Qual o papel da responsabilidade na teoria da liberdade de sartre?


  1. Repositório PUCRS
  2. PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS
  3. Dissertação e Tese

Utilize este identificador para citar ou criar um atalho para este documento: https://hdl.handle.net/10923/3494

Tipo:  masterThesis
Título:  Liberdade e ética em Jean-Paul Sartre
Autor(es): 
Orientador:  Zilles, Urbano
Editora:  Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Programa:  Programa de Pós-Graduação em Filosofia
Data de Publicação:  2007
Palavras-chave:  LIBERDADE (FILOSOFIA)
ÉTICA
RESPONSABILIDADE
FILOSOFIA
SARTRE, JEAN-PAUL - CRÍTICA E INTERPRETAÇÃO
Resumo:  A liberdade é um tema fundamental da realidade humana. A ética é condição para que possamos viver e conviver em sociedade, respeitando o diferente e nos responsabilizando por nossas próprias escolhas. Deste modo, Sartre faz uma reflexão profunda sobre a liberdade humana, desde sua condição de existência até a suas conseqüências diretas sobre a vida do indivíduo. Assim do binômio liberdade-responsabilidade, conceitos indissociáveis em Sartre, podemos inferir, uma proposta conseqüente para uma conduta ética. Desta maneira, refletir sobre o sujeito livre em uma sociedade que coloca a liberdade como um valor central, é pensar no fazer humano, nas suas relações, ou seja, no seu encontro com o outro, na possibilidade de respeitar ou não a liberdade do outro. Em síntese, procuramos demonstrar que a liberdade humana é um aspecto constitucional da existência de cada indivíduo, que não podemos pensar em um homem ora livre ora não, dispomos de uma liberdade fundante que nos compromete durante todo o nosso existir, e por essa razão somos chamados a assumir com responsabilidade as conseqüências de todas as nossas escolhas e ações, não podendo delegar ou atribuir a responsabilidades a outros ou a forças misteriosas, somos absolutamente responsáveis pelo homem que queremos ser.
Freedom is a fundamental theme of human reality. Ethics is the condition for which we can live and cohabit in a society respecting the differences in one and being responsible for our own choices. So that, Sartre makes a deep reflection about human freedom, from its condition of existence up to its direct consequences on the individual’s life. So, from the freedomresponsibility binomial - inseparable concepts in Sartre’s theory - we can infer a consequent proposition for an ethical conduct. So that, reflecting about the individual being free in a society that places freedom as a central value, is the same as thinking on human deeds, on human relations or, in other words, on the individual contact with each other, being responsible, and on respecting -or not - the other’s freedom. In brief, we try to demonstrate that human freedom is a constitutional aspect of each individual’s existence. We try to demonstrate, also, that we cannot think on a man first being free than not-free. Man disposes a freedom that compromises him during his whole existence and that’s why he must assume responsibility with all the consequences of his deeds and choices, not being able to delegate or attribute such responsibility on others or on mysterious powers. Man is absolutely responsible about the man he wish to be.
URI:  http://hdl.handle.net/10923/3494
Aparece nas Coleções: Dissertação e Tese

Qual o papel da responsabilidade na teoria da liberdade de sartre?
Todos os itens no Repositório da PUCRS estão protegidos por copyright, com todos os direitos reservados, e estão licenciados com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional. Saiba mais.

O que é ética? Qual é a diferença entre ética e moralidade?

Nós, humanos, não vivemos sozinhos. Há uma infinidade de relações que estabelecemos o tempo todo – com a nossa família, com os nossos vizinhos, com os nossos amigos, com colegas de escola e trabalho, entre outras. Todos nós somos singulares: temos vontades, pensamentos e modos de expressão diferentes. Foi para possibilitar a vida em comum, ou seja, a vida ao lado das outras pessoas, e para garantir que todas elas possam agir que, ao longo dos anos, apareceu a noção de ética.

Nas conversas diárias, muitas vezes falamos de “ética” e “moral” como se fossem palavras sinônimas. Embora tenham, originalmente, um sentido parecido, é possível diferenciá-las. A palavra “moralidade” vem do latim mos, mor- e significa costumes. Nós vivemos em uma sociedade que tem normas estabelecidas do que é certo e do que é errado.

Temos, por exemplo, a norma moral de respeitar a propriedade privada: se a respeitamos, estamos agindo de forma “moral”; se não a respeitamos, ou seja, se roubamos ou depredamos a casa de uma pessoa, estamos agindo de forma “imoral”. Da mesma forma, se determinada cultura considera que as pessoas devem vestir-se de algum modo, a pessoa que se veste de acordo está agindo de forma “moral”; se não, está agindo de forma “imoral”. Assim, podemos entender que a moral é um conjunto de normas ou valores por meio do qual as pessoas guiam seu comportamento. Segundo esses valores, suas ações são julgadas.

As normas morais variam, a depender da cultura e do período histórico, e também podem ser questionadas e destituídas. Por muitos anos, no Brasil, por exemplo, as mulheres não puderam votar. Enquanto elas obedeciam silenciosamente, respeitavam a moral da época. À medida que as mulheres questionaram a moral, isto é, os motivos pelos quais elas não podiam exercer o direito ao voto, elas promoveram um debate “ético”. Atualmente, as mulheres não apenas podem votar, como também exercer cargos políticos, ou seja, houve uma mudança de concepção de moralidade.

A palavra “ética” vem do grego éthikos e significa modos de ser. A ética pode ser entendida como a reflexão sobre o comportamento moral. Se existir um país onde usar guarda-chuva seja considerado imoral, compete à ética pensar sobre a origem dessa norma e quais os pontos negativos de não usar guarda-chuva, por exemplo. A ética, portanto, analisa os fatos morais a partir das noções de bem e mal, de justo e de injusto. Ela não diz a forma como as pessoas devem comportar-se, e sim pretende elaborar princípios de vida para orientar as ações humanas.

Ética, liberdade e responsabilidade

A palavra responsabilidade, em seu sentido original, deriva do verbo latino respondere, responder. Quando falamos que alguém é responsável ou tem responsabilidade sobre alguma coisa, significa que essa pessoa tem condições de pensar sobre seus atos.

Quando uma pessoa tem condições de pensar sobre seus atos, tanto os do passado quanto os do presente, ela pode escolher a forma como agir no futuro. Sobre isso dizemos que a pessoa tem liberdade. Mas os filósofos não chegam a um consenso a respeito da liberdade humana.

Dentro da discussão filosófica, há pensadores que discutem a liberdade humana em relação à presciência divina, como Boécio; há pensadores que discutem a liberdade humana em relação às determinações biológica e histórica, como Helvetius; há os que discutem a liberdade humana acima das determinações, como Sartre; e aqueles que analisam a relação entre a liberdade e o determinismo a partir do entendimento do ser humano como livre e determinado ao mesmo tempo, como Espinosa.

Liberdade e Determinismo

Para Helvetius e outros deterministas, a liberdade seria uma espécie de ilusão, pois há um aspecto biológico do qual não se pode escapar e, sobretudo, um aspecto jurídico. Veja o que ele diz:

“Os homens não são maus, mas submissos aos seus interesses... Portanto, não é da maldade dos homens que é preciso se queixar, mas da ignorância dos legisladores que sempre colocam o interesse particular em oposição ao geral. […] Até hoje, as mais belas máximas morais não conseguem traduzir nenhuma mudança nos costumes das nações. Qual é a causa? É que os vícios de um povo estão, se ouso falar, escondidos no fundo de sua legislação.”*

Vamos analisar o que ele diz:

1) Ele diz que os homens buscam seus interesses, mas isso não significa que eles sejam maus;

2) Para limitar os interesses humanos particulares, ou seja, aqueles que beneficiam apenas um grupo pequeno ou muito restrito, é preciso haver leis que prefiram os interesses gerais.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

3) Se isso não acontece, não haverá uma mudança nos costumes, pois as leis continuarão a permitir que os erros aconteçam.

Helvetius fala de “vício”, que também é uma noção importante para o estudo da ética. A noção de vício opõe-se à noção de virtude, que deriva do latim virtus (força ou qualidade essencial). Quando falamos de virtude ética, falamos de uma qualidade essencial: a prática constante do bem. O bem, nesse sentido, pode ser entendido como ter responsabilidade pelas ações livres. Quando a liberdade é usada pelo homem sem essa responsabilidade moral, falamos em vício.

Assim, se a fidelidade é uma virtude, a infidelidade é um vício. Sobre esse vício, especificamente, Helvetius salienta:

“Na Nova Orleans, as princesas podem, quando elas se cansam de seus maridos, repudiá-los para se casarem com outros. Neste lugar, não encontramos mulheres falsas, porque elas não têm nenhum interesse em ser falsas”.*

Para Helvetius, em vez de falarmos de virtude ou vício da pessoa individualmente, deveríamos falar sobre a virtude ou vício da legislação.

O ser humano é sempre livre

Os pensadores que defendem que o ser humano é sempre livre sabem que existem determinações externas e internas, fatores sociais e subjetivos, mas a liberdade de decidir sobre suas escolhas é superior à força dessas determinações. Um exemplo que poderia ser dado para entendermos essa noção seria a de dois irmãos que têm a mesma origem social, mas um se torna criminoso e o outro não.

Vejamos o que o filósofo francês Jean-Paul Sartre disse sobre isso:

“... Por outras palavras, não há determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. […] Não encontramos diante de nós valores ou imposições que nos legitimem o comportamento. Assim, não temos nem atrás de nós nem diante de nós, no domínio luminoso dos valores, justificações ou desculpas. Estamos sós e sem desculpas.

É o que traduzirei dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado porque não criou a si próprio; e, no entanto, livre porque, uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo o que fizer.”**

Analisando o que Sartre escreveu, entendemos que, para ele:

1) Não há determinismo, logo o homem é livre para decidir.

2) Se é livre para decidir, não há desculpas ou justificativas para as ações do homem. Ele só age de tal modo quando quer agir assim.

3) Por ser livre, o homem é responsável por tudo o que faz.

O ser humano é livre e determinado ao mesmo tempo

Entre os pensadores que defendem a relação entre liberdade e determinismo, estão o holandês Espinosa e os alemães Marx e Engels. Segundo eles, não há uma exclusão entre as ideias de liberdade e de determinismo. Se há fatores objetivos que limitam a liberdade humana, como as leis, as normais, a situação social, é possível que, pela ação, esses limites sejam expandidos. Para isso, precisamos conhecer os determinismos e, quanto maior for o nosso conhecimento a respeito deles, maior será o nosso poder de ação sobre eles.

Vejamos o que o filósofo Karl Marx disse sobre isso:

“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem como circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado.”***

Para concluir

Até aqui vimos o seguinte:

1) As normas morais variam a depender da cultura e do período histórico.

2) Temos responsabilidade pelas nossas ações.

3) Para alguns filósofos, temos a liberdade de agir.

Nós, desde a infância, aprendemos diversos valores morais que dependem do nosso contexto sociopolítico. A partir desses valores, criamos uma noção do que é uma ação moralmente correta ou moralmente incorreta. Ao passo que refletimos sobre a nossa realidade e percebemos que somos afetados por ela, podemos reafirmar os valores que aprendemos ou contestá-los. Assim, nós podemos também transformar a percepção dos valores e ter a legitimação dessa nova percepção de toda a sociedade. Não nos faltam exemplos no decorrer da história: a abolição da escravatura, por exemplo, fez com que a sociedade passasse a ver as pessoas negras como pessoas com igualdade de direitos e que, portanto, não podiam constituir-se como propriedade privada de outra pessoa.

*MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A sagrada família: ou a crítica da Crítica contra Bruno Bauer e consortes. Trad. Marcelo Backes. São Paulo: Boitempo, 2003, p. 130
** SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 09
*** MARX, Karl; O 18 Brumário de Luís Bonaparte, p. 329

O que Sartre fala sobre a liberdade e responsabilidade?

Do ponto de vista de Sartre o homem é condenado à liberdade, pelo simples fato de existir. Toda liberdade de escolha é escolha de alguma coisa, fato que implica na responsabilidade: a angústia de optar pelo o que deseja ser.

O que é a responsabilidade para Sartre?

O homem que assume sua responsabilidade deixa de ser escravo dos outros. É por isso que, no existencialismo, o homem é “condenado a ser livre”. Condenado, pois nasce contra sua vontade, e livre, pois é responsável por tudo o que faz.

Qual é a relação entre a liberdade e responsabilidade?

A relação que existe entre liberdade e responsabilidade moral é uma relação de complementaridade, em que estão ligados entre si. Sendo assim, pode-se questionar sobre os atos humanos, acerca de sua moralidade e sobre a responsabilidade do homem por seus atos.

Em que consiste a responsabilidade e a má fé para filósofo Jean

Sartre afirma que, quando fazemos isso, incorremos em -. Isso ocorre sempre que atribuo à natureza – “não nasci para isso” – algo que, na verdade, é uma escolha que estou fazendo. A - é uma mentira que contamos a nós mesmo para nos livrarmos da responsabilidade que é nossa.