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Pré-visualização | Página 6 de 8exige uma transformação pessoal que leva a outra postura, outro modo de conceber as relações sociais, o homem e a vida. Tal mudança implica a suspensão dos conhecimentos defi nidos previamen- te sobre a prática psicológica, exigindo um mergu- lhar na relação intersubjetiva que se estabelece en- tre psicólogo e usuário, para assim poder intuir sua “essência” (Penna, 2001). Ou, dito de outro modo, partir do que se revela na relação intersubjetiva para questionar o modelo proposto a priori pelo psicólogo, fazendo uma redução fenomenológica ao modo de Husserl (1976/2008), na busca de outras modalidades de pratica que venham a acolher a real demanda dos usuários. III) Modalidades de prática: Apesar da ênfase na psicoterapia individual, foram encontradas também as seguintes modalidades de prática: ofi cina diagnós- tica, plantão psicológico, ludoterapia e atendimentos em grupo para crianças, adolescentes e adultos. As práticas desenvolvidas enfatizam a dimensão subje- tiva do sofrimento vivido pelos usuários e revelam a limitação da ação clínica para acolher a demanda trazida vinculada às questões concretas que envolvem condições econômicas, culturais, violência, falta de moradia, entre outros. Essas possibilidades de atendi- mentos foram implantadas para responder ao grande número de clientela e à complexidade da demanda, de modo a garantir o acolhimento e acompanhamento ao sofrimento no serviço prestado. Apesar da implanta- ção de novas modalidades de prática, o atendimento é considerado insufi ciente e é ressaltada para a neces- sidade de ampliação do número de atendimento e de criação de outras modalidades de prática psicológica. PSI 1: “[...] favorece o plantão psicológico que é a porta de entrada para o atendimento psicológico no Distrito... temos a ofi cina diagnóstica [...] Temos as grupoterapias... recursos clínicos de atenção ao adulto... ao adulto portador ou não de transtorno psíquico... para o adolescente e o idoso, em progra- mas específi cos em que o psicólogo é inserido num trabalho multiprofi ssional...” No entanto a maioria dos serviços realizados pe- los psicólogos entrevistados privilegia o modelo de atendimento individual, em alguns casos norteados pela perspectiva da psicoterapia breve, na tentativa de responder ao grande número de usuários em bus- ca por atendimento psicológico. Os dados indicam a necessidade de redefi nição para a formação da ação do psicólogo na sociedade, precisando acolher a po- pulação de baixa renda, que também tem despertado o interesse por esse tipo de acompanhamento. Além disso, aponta a necessidade da reformulação do modo Revista Psicologia e Saúde. 21 Pr og ra m a de M es tra do e D ou to ra do e m P si co lo gi a, U C D B - C am po G ra nd e, M S ISSN: 2177-093X Revista Psicologia e Saúde, v. 8, n. 1, jan./jun. 2016, p. 14-23 de funcionamento do serviço prestado nos ambulató- rios, de forma a discutir sobre o papel dessas unida- des, e para a necessidade de construção de práticas que atendam a essa nova demanda, contextualizando as problemáticas emergentes das diversas comunida- des atendidas. Para além de tais compreensões, importa ressaltar a importância da experiência e dos fenômenos que emergem da relação psicólogo-usuário que apontam para a necessidade de uma atitude fenomenológica, privilegiando a descrição e a compreensão dos fe- nômenos que emergem de tal relação. Atitude feno- menológica, conforme indica Penna (2001), consis- te numa experiência direta das coisas como se dão à consciência. Nessa direção, ao relatarem o modo como trabalham, os psicólogos descrevem sua ação como pautada na clínica individual, mesmo consi- derando a possibilidade de uma psicoterapia breve. Ficam na descrição e no reconhecimento da insufi ci- ência de tal modelo, não conseguindo voltar-se “para as coisas mesmas” que emergem na relação intersub- jetiva com o usuário. PSI 2: “Temos que trabalhar com os recursos que a gente pode... então... faço aqui atendimento indivi- dual ... Procuramos trabalhar mais com a psicotera- pia breve... mais focal...”. PSI 4: “O trabalho que eu desenvolvo aqui no ser- viço público... na policlínica... é um trabalho am- bulatorial e é um trabalho de psicoterapia com ado- lescentes e com adultos ... e eu trabalho da mesma forma que eu trabalho no meu consultório particu- lar...” PSI 5: “Eu faço atendimento individual nos pacien- tes... eu não trabalho... não tenho formação para trabalhar em grupo... muito embora... ache interes- sante a proposta para alguns tipos de transtorno...” Retomando a refl exão anterior, os depoimentos acima apresentados confi rmam a difi culdade dos psi- cólogos de questionarem e até abandonarem o mo- delo de clínica psicoterapêutica individual, apesar de reconhecerem a sua limitação para a situação de aten- dimento em serviço público. Reafi rmam assim, a ne- cessidade de “uma modifi cação de olhar, um direcio- namento para a investigação da experiência vivida” (Sousa, 2006, p.60). Nessa mesma direção, Cimino e Barreto (2013) refl etem sobre esse fenômeno, in- dicando a necessidade de um posicionamento profi s- sional que envolva não apenas conteúdos didáticos e/ ou teóricos, mas que seja, sobretudo, uma atitude que envolve um compromisso profi ssional frente às ques- tões sociais. IV) Sentimento frente às difi culdades: através do relato dos psicólogos, percebemos que a experi- ência do atendimento nas Policlínicas gera diversos sentimentos, no entanto o sentimento de impotência frente às diversas difi culdades encontradas perpassa as narrativas de muitos dos psicólogos. Tal contexto evidencia os limites da prática psicológica exercida, apontando para a insufi ciência da intervenção psico- lógica frente ao grande número de pacientes e com- plexidade da demanda apresentada, confi rmando a especifi cidade da clínica psicológica e das interfaces que a rodeiam. PSI 1: “... são poucos psicólogos na Policlínica para atender as pessoas que buscam atenção... em termos de remuneração, também é algo frustrante... fi ca difícil para nós... Há momentos de saturação... quando encontro aquele corredor cheio... e digo para mim mesma... o que eu tenho é muito pouco para favorecer... não há vagas para todo mundo e você tem que favorecer um limite...”. PSI 2: “As difi culdades que a gente tem primeiro é em relação ao número de profi ssionais... que eu acho que ainda é muito restrito ... é a difi culdade da frustração... daquele sentimento de tristeza porque em alguns locais vemos que as pessoas não têm o mínimo para sobreviver... De impotência... inclusi- ve já citei isso no próprio serviço...”. Nota-se que, embora haja nos profi ssionais o re- conhecimento das nuances que a prática em Saúde Pública demanda, ainda predomina o sentimento de impotência, possivelmente gerado pela difi culdade de apropriação dos conhecimentos necessários para a atuação na Saúde Pública. Conhecimentos esses, diferentes daqueles já referendados tradicionalmente na construção da identidade do psicólogo e na forma- ção profi ssional. As difi culdades no rompimento com esse referencial também foi evidenciado por Dias e Muller (2008, p. 58) como um processo “muito difí- cil, pois coloca em cheque o fazer do psicólogo e sua identidade profi ssional”. Essa problemática coloca os profi ssionais diante de um dilema que, muitas vezes, extrapola a compreensão aqui empreendida, mas, que, ao mesmo tempo abre para novos questionamen- tos, como os que vemos a seguir: PSI 3: “O número de pessoas é deprimente ... eu não tenho condição de fazer uma evolução ... tem dias de eu atender 9 a 10 pacientes... num turno de 4 horas... aí eu me estendo... 5 horas... já aconteceu de eu sair daqui quase 2 horas Qual o papel do psicólogo na saúde pública?PSICOLOGIA E SAÚDE PÚBLICA
O profissional atua no diagnóstico, prevenção e tratamento de doenças mentais, de personalidade ou distúrbios emocionais, sendo habilitado a atuar em diversas áreas tanto no âmbito privado quanto no contexto público.
Como prática do psicólogo no contexto da saúde?A atuação do psicólogo da saúde pode ser centrada na promoção da saúde e prevenção de doença, nos serviços clínicos a indivíduos saudáveis ou doentes e em pesquisa e ensino. A maioria dos profissionais atua em hospitais, clínicas e departamentos acadêmicos de faculdades e universidades.
Quais fatores aproximam a Psicologia ao campo da saúde pública?Esses autores citam ainda dois fatos que contribuíram para a presença de psicólogos, no setor de saúde: primeiro, a redução do mercado de atendimento psicológico privado, em decorrência da crise econômica pela qual o país estava sendo afetado, e, segundo, a crítica à Psicologia clínica tradicional, por não apresentar ...
Qual a relação das outras práticas psicológicas com o conceito de saúde?A saúde passa a figurar como categoria de análise na Psicologia Social quando esta se volta para os processos de produção em saúde – sejam esses processos formas de conhecimento ou tecnologias de cuidado, prevenção e manu- tenção da saúde.
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