Quais as principais dificuldades enfrentadas pela juventude no Brasil?

Quando questionados sobre as dificuldades enfrentadas por eles e suas famílias no cotidiano, 87,7% (n = 335) afirmaram sofrer algum tipo de dificuldade. Indicamos as mais relatadas pelos participantes:

Quais as principais dificuldades enfrentadas pela juventude no Brasil?

Gráfico 3: Dificuldades enfrentadas pelas famílias

Considerando que aproximadamente mais de 50% dos participantes possuem renda de até dois salários mínimos, com famílias com média de quatro a seis membros é compreensível que eles apontem como principal problema o aspecto financeiro, já que renda per capta torna-se ainda mais precária. Deste total, a maioria não procurou nenhum tipo de ajuda para enfrentá-las.

Dentre aquelas famílias que buscaram algum tipo de apoio, os recursos mais procurados para enfrentar suas dificuldades foram: parentes (44,5%) e amigos (26,7%), serviços de saúde (24,%), outras instituições (12,3%), outros recursos (4,18%). O que chama atenção é o percentual de famílias que não buscam apoio de amigos, familiares e de instituições. Quase 60% delas não sabem o que fazer para enfrentar seus problemas e 66% não fazem nada a respeito. Mais uma vez, constatamos que as bases de apoio informal fazem-se mais presentes que as formais. Contudo, devemos nos questionar quanto à resolutividade das bases de apoio informal nos casos de problemas financeiros, já que através delas a possibilidade de mobilização é mais restrita que através das bases de apoio organizadas de maneira mais sistemática, podendo as primeiras atuar apenas como fonte de alívio temporário. No caso dos problemas financeiros, a ausência das bases de apoio formal denuncia a pouca atuação das políticas sociais voltadas ao desemprego, pois caso fossem presentes os adolescentes e jovens teriam declarado recorrer a elas para resolver tais dificuldades. Notamos assim, o quanto o cotidiano desses jovens torna-se dificultoso se associamos todas essas dificuldades ao fato de eles possuírem escassos recursos para se divertirem na comunidade, que como já foi dito é reforçado pela falta de recursos para se movimentar em outros espaços pela falta de recursos financeiros.

Um outro dado importante sobre as dificuldades que eles enfrentam em seu cotidiano nos chamou atenção. Quando questionados sobre o principal problema do seu bairro mais de 40% dos estudantes responderam a essa pergunta fazendo referência a palavras como "policiamento" (ou a falta dele), "brigas", "violência", "morte". Ou seja, palavras que remetem ao cotidiano de violência ao qual estão submetidos. Na seção a seguir problematizaremos um pouco mais essa questão.

Indagamos aos adolescentes sobre a sua satisfação/insatisfação frente a alguns aspectos da infra-estrutura de seu bairro. Os resultados foram os seguintes em ordem decrescente de insatisfação:

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Gráfico 4: Insatisfação quanto aos serviços públicos

Podemos notar aqui que o policiamento foi o aspecto mais indicado pelos participantes. Este dado está diretamente ligado ao cotidiano de insegurança e violência vivido pelos jovens desta pesquisa, o que certamente faz com que a necessidade de maior policiamento no bairro seja desejado. Entretanto, observamos que os outros itens assinalados indicam a fragilidade das bases de apoio formais, bem como dos recursos de infra-estrututura tais como saneamento básico, coleta de lixo, transporte, imprescindíveis a toda e qualquer comunidade.

4.5.1. Violência Familiar e Comunitária

Faz-se necessário problematizar o a questão da violência doméstica a fim de entender que questões estão envolvidas. Sabemos que à família é atribuída a função de assegurar boas condições para o desenvolvimento saudável de suas crianças e jovens. Cada família possui seu espaço, constitui seu próprio mundo isolado, com seus próprios controles e sua própria conversação fechada (Berger, citado por Gonçalves, 2001) e dentro deste, cria leis ou regras que operam num campo social concreto e que interagem com outras formas de legalidade. Juntamente com a legalidade do Estado, a legalidade doméstica engaja-se num processo de constante interação, negociação, compromisso, conflito, reforço e neutralização mútuos (Santos, citado por Gonçalves, 2001).

Nesse sentido, a família vem sendo, historicamente, considerada lugar de cuidado e não-violência. Contudo, começou-se a observar que algumas famílias estariam violentando seus filhos, criando a necessidade dos mesmos serem protegidos até mesmo da sua própria família. Sabemos que no interior dos lares há grande parte dos casos de violência. A violência doméstica é um fenômeno presente independente da classe social, que impede, cessa, detém ou retarda o desenvolvimento pleno das crianças e dos jovens, podendo gerar prejuízos nas áreas do desenvolvimento físico, cognitivo, social, moral, emocional ou afetivo. Este tipo de violência tem uma dinâmica particular; sendo, muitas vezes justificada como uma forma de educar as crianças e/ou jovens.

No século XX, as políticas públicas passaram a tratar de crianças e adolescentes como sujeitos que deveriam ser protegidos pela família, pelo Estado e pela sociedade. Desde então, o Estado que antes tinha fortalecido as leis domésticas, aos poucos começa a intervir novamente sobre a família, sob as regras do contrato social, criando um diálogo entre o público e o privado, diminuindo assim o poder da família.

A psicologia contribuiu ao estudo da violência enfatizando a dinâmica familiar. Começou-se a estudar a família abusiva e descobriu-se que o isolamento social da família era um importante fator a precipitar ocorrências de eventos violentos. Porém, não se pode afirmar uma única causa para os maus-tratos, como também parece não haver causas necessárias ou suficientes de acordo com o modelo ecológico (Gonçalves, 2001).

Bronfenbrenner (citado por Gonçalves, 2001) considerou um conjunto de variáveis para explicar a violência familiar, dentre elas, estão:

1. Características individuais tais como: baixa auto-estima, falta de controle dos impulsos e respostas exacerbadas a condições de stress;
2. Características da estrutura familiar: o número de membros da família, eventos traumáticos vividos pelo grupo e os estilos de resolução de conflito;
3. Características do contexto comunitário como a disponibilidade de recursos da região de moradia, os vínculos de vizinhança, a coesão de grupo e a exposição à violência;
4. Fatores culturais e sociais como o sistema de valores e crenças: valorização do castigo corporal na educação, a privatização da família e a presença da violência nos meios de comunicação (Emery e Laumann-Billings, citados por Gonçalves, 2001).

Devemos analisar estas variáveis considerando que podem tanto eclodir a violência quanto diminuí-la, e nesse sentido, incorporou-se o conceito de resiliência, entendida como a capacidade de resistir diante das dificuldades e a de construir uma vida positiva apesar das diversas adversidades. Começou-se então, a contextualizar a violência familiar de forma mais ampla. O que antes era produto da personalidade doentia dos pais, não é mais tomado como determinante, passando a ser relacionado às condições gerais de vida da família, à dinâmica das relações intra e extra-familiares e às concepções globais da sociedade sobre infância e adolescência e práticas de educação e criação dos filhos. (Gonçalves, 2001). Desta forma, é sob a perspectiva acima que analisaremos as condutas violentas no seio familiar.

Dos participantes da pesquisa 78,9% declaram ter sofrido algum dano, seja ele físico ou moral. Destes, 29% não buscaram nenhum tipo de auxílio para enfrentar tal situação. Vejamos abaixo a distribuição dos tipos de violência intra-familiar sofridas por estes estudantes e as formas de auxílio buscadas por aqueles que procuraram ajuda. Dos participantes da pesquisa 78,27% declaram ter sofrido algum dano, seja ele físico ou moral. Destes, 19,89% não buscaram nenhum tipo de auxílio para enfrentar tal situação.

Vejamos abaixo a distribuição dos tipos de violência intrafamiliar referidas por estes estudantes e as formas de auxílio buscadas por aqueles que procuraram ajuda.

Além disso, ao serem indagados sobre as dificuldades que enfrentam no seu dia-a-dia, alguns deles responderam que passam por situações problemáticas com o uso de álcool e outras drogas. Desta forma, podemos pensar que alguns dos conflitos violentos são decorrentes do consumo dessas substâncias por seus parentes. Associando estes dois dados, podemos constatar que atos violentos no espaço doméstico estão relacionados não apenas a traços de personalidade dos pais, mas que eles ocorrem em associação com outras situações, já que o consumo de álcool e outras drogas guardam estreita relação com problemas tais como o desemprego e condições econômicas adversas.

No que diz respeito aos episódios violentos ocorridos fora do ambiente familiar, 42,93% (n= 164) estudantes vivenciaram eventos desta natureza.

Constatamos também que 8,63% destes jovens não procuraram qualquer tipo de ajuda quando na ocorrência de eventos deste tipo. Vejamos abaixo a distribuição dos principais tipos de violência sofrida por estes estudantes na comunidade e as formas de auxílio buscadas por aqueles que procuraram ajuda.

Quais as principais dificuldades enfrentadas pela juventude no Brasil?

Gráfico 5: Violência sofrida na comunidade

Quanto às bases de apoio recorridas na ocorrência de episódios violentos na comunidade, foram identificadas:

Quais as principais dificuldades enfrentadas pela juventude no Brasil?

Gráfico 6: Base de Apoio recorrida

Os dados acima descritos nos permitem constatar que as bases de apoio informal (amigos, parentes e vizinhos) são as mais recorridas na tarefa de enfrentamento dos problemas. Observamos um desconhecimento ou não utilização das bases formais por grande parte da população entrevistada. Além disso, percebemos que muitos destes jovens não procuraram ajuda para enfrentar seus problemas: violência intrafamiliar (19,89%); dificuldades encontradas no cotidiano (12,82%) e violência fora do ambiente familiar (8,63%). Esta falta de utilização pode ocorrer tanto pela indisponibilidade desses recursos na comunidade, bem como pela falta de confiança ou crédito nas bases formais e informais disponíveis. Esses dados são referentes àquelas pessoas que responderam afirmativamente às questões acima.

Quanto à violência policial, concordamos com a análise realizada por Zamora (1999) no contexto das favelas cariocas, de que é muito raro haver qualquer expectativa nas comunidades pobres brasileiras

(...) de que a polícia atue como mediadora de conflitos entre os moradores, sendo raro e considerado inútil e até perigoso dar queixa, por associarem a polícia com a corrupção e se considerarem "suspeitos", não por terem cometido crimes, mas só por serem do morro... além disso, a ação da polícia que não se vê devidamente controlada, está estreitamente relacionada ao racismo, aos abusos do poder político e ao controle das classes populares (p.28).

Observou-se também que muitos participantes se referiram às palavras relacionadas com segurança como sendo maior problema de sua comunidade. Este dado apenas reforça as idéias colocadas acima a respeito da circulação restrita desses adolescentes e jovens em sua comunidade, pois se situações relacionadas à insegurança são vistas como as mais preocupantes, é provável que eles saiam menos de suas casas a fim de evitar um possível incidente relacionado à criminalidade.

Com base nisso, entendemos que as dificuldades vivenciadas pelos adolescentes e jovens participantes da pesquisa apontam, em primeiro lugar, para os limites das atuais políticas sociais do país, especificamente daquelas voltadas para a infância e juventude. Os anos 90 foram marcados pela globalização e avanço da política neoliberal que acentuaram as desigualdades sociais e de oportunidade de vida na sociedade brasileira. A violência, como discutida anteriormente, é um complexo fenômeno cultural e político, que gera altos custos sociais, estando intimamente articulada às condições de vida de uma população. Desigualdade, miséria e exclusão sociais favorecem a escalada da violência de forma generalizada, trazendo conseqüências visíveis e invisíveis a toda uma sociedade. Infelizmente, a tônica das políticas públicas tem sido

(...) o abandono do enfoque da universalidade em favor das ações sociais na pobreza extrema, seletividade ou focalização (...) Esse processo impede que as pessoas saiam do ciclo de pobreza, já que as políticas focalizadas visam atender apenas necessidades de sobrevivência, que não capacitam o indivíduo para o exercício da cidadania. É por isso que se diz que essas políticas funcionam como "armadilha da pobreza" (Sartor, Martins e Silva, 2002, p.126).

Como já mencionado, a violência fora do ambiente familiar ocorreu para 42,93% dos participantes. Dentre os que sofreram, 8,63% não buscaram qualquer tipo de ajuda. As bases informais mais uma vez se destacaram em relação à busca de auxílio: amigos (21,46%), parentes (17,8%). O roubo e a revista policial agressiva foram os danos mais declarados por todos os jovens, com 21,72% e 18,06% respectivamente. Além disso, apontaram ameaças (11,25%), perseguição (9,42%), invasão de domicílio (8,11%), e agressão (8,63%) como situações vivenciadas na comunidade.

Dentre as situações que envolveram violência sexual, a mais citada foi o toque do corpo sem o consentimento do adolescente, com 10 citações. Depois veio a relação sexual propriamente dita com sete citações, sendo cinco do sexo feminino e duas do sexo masculino, além destas, houve uma situação de sexo anal. Destas 08 pessoas, apenas duas procuraram bases formais, sendo que uma delas procurou um serviço de proteção à mulher e a outra, além deste, procurou o serviço de saúde.

Dentre as 24 pessoas que declararam ter sofrido violência sexual, 08 não procuraram qualquer base de apoio. Entre as 16 pessoas que procuraram apoio, apenas 04 pessoas procuraram bases formais. Percebemos, também para a violência sexual, uma prevalência na procura pelas bases informais. Acreditamos que, talvez, o número de pessoas que sofreram este tipo de violência seja maior, tendo em vista o tabu que gira em torno desta questão, o que também deve atrapalhar a busca pelos suportes formais.

Os dados acima descritos nos permitem constatar que as bases de apoio informal são as mais recorridas na tarefa de enfrentamento dos problemas. Em relação à educação, notamos uma preocupação por parte dos pais com os estudos de seus filhos. A mesma preocupação aparece em relação à saúde dos participantes, principalmente em relação aos mais novos. Vimos também uma grande participação em grupos religiosos (60,47%), que facilita também o incremento dos contatos informais. Constatamos também a presença das amizades no tocante ao divertimento e às atividades realizadas fora da escola.

Observamos, de forma geral, um desconhecimento ou não utilização das bases formais por grande parte da população entrevistada. Além disso, percebemos que muitos dos jovens que passaram por episódios violentos não procuraram ajuda para enfrentar tais problemas: violência intrafamiliar (25,08%); violência na comunidade (8,63%) e violência sexual.

A partir dos dados sobre violência e dificuldades enfrentadas, podemos perceber que as bases de apoio formal nessa comunidade não atendem às demandas desta população, seja por falta de crédito ou confiança, quando na ocorrência de eventos violentos, não se configurando enquanto recursos com os quais os jovens de Bom Pastor possam contar. São poucos os recursos formais disponíveis, principalmente no tocante à violência. O desamparo é muito grande, pois a ocorrência de episódios violentos em Bom Pastor é muito alta, tanto no seio familiar (78,27%) como na comunidade (42,93%).

A maior procura pelas bases de apoio informal pode significar ainda que as relações estabelecidas informalmente no espaço da rua (quando procuram amigos, parentes ou vizinhos) têm mais ressonância para estes jovens, significando que este espaço não possui uma conotação negativa, mas sim que é um lugar importante no qual há troca de valores e de afetos; embora, muitas vezes, não resolvam os problemas enfrentados na tocante à violência. Dessa maneira, as relações estabelecidas no espaço público devem ser levadas em consideração nos processos de elaboração e execução de intervenções e programas para a juventude no sentido de criação de campos propícios para o desenvolvimento de potencialidades e âmbito de expressão das subjetividades, no sentido de realização de aspirações pessoais, de manifestação e enunciação dos entraves que inviabilizam a vida de adolescentes e jovens.

Entre as bases informais procuradas nas situações de violência, as relações de amizade se sobressaíram. Os amigos foram os mais procurados tanto para a violência intrafamiliar como para a violência sofrida na comunidade.

Quais os principais desafios enfrentados pela juventude brasileira?

Há consenso entre especialistas de que atualmente a juventude passa por uma fase de transição extremamente complexa, afetada por uma grave e inusitada combinação de fatores como o acirramento da violência e o aprofundamento da crise de trabalho e emprego.

Quais são as principais dificuldades e os desafios da juventude?

Entre as competências mais relevantes para o mercado do futuro, eles citam:.
Curiosidade..
Protagonismo..
Liderança..
Resiliência..
Resolução de problemas..
Autoconhecimento..
Inteligência emocional..
Proatividade..

Quais os problemas enfrentados pela juventude atualmente?

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Quais as barreiras que os jovens enfrentam hoje em dia?

4 principais dificuldades dos jovens no mercado de trabalho Apresentar suas competências comportamentais (mesmo sem ter experiência profissional); Encontrar empresas que deem match com seu propósito (seleção por valores, já ouviu falar?); Lidar com a ansiedade (infelizmente nem todas as respostas são imediatas);