O princípio de tudo seria, então, um elemento infinito, porém definido: o ar. O filósofo compreendeu o ar como uma substância que permeia todos os corpos e objetos da natureza. As características de cada ser variariam, então, de acordo com a quantidade (maior ou menor) de ar que eles contivessem.