Qual a relação entre a criação do Estado do Vaticano e a política de Benito Mussolini?

Faça estes exercícios a respeito do Tratado de Latrão, documento assinado em 1929 entre a Santa Sé e o governo da Itália fascista, que oficializou a criação do Vaticano. Publicado por: Daniel Neves Silva

Entenda o que estava por trás de um ditador radicalmente anticlerical deixar a Igreja ter um Estado independente na capital da Itália

 "O Vaticano confia nas novas realidades políticas muito mais do que o fez com a antiga democracia liberal. A Igreja reconhece que as ideias fascistas estão mais próximas da cristandade do que o liberalismo judeu". Foram essas as palavras de comemoração de Hitler após o Cardeal Pietro Gasparri assinar um acordo com a Itália fascista de Mussolini - através do Tratado de Latrão. 

A briga entre a Igreja e o estado italiano começou lá em 1870, quando o rei Vítor Emanuel II invadiu Roma e incorporou a cidade ao seu reinado - tal cidade que era território católico desde que foi cedido em 756 pelo Pepino, o Breve. O rei Emanuel II tentou fazer um acordo com o Papa da época Pio IX, que não concordou em fazer parte de um estado laico. 

A situação não deve ter parecido melhor quando Benito Mussolini, um radical anticlerical que chegou a ordenar a Deus a matá-lo publicamente para provar que não existia, ascendeu ao poder, em 1922. Em 1938, muito depois desta foto, ainda falava do Papa como um “tumor maligno”. No final da vida, Mussolini passou a falar em Deus – possivelmente não mais sincero que Hitler se fingindo de cristão. 

O fato é que, como o eficiente demagogo que era, entendia a diferença entre seus sentimentos e os da população italiana. Assim, no dia 11 de fevereiro de 1929 que o ditador, no Palácio de Latrão, sentou-se com o Cardeal Pietro Gasparri, colocou os papéis na mesa e fez o acordo: formalizou-se o estado do Vaticano com autoridade total ao Papa sendo chefe de estado, tendo ainda poder sob os territórios vizinhos como o Palácio de Castelgandolfo e a Basílica de São João de Latrão, Santa Maria Maior e São Paulo Extramuros. Além de o Vaticano ter ganhado indenização de 90 milhões de dólares, o ensino religioso começaria a ser obrigatório nas escolas, o casamento teria efeitos civis e o divórcio foi proibido.

Só em 1978 a religião católica deixou de ser oficial na Itália - e assim o país finalmente deu mais um passo para o que chamamos de laico (mesmo nunca sendo 100%).

Entre 1922 e 1924, Benito Mussolini governou de forma conciliatória, não se sobrepondo ao poder do rei Vítor Emanuel 3º, o que não agradou a muitos dos membros do Partido Nacional Fascista, que queriam a instalação de uma ditadura. Mas aos poucos Mussolini foi organizando um governo paralelo.

Em janeiro de 1923, as milícias fascistas foram transformadas na Milícia Voluntária de Segurança Nacional. Ao mesmo tempo se formou o Grande Conselho Fascista, que se reunia às escondidas, com o objetivo de formular as diretrizes políticas para os membros do PNF que aos poucos iam assumindo cargos no governo. Tanto a MVSN quanto o Grande Conselho ficavam sob ordens diretas de Mussolini.

Em 1924 ocorreram eleições parlamentares na Itália, depois de uma ampla reforma eleitoral que privilegiava os interesses do PNF. Em meio a espancamentos e fraudes, os fascistas e seus aliados conseguiram 2/3 das cadeiras do Parlamento.

Numa das primeiras sessões do novo Congresso, em maio de 1924, o deputado socialista Giacomo Matteotti fez um discurso apresentando provas das inúmeras fraudes durante as eleições, exigindo sua anulação. Poucos dias depois, Matteotti foi sequestrado e somente em agosto seu cadáver foi encontrado.

Violência

Diversos grupos antifascistas lançaram manifestos culpando Mussolini pelo assassinato do deputado Matteotti, o que só fez aumentar a violência das milícias fascistas, que aproveitavam da situação para pressionar o governo a acelerar a implantação da ditadura.

Em janeiro de 1925, Mussolini discursou diante da Câmara dos Deputados, assumindo a responsabilidade por todos os acontecimentos passados, sem especificar quais, e desafiando seus adversários. Ninguém se manifestou.

Entre 1925 e 1926, com o apoio do rei, dos industriais, do Exército e da Marinha, Mussolini promoveu uma ampla perseguição política, impondo o PNF como partido único, e iniciando a ditadura fascista, em que ele era o Duce (o guia) da nova fase política italiana.

A ditadura

A partir de 1925 a economia passou a ser firmemente controlada pelo Estado, com o apoio dos capitalistas italianos. Os prefeitos das cidades passaram a ser nomeados pelo rei, por indicação de Mussolini. A censura foi ampliada: a educação, as artes, os esportes, as rádios, o cinema e, até mesmo, o lazer da população seguiam as orientações fascistas. Foi criado o Tribunal Especial de Defesa do Estado, responsável pelo julgamento de "crimes" políticos, sendo juízes os oficiais da MVSN.

A filiação ao PNF era quase uma obrigatoriedade entre os italianos, pois só assim se poderia prestar concursos públicos, ter livre passagem entre as várias regiões ou exercer qualquer cargo no funcionalismo público. A sigla do partido fascista, PNF, era explicada comicamente, no humor popular como "Per necessitá familiare" (Por necessidade familiar).

Em abril de 1926 uma nova legislação trabalhista foi criada: patrões e empregados deveriam participar das 22 corporações organizadas pelo Estado, a fim de resolver seus embates dentro das leis impostas. Em cada corporação, empresários e empregados tinham o mesmo direito, o problema era que os primeiros apoiavam o fascismo e os segundos eram representados por sindicatos fascistas, os únicos que tinham permissão para participar das corporações.

A negociação de fato não acontecia, mas era uma tentativa de suprimir a luta de classes através do modelo corporativista fascista. Dessa forma Mussolini pretendia aniquilar as organizações trabalhistas e, ao mesmo tempo, aumentar o poder do Estado sobre as relações sociais. Mesmo não resolvendo as questões trabalhistas, o modelo corporativista era usado como propaganda de uma nova sociedade que o fascismo se propunha a construir.

Tal centralização política se intensificou quando o Grande Conselho Fascista foi oficializado em 1928, pois na prática incorporava os poderes legislativo e judiciário.

Tratado de Latrão (1929)

As relações políticas entre a Igreja Romana e o Estado Italiano não foram fáceis desde o processo de unificação da Itália no século 19, principalmente por que o papado não aceitava perder o poder político sobre os antigos Estados Pontifícios.

Na perspectiva de resolver tal dilema e, ao mesmo tempo, ganhar o apoio dos católicos, Mussolini assinou com o papa Pio 11 três acordos, que ficaram conhecidos como Tratado de Latrão:

1. A Santa Sé teria sua soberania política dentro do Estado do Vaticano, ao mesmo tempo que reconheceria o Estado Italiano;

2. A Itália indenizaria o Vaticano pelos danos causados durante as guerras de unificação;

3. A religião católica seria a religião oficial do Estado Italiano, sendo ensinada obrigatoriamente em todas as escolas.

Apesar das inúmeras medidas centralizadoras de Mussolini, o Estado Totalitário não se implantou efetivamente na Itália, pois a monarquia foi mantida, garantindo ao Rei Vitor Emanuel 3º parte do poder, ao mesmo tempo em que, a Igreja Católica, depois do Tratado de Latrão, passou a ter maior participação no cenário internacional e, também, na educação e na cultura italiana.

Quando o modelo fascista iniciou seu declínio durante a Segunda Guerra Mundial, tanto a Igreja quanto a monarquia, buscando manter seus privilégios, agiram de forma decisiva para tirar Mussolini do poder.

Qual a relação entre a criação do Estado do Vaticano e a política de Benito Mussolini?

A bandeira do Vaticano é o símbolo que representa o Estado papal criado com o Tratado de Latrão. Na década de 1920, a Itália estava sob o regime fascista. Seu líder, Benito Mussolini, tornou-se primeiro-ministro do país em 1922 durante a Marcha sobre Roma e, em 1925, autoproclamou-se ditador da Itália.

Qual é a relação entre a criação do Vaticano e o fascismo italiano?

Com a fundação do Estado da Cidade do Vaticano, a bandeira do Vaticano foi criada. Com o Tratado de Latrão, a Igreja Católica aproximou-se oficialmente do fascismo, uma vez que o próprio papa passou a afirmar que Mussolini era um homem “enviado pela Providência”.

Qual a relação da Igreja Católica com o fascismo?

A relação, por vezes simbiótica, entre o Estado fascista e a Igreja católica provocou um opróbrio depois que o Holocausto foi descortinado. O esforço para superar tal opróbrio começou com o pedido de perdão por parte do Papa João Paulo II, em nome de toda a Igreja católica, ao longo de todo o seu pontificado.

O que foi e quais as consequências do Tratado de Latrão?

O Tratado de Latrão, acordo assinado entre o Reino da Itália e a Santa Sé em 1929, foi responsável pelo fim da Questão Romana e pela criação do Vaticano. Com o Tratado de Latrão, assinado em 1929, o governo italiano e a Santa Sé deliberaram a criação do Estado da Cidade do Vaticano.