PUBLICIDADE Show Nascimento: 18 de abril de 1882, Taubaté, São Paulo. Data da morte:: 4 de julho de 1948, São Paulo, São Paulo. Nome de nascença: José Renato Monteiro Lobato
Monteiro Lobato é considerado o escritor brasileiro mais importante na literatura para crianças. Ele também escreveu livros para adultos. Seu tema era, principalmente, problemas sociais e económicos sobre o seu país. Birthname foi José Renato Monteiro Lobato. É do conhecimento comum que ele adotou “José Bento Monteiro Lobato” depois de herdar pertences do pai com as iniciais “JBML” (nome de seu pai era José Bento Marcondes Lobato). Criado primeira empresa brasileira dedicada à impressão de livros. Antes dele, livros brasileiros foram impressos em Portugal. Preso duas vezes na década de 1940 para a sua campanha para a nacionalização dos recursos minerais brasileiros, especialmente o minério de ferro e petróleo. Monteiro Lobato – EscritorNasceu em Taubaté, São Paulo, no dia 18 de abril de 1882. Em homenagem ao seu nascimento, neste dia comemora-se o Dia Nacional do Livro Infantil. Era filho de José Bento Marcondes Lobato e Olímpia Augusto Lobato. Seu nome verdadeiro era José Renato Monteiro Lobato, mas em 1893 o autor preferiu adotar o nome do pai por desejar usar uma bengala do pai que continha no punho as iniciais JBML. Juca, apelido que Lobato recebeu na infância, brincava em companhia de suas irmãs com legumes e sabugos de milho que eram transformados em bonecos e animais, conforme costume da época. Uma forte influência de sua própria experiência reside na criação do personagem Visconde de Sabugosa. Ainda na infância, Juca descobriu seu gosto pelos livros na vasta biblioteca de seu avô. Os seus prediletos tratavam de viagens e aventuras. Ele leu tudo que lá existia, mas desde esta época incomodava a ele o fato de não existir uma literatura infantil tipicamente brasileira. Um fato interessante aconteceu ao então jovem Juca, no ano de 1895: ele foi reprovado em uma prova oral de Português. O ano seguinte foi de total estudo, mergulhado nos livros. Notável é o interesse de Lobato escritor no que diz respeito à Língua Portuguesa, presente em alguns de seus títulos. É na adolescência que começa a escrever para jornaizinhos escolares e descobre seu gosto pelo desenho. Aos 16 anos perde o pai e aos 17 a mãe. A partir de então, sua tutela fica a encargo do avô materno, o Visconde de Tremembé. Formou-se em Direito pela faculdade de seu estado, por vontade do avô, porque preferia ter cursado a Escola de Belas-Artes. Esse gosto pelas artes resultou em várias caricaturas e desenhos que ele enviava para jornais e revistas. Em 1907, 3 anos após sua formatura, exerceu a promotoria em Areias, cidadezinha do interior. Retirou-se depois para uma fazenda em Buquira que herdou do avô, falecido em 1911. Este município, onde surgiu um Lobato fazendeiro, recebeu seu nome em sua homenagem. Casou-se com Maria Pureza da Natividade, em 28 de março de 1908. Do casamento vieram os quatro filhos: Edgar, Guilherme, Marta e Rute. Em 1918 lançou Urupês, e o êxito fulminante desse livro de contos colocou-o numa posição de vanguarda. Neste mesmo ano, vendeu a fazenda e transferiu-se para São Paulo, onde inaugurou a primeira editora nacional: Monteiro Lobato& Cia. Até então, os livros que circulavam no Brasil eram publicados em Portugal. Por isso, as iniciativas de Lobato deram à indústria brasileira do livro um impulso decisivo para sua expansão. Em 1926, foi nomeado adido comercial da embaixada brasileira nos Estados Unidos, de onde trouxe um notável livro de impressões: América. Usou, assim, suas principais armas em prol do nacionalismo no tocante à exploração de ferro e petróleo no Brasil: os ideais e os livros. Preocupado com o desenvolvimento econômico do país, chegou a fundar diversas companhias para a exploração do petróleo nacional.. O fracasso dessa iniciativa deu-lhe assunto para um artigo: O Escândalo do Petróleo. Já sob o Estado Novo, sua persistência em abordar esse tema como patriota autêntico valeu-lhe três meses de prisão. No público infantil, o escritor Lobato reencontra as esperanças no Brasil. Escrever para crianças era sua alegria, por isso adorava receber as cartinhas que seu pequenino público escrevia constantemente. Achava que o futuro deveria ser mudado através da criançada, para quem dava um tratamento especial, sem ser infantilizado. O resultado foi sensacional, conseguindo transportar até hoje muitas crianças e adultos para o maravilhoso mundo do Sítio do Picapau Amarelo. Faleceu em São Paulo, no dia 4 de julho de 1948, aos 66 anos de idade, por causa de um derrame. A obra lobatiana é composta por 30 volumes. Tem um lugar indisputável na literatura brasileira como o Andersen brasileiro, autor dos primeiros livros brasileiros para crianças, e também como revelador de Jeca Tatu, o homem do interior brasileiro. Apesar de ter sido, em muitos pontos, o precursor do Modernismo, a ele nunca aderiu. Ficou conhecida a sua querela com modernistas por causa do artigo “A propósito da exposição Malfatti”. Ali critica a mostra de pintura moderna da artista, que caracterizava de não nacional. Monteiro Lobato – Cronologia
1882 – 1904: Primeiras letras: Lobato estudante José Bento Monteiro Lobato estreou no mundo das letras com pequenos contos para os jornais estudantis dos colégios Kennedy e Paulista, que freqüentou em Taubaté, cidade do Vale do Paraíba onde nasceu, em 18 de abril de 1882. No curso de Direito da Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo, dividiu-se entre suas principais paixões: escrever e desenhar. Colaborou em publicações dos alunos, vencendo um concurso literário promovido em 1904 pelo Centro Acadêmico XI de Agosto. Morou na república estudantil do Minarete, liderou o grupo de colegas que formou o Cenáculo e mandou artigos para um jornalzinho de Pindamonhangaba, que tinha como título o mesmo nome daquela moradia de estudantes. Nessa fase de sua formação, Lobato realizou as leituras básicas e entrou em contato com a obra do filósofo alemão Nietzsche, cujo pensamento o guiaria vida afora. 1905 – 1910: Lobato volta ao Vale do Paraíba Diploma nas mãos, Lobato voltou a Taubaté. E de lá prosseguiu enviando artigos para um jornal de Caçapava, O Combatente. Nomeado promotor público, mudou-se para Areias, casou-se com Purezinha e começou a traduzir artigos do Weekly Times para O Estado de S. Paulo. Fez ilustrações e caricaturas para a revista carioca Fon-Fon! e colaborou no jornal Gazeta de Notícias, também do Rio de Janeiro, assim como na Tribuna de Santos. 1911 – 1917: Lobato fazendeiro e jornalista A morte súbita do avô determinou uma reviravolta na vida de Monteiro Lobato, que herdou a Fazenda do Buquira, para a qual se transferiu com a família. Localizada na Serra da Mantiqueira, já estava com as terras esgotadas pela lavoura do café. Assim mesmo, ele tentou transformá-la num negócio rendoso, investindo em projetos agrícolas audaciosos. Mas não se afastou da literatura. Observando com interesse o mundo da roça, logo escreveu artigo, para O Estado de S. Paulo, denunciando as queimadas no Vale do Paraíba. Intitulado “Uma velha praga”, teve grande repercussão quando saiu, em novembro de 1914. Um mês depois, redigiu Urupês, no mesmo jornal, criando o Jeca Tatu, seu personagem-símbolo. Preguiçoso e adepto da “lei do menor esforço”, Jeca era completamente diferente dos caipiras e indígenas idealizados pelos romancistas como, por exemplo, José de Alencar. Esses dois artigos seriam reproduzidos em diversos jornais, gerando polêmica de norte a sul do país. Não demorou muito e Lobato, cansado da monotonia do campo, acabou vendendo a fazenda e instalando-se na capital paulista. 1918 – 1925: Lobato editor e autor infantil Com o dinheiro da venda da fazenda, Lobato virou definitivamente um escritor-jornalista. Colaborou, nesse período, em publicações como Vida Moderna, O Queixoso, Parafuso, A Cigarra, O Pirralho e continuou em O Estado de S. Paulo. Mas foi a linha nacionalista da Revista do Brasil, lançada em janeiro de 1916, que o empolgou. Não teve dúvida: comprou-a em junho de 1918 com o que recebera pela Buquira. E deu vez e voz para novos talentos, que apareciam em suas páginas ao lado de gente famosa. O editor A revista prosperou e ele formou uma empresa editorial que continuou aberta aos novatos. Lançou, inclusive, obras de artistas modernistas, como O homem e a morte, de Menotti del Picchia, e Os Condenados, de Oswald de Andrade. Os dois com capa de Anita Malfatti, que seria pivô de uma séria polêmica entre Lobato e o grupo da Semana de 22: Lobato criticou a exposição da pintora no artigo “Paranóia ou mistificação?”, de 1917. “Livro é sobremesa: tem que ser posto debaixo do nariz do freguês”, dizia Lobato, que, para provocar a gulodice do leitor, tratava o livro como um produto de consumo como outro qualquer, cuidando de sua qualidade gráfica e adotando capas coloridas e atraentes. O empreendimento cresceu e foi seguidamente reestruturado para acompanhar a velocidade dos negócios, impulsionada ainda mais por uma agressiva política de distribuição que contava com vendedores autônomos e com vasta rede de distribuidores espalhados pelo país. Novidade e tanto para a época, e que resultou em altas tiragens. Lobato acabaria entregando a direção da Revista do Brasil a Paulo Prado e Sérgio Milliet, para dedicar-se à editora em tempo integral. E, para poder atender às crescentes demandas, importou mais máquinas dos Estados Unidos e da Europa, que iriam incrementar seu parque gráfico. Mergulhado em livros e mais livros, Lobato não conseguia parar. O autor infantil Escreveu, nesse período, sua primeira história infantil, A menina do narizinho arrebitado. Com capa e desenhos de Voltolino, famoso ilustrador da época, o livrinho, lançado no Natal de 1920, fez o maior sucesso. Dali nasceram outros episódios, tendo sempre como personagens Dona Benta, Pedrinho, Narizinho, Tia Nastácia e, é claro, Emília, a boneca mais esperta do planeta. Insatisfeito com as traduções de livros europeus para crianças, ele criou aventuras com figuras bem brasileiras, recuperando costumes da roça e lendas do folclore nacional. E fez mais: misturou todos eles com elementos da literatura universal, da mitologia grega, dos quadrinhos e do cinema. No Sítio do Picapau Amarelo, Peter Pan brinca com o Gato Félix, enquanto o saci ensina truques a Chapeuzinho Vermelho no país das maravilhas de Alice. Mas Monteiro Lobato também fez questão de transmitir conhecimento e idéias em livros que falam de história, geografia e matemática, tornando-se pioneiro na literatura paradidática – aquela em que se aprende brincando. Crise e falência Trabalhando a todo vapor, Lobato teve que enfrentar uma série de obstáculos. Primeiro, foi a Revolução dos Tenentes que, em julho de 1924, paralisou as atividades da sua empresa durante dois meses, causando grande prejuízo. Seguiu-se uma inesperada seca, que decorreu em um corte no fornecimento de energia. O maquinário gráfico só podia funcionar dois dias por semana. E numa brusca mudança na política econômica, Arthur Bernardes desvalorizou a moeda e suspendeu o redesconto de títulos pelo Banco do Brasil. A conseqüência foi um enorme rombo financeiro e muitas dívidas. Só restou uma alternativa a Lobato: pedir a autofalência, apresentada em julho de 1925. O que não significou o fim de seu ambicioso projeto editorial, pois ele já se preparava para criar outra empresa. Assim surgiu a Companhia Editora Nacional. Sua produção incluía livros de todos os gêneros, entre eles traduções de Hans Staden e Jean de Léry, viajantes europeus que andaram pelo Brasil no século XVI. Lobato recobrou o antigo prestígio, reimprimindo nela sua marca inconfundível: fazer livros bem impressos, com projetos gráficos apurados e enorme sucesso de público. 1925 – 1927: Lobato no Rio de Janeiro Decretada a falência da Companhia Gráfico-Editora Monteiro Lobato, o escritor mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde permaneceu por dois anos, até 1927. Já um fã declarado de Henry Ford, publicou sobre ele uma série de matérias entusiasmadas em O Jornal. Depois passou para A Manhã, de Mario Rodrigues. Além de escrever sobre variados assuntos, em A Manhã lançou O Choque das Raças, folhetim que causou furor na imprensa carioca, logo depois transformado em livro. Do Rio Lobato colaborou também com jornais de outros estados, como o Diário de São Paulo, para o qual em 20 de março de 1926 enviou “O nosso dualismo”, analisando com distanciamento crítico o movimento modernista inaugurado com a Semana de 22. O artigo foi refutado por Mário de Andrade com o texto “Post-Scriptum Pachola”, no qual anunciava sua morte. 1927 – 1931: Lobato em Nova Iorque Em 1927, Lobato assumiu o posto de adido comercial em Nova Iorque e partiu para os Estados Unidos, deixando a Companhia Editora Nacional sob o comando de seu sócio, Octalles Marcondes Ferreira. Durante quatro anos, acompanhou de perto as inovações tecnológicas da nação mais desenvolvida do planeta e fez de tudo para, de lá, tentar alavancar o progresso da sua terra. Trabalhou para o estreitamento das relações comerciais entre as duas economias. Expediu longos e detalhados relatórios que apontavam caminhos e apresentavam soluções para nossos problemas crônicos. Falou sobre borracha, chiclete e ecologia. Não mediu esforços para transformar o Brasil num país tão moderno e próspero como a América em que vivia. 1931 – 1939: A luta de Lobato por ferro e petróleo Personalidade de múltiplos interesses, Lobato esteve presente nos momentos marcantes da história do Brasil. Empenhou seu prestígio e participou de campanhas para colocar o país nos trilhos da modernidade. Por causa da Revolução de 30, que exonerou funcionários do governo Washington Luís, ele estava de volta a São Paulo com grandes projetos na cabeça. O que faltava para o Brasil dar o salto para o futuro? Ferro, petróleo e estradas para escoar os produtos. Esse era, para ele, o tripé do progresso. 1940 – 1944: Lobato na mira da ditadura Mas as idéias e os empreendimentos de Lobato acabaram por ferir altos interesses, especialmente de empresas estrangeiras. Como ele não tinha medo de enfrentar adversários poderosos, acabaria na cadeia. Sua prisão foi decretada em março de 1941, pelo Tribunal de Segurança Nacional (TSN). Mas nem assim Lobato se emendou. Prosseguiu a cruzada pelo petróleo e ainda denunciou as torturas e maus-tratos praticados pela polícia do Estado Novo. Do lado de fora, uma campanha de intelectuais e amigos conseguiu que Getúlio Vargas o libertasse, por indulto, após três meses em cárcere. A perseguição no entanto continuou. Se não podiam deixá-lo na cadeia, cerceariam suas idéias. Em junho de 1941, um ofício do TSN pediu ao chefe de polícia de São Paulo a imediata apreensão e destruição de todos os exemplares de Peter Pan, adptado por Lobato, à venda no Estado. Centenas de volumes foram recolhidos em diversas livrarias, e muitos deles chegaram a ser queimados. 1945 – 1948: Os últimos tempos de Lobato Lobato estava em liberdade, mas enfrentava uma das fases mais difíceis de sua vida. Perdeu Edgar, o filho mais velho, presenciou o processo de liquidação das companhias que fundou e, o que foi pior, sofreu com a censura e atmosfera asfixiante da ditadura de Getúlio Vargas. Aproximou-se dos comunistas e saudou seu líder, Luís Carlos Prestes, em grande comício realizado no Estádio do Pacaembu em julho de 1945. Partiu para a Argentina, após associar-se à editora Brasiliense e lançar suas Obras Completas, com mais de 10 mil páginas em trinta volumes das séries adulta e infantil. Regressou de Buenos Aires em maio de 1947, para encontrar o país às voltas com os desmandos do governo Dutra. Indignado, escreveu Zé Brasil. Nele, o velho Jeca Tatu, preguiçoso incorrigível, que Lobato depois descobriu vítima da miséria, vira um trabalhador rural sem terra. Se antes o caipira lobatiano lutava contra doenças endêmicas, agora tinha no latifúndio e na distribuição injusta da propriedade rural seu pior inimigo. Os personagens prosseguiam na luta, mas seu criador já estava cansado de tantas batalhas. Monteiro Lobato sofreu dois espasmos cerebrais e, no dia 4 de julho de 1948, virou “gás inteligente” – o modo como costumava definir a morte. Foi-se aos 66 anos de idade, deixando imensa obra para crianças, jovens e adultos, e o exemplo de quem passou a existência sob a marca do inconformismo. Monteiro Lobato – Vida
Seu nome completo era: José Bento Monteiro Lobato. Nasceu na cidade de Taubaté, no estado de São Paulo, em 1882. Filho e neto de fazendeiros, morou na fazenda até terminar o colegial. Começou a escrever ainda criança para jornais das escolas que freqüentou em Taubaté. Desde muito cedo, Lobato sempre adorou desenhar e escrever. Pensou em cursar Belas Artes, mas foi desencorajado pela família. Em 1904 formou-se em Direito o na Faculdade de Direito de São Paulo do Largo São Francisco, em São Paulo. Durante a graduação venceu um concurso literário da própria faculdade e começou a colaborar com as publicações dos alunos. Participou de vários jornais da faculdade. Morou numa republica estudantil, na qual fundou com um grupo de amigos o grupo literário: “O Cenáculo”, o qual escrevia artigos para um jornal de Pindamonhangaba. Para escrever durante várias épocas de sua vida, Lobato usou muitos pseudônimos. Após graduar-se no curso de Direito, Lobato retornou a Taubaté e escreveu criticas de arte no Jornal da cidade. Em 1906 Monteiro Lobato foi nomeado promotor público interino em Taubaté. Em 1907 foi nomeado promotor numa pequena cidade na divisa de São Paulo com o Rio de Janeiro, chamada Areias. Em 1908 Lobato casou-se com sua noiva Maria Pureza Natividade. Nesse mesmo período, Lobato traduziu artigos para o Jornal “O Estado de São Paulo”, escreveu para “A Tribuna”, de Santos- SP além de fazer caricaturas para a “Revista Fon-Fon” do Rio de Janeiro. Em 1911, aos 29 anos herdou do seu avô, o Visconde de Tremembé, uma fazenda e resolveu administrá-la. Não obteve muito êxito. Nessa época, escreveu um artigo para o jornal “O Estado de São Paulo” intitulado: “Uma Velha Praga”, uma crítica contra as constantes queimadas no campo. Tal artigo, provocou grande polêmica, e rendeu a Lobato o convite para escrever outros artigos. Assim, tornou-se critico respeitado e colunista do Jornal. Foi nesse período que ele criou o personagem Jeca Tatu. Pouco depois, Lobato vendeu a fazenda e passou a residir definitivamente em São Paulo. Em 1918, um ano após sua mudança para São Paulo publicou o livro Urupês, uma coletânea de contos. No mesmo ano, Lobato comprou a Revista do Brasil, que posteriormente deu origem à Editora Monteiro Lobato & Cia., editora essa, que revolucionou o mercado editorial brasileiro e publicou obras de grandes escritores nacionais. Revolucionou o mercado de livros com relação a distribuição dos mesmos, pois vendia seus livros de porta em porta, em mercearias, pelo correio, em todo o país. Foi um dos primeiros editores a colorir capas de livros, de torná-las atraentes, além de ilustrá-los. Definitivamente, Lobato inovou o mercado literário. Teve o personagem Jeca Tatu, do seu livro Urupês, usado na campanha presidencial de Rui Barbosa, o que rendeu ao seu livro maior sucesso ainda. Sua editora foi a maior do Brasil. Porém, depois dos longos cortes de energia em São Paulo, o que impossibilitava o funcionamento da gráfica, problemas com bancos e a suspensão das compras do governo, determinadas pelo então presidente Arthur Bernardes, a gráfica não conseguiu superar a crise e acabou falindo. No ano de 1920 publicou “ A menina do Narizinho Arrebitado”, ele então aos 38 anos iniciava a literatura infantil brasileira. Em 1921 uma coleção de fábulas de Lobato foram adotadas pelo Governo do estado de São Paulo para uso didático. No ano de 1925 fundou a Editora Nacional, onde traduziu diversos livros estrangeiros e editou várias obras nacionais. Em 1927, Lobato mudou-se com a família para Nova York, onde exerceu o cargo de adido comercial nomeado pelo presidente da república do Brasil. Em 1931, Lobato deixou o posto de adido comercial e retornou ao Brasil encantado com a experiência na América e convicto da necessidade de exploração de recursos minerais a fim de contribuir para o desenvolvimento do país. Empenhou-se na campanha em prol dos nossos recursos, fundando o Sindicato do Ferro e a Cia. de Petróleo Nacional. Teve grande importância na política do Brasil, uma vez que lutou pelo que acreditava e contra a opressão do regime político da época. Lobato foi um homem de visão, enxergava os problemas vividos pela sociedade Brasileira e tinha muitas idéias e vontade em solucioná-los. Em 1945 foi morar na Argentina, pois o regime político brasileiro da época por vezes o perseguira. Lá ele fundou uma editora, a “Editorial Acteon”, além de escrever para jornais de lá. Um ano depois retornou ao Brasil. Morreu no dia 4/7/1948 vítima de um derrame cerebral. Foi sepultado no cemitério da Consolação em São Paulo. CRONOLOGIA BIBLIOGRÁFICA DE MONTEIRO LOBATO
OBRASPÚBLICO ALVO : ADULTO
PÚBLICO ALVO: FAIXA INFANTIL
RESUMOS DE ALGUMAS OBRAS DE MONTEIRO LOBATO:URUPÊS Urupês não contém uma única história, mas vários contos e um artigo, quase todos passados na cidadezinha de Itaoca, no interior de SP, com várias histórias, geralmente de final trágico e algum elemento cômico. O último conto, Urupês, apresenta a figura de Jeca Tatu, o caboclo típico e preguiçoso, no seu comportamento típico. No mais, as histórias contam de pessoas típicas da região, suas venturas e desventuras, com seu linguajar e costumes. ALGUNS CONTOS RESUMIDOS Os faroleiros Dois homens conversam sobre faróis, e um deles conta sobre a tragédia do Farol dos Albatrozes, onde passou um tempo com um dos personagens da trama: Gerebita. Gerebita tinha um companheiro, chamado Cabrea, que ele alegava ser louco. Numa noite, travou-se uma briga entre Gerebita e Cabrea, vindo este a morrer. Seu corpo foi jogado ao mar e engolido pelas ondas. Gerebita alegava ter sido atacado pelos desvarios de Cabrea, agindo em legítima pessoa. Eduardo, o narrador, descobre mais tarde que o motivo de tal tragédia era uma mulher chamada Maria Rita, que Cabrea roubara de Gerebita. O engraçado arrependido Um sujeito chamado Pontes, com fama de ser uma grande comediante e sarrista, resolve se tornar um homem sério. As pessoas, pensando se tratar de mais uma piada do rapaz negavam-lhe emprego. Pontes recorre a um primo de influência no governo, que lhe promete o posto da coletoria federal, já que o titular, major Bentes, estava com sérios problemas cardíacos e não duraria muito tempo. A solução era matar o homem mais rápido, e com aquilo que Pontes fazia de melhor: contar piadas. Aproxima-se do major e, após várias tentativas, consegue o intento. Morte, porém inútil: Pontes se esquece de avisar o primo da morte, e o governo escolhe outra pessoa para o cargo. A colcha de retalhos Um sujeito (o narrador) vai até o sítio de um homem chamado Zé Alvorada para contratar seus serviços. Zé está fora e, enquanto não chega, o narrador trata com a mulher (Sinhá Ana), sua filha de quatorze anos (Pingo d’Água) e a figura singela da avó, Sinhá Joaquina, no auge dos seus setenta anos. Joaquina passava a vida a fazer uma colcha de retalhos com pedacinhos de tecido de cada vestido que Pingo d’Água vestia desde pequenina. O último pedaço haveria de ser o vestido de noiva. Passado dois anos, o narrador fica sabendo da morte de Sinhá Ana e a fuga de Pingo d’Água com um homem. Volta até aquela casa e encontra a velha, tristonha, com a inútil concha de retalhos na mão. Em pouco tempo morreria… A vingança da peroba Sentindo inveja da prosperidade dos vizinhos, João Nunes resolve deixar de lado sua preguiça e construir um monjolo (engenho de milho). Contrata um deficiente, Teixeirinha, para fazer a tal obra. Em falta de madeira boa para a construção, a solução é cortar a bela e frondosa peroba na divisa das suas terras (o que causa uma tremenda encrenca com os vizinhos). Teixeirinha, enquanto trabalha, conta a João Nunes sobre a vingança dos espíritos das árvores contra os homens que as cortam. Coincidência ou não, o monjolo não funciona direito (para a gozação dos vizinhos) e João Nunes perde um filho, esmagado pela engenhoca. Um suplício moderno Ajudando o coronel Fidencio a ganhar a eleição em Itaoca, Izé Biriba recebe o cargo de estafeta (entregador de correspondências e outras cargas). Obrigado a andar sete léguas todos os dias, Biriba perde aos poucos a saúde. Resolve pedir demissão, o que lhe é negada. Sabendo da próxima eleição, continua no cargo com a intenção de vingança. Encarregado de levar um “papel” que garantiria novamente a vitória de seu coronel, deixa de cumprir a missão. Coronel Fidencio perde a eleição e a saúde, enquanto o coronel eleito resolve manter Biriba no cargo. Este, então, vai embora durante a noite… Meu conto de Maupassant: Dois homens conversam num trem. Um deles é ex-delegado e conta sobre a morte de uma velha. O primeiro suspeito era um italiano, dono de venda, que é preso. Solto por falta de provas, vem morar em São Paulo. Passado algum tempo, novas provas incriminam o mesmo e, preso em São Paulo e conduzido de trem ao vilarejo, se joga da janela. Morte instantânea e inútil: tempo depois, o filho da velha confessa o crime. “Pollice Verso” O filho do coronel Inácio da Gama, o Inacinho, forma-se em Medicina no Rio de Janeiro e volta para exercer a profissão. Pensando em arrecadar dinheiro para ir a Paris reencontrar a namorada francesa, Inacinho começa a cuidar de um coronel rico. Como a conta seria mais alta se o velho morresse, a morte não tarda a acontecer. O caso vai parar na justiça, onde dois outros médicos velhacos dão razão a Inacinho. O moço vai para Paris morar em Paris com a namorada, levando uma vida boêmia. No Brasil, o orgulhoso coronel Inácio da Gama fala aos ventos sobre o filho que andava aprofundando os estudos com os melhores médicos da Europa. Bucólica Andando pelos pequenos vilarejos e sítios interioranos, o narrador fica sabendo da trágica história da morte da filha de Pedro Suã, que morreu de sede. Aleijada e odiada pela mãe, a filha adoeceu e, ardendo em febre numa noite, gritava por água. A mãe não lhe atendeu, e a filha foi encontrada morta na cozinha, perto do pote de água, para onde se arrastou. O mata-pau Dois homens conversam na mata sobre uma planta chamada mata-pau, que cresce e mata todas as outras árvores ao seu redor. O assunto termina no trágico caso de um próspero casal, Elesbão e Rosinha, que encontram um bebê em suas terras e resolvem adotá-lo. Crescido o menino, se envolve com a mãe e mata o pai. Com os negócios paternos em ruína, resolve vendê-los, o que vai contra os gostos da mãe-esposa. Esta quase acaba vítima do rapaz, e vai parar num hospital, enlouquecida. Bocatorta Na fazenda do Atoleiro, vivia a família do major Zé Lucas. Nas matas da fazenda, havia um negro com a cara defeituosa com fama de monstro: Bocatorta. Cristina, filha do major, morre justamente alguns dias depois de ter ido com o pai ver a tal criatura. Seu noivo, Eduardo, não agüenta a tristeza e vai até o cemitério chorar a morte da amada. Encontra Bocatorta desenterrando a moça. Volta correndo e, junto a um grupo de homens da fazenda, sai em perseguição a Bocatorta. Esse, em fuga, morre ao passar num atoleiro, depois de ter dado o seu único beijo na vida. O comprador de fazendas Pensando em se livrar logo da fazenda Espigão (verdadeira ruína para quem a possui), Moreira recebe com entusiasmo um bem-apessoado comprador: Pedro Trancoso. O rapaz se encanta com a fazenda e com a filha de Moreira e, prometendo voltar na semana seguinte para fechar o negócio, nunca mais dá notícias. Moreira vem a descobrir mais tarde que Pedro Trancoso é um tremendo safado, sem dinheiro nem para comprar pão. Pedro, no entanto, ganha na loteria e resolve comprar mesmo a fazenda, mas é expulso por Moreira, que perdeu assim a única chance que teve na vida de se livrar das dívidas. O estigma Bruno resolve visitar o amigo Fausto em sua fazenda. Lá conhece a bela menina Laura, prima órfã de Fausto, e sua fria esposa. Fausto convivia com o tormento de um casamento concebido por interesse e uma forte paixão pela prima. Passado vinte anos, os amigos se reencontram no Rio de Janeiro, onde Bruno fica sabendo da tragédia que envolveu as duas mulheres da vida de Fausto: Laura sumiu durante um passeio, e foi encontrada morta com um revólver ao lado da mão direita. Suicídio misterioso e inexplicável. A fria esposa de Fausto estava grávida e deu a luz a um menino que tinha um sinalzinho semelhante ao ferimento de bala no corpo da menina. Fausto vê o sinalzinho e percebe tudo: a mulher havia matado Laura. Mostra o sinal do recém-nascido para ela que, horrorizada, padece até a morte. Velha Praga Artigo onde Monteiro Lobato denuncia as queimadas da Serra da Mantiqueira por caboclos nômades, além de descrever e denunciar a vida dos mesmos. Urupês : O livro A jóia do livro. Aqui, Monteiro Lobato personifica a figura do caboclo, criando o famoso personagem “Jeca Tatu”, apelidado de urupê (uma espécie de fungo parasita). Vive “e vegeta de cócoras”, à base da lei do menor esforço, alimentando-se e curando-se daquilo que a natureza lhe dá, alheio a tudo o que se passa no mundo, menos do ato de votar. Representa a ignorância e o atraso do homem do campo. CAÇADAS DE PEDRINHO As crianças do sítio do Pica-pau Amarelo, resolvem caçar uma onça, e depois de muito sacrifício estas crianças conseguem. Depois os bichos desse sítio querem matar estas crianças, pois elas mataram a maior onça que havia ali entre os animais. Os animais não conseguem pegar as crianças, porque as crianças puseram uma perna de pau de 4 metros de altura, deste modo ficou impossível tentar matá-las. Um rinoceronte foge de um circo e vai até o sítio do Pica-pau Amarelo em busca de tranqüilidade. No início, os moradores desse sítio ficam com medo, mas depois até brincam com o rinoceronte. Várias pessoas vão resgatar o rinoceronte, mas não conseguem, e por isso as crianças do sítio se tornam as proprietárias do rinoceronte. CIDADES MORTAS Publicado em 1919, pela Revista do Brasil, este segundo livro de Lobato levava o subtítulo ” Contos e Impressões ” e reunia trabalhos bastante antigos , alguns do tempo de estudante de Lobato. Em edições subsequentes, novo textos acrescentaram-se à obra. O título do livro é tomado de um texto de 1906. Numa espécie de crônica ou ensaio, num tom entre irônico e saudosista, Lobato delineia o espaço de sua obra: o norte paulista do vale do Paraíba, “onde tudo foi e nada é: Não se conjugam verbos no presente. Tudo é pretérito. “(…) cidades moribundas arrastam um viver decrépito. Gasto em chorar na mesquinhez de hoje as saudosas grandezas de dantes”. É , portanto num cenário de decadência representado por ruas ermas , casarões em ruínas e armazéns desertos, que o livro introduz o leitor, fazendo-o acompanhar de um ponto de vista irônico figuras igualmente decadentes de homens e mulheres. Cabelos Compridos e o Espião Alemão são os dois contos mais conhecidos do livro. Os contos de Cidades Mortas entremeiam-se com digressões, como a aguda crítica aos ficcionistas românticos (Alencar, Macedo, Bernardo Guimarães) , que transcrevemos: “No concerto de nossos romancistas, onde Alencar é o Piano querido das moças e Macedo a Sensaboria relambória dum flautim piegas, Bernardo é a sanfona. Lê-lo é ir para o mato , para a roça- mas uma roça adjetivada por menina de caudalosos, as matas virentes, os píncaros altíssimos, os sabiás sonoros , as rolinhas meigas. Bernardo descreve a natureza como qualificativos surrados do mau contador. Não existe nele o vinco enérgico de impressão pessoal. Vinte vergéis que descreva são vinte perfeitas invariáveis amenidades. Nossas desajeitadíssimas caipiras são sempre lindas morenas cor de jambo. Bernardo falsifica o nosso mato. Onde toda gente vê carrapatos , pernilongos espinhos, Bernardo aponta doçuras insetos maviosos, flores olentes. Bernardo mente.” IDEIAS DE JECA TATU O universo dos contos é sempre o mesmo as “itaócas” ,cidadezinhas do Vale do Paraíba paulista , com suas casas de tapera, ruas mal iluminadas, políticos corruptos, patriotadas, ignorância e miséria. Sua vivência de promotor público e fazendeiro nessas “cidades mortas”,arruinadas após o fastígio do café, orienta a fidelidade à paisagem regional e reforça a ironia com que critica o caipira , o capiau, personificado nos “jecas-tatus” , nos “piolhos da terra”. Apoiada na narrativa oral, na técnica do contador -de- casos , fixa flagrantes do homem e da paisagem, tomados em seus aspectos exteriores, comunicando ao leitor, de modo eficiente, a sugestão de marasmo e indolência reinantes. A intenção didática, moralizante, que emerge da denúncia e da ironia, levam Lobato a articular suas narrativas em torno do ridículo e do patético em que desembocam quase todas as suas histórias, povoadas de cretinos , idiotas, aleijados ( dos quais o narrador extrai efeitos cômicos), e arrematadas por finais trágicos m chocantes ou deprimentes. Não há profundidade na colocação dos dramas morais; o que Lobato buscou foi narrar com brilho um caso, uma anedota e sobretudo , um desfecho feito de a caso ou violência. A narrativa se interrompe , com freqüência , para que o Lobato-doutrinador desenvolva suas digressões explicativas ou polêmicas. NEGRINHA Negrinha é narrativa em terceira pessoa, impregnada de uma carga emocional muito forte. Sem dúvida alguma é conto invejável:”Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados. Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças.” D. Inácia era viúva sem filhos e não suportava choro de crianças. Se Negrinha, bebezinho, chorava nos braços da mãe, a mulher gritava: “Quem é a peste que está chorando aí?” A mãe, desesperada, abafava o choro do bebê, e afastando-se com ela para os fundos da casa, torcia-lhe belicões desesperados. O choro não era sem razão: era fome, era frio: “Assim cresceu Negrinha magra, atrofiada, com os olhos eternamente assustados. Órfã aos quatro anos, por ali ficou feito gato sem dono, levada a pontapés. Não compreendia a idéia dos grandes. Batiam-lhe sempre, por ação ou omissão. A mesma coisa, o mesmo ato, a mesma palavra, provocava ora risadas, ora castigos. Aprendeu a andar, mas quase não andava. Com pretexto de que às soltas reinaria no quintal, estragando as plantas, a boa senhora punha-a na sala, ao pé de si, num desvão da porta. – Sentadinha aí e bico, hein?” Ela ficava imóvel, a coitadinha. Seu único divertimento era ver o cuco sair do relógio, de hora em hora. Ensinaram Negrinha a fazer crochê e lá ficava ela espichando trancinhas sem fim… Nunca tivera uma palavra sequer de carinho e os apelidos que lhe davam eram os mais diversos: pestinha, diabo, coruja, barata descascada, bruxa, pata choca, pinto gorado, mosca morta, sujeira, bisca, trapo, cachorrinha, coisa ruim, lixo. Foi chamada bubônica, por causa da peste que grassava… “O corpo de Negrinha era tatuado de sinais, cicatrizes, vergões. Batiam nele todos os dias, houvesse ou não houvesse motivo. Sua pobre carne exercia para os cascudos, cocres e belicões a mesma atração que o ímã exerce para o aço. Mãos em cujos nós de dedos comichasse um cocre, era mão que se descarregaria dos fluidos em sua cabeça. De passagem. Coisa de rir e ver a careta…” D. Inácia era má demais e apesar da Abolição já ter sido proclamada, conservava em casa Negrinha para aliviar-se com “uma boa roda de cocres bem fincados!…” Uma criada furtou um pedaço de carne ao prato de Negrinha e a menina xingou-a com os mesmos nomes com os quais a xingavam todos os dias. Sabendo do caso, D. Inácia tomou providências: mandou cozinhar um ovo e, tirando-o da água fervente, colocou-o na boca da menina. Não bastasse isso, amordaçou-a com as mãos, o urro abafado da menina saindo pelo nariz… O padre chegava naquele instante e D. Inácia fala com ele sobre o quanto cansa ser caridosa… Em um certo dezembro, vieram passar as férias na fazenda duas sobrinhas de D. Inácia: lindas, reconchudas, louras, “criadas em ninho de plumas.” E negrinha viu-as irromperem pela sala, saltitantes e felizes, viu também Inácia sorrir quando as via brincar. Negrinha arregalava os olhos: havia um cavalinho de pau, uma boneca loura, de louça. Interrogada se nunca havia visto uma boneca, a menina disse que não… e pôde, então, pegar aquele serzinho angelical : “E muito sem jeito, como quem pega o Senhor Menino, sorria para ela e para as meninas, com assustados relanços d’olhos para a porta. Fora de si, literalmente…” Teve medo quando viu a patroa, mas D. Inácia, diante da surpresa das meninas que mal acreditavam que Negrinha nunca tivesse visto uma boneca, deixou-a em paz, permitiu que ela brincasse também no jardim. Negrinha tomou consciência do mundo e da alegria, deixara de ser uma coisa humana, vibrava e sentia. Mas se foram as meninas , a boneca também se foi e a casa caiu na mesmice de sempre. Sabedora do que tinha sido a vida, a alma desabrochada, Negrinha caiu em tristeza profunda e morreu, assim, de repente: “Morreu na esteirinha rota, abandonada de todos, como um gato sem dono. Jamais, entretanto, ninguém morreu com maior beleza. O delírio rodeou-a de bonecas, todas louras, de olhos azuis. E de anjos…” No final da narrativa, o narrador nos alerta: “E de Negrinha ficaram no mundo apenas duas impressões. Uma cômica, na memória das meninas ricas. – “Lembras-te daquela bobinha da titia, que nunca vira boneca?” Outra de saudade, no nó dos dedos de dona Inácia: – “Como era boa para um cocre!…” É interessante considerar aqui algumas coisas: em primeiro lugar o tema da caridade azeda e má, que cria infortúnio para os dela protegidos, um dos temas recorrentes de Monteiro Lobato; o segundo aspecto que poderia ser observado é o fenômeno da epifania, a revelação que, inesperadamente, atinge os seres, mostrando-lhes o mundo e seu esplendor. A partir daí, tais criaturas sucumbem, tal qual Negrinha o fez. Ter estado anos a fio a desconhecer o riso e a graça da existência, sentada ao pé da patroa má, das criaturas perversas, nos cantos da cozinha ou da sala, deram a Negrinha a condição de bicho-gente que suportava beliscões e palavrórios, mas a partir do instante em que a boneca aparece, sua vida muda. É a epifania que se realiza, mostrando-lhe o mundo do riso e das brincadeiras infantis das quais Negrinha poderia fazer parte, se não houvesse a perversidade das criaturas. É aí que adoece e morre, preferindo ausentar-se do mundo a continuar seus dias sem esperança. À MESA COM LOBATO: Monteiro Lobato (1882-1942) gostava de comer bem e fazia questão que seus leitores soubessem disso. Os fãs de Pedrinho, Narizinho, Emília e do Visconde de Sabugosa salivam até hoje só de lembrar os bolos, tortas e guloseimas mil criados pela mitológica Tia Nastácia, a cozinheira encantada do Sítio do Picapau Amarelo. Afinal, os bolinhos de polvilho dela foram capazes de amansar até o Minotauro, num famoso episódio das aventuras da turma. Para aplacar a vontade nostálgica dos leitores do Sítio, sai “À Mesa com Monteiro Lobato” (Senac Editora, R$ 50), de Marcia Camargos e Vladimir Sacchetta, que reúne receitas e historietas curiosas como a diatribe do autor de Urupês contra o afrancesamento exacerbado dos restaurantes da capital paulista. Usando de uma ironia cortante, ele escreveu: “Adquirimos tanto gout que, por instinto, o nosso organsimo, num diner elegante, repeliria com vomissments incoercibles um plat nomeado à portuguesa, charramente: arroz de forno, leitão assado. É mister que eles venham, embora não mudados de substância, transferidos em marcassin, ou riz ou four à la princesse quelque chose. Só assim as fibras da estesia gustativa nos tremelicam de gozo e dos olhos nos correm lágrimas a Brillat-Savarin”. Nacionalista ferrenho, Monteiro Lobato já chamava a atenção de seus compatriotas para ingredientes nacionais como a grumixama, uma espécie de cereja nativa ou o içá, tira-gosto muito popular na Vale do Paraíba, feito com as formigas com este nome, para ele, um verdadeiro “caviar”. As receitas do livro, extraídas do caderno de receitas de Dona Purezinha, mulher do autor, lembram a culinária simples e saborosa, da fazenda de Taubaté onde nasceu e cresceu. Aqui estão o arroz com suã, bolinho caipira, canjiquinha, costela assada com banana, virado de couve, quibebe, mingau de inhame, doce de marmelo, espera-marido, bolão de fubá, queijadinha e outras gostosuras. Só falta mesmo a mão da Tia Nastácia que costumava dizer : “Receita, dou; mas a questão não está na receita – está no jeitinho de fazer”, respondia a cozinheira sempre que alguém pedia as medidas de suas delícias. Monteiro Lobato – BiografiaJosé Bento Monteiro Lobato nasceu em Taubaté, estado de São Paulo, a 18 de abril de 1882. Em 1900 matricula-se na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, sendo um dos integrantes do grupo literário “Minarete”. Formado, exerce a promotoria pública em Areias, na região do Vale do Paraíba paulista. Em 1911 herda de seu avô uma fazenda, dedicando-se à agricultura; três anos depois, no inverno de 1914, cansado de enfrentar as constantes queimadas praticadas pelos cablocos, o fazendeiro escreve uma “indignação” intitulada “Velha praga” e envia para as “Queixas e reclamações” do jornal O Estado de São Paulo. Percebendo o valor da carta, o jornal a publica fora da seção destinada aos leitores, ela provoca polêmica e estimula Lobato a escrever outros artigos, como por exemplo “Urupês”, onde cria seu famoso personagem “Jeca Tatu”. A partir daí, os fatos se sucedem rapidamente: vende a fazenda; publica seu primeiro livro, “Urupês” (1918); funda a editora Monteiro Lobato e Cia. (primeira editora nacional) e, em 1944, a Editora Brasiliense. Vive nos Estados Unidos como adido comercial, de 1927 a 1931, ao retornar ao Brasil inicia sua luta em favor dos interesses nacionais, combatendo a exploração e tornando-se muito conhecido por sua campanha pela extração do petróleo existente no subsolo brasileiro (funda o Sindicato do Ferro e a Cia. Petróleos do Brasil). Por suas posições passa a enfrentar a fúria das multinacionais e os “obstáculos” impostos pelo governo brasileiro. Disso resulta outra “indignação”: “O escândalo do petróleo”, livro-denúncia publicado em 1936. O empenho com o qual se bateu pelos interesses nacionais custou-lhe seis meses de prisão, em 1941, durante o governo de Getúlio Vargas. Nos últimos anos, colabora com artigos em jornais brasileiros e argentinos. Falece a 5 de julho de 1948, em São Paulo. Suas idéias políticas, assim como suas opiniões a respeito da cultura nacional, foram deixadas numa vasta série de artigos de jornal, entrevistas e prefácios. Monteiro Lobato enquadra-se no Pré-Modenismo por duas características de sua obra – o regionalismo e a denúncia da realidade brasileira – uma vez que, no plano puramente estético, o autor assume posições anti-modernistas (o próprio Lobato afirmou que preferiu jogar xadrez nas praias do Guarujá, durante a Semana de Arte Moderna). Como regionalista, o autor dimensiona com exatidão o Vale do Paraíba paulista do início do século XX, sua decadência após a passagem da economia cafeeira, seus costumes e sua gente, tão bem retratados nos contos de “Cidades mortas”. Na descrição do tipo humano característico da região, está o traço mais marcante da ficção de Monteiro Lobato, surge “Jeca Tatu” (inicialmente tratado como vagabundo e indolente, para só depois o autor reconhecer a realidade daquela população subnutrida, vivendo na miséria, marginalizada socialmente, sem acesso à cultura, acometida de toda a sorte de doenças endêmicas). O preconceito racial e a situação dos negros após a abolição foi outro tema abordado pelo autor de “Negrinha” – as personagens são gordas senhoras que, num falso gesto de bondade, “adotavam” menininhas negras para escrevizá-las em trabalhos caseiros. Quanto à linguagem, Monteiro Lobato luta para aproximá-la o máximo possível do coloquial, além de incorporar à linguagem literária termos e expressões típicas da fala regional. Ao lado da chamada literatura adulta, o autor deixou extensa obra voltada para o público infantil, um campo até então mal explorado na Literatura Brasileira. Seu primeiro livro para crianças foi “Narizinho arrebitado” (1921), rebatizado depois como “Reinações de Narizinho”; todas as narrativas centram-se num único espaço, o “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, e o autor cria enredos onde predomina a fantasia. Mesmo na literatura infantil, Monteiro Lobato não abandona a luta pelos interesses nacionais, com seus personagens representando vários aspectos do povo brasileiro, e o “Sítio do Pica-Pau Amarelo” sendo uma imagem do Brasil (por exemplo, em “O poço do Visconde” o autor mistura ficção e realidade em torno do problema do petróleo). Monteiro Lobato – Autor18 de Abril
1886: Nasce sua irmã Ester Monteiro Lobato, apelidada “Teca”. 1888
1889 a 1892: Freqüenta, em Taubaté, os colégios Kennedy, Americano e Paulista. 1893:
1894: Ganha sua primeira calça comprida que usa envergonhadíssimo. 1895: Vai para São Paulo, em dezembro. No mês seguinte presta exames para ingresso no curso preparatório. É reprovado e regressa para Taubaté. 1896:
1897: Muda-se para São Paulo e é estudante interno do Instituto Ciências e Letras. 1898:
1899: 22 de Junho, morre sua mãe. 1900:
1902: É eleito presidente da “Arcádia Acadêmica”. Colabora com o jornal “Onze de Agosto” onde escreve artigos sobre Teatro. 1903: Junto com Ricardo Gonçalves, Cândido Negreiros, Raul de Freitas, Godofredo Rangel, Tito Livio Brasil, Lino Moreira e José Antonio Nogueira, fundam o grupo “O Cenáculo”. 1904:
1905: Vivendo no interior, Monteiro Lobato faz planos de fundar uma fábrica de geléias em sociedade com um amigo. 1906: Ocupa interinamente a promotoria de Taubaté e começa a namorar Maria Pureza da Natividade. 1907: Assume a promotoria de Areias. 1908: 28 de Março, casa-se com Maria Pureza. 1909: Em Março, um anos depois de casado, nasce Marta, primogênita do casal. Insatisfeito com a vida bucólica de Areias, planeja abrir um estabelecimento comercial de secos e molhados. 1910:
1911:
1912: Em 26 de Maio, nasce Guilherme, seu terceiro filho. 1913: Insatisfeito com a vida na fazenda, planeja, com Ricardo Gonçalves, explorar comercialmente o Viaduto do Chá, na cidade de São Paulo. 1914:
1916:
1917:
1918:
1919:
1920: O conto Os faroleiros serve de argumento para um filme dirigido pelos cineastas Antonio Leite e Miguel Milani. É publicado Narizinho Arrebitado e Negrinha. 1921:
1922:
1924:
1925: A Editora de Monteiro Lobato vai à falência. Em sociedade com Octales Marcondes, funda a Companhia Editora Nacional. Transfere-se para o Rio de Janeiro. 1926:
1927:
1928:
1929:
1930:
1931:
1932: Publica: Viagem ao Céu e América. 1933: Publica: História do Mundo para Crianças, Caçadas de Pedrinho e Na antevéspera. 1934:
1935: Publica: Aritmética da Emília, Geografia de Dona Benta, História das Invenções. 1936:
1937: Publica: O Poço do Visconde, Serões de Dona Benta e Histórias de Tia Nastácia. 1938:
1939:
1940: Recebe (e recusa) convite de Getúlio Vargas para dirigir um Ministério de Propaganda. Em carta a Vargas, faz severas críticas à política brasileira de minérios. O teor da carta é tido como subversivo e desrespeitoso. 1941:
1942:
1943: É realizada uma grande comemoração pelos 25 anos de publicação de Urupês. 1944:
1945:
1946:
1947:
1948: Sofre em abril, um primeiro espasmo vascular que afeta sua motricidade. Na madrugada de 5 de julho, morre. Sob forte comoção nacional, seu corpo é velado na Biblioteca Municipal e o sepultamento realiza-se no Cemitério da Consolação. Após sua morte, foram publicados os seguintes textos inéditos: Literatura de Minarete; Conferências, artigos e Crônicas; Cartas Escolhidas (em 2 volumes); Crítica e outras notas; Uma fada moderna; A Lampréia; No tempo de Nero; A casa de Emília e O Centaurinho. Fonte: www.imdb.com/www.unicamp.br/www.editorabrasiliense.com.br/www. geocities.com Quando Monteiro Lobato começou a escrever para crianças?A 'Monteiro Lobato Editora' foi fundada no final de 1918. Dois anos mais tarde, Lobato publicou o primeiro livro dedicado aos leitores mirins: A Menina do Narizinho Arrebitado (1920). Nesse livro, o autor relata as aventuras de Narizinho e sua turma, personagens de maior destaque em suas obras destinadas às crianças.
Qual é a obra mais importante de Monteiro Lobato?Monteiro Lobato (1882-1948) foi um escritor e editor brasileiro pré-modernista. Considerado um dos maiores autores de histórias infantis, sua obra mais conhecida é O Sítio do Picapau Amarelo, composta de 23 volumes.
Como Monteiro Lobato se tornou escritor?Formado em Direito, atuou como promotor público até se tornar fazendeiro, após receber herança deixada pelo avô. Diante de um novo estilo de vida, Lobato passou a publicar seus primeiros contos em jornais e revistas, sendo que, posteriormente, reuniu uma série deles no livro Urupês, sua obra prima como escritor.
Porque Monteiro Lobato começou a escrever literatura infantil?Monteiro Lobato criou um universo para a criança enriquecida pelo folclore, buscou o nacionalismo na ação das personagens que refletiam na brasilidade, na linguagem, comportamentos e na relação com a natureza.
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