Quais as regiões brasileiras apresentam o território profundamente transformado?

As regiões brasileiras são: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. As Regiões do Brasil são as grandes divisões do território do país. Elas reúnem as características físicas ou naturais, do relevo, do clima, da vegetação, da hidrografia, como também das atividades econômicas.

Considerando que o território brasileiro possui dimensões continentais, com 8 515 767,049 km², o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), dividiu o país nessas cinco grandes regiões.

Quais as regiões brasileiras apresentam o território profundamente transformado?

Região Nordeste

A Região Nordeste ocupa uma área de 1 554 291,607 km2 sendo a região brasileira que possui a maior costa litorânea do país.

Essa região é formada por 9 Estados:

  • Maranhão (MA): capital São Luís
  • Piauí (PI): capital Teresina
  • Ceará (CE): capital Fortaleza
  • Rio Grande do Norte (RN): capital Natal
  • Paraíba (PB): capital João Pessoa
  • Pernambuco (PE): capital Recife
  • Alagoas (AL): capital Maceió
  • Sergipe (SE): capital Aracaju
  • Bahia (BA): capital Salvador

Faz parte ainda dessa região, a Ilha de Fernando de Noronha, que pertence ao estado de Pernambuco. Curioso notar que a capital do Piauí, a cidade de Teresina, é a única capital que não está situada no litoral.

Saiba mais sobre Região Nordeste.

Região Norte

A Região Norte ocupa uma área de 3 853 676,948 km2. É a maior das regiões brasileiras, fazendo fronteira com a Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e a Guiana Francesa.

Essa região é formada por 7 Estados:

  • Amazonas (AM): capital Manaus
  • Pará (PA): capital Belém
  • Acre (AC): capital Rio Branco
  • Rondônia (RO): capital Porto Velho
  • Tocantins (TO): capital Palmas
  • Amapá (AP): capital Macapá
  • Roraima (RR): capital Boa Vista

Saiba mais sobre a Região Norte.

Região Centro-Oeste

A Região Cento-Oeste é a única região brasileira que não é banhada pelo mar. Ela ocupa uma área de 1 606 399,509 km2,

Faz fronteira com a Bolívia e o Paraguai, e sua localização permite ligação de fronteira com todas as outras regiões brasileiras.

Essa região é formada por 3 Estados e o Distrito Federal:

  • Mato Grosso (MT): capital Cuiabá
  • Goiás (GO): capital Goiana
  • Mato Grosso do Sul (MS): capital Campo Grande
  • Distrito Federal (DF): capital Brasília

Saiba mais sobre a Região Centro-Oeste.

Região Sudeste

A Região Sudeste ocupa uma área de 924 620,678 km2 sendo a segunda menor região brasileira em extensão territorial e a mais desenvolvida economicamente.

Além disso, é considerada a mais populosa das regiões abrigando 44% da população brasileira.

Essa região é formada por 4 Estados:

  • Minas Gerais (MG): capital Belo Horizonte
  • Espírito Santo (ES): capital Vitória
  • São Paulo (SP): capital São Paulo
  • Rio de Janeiro (RJ): capital Rio de Janeiro

Saiba mais sobre a Região Sudeste.

Região Sul

A Região Sul ocupa uma área de 576 744,310 km2 sendo considerada a menor região brasileira. Essa região faz fronteira com o Uruguai, Argentina e Paraguai e é formada por 3 Estados:

  • Paraná (PR): capital Curitiba
  • Santa Catarina (SC): capital Florianópolis
  • Rio Grande do Sul (RS): capital Porto Alegre

Saiba mais sobre a Região Sul.

Continue a aprender sobre o assunto:

  • Mapa do Brasil
  • Território Brasileiro
  • Regiões geoeconômicas do Brasil
  • Exercícios comentados sobre regiões brasileiras

Scripta Nova
REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona. 
ISSN: 1138-9788. 
Depósito Legal: B. 21.741-98 
Vol. X, núm. 218 (62), 1 de agosto de 2006 

ADENTRANDO SERT�ES: CONSIDERA��ES SOBRE A DELIMITA��O DO TERRIT�RIO DAS SECAS

Angela Lucia Ferreira
Depto. de Arquitetura e Programa de P�s-Gradua��o em Arquitetura e Urbanismo
UFRN - Brasil

George A. F. Dantas
Doutorando Hist�ria da Arquitetura e do Urbanismo
EESC/USP - Brasil

Helio T. M. Farias

Mestrando Arquitetura e Urbanismo
UFRN - Brasil

Adentrando sert�es: considera��es sobre a delimita��o do territ�rio das secas (Resumo)

O Sert�o foi um desbravar cont�nuo, de fronteiras que se constru�ram no enfrentamento das vicissitudes econ�micas, sociais e geogr�ficas; fronteiras que s�o f�sicas e culturais e que permaneceram imprecisas ao longo do s�culo XIX e mesmo nas primeiras d�cadas do s�culo XX. Assim, pretende-se estabelecer neste artigo algumas notas introdut�rias para discutir o processo hist�rico de constru��o da entidade geogr�fica conhecida como Sert�o. Para tanto, s�o problematizados alguns pontos da espessa trama discursiva, oriunda de fontes e disciplinas diversas (relatos de viajantes, relat�rios t�cnicos, registros jornal�sticos, pesquisas etnogr�ficas, etc.), que conformariam essa constru��o. Vinculado quase sempre ao tem�rio das secas, o Sert�o constituiu-se num dos espa�os privilegiados dos debates nacionais. Compreender a instrumentaliza��o do enfrentamento do Sert�o como problema t�cnico pressup�e assim a compreens�o de como foram delimitados seus limites, suas caracter�sticas, seus conte�dos.

Palavras-chave: forma��o territorial – Sert�o – secas – representa��es – discurso t�cnico

Penetrating sert�es: issues on the delimitation of the territory of droughts (Abstract)

The Sert�o was a continuous taming of frontiers that were built on the confronting of economical, social and geographical challenges; frontiers that are physical and cultural and that remained inaccurate along the nineteenth century, and even into the first decades of the twentieth century. Thus, this paper aims to establish a few introductory notes for the discussion of the historical process of construction of the geographical entity known as Sert�o. To that end, we problematize some issues of the thick discursive weave, originated in diverse sources and disciplines (traveler reports, technical reports, jornalistic records, ethnographical research, etc.) that would shape such construction. Almost always linked to the droughts theme, the Sert�o became one of the privileged arenas for national debate. To comprehend the instrumentalization of the confronting of the Sert�o as a technical problem thus assumes the comprehension of how its limits, its characteristics, and its contents were delimited.

Keywords: Territorial formation – Sert�o – droughts – representations – technical discourse

“Entrava eu para o Sert�o e este merecia o nome...”
Henry Koster, Travels in Brazil, 1816.

Introdu��o

De origem obscura, a palavra “sert�o” n�o �, contudo, poliss�mica. Imprecisa, sim, cujos limites sem�nticos se ampliam ou se retraem e que, a princ�pio, designou de maneira geral o interior pouco povoado, a regi�o agreste distante dos n�cleos humanos ou do litoral. Para os portugueses do s�culo XV e XVI conotava interior, em oposi��o ao litoral ou a um centro pol�tico urbano. A carta de “achamento” do Brasil de Pero Vaz de Caminha � ilustrativa a esse respeito: “n�o duvido que por esse sert�o [saart�o, no original] ajam muitas aves” ou ainda “de ponta a ponta � toda praia parma e muito ch� e muito formosa. Pelo sert�o nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, n�o pod�amos ver sen�o terras com arvoredos, que nos parecia muito longa”.[1]

No in�cio do s�culo XIX, um viajante como o ingl�s Henry Koster perguntava-se, ao atravessar parte da por��o setentrional da nascente na��o brasileira: “essa palavra [sert�o] vir� de Desert�o, usada no aumentativo de Deserto, como � o costume portugu�s?”. Depois, descrevendo a estrutura rudimentar da rede de caminhos na regi�o, diria que Jo�o Pessoa (ent�o Cidade da Parahyba), assim como Natal, estavam “fora da estrada que vem do Sert�o ao Recife”. O complemento a essa descri��o � significativo: “A palavra sert�o � empregada de maneira indefinida, n�o somente significando o interior do pa�s mas, �s vezes, grande parte da costa cuja popula��o � parca. Assim, toda a regi�o situada entre o Rio Grande [do Norte] e a Para�ba � chamada Sert�o” (Koster, 1942, pp. 87; 91, nota 6; 94, nota 12; grifos no original).

Indefini��o que seria designativa tamb�m para Euclides da Cunha. “Terra ignota”, i.e., terra desconhecida, ignorada, que tinha ficado � margem tanto das incurs�es bandeirantes aos sert�es entre o final do s�culo XVI e o in�cio do XVIII quanto da ocupa��o humana a partir do litoral. Uma por��o significativa desse imenso (e impreciso) sert�o quedava desconhecida, como um “territ�rio estranho”, diria o engenheiro, a respeito da regi�o ao sul do rio S�o Francisco onde se desenrolaram os acontecimentos da chamada Guerra de Canudos. E isso, diga-se a prop�sito, depois das in�meras expedi��es cient�ficas, dos estudos e comiss�es t�cnicas e da abertura de estradas e vias f�rreas ao longo do s�culo XIX no vasto interior do Brasil. [2] O sert�o era, assim, dentro de sua leitura geogr�fica, “quase um deserto”. Mas, o sert�o ou os sert�es, cabe indagar. A pluralidade parece reconhecer a multiplicidade de fronteiras – geogr�ficas e culturais – que foram se constituindo em quatros s�culos de hist�ria ocidental do Novo Mundo. Se h� sert�es, interessou particularmente a Cunha aquele do rio Vaza-Barris, de Canudos, exatamente porque era como “um �ndice sumariando a fisiografia dos sert�es do Norte. Resume-os, enfeixa os seus aspectos predominantes numa escala reduzida. �-lhes de algum modo uma zona central comum” (Cf. Cunha, 2000, p.12, 13, 21, 33).

Fez-se at� aqui apenas refer�ncias a alguns dos pontos de uma trama complexa, espessa, de sentidos e significantes que tentariam objetivar o sert�o, ou os sert�es, como uma entidade geogr�fica. Sob a denomina��o de uma palavra que guarda ainda a sua generalidade inicial, diversas regi�es cont�guas (com suas similaridades e diferen�as geogr�ficas, culturais, sociais) foram circunscritas – da� a propriedade de se falar em “sert�es”, no plural. Contudo, pontos comuns foram explicitados, ressaltados, para al�m das diferen�as. Um desses foi e � o fen�meno clim�tico das secas. Como diria o pr�prio Euclides da Cunha: “ajusta-se sobre os sert�es o caut�rio das secas; esterilizam-se os ares urentes: empedra-se o ch�o, gretando; recrestado, (...)” (Ibidem, p.39).

Circunscrever, explicitar, ressaltar pontos comuns (e, por oposi��o, colocar em segundo plano diferen�as) s�o procedimentos que desvelam articula��es e estrat�gias dos sistemas de saber e poder. Desse modo, diga-se logo que as regi�es n�o s�o espa�os inscritos na Natureza, mas, sim, constru��es hist�ricas, cujas circunscri��es f�sicas e discursivas revelam, ami�de, muito mais acerca daquilo que descreve e cataloga do que sobre o que � descrito e catalogado (Albuquerque Jr., 2001; Said, 1990).

� importante um esclarecimento: trabalha-se aqui com a no��o de regi�o como conceito, como significante de um campo discursivo. Ainda assim, deve-se enfatizar que a palavra “regi�o” normalmente compreende uma no��o fiscal, administrativa e/ou militar, enquanto a palavra “territ�rio” abrange uma no��o geogr�fica jur�dico-pol�tica – que implica um determinado controle por um determinado poder (Cf. Foucault, 1990, p.157).

Assim, pretende-se estruturar neste artigo algumas considera��es, algumas possibilidades de leitura e enfrentamento do processo hist�rico (que, por conseguinte, conforma um problema historiogr�fico) de constru��o da entidade geogr�fica conhecida como sert�o; entretanto, daquele sert�o espec�fico e ao mesmo tempo abrangente cuja imagem e significa��o se articularam a partir do tema das secas, cujas fronteiras se definiram a partir das secas. Interessa portanto iluminar alguns pontos dessa trama historiogr�fica que constru�ram o sert�o. Sert�o que se constituiu tamb�m como um espa�o discursivo heterog�neo onde se cruzam fontes diversas, provenientes de v�rias disciplinas.

Mas, como se formaram as fronteiras, os limites desse objeto – da regi�o definida e reconhecida como sert�o? � importante aclarar os suportes conceituais dos passos metodol�gicos aqui utilizados para compreender o processo hist�rico de constru��o do sert�o; das estrat�gias de leitura que informam a problematiza��o do registro sistem�tico de diversos viajantes estrangeiros, como Henry Koster, at� as andan�as dos intelectuais modernistas e regionalistas das primeiras d�cadas do s�culo XX, como M�rio de Andrade e C�mara Cascudo.

Afirmar que uma regi�o, qualquer regi�o, � constru�da historicamente n�o significa dizer que seja uma irrealidade, uma fic��o, uma pe�a ideol�gica para manipula��o de interesses e consci�ncias. Implica dizer, sim, que por tr�s da cristaliza��o e institucionaliza��o das divis�es geopol�ticas de um territ�rio h� um conjunto de representa��es em disputa, de esquemas intelectivos de conhecimento, descri��o, cataloga��o. Como discute Luciana Martins (2001, p.12), o registro material (por meio da cartografia, das pinturas, dos desenhos e esbo�os, dos di�rios de bordo, dos livros de viagens e, depois, dos relat�rios t�cnicos, da literatura, etc.) da “paisagem dos lugares” revela uma “geografia imaginativa em forma��o” e, por conseguinte, uma “paisagem das id�ias”.

Os recortes operados sobre uma determinada realidade geogr�fica derivam, claro, do enfrentamento sobre essa mesma realidade, assim como dos elementos pr�vios que informam e moldam esse enfrentamento. Isto significa considerar inclusive as representa��es, as leituras e imagens pr�-existentes – as “geografias imaginativas” – sobre as regi�es, no caso, sobre o sert�o. Leituras e imagens que se acumularam e se cruzaram, configurando, de certo modo, uma tradi��o e, mais importante ainda, uma naturaliza��o, i.e., a regi�o, de constru��o intelectiva, parece tornar-se um dado imut�vel da natureza.

Desse modo, certos registros foram ganhando autoridade, cuja simples men��o abalizava e encerrava uma discuss�o, n�o exigindo maiores desdobramentos ou aprofundamentos. O ge�logo Geraldo Waring, e.g., ao falar sobre a irregularidade (espacial e temporal) das chuvas na “regi�o semi-�rida do pa�s” (uma precis�o nas leituras do sert�o), dentro dos estudos conduzidos sob os ausp�cios da Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS), aponta para os livros de Euclides da Cunha, Os Sert�es (1902), e de Phelippe Guerra e Theophilo Guerra, Secas contra a seca (1909), como refer�ncias que lhe eximiam da necessidade de explicar a regi�o e sua depend�ncia do regime de chuvas (Cf. Waring, 1923, p.04).

Dos muitos sert�es que podem ser evocados a partir das �nfases distintas de cada disciplina ou campo de interesse tem�tico, este artigo aborda inicialmente dois: o sert�o “cient�fico” que emerge do relato dos viajantes, quer cientistas ou n�o (exposto nas se��es “um sert�o impreciso” e “um sert�o cient�fico”); e o sert�o “cultural”, oriundo dos interesses de intelectuais e literatos que, em sua maioria, buscavam compreender a forma��o cultural do Brasil e, mais especificamente, da regi�o (exposto na se��o “um sert�o cultural”). Como se afirmou antes, essas �nfases distintas n�o conformam leituras estanques; ao contr�rio, s�o leituras que, muitas vezes, se auto-referenciaram, constituindo um campo fecundo de significados sobre o sert�o.

Esse interesse remete-se a um problema de fundo que move um projeto de pesquisa maior, ao qual os autores deste artigo est�o vinculados, e que investiga “a forma��o dos saberes e das pr�ticas sobre as secas e, em conseq��ncia, a rela��o entre esses elementos formativos (comiss�es, institui��es, pol�micas, debates, a��es de campo, etc.) e o processo de constru��o da cidade moderna no Brasil” (Ferreira, Dantas e Eduardo, 2005, p.02). [3] Para compreender a forma��o de tais pr�ticas e saberes � fundamental entender a constru��o do pr�prio objeto sobre e em torno do qual se articularam propostas, projetos, pol�ticas. Objeto que aqui diz respeito ao sert�o como regi�o, e n�o �s secas, embora, como j� se disse, em v�rios momentos as caracter�sticas tenham sido sobrepostas e, assim, se tomasse uma palavra pela outra.

Um sert�o impreciso

Em 1810, desvencilhando-se dos conselhos que o instavam a n�o tentar cruzar os vales do Cear�-Mirim e do Assu em um per�odo de seca prenunciada, o ingl�s Henry Koster decidiu continuar a viagem por terra iniciada algumas semanas antes na cidade do Recife. Depois de atravessar as prov�ncias de Pernambuco e da Para�ba e a por��o costeira sul da prov�ncia do Rio Grande do Norte, Koster dispunha a si e a seu pequeno s�q�ito a, da cidade de Natal, atingir a cidade de Fortaleza, na prov�ncia vizinha do Cear� (Cf. Koster, 1942, cap. VI).

A travessia que surge da narrativa de Koster configuraria um dos primeiros registros sistem�ticos (de vi�s pr�-etnogr�fico) do sert�o, do sertanejo, da regi�o transtornada pelas secas (Cascudo, 1942). Aqui h� praticamente uma sobreposi��o: entrar o sert�o � entrar a regi�o das secas. Esse adentrar � narrado como uma sensa��o f�sica marcada pela desola��o das secas, expressa na relva calcinada, na falta d’�gua, nas folhas a cair das �ltimas �rvores resistentes, na �gua suja, salobra, empo�ada. Sensa��o que for�ava a altera��o nos padr�es de civilidade e “conforto” – “como ordinariamente, o po�o era imundo e salobro, por�m n�o esquecerei jamais com que del�cia sorvi os primeiros goles. Quando quis continuar, n�o o foi poss�vel, tal o seu sabor era nauseante”, lembraria Koster (op. cit., p.128).

O sert�o era muito maior, embora de uma grandeza e extens�o indefinidas, do que aquela regi�o que atravessava – isso � claro no relato do viajante ingl�s, que se p�s a compulsar, a partir dos testemunhos orais, informa��es que fundamentavam sua descri��o. � importante reconhecer que Koster � um viajante arguto, observador tenaz, embora n�o fosse movido por interesses cient�ficos, cartogr�ficos, colecionistas ou de catalogador, como os de outros viajantes do per�odo. Koster n�o arroga imparcialidade e nem se restringe � no��o, que marcara as narrativas dos s�culos XVII e XVIII, de que o observador poderia permanecer exterior � cena, im�vel, construindo uma vis�o objetiva, pura, do mundo (Martins, 2001, p.42-44). Tomando notas “sentado na porta da casa grande, pisando o massap� do canavial, cochilando no embalo da rede, sacudido no choto do cavalo tung�o, mastigando l�guas-de-bei�o”, como registraria seu tradutor do s�culo XX (Cascudo, 1942, p.09), i.e., inserido e participante como um observador “m�vel, �til e produtivo” (Martins, loc. cit.) do seu pr�prio relato, Koster seria tomado como portador de um registro acurado, preciso. O capit�o ingl�s e tamb�m viajante Richard Burton deu-lhe o ep�teto – the accurate; C�mara Cascudo, endossando a validade dos registros de Travels in Brazil para uma etnografia hist�rica, traduz-lhe como “o exato” (Cascudo, loc. cit.).

Mesmo assim, percebe-se-lhe como portador de uma autoridade e de um conhecimento pr�vios – ainda que n�o institucional – que autoriza as suas incurs�es e o valor dos seus relatos. N�o se deve esquecer, ademais, que as notas tomadas ao sabor das andan�as seriam depois ponderadas, revisadas, no gabinete do Robert Southey, em Londres – onde, certamente, consultou muitos documentos raros e relatos de outros viajantes, como o de Barlaeus, escrito no s�culo XVII (cf. Koster, 1942, p.07).

Lembre-se isto para ajudar a entender a afirma��o do viajante quando anuncia: “entrava eu para o sert�o e esse merecia o nome” (Ibidem, p.123). Se merecia o nome � porque encontrou ali elementos distintivos sobre os quais lera/ouvira antes. Uma imagem pr�-existente – que pode ser formada tamb�m por palavras, cheiros, sons – portanto. Assim, qual geografia imaginativa informara a sua vis�o do sert�o? quais elementos lhe permitiam dizer que, a partir de determinado momento da travessia, cruzava os umbrais do sert�o?

Como j� se disse, o sert�o surge para Koster como uma imprecis�o, um fluidez de limites e dos usos sociais, i.e., de fronteiras f�sicas e culturais. As pr�prias dist�ncias se mediam imprecisamente (diga-se, para al�m da imprecis�o dos instrumentos de �poca): “A l�gua do Sert�o n�o tem jamais menos de quatro milhas. H� l�guas grandes, l�guas pequenas e l�guas de nada, as quais achei muito longas n�o obstante sua encorajante denomina��o” (Koster, 1942, p.130; grifos no original).

De fato, para Koster, todo sert�o – e n�o apenas essa regi�o percorrida – estava distante da precis�o da regras de um mundo civilizado. As cidades e vilas urbanas eram pequenos o�sis de h�bitos civilizados em meio � estrutura senhorial do mundo rural – conquanto fa�a a ressalva de que falar em civiliza��o aqui implica um rebaixamento dos par�metros europeus: “Pela manh� subseq�ente ainda passamos arvoredos e, perto do meio-dia, chegamos a Vila do Assu. Oh, que alegria tive vendo uma igreja!... e a perspectiva regular de uma vila, com pessoas civilizadas, se assim as posso chamar de ‘civilizados’, de acordo com as id�ias europ�ias” (Koster, op. cit., p.138). A situa��o no mundo rural era ainda mais desanimadora, distante dos n�cleos urbanos, das pr�ticas religiosas regulares, de um sistema jur�dico, ainda que prec�rio. Os liames que preservavam o “desaparecimento total das regras estabelecidas na sociedade civilizada” eram muito t�nues, por vezes apenas os servi�os religiosos (casamentos, batizados, etc.) que se realizavam uma ou duas vezes por ano (Ibidem, p.132).

As secas tensionavam ainda mais esses t�nues liames. Deve ter causado esp�cie ao viajante ingl�s a desestrutura��o causada pelo fen�meno: diversas vezes registrou os longos deslocamentos de indiv�duos e fam�lias, mesmo daquelas mais abastadas do interior, em busca dos g�neros b�sicos (como a farinha) para a subsist�ncia; a “disposi��o errante” do povo dessa parte do pa�s; as fam�lias, propriedades e bens deixados � merc�; a fragilidade da seguran�a social na regi�o – aqui n�o apenas pelas secas, mas, principalmente, pela estrutura de poder patriarcal e patrimonialista do mundo rural, onde os caprichos pessoais, os interesses de um indiv�duo ou fam�lia, sobrepunham-se facilmente �s regras a princ�pio impessoais do sistema de organiza��o social; registraria tamb�m a figura do “sertanejo em viagem”, sua indument�ria e apetrechos (Ibidem, p.119, 121, 129, 133, 150-51, 169, 176).

Registro de imprecis�o e impossibilidades, desembocando na condena��o, que apenas se agravou ao atravessar semelhante regi�o: “a regi�o que percorri, vindo [da cidade] do Natal, qualquer que seja o estado de seu progresso e o desenvolvimento da sua popula��o, jamais ser� f�rtil”; mais adiante, reafirmaria: “o aspecto geral da Capitania do Rio Grande do Norte � que ela � de fertilidade med�ocre ao sul de Natal e est�ril ao norte, excetuando as margens e os arredores do [rio] Potengi” (Ibidem, p.138, 155). Ao evocar a mem�ria que coletou sobre as secas e lembrar sua pr�pria experi�ncia da viagem, afirmaria:

“Na minha viagem de Goiana [em Pernambuco, vila pr�xima a Recife] ao Cear�, tinha visto Pernambuco, e prov�ncias vizinhas ao Norte, em situa��o p�ssima por uma esta��o sem chuvas, mas a extrema pen�ria � produzida por dois anos sucessivos de estio. Durante o segundo ano os moradores morriam ao longo das estradas. Fam�lias inteiras se extinguiram. V�rios distritos se despovoaram. A regi�o esteve nesses estado terr�vel em 1791, 1792 e 1793, (...). Em 1810 podia-se procurar v�veres, embora por pre�os exorbitantes, e no ano seguinte ca�ram as chuvas por abund�ncia, dissipando o fantasma da fome. Tinha, como disse, visto as prov�ncias atravessadas, sob a extrema seca, por falta de chuvas; experimentei pessoalmente suas inconveni�ncias e, num momento, sofri consider�vel ang�stia. Agora regressando, essas regi�es mudaram” (Ibidem, p.179-180).

Embora tenha visto com assombro a r�pida recupera��o da vegeta��o ap�s as primeiras chuvas, a “lembran�a apreensiva da falta d’�gua” se imp�s ao viajante (Ibidem). As secas conformavam assim um duplo: por um lado, expandiam (ou retra�am) as fronteiras do sert�o, extrapolando, ao alcan�ar o litoral, a no��o original de “interior”; por outro, erigiam uma fronteira � possibilidade do progresso, da civiliza��o. Ao chegar na ent�o Vila de Fortaleza, Koster vaticinaria: “a dificuldade de transportes terrestres, particularmente nessa regi�o, e falta de um porto, as terr�veis secas, afastam algumas ousadas esperan�as no desenvolvimento de sua prosperidade” (Ibidem, p.166-67).

Indagou-se acima quais imagens e elementos estavam em jogo na leitura de Koster sobre o sert�o. H�, pelo menos, duas fontes – n�o excludentes entre si. Primeiro Koster compulsou as not�cias, dados e relatos no pr�prio Brasil, na cidade do Recife, antes de empreender essa viagem a que nos referimos antes. A experi�ncia da viagem � chave para a constru��o da sua imagem do sert�o. N�o basta ler sobre ou consultar os comp�ndios: era preciso sentir, fisicamente inclusive, as dificuldades que se lhe apresentavam previamente; era preciso p�r em tens�o as pr�prias representa��es, as mem�rias, as experi�ncias de outrem que lhe eram relatadas.

Em segundo lugar, Koster, como brit�nico, embebe-se nas representa��es colonialistas sobre a geografia do “outro”, dos espa�os considerados n�o-civilizados, em especial, dos Tr�picos e do Oriente. Afinal, o relato de Koster insere-se num contexto de emerg�ncia de um observador moderno, assim como de estabelecimento do orientalismo moderno como discurso, cuja influ�ncia da estrutura de leitura e an�lise projeta-se para al�m do oriente geogr�fico (Cf. Said, 1990). � significativo que Koster pense o sert�o, a princ�pio, como derivado de deserto – imagem quase inerente de mist�rio e imprecis�o. Imagem que continuaria, expandir-se-ia: o viajante franc�s Alcide D’Orbigny, ao referir-se ao sert�o na d�cada de 1820, fala em um “ingrato deserto” (D’Orbigny, 1976, p.100); Euclides da Cunha, depois, usou a express�o “quase um deserto”, como j� citado.

Nesse sentido, n�o � � toa que o relato de Koster fosse avalizado por um eminente orientalista, o capit�o Richard Burton, possivelmente interessado nas an�lises calcadas nas no��es de reclus�o e um despotismo � maneira oriental que marcam os registros de Travels in Brazil sobre a vida privada – “muito brasileiros tamb�m, mesmo de classe superior, seguem os costumes mouriscos, de sujei��o e reclus�o”, que tanto obstavam as possibilidades de “melhoramentos” (Koster, 1942, p.83); a condi��o da mulher, em especial, no Brasil e, sobremaneira, no interior, no sert�o, era express�o dessa incivilidade (no olhar do viajante brit�nico): a “mulher raramente aparece e se � vista n�o toma parte na conversa��o, a menos que, sendo boa esposa, esteja vigiando o assado” (Ibidem, p.205). [4]

Por fim, n�o se pode desconsiderar a contribui��o individual do registro de Koster, que se construiu no confronto entre as imagens e leituras pr�vias com as quais travara contato e o seu adentrar constante de um territ�rio ent�o n�o constitu�do, bordejando sempre as fronteiras das secas.

Um sert�o cient�fico

A precis�o do sert�o como o territ�rio das secas seria estabelecida a partir da segunda metade do s�culo XIX com as comiss�es cient�ficas e t�cnicas enviadas sucessivamente, tanto pelo governo imperial quanto, depois e principalmente, pelo republicano. O esfor�o de compreens�o do fen�meno clim�tico iria pressupor a delimita��o geogr�fica da sua incid�ncia e, mais ainda, a possibilidade de transforma��o, i.e., de lugar de uma natureza err�tica e in�spita – o “outro” da civiliza��o – os t�cnicos, engenheiros sobremaneira, iriam defender a possibilidade de estruturar o sert�o como um territ�rio, espa�o de cultivo, cultura e, portanto, civiliza��o. Esse processo desembocaria, nas primeiras d�cadas do s�culo XX, na cria��o de um �rg�o federal espec�fico, a IOCS (em 1909), e na delimita��o de um outro geogr�fico, o “pol�gono das secas” (1951), cujas pol�ticas se articularam tamb�m nas sobreposi��es entre secas e sert�o.

Contudo, essas sobreposi��es antecedem as formula��es cient�ficas e t�cnicas. J� anotamos a �nfase de Koster na imprecis�o da no��o de sert�o e na (quase) meton�mia entre secas e sert�o. Outro viajante, dessa vez um jovem franc�s, Alcide D’Orbigny, registraria tamb�m por��es significativas do sert�o, embora a partir de outro itiner�rio.

Enviado pelo Museu de Hist�ria Natural de Paris, D’Orbigny percorreria primeiro a Argentina, o Chile e o Peru, antes de entrar no territ�rio brasileiro pela regi�o da Amaz�nia, na segunda metade da d�cada de 1820. Da sua longa viagem, que atingiria ainda as prov�ncias do sul, apontamos aqui apenas a travessia pelo interior das ent�o chamadas prov�ncias do Norte (da por��o leste). Saindo de S�o Luis, no Maranh�o, o jovem naturalista cruzaria a prov�ncia do Piau�, passando pelos limites de Pernambuco at� chegar ao interior da Bahia, da� rumando ao litoral, � cidade de Salvador. Nesse trajeto, a entrada do sert�o surge com um marco geogr�fico espec�fico – a Serra Dois Irm�os –, embora permane�am a imprecis�o e a vagueza do conhecimento sobre o territ�rio:

“Chega-se assim Serra dos Dois Irm�os, que faz parte da grande cadeia de montanhas que, em uma extens�o de menos de cinco graus de latitude, separa a prov�ncia do Piau� das prov�ncias de Pernambuco e Bahia, situadas mais a leste. As no��es que se t�m sobre essa cadeia s�o incompletas e vagas: da confus�o dos nomes resulta uma confus�o sobre a� orienta��o da cordilheira. (...). Os sertanejos de Pernambuco e Para�ba chamam o seu ramo principal de Serra de Borborema (...), ao passo que, para outros, essa denomina��o se circunscreve ao ramo de nordeste, que constitui o limite entre o Cear� e o Rio Grande do Norte” (D’Orbigny, 1976, p.95).

O registro de fronteira, de uma pelo menos, nesse sentido � mais clara do que a de Koster. “Naquele ponto”, escreve D’Orbigny, “come�a o sert�o de Pernambuco, que se estende entre o Rio Grande e o Pontal, afluentes da margem esquerda do S�o Francisco. (...). � ainda uma regi�o quente e seca. Os poucos regatos que a banham secam, quase todos os anos, durante o terr�vel per�odo da estiagem” (Ibidem, p.96). Mas, percebe-se logo, a leitura do sert�o logo opera uma redu��o, circunscrita aos caracteres das secas – que implica, inclusive, uma diferencia��o �tnica: o sertanejo seria distinto dos habitantes do Piau�, do litoral e da regi�o das Minas, grosso modo as regi�es cont�guas (cf. Ibidem, p.97).

Essa redu��o aponta uma aproxima��o entre os dois relatos dos viajantes aqui citados. � muito prov�vel que D’Orbigny n�o conhecesse o livro de Koster, apesar das v�rias edi��es que se sucederam desde 1816 (a edi��o francesa do Travels in Brazil � de 1818, e.g.). Observe-se que D’Orbigny leu e citou profusamente v�rios autores e n�o apenas os franceses, como Humboldt, Eschwege, o material das expedi��es de Neuwied e Langsdorff, al�m de Saint-Hilaire, Maria Graham e, em especial os naturalistas Spix e Martius, dentre outros (Ibidem, p.13-36 passim). Mas Koster n�o faz parte dessa lista e nem mesmo Robert Southey, cuja “Hist�ria do Brasil” se tornara muito conhecida e j� estava publicada quando D’Orbigny empreendeu sua viagem. A refer�ncia a Southey � importante porque serviria para mapear leituras em segunda m�o, pelo menos. Afinal, al�m de incentivador para que Koster publicasse seu relato, Southey franqueou-lhe sua imensa e valiosa biblioteca e, depois, usaria Travels in Brazil como refer�ncia diversas vezes (cf. Cascudo, 1942).

Mesmo assim, h� uma aproxima��o nos esquemas de an�lise, nas imagens do sert�o, na redu��o ao territ�rio das secas. Embora n�o seja poss�vel aprofundar aqui esse tema, tal aproxima��o aponta para um fundo comum de representa��es, constru�das, como dito antes, no confronto entre imagens pr�-existentes (dentre as quais, coloca-se como hip�tese, algumas oriundas do orientalismo) e a explora��o do desconhecido.

Assim, as secas permaneceram tamb�m como uma fronteira � civiliza��o e ao progresso, fronteira que era lida ami�de como instranspon�vel. Ora reduzindo � metade os rebanhos, ora isolando os n�cleos urbanos e as fazendas, depauperando a j� parca cultura de subsist�ncia, a regi�o prostrava-se na depend�ncia econ�mica quando a “terra se abre, ent�o, em largas fendas, a vegeta��o estiola-se e perece [e] os animais morrem de fome e sede”, formando um “ingrato deserto” (D’Orbigny, 1976, p.96, 100).

O relato de D’Orbigny traz um outro registro importante: esse territ�rio marcado por tantas e peri�dicas dificuldades e que, “por sua natureza, difere do que o cerca, forma hoje a subdivis�o pol�tica denominada Comarca do Sert�o de Pernambuco” (Ibidem, p.96; grifos nossos); i.e., ao que tudo indica – � necess�rio conferir a refer�ncia e pesquisar esse tema – uma primeira instrumentaliza��o do sert�o como uma regi�o definida geopoliticamente (para administra��o de uma prov�ncia) a partir das secas. Isso, diga-se de passagem, antes mesmo da subdivis�o do territ�rio do Brasil, que permaneceria at� o final da d�cada de 1930 dividido, grosso modo, entre Norte e Sul.

A no��o das secas como uma fronteira civilizacional aos sert�es permaneceria nos debates t�cnicos que come�aram a se estruturar em meados do s�culo XIX para enfrentamento do fen�meno clim�tico; todavia, n�o tinha mais um car�ter intranspon�vel. Desde as propostas de Giacomo Gabaglia, publicadas como “A quest�o das secas na prov�ncia do Cear�”, em 1861, passando pelos debates na sess�o de 1877 do Instituto Polit�cnico, na qual se destacou a articula��o e as contribui��es te�ricas do engenheiro Andr� Rebou�as, at� os projetos ferrovi�rios e de grandes obras de infra-estrutura da d�cada de 1880 em diante, abriam-se claramente perspectivas de transforma��o e constru��o de uma regi�o ainda indefinida, imprecisa, que era o sert�o (Cf. Dantas, Ferreira e Farias, 2006).

Um sert�o cultural

N�o obstante os relatos t�cnicos – que poderiam delinear uma outra �nfase, um sert�o “t�cnico”, diferente das �nfases cient�ficas e culturais – constru�dos desde a segunda metade do s�culo XIX, o semi-�rido nordestino manteve-se relativamente isolado (culturalmente, economicamente) do resto do Brasil por um longo per�odo, devido, sobretudo, aos meios e vias de transporte e comunica��o deficientes, ao clima e terreno agressivos. Esse isolamento viria a ser paulatinamente vencido a partir das �ltimas d�cadas do s�culo XIX, fato para o qual certamente contribuiu a expans�o da imprensa no pa�s, que em 1877 noticiava nacionalmente e suscitava discuss�o sobre a devastadora seca que a regi�o sofria naquele ano. Concomitantemente, a literatura nacional servia como meio de acesso do p�blico literato a outros aspectos, sobretudo culturais, do sert�o nordestino: publicaram-se em 1876 “O Sertanejo”, de Jos� de Alencar, autor que, ao apresentar personagens rom�nticos em diferentes sub-realidades brasileiras, contribu�a para o fortalecimento de um sentimento nacionalista; e “O Cabeleira”, de Franklin T�vora, de cunho realista e comprometido com um regionalismo que reagia ao processo ent�o corrente de perda de import�ncia social, pol�tica e econ�mica do nordeste do Brasil (Ara�jo, 2003).

Uma obra em particular, publicada em 1902, veio a projetar – por motivos diversos cuja discuss�o n�o cabe no escopo deste artigo – a uma parcela significativa da popula��o nacional a situa��o natural e social desta �rea do Brasil: “Os Sert�es”, de Euclides da Cunha, era um relato cuidadosamente redigido que n�o somente contava os passos da campanha de repress�o � insurg�ncia popular em Canudos, mas descrevia com min�cia cient�fica e com aut�ntica admira��o (em muitos casos, at� mesmo com espanto) a terra do sert�o (seca, quente, agressiva), o homem sertanejo (o “jagun�o”, mesti�o malemolente e fan�tico) e a luta, processo atrav�s do qual as tropas republicanas por fim conquistavam o sert�o, que se lhes apresentava como uma terra estrangeira e hostil. Deve-se enfatizar que esse relato era tamb�m carregado de tintas imaginativas na descri��o da geografia.O livro rapidamente obteve reconhecimento da cr�tica e do p�blico, alcan�ando status de �pico da literatura nacional e possibilitando a ampla divulga��o da discuss�o acerca do sert�o nordestino, do sertanejo, e de sua posi��o na forma��o da na��o brasileira. Outros relatos de viagens ao sert�o seriam escritos e editados nos anos seguintes, fruto das incurs�es de intelectuais regionalistas e modernistas preocupados com a constru��o de identidades (nacional e regional) e com a proje��o da realidade e das necessidades do sert�o. Dentre esses relatos apresentamos tr�s, referentes a passagens pelo sert�o do Rio Grande do Norte, a seguir.

Em 1922, Garibaldi Dantas, t�cnico e intelectual potiguar, publicou no jornal “A Rep�blica” da capital norte-riograndense, uma s�rie de dois artigos que relatavam sua passagem pelo sert�o do estado. Em seu relato de viagem por diversas cidades do sert�o, deixou clara a gratid�o pela hospitalidade com que fora recebido pelos propriet�rios de terras; testemunhando a temporada de chuvas, na qual a vegeta��o do sert�o ganha renovada (e breve) exuber�ncia, lamentou a aus�ncia de obras que aproveitassem o grande volume de �gua despejado pelas tempestades torrenciais, que o solo era incapaz de absorver e acabava por perder-se com a morte dos rios intermitentes. Garibaldi Dantas v� a terra do sert�o de forma diferente do que o faz Euclides da Cunha. Em nenhum momento, � aparente espanto ou repulsa; h�, sim, um ponto comum na esperan�a de que se possa melhor aproveitar as terras do sert�o com a implementa��o da devida infra-estrutura.

Menos otimista se mostra o relato que M�rio de Andrade realizaria anos depois. O paulista, escritor de destaque do movimento modernista no Brasil, formado em Letras, M�sica e Filosofia, realizou na d�cada de 1920 uma s�rie de viagens etnogr�ficas ao Norte e Nordeste do Brasil, com o objetivo de pesquisar o homem e a cultura do Brasil nessas regi�es, viagens essas relatadas em artigos que originaram o livro “O Turista Aprendiz”. Entre o final de 1928 e os primeiros meses de 1929, M�rio de Andrade esteve no Rio Grande do Norte, etapa da sua viagem durante a qual p�de conhecer a capital e o interior do estado, acompanhado de C�mara Cascudo e Antonio Bento. Em seu relato sobre Natal, M�rio de Andrade destacou seu encontro com o cantor e compositor popular Chico Ant�nio, que o encantou com sua musicalidade e capacidade de criar poesias, mesmo sem contar com educa��o formal. Em viagem ao interior do Estado, M�rio de Andrade teve uma impress�o muito menos positiva do ambiente: o sert�o seco lhe pareceu mon�tono e desagrad�vel. A mis�ria do povo lhe incomodou profundamente, e ele se recusava a tomar a �gua barrenta, �nica �gua dispon�vel naquelas partes, recorrendo ao guaran� e � cerveja apenas. M�rio de Andrade chega a fazer, inclusive, refer�ncia direta a “Os Sert�es”, em uma passagem que se tornaria not�ria, criticando-o por encontrar por demais hero�smo na situa��o de mis�ria do sert�o, e taxando-o de “um livro falso”. Em seguida, afirma que “a desgra�a clim�tica do Nordeste n�o se descreve. Carece ver o que ela �. � medonha” (Andrade, 1983, p.295). De fato, e embora isso n�o desfa�a a grandeza liter�ria d’“Os Sert�es”, muito autores, como Gilberto Freyre, Jos� Lins do Rego, Jos� Luiz de Castro, Josu� de Castro e L�vi-Strauss, apontariam o forte imagin�rio na constru��o da geografia do sert�o de Euclides da Cunha (Bernucci, 1995, p.21).

M�rio de Andrade fala tamb�m sobre a migra��o de nordestinos para o Sul do Brasil, especialmente S�o Paulo: segundo ele, os sertanejos mais fortes e de maior poder de iniciativa emigravam em busca de melhores condi��es, e aqueles que ficam precisam for�osamente adaptar-se �s duras condi��es ou perecer ante sede e � fome. Entre as cidades litor�neas, as salinas e o sert�o, M�rio de Andrade reconhece a regi�o do Serid� como a �rea de maior progresso no interior do estado, pela organiza��o das cidades que chega a conferir um car�ter monumental a certas �reas urbanas.

Um terceiro relato � escrito pelo historiador e folclorista norte-rio-grandense Lu�s da C�mara Cascudo, participante, em 1934, de uma equipe que acompanhou o interventor M�rio C�mara em uma viagem ao interior do estado, composta principalmente por t�cnicos que buscavam verificar e divulgar as potencialidades econ�micas dessa regi�o. A equipe, viajando de autom�vel, passou por diversas cidades do sert�o, nas quais C�mara Cascudo p�de coletar informa��es sobre a cultura e os tipos humanos que encontrava (de fato, pouco foi comentado sobre a paisagem natural, e em momento algum foi expresso choque similar �quele encontrado nas obras de Euclides da Cunha e M�rio de Andrade). C�mara Cascudo abordou aspectos culturais do sertanejo, destacando a arte criada pelos “fazedores de santos” e a rica culin�ria local, que em sua opini�o n�o recebiam o devido reconhecimento nacional. O historiador, de tend�ncia sempre conservadora em rela��o �s quest�es culturais, criticou tamb�m a descaracteriza��o da arquitetura barroca original das igrejas do interior, que ao ser “modernizada” perdia sua identidade. Comentando a quest�o ling��stica, demonstrou que muitas das express�es e palavras usadas pelo sertanejo n�o eram corruptelas do vocabul�rio correto, mas na verdade termos conservados do portugu�s arcaico, isentos de influ�ncia e contamina��o por estrangeirismos. Tornava-se clara, dessa forma, sua posi��o de defesa da cultura sertaneja tradicional, por ele classificada como reposit�rio das origens brasileiras.

� not�vel, de fato, que n�o foi constru�da por esses relatos uma imagem �nica do sert�o: cada um deles retrata a regi�o � sua maneira: o ambiente, visto como extremamente agressivo e mort�fero por Euclides da Cunha, � n�o mais do que uma pe�a secund�ria no relato de C�mara Cascudo; o jagun�o fan�tico encontrado por Euclides em nada se parece com os hospitaleiros sertanejos que recebem Garibaldi Dantas e M�rio de Andrade. � esse sert�o de m�ltiplas faces que atinge o p�blico leitor do in�cio do s�culo XX e cria uma imagem (ainda que fragmentada e controversa) daquela parte do pa�s, t�o distante – espacial, econ�mica e culturalmente – dos centros pol�tico-administrativos e culturais do Brasil litor�neo.

Deve-se levar em conta uma s�rie de fatores que podem explicar estas vis�es distintas sobre a mesma regi�o: primeiramente, sabe-se que as viagens tiveram motiva��es diferentes, da cobertura jornal�stica da expedi��o de guerra narrada em “Os Sert�es” � viagem pol�tico-cient�fica da qual C�mara Cascudo fez parte; a dimens�o temporal tamb�m est� presente na distin��o dos relatos: mais de trinta anos separam o relato pioneiro de Euclides da Cunha da expedi��o de Cascudo; a origem dos viajantes tem tamb�m um papel definidor, e � not�vel a maior naturalidade com que, comparados ao fluminense Euclides da Cunha e ao paulista M�rio de Andrade, os norte-rio-grandenses Garibaldi Dantas e C�mara Cascudo tratam a paisagem sertaneja (al�m da maior proximidade destes com a realidade sertaneja, � pouco prov�vel que fosse do interesse desses �ltimos criar uma imagem negativa de uma �rea de seu pr�prio estado, em relatos dirigidos ao p�blico das cidades e de outras partes do pa�s); por fim, � necess�rio considerar as diferen�as de acessibilidade ao sert�o: enquanto Euclides da Cunha teve de enfrentar o ambiente agressivo movimentando-se em carro�as, M�rio de Andrade e C�mara Cascudo disp�em de autom�veis, que acabam inclusive por tornar-se personagens de destaque em seus relatos.

Outros sert�es ( guisa de conclus�o)

Podemos ent�o afirmar que as diferentes opini�es em rela��o ao sert�o s�o, portanto, uma express�o das posi��es sociais e pol�ticas de seus autores, que se utilizaram da palavra escrita como meio difusor de suas id�ias em defesa de seus interesses; mais ainda, embora exista uma imagem formada sobre o sert�o nordestino, essa n�o foi desenvolvida de forma organizada e em concord�ncia pelos autores que, deliberadamente ou n�o, a criaram atrav�s de seus trabalhos liter�rios e cient�ficos.

A palavra “sert�o” n�o designa, portanto, uma regi�o geogr�fica empiricamente reconhec�vel. N�o descreve um dado tipo de bioma ou ecossistema, nem define uma forma de interven��o humana ou uso da terra. �, sim, descritiva de um espa�o onde o ritmo � ditado n�o pelo homem, mas pela natureza, dos “vazios demogr�ficos”, das “terras desocupadas”. Um espa�o “onde, por oposi��o aos campos com matas, existe apenas matas sem campos” (Brand�o, 1995).

O chamado sert�o �, de fato, um espa�o que agrega uma s�rie de caracter�sticas, predominantemente de cunho subjetivo e mut�vel – entre as quais, de terra “desconhecida” e “distante” – que lhe proporcionam fronteiras t�nues e fluidas, que se retraem com a explora��o e coloniza��o ou surgem e se expandem com o esquecimento e abandono de espa�os. N�o �, necessariamente, um lugar despido da presen�a humana; mas � o espa�o ocupado pelo “outro”, pelos povos “ex�ticos”: o �ndio selvagem, o jagun�o fan�tico. O sert�o �, desta forma, uma “ideologia geogr�fica”, criada sobretudo atrav�s da oposi��o ao “n�o-sert�o”; � um r�tulo aplic�vel a espa�os diversos, que ao terem suas realidades exploradas, descritas e divulgadas – atendendo a interesses diversos –, entram em um processo de transforma��o que termina por extingui-los enquanto sert�es (Moraes, A., 2003).

Como uma primeira considera��o final, percebe-se que, embora tenham sido abordados aqui apenas alguns pontos da trama complexa que constituiu os significados sobre o sert�o, os esfor�os de circunscri��o n�o implicaram necessariamente no apagamento dos elementos e das caracter�sticas estranhos ao discurso hegem�nico de cada disciplina. Da� a sobreposi��o de outros sert�es na expans�o do conhecimento geogr�fico do Brasil: o sert�o do interior paulista ou o sert�o que designa as �reas selv�ticas de parte do Centro-Oeste e da regi�o Norte, e.g. Da� tamb�m, pode-se propor como hip�tese, a perman�ncia do sentido de imprecis�o da palavra sert�o.

No entanto, percebe-se que no sert�o mais “espec�fico” aqui discutido a imprecis�o foi fortemente combatida pelo esfor�o de compreens�o e, por conseguinte, de constru��o do territ�rio das secas.� Contudo, mesmo com a constru��o posterior do territ�rio, o sert�o permaneceu como designativo da regi�o; i.e., o sert�o como espa�o das secas tem um sentido imaginativo mais forte do que a significa��o do sert�o como espa�o da n�o-civiliza��o.

Assim, por um lado, o sert�o constrangeu-se, foi circunscrito pelas a��es de combate �s secas – como passo necess�rio para a constru��o de pol�ticas e para administra��o de um sistema regional de distribui��o de esfor�os e recursos; por outro, explodiu em novos significados nas constru��es liter�rias, apontando assim, de certo modo, para o sentido impreciso inicial.

Notas

[1] Cf. nota de C�mara Cascudo � tradu��o do livro de H. Koster (1942, p.94, nota 12); utilizou-se aqui a atualiza��o ling��stica da Carta de Pero Vaz de Caminha publicada na p�gina Hist�ria Net (www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=552) [acessado em 22 de mar�o de 2006].

[2] Cabe observar tamb�m que os estudos sobre a geografia f�sica do Nordeste do Brasil pouco se traduziram, at� meados do s�culo XX, numa cartografia precisa e abundante, mesmo ap�s o impulso das atividades com a cria��o da Inspetoria de Obras Contra as Secas, em 1909, aponta Preston James (1952, p.153-154).

[3] Financiado pelo CNPq, o projeto intitula-se “Entre as secas e as cidades: forma��o de pr�ticas, saberes e representa��es do urbanismo (1850-1930)” e � desenvolvido pelo Grupo de Estudos Hist�ria da Cidade e do Urbanismo (vinculado � Base de Pesquisa “Estudos do Habitat”, sediada no Depto. de Arquitetura da UFRN, Natal, Brasil); o projeto surgiu das discuss�es sobre as representa��es dos retirantes das secas no espa�o urbano de Natal durante a Primeira Rep�blica (Cf. Ferreira e Dantas, 2001) e j� apresentou alguns resultados parciais: sobre a representa��o t�cnica do territ�rio e da cidade que emergiu em meio aos esfor�os de combate �s secas (Cf. Ferreira, Dantas e Eduardo, 2005) e sobre a constru��o da “dimens�o t�cnica das secas”, i.e., das secas como espa�o discursivo, disciplinar e institucional, e como objeto que poderia ser manipulado, transformado, pela t�cnica e pela ci�ncia (Cf. Dantas, Ferreira e Farias, 2006).

[4] O historiador Paulo Marins (2001) lembra que o tema da reclus�o das mulheres no Brasil col�nia, caracter�stica herdada da coloniza��o ib�rica, tornou-se recorrente nos relatos dos viajantes do s�culo XIX como um dos signos de atraso cultural; assim, lembra-nos da necessidade de problematizar tal recorr�ncia dentro do quadro de mudan�as dos padr�es civilizacionais.

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© Copyright Angela Lucia Ferreira, George A.F. Dantas y Helio T.M. Farias, 2006

© Copyright Scripta Nova, 2006

Ficha bibliográfica:

 

FERREIRA, A.L. DANTAS, G.A.F. FARIAS, H.T.M.Adentrando sertões: considerações sobre a delimitação do território das secasScripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales.  Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de agosto de 2006, vol. X, núm. 218 (62). <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-218-62.htm> [ISSN: 1138-9788]
 

Quais regiões brasileiras apresentam o território profundamente transformar?

Há transformação profunda em pelo menos parte de todas as regiões do Brasil (sul, sudeste, nordeste, centro-oeste e norte).

Quais regiões foram o território brasileiro?

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Brasil é dividido em cinco regiões..
Norte..
Nordeste..
Centro-Oeste..
Sudeste..

Qual e a região mais desenvolvida do Brasil?

A economia da região Sudeste é a mais desenvolvida com relação às demais regiões brasileiras. No Sudeste, está localizado o principal centro industrial do Brasil, o estado de São Paulo, assim como as três maiores economias estaduais do Brasil, respectivamente, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Qual e a região brasileira que possui a maior extensão territorial?

Região Norte — abrange sete estados (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), possui a maior área (3 853 840,88 quilômetros quadrados[8], ou 45,26% do território nacional) e a população é de 16,3 milhões de habitantes.