Como se explica o aparecimento dos tentilhões nas ilhas do arquipélago de Galápagos?

A revista Science revela uma investigação que demonstra a "teoria da evolução" em tempo real.

A descoberta não traz "água no bico", mas traz sementes. Uma seca, ocorrida há 10 anos, mudou os genes do bico de duas espécies de tentilhões. As aves que entusiasmaram Charles Darwin quando chegou ao arquipélago das Galápagos em 1835.

Os tentilhões tinham bicos diferentes consoante aquilo que comiam. O mesmo acontecia com as tartarugas e o tamanho dos seus pescoços. Foi esse um dos pontos de partida para que o naturalista e biólogo escrevesse o célebre livro "A Origem das Espécies".

Com este artigo na revista Science, um grupo de investigadores suecos e norte-americanos, das universidades de Princeton e Uppsal, vêm agora dar um novo impulso à teoria de Darwin sobre a seleção natural. Eles identificaram um par de genes que explica as variações no tamanho do bico de duas espécies de tentilhões, uma mudança que aconteceu em resposta a uma seca no arquipélago há 10 anos.

Uma única espécie de tentilhões chegou às Galápagos há dois milhões. Há menos de 200 anos, Charles Darwin identificou uma dúzia de espécies. Algumas foram identificadas por pequenas variações. Por exemplo, o tamanho dos bicos. Desde o mais pequeno que come insetos, aos maiores capazes de partirem sementes ou até a uma espécie com bico afiado que se alimenta de sangue. Na atualidade há 18 espécies no arquipélago que é território do Equador.

Os investigadores sequenciaram e compararam o genoma de 60 aves de 6 espécies e descobriram esta mudança e a relação que a originou. Os bicos diminuíram de tamanho nos locais mais afetados pela seca. Em jeito de conclusão, os investigadores das universidades de Uppsala e Princeton dizem que fica demonstrado um importante mecanismo de evolução para o qual apenas existiam suspeitas e indícios.

"Os nossos dados mostram que a forma de bico depende de muitos genes, tais como com a maioria das características biológicas. No entanto, estamos convencidos de que encontrámos dois deles que têm desempenhado um papel importante na evolução do formato do bico entre os tentilhões de Darwin" escreveu Sangeet Lamichhaney, primeiro autor do estudo e investigador da Universidade sueca de Uppsala.

O trabalho, publicado na revista Molecular Phylogenetics and Evolution, revela que o tentilhão escondia, na verdade, cinco espécies diferentes e que esta ave colonizou primeiro os Açores, depois a Madeira e depois as Canárias.

A equipa de investigadores quis saber como os tentilhões (Fringilla coelebs) colonizaram a Macaronésia a partir do Continente (Portugal e Espanha) e se esta colonização dos diferentes arquipélagos resultou, ou não, no aparecimento de novas espécies.  

Como se explica o aparecimento dos tentilhões nas ilhas do arquipélago de Galápagos?
Tentilhão (Fringilla coelebs). Foto: Andreas Trepte/WikiCommons

Juan Carlos Illera, professor na Universidade de Oviedo e investigador no Instituto Mixto de Investigación en Biodiversidad, explica que o estudo do tentilhão é cientificamente relevante porque esta é uma ave “muito interessante para entender os processos evolutivos”. Na verdade, o mais conhecido é o tentilhão de Darwin, que Charles Darwin descobriu nas ilhas Galápagos.

Até agora, a ciência que estuda as aves, a Ornitologia, considerava o tentilhão (Fringilla coelebs) como uma única espécie, com 16 subespécies (10 delas na Macaronésia). Mas este estatuto terá de mudar muito em breve depois de uma equipa de investigadores da Universidade de Oviedo e do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC) de Espanha ter descoberto que o tentilhão esconde, na realidade, até cinco espécies distintas localizadas nos Açores, Madeira, Canárias, Eurásia e Norte de África.

“Propomos que o tentilhão comum seja dividido em cinco espécies diferentes, correspondendo à Eurásia (Fringilla coelebs), Norte de África (Fringilla spodiogenys/africana), Açores (Fringilla moreletti), Madeira (Fringilla maderensis) e Ilhas Canárias (Fringilla canariensis)”, escrevem os autores no artigo científico.

Para chegar às suas conclusões, os investigadores fizeram trabalho de campo nos diferentes arquipélagos.

“Capturámos mais de 80 exemplares de cada uma das populações para extrair uma amostra mínima de sangue para estudar o seu ADN, e a seguir libertámo-los nos mesmos sítios onde os capturámos. De cada um destes exemplares analisámos mais de 100.000 genes, o que nos permitiu concluir que estamos perante espécies diferentes”, destacou.

“As implicações desta reclassificação são muito importantes porque a singularidade taxonómica dos tentilhões é muito mais relevante do que se pensava até agora. Por isso, a nossa responsabilidade para a proteger é também maior. Se, por exemplo, o tentilhão endémico das Canárias se extinguir, estaríamos perante um drama ecológico porque o mundo perderia uma espécie animal”, comentou o investigador.

Os investigadores descobriram ainda uma rota de colonização a partir do Continente em direcção primeiro aos Açores e depois dali para a Madeira e, finalmente, para as ilhas Canárias. 

Os trabalhos feitos por esta equipa de cientistas concluíram que a primeira diferenciação do tentilhão-comum aconteceu há cerca de 830 mil anos quando o antepassado dos tentilhões vulgares actuais colonizou o arquipélago dos Açores. Populações de tentilhões saltaram dos Açores para a Madeira (há 700 mil anos) e daí para as Canárias, onde chegaram há cerca de 500 mil anos.

Neste salto entre ilhas, os tentilhões foram perdendo diversidade genética. As aves dos Açores mostram uma diversidade genética surpreendentemente alta, semelhante às do Continente (a cerca de 1.300 quilómetros de distância), enquanto que as de outros arquipélagos macaronésios revelam uma perda de diversidade. Porquê? Juan Carlos Illera explica que esta perda de diversidade é esperada porque cada novo espaço é colonizado por um subconjunto de exemplares do grupo populacional anterior. Daí que a diversidade genética do tentilhão endémico das Canárias seja menor do que a dos Açores.

A investigação permitiu ainda descobrir algumas curiosidades. Uma delas é que os tentilhões dos Açores se deslocam entre as ilhas do arquipélago, enquanto que os das Canárias – que ocorrem em cinco ilhas (El Hierro, La Palma, La Gomera, Tenerife e Gran Canaria) – não se movem entre ilhas. “E não sabemos porquê”.

A equipa acredita que o processo de reconhecimento destas novas espécies seja rápido. “Fizemos uma proposta taxonómica; depois, a comunidade científica pode aceitá-la, o que sinceramente esperamos. Finalmente, serão as sociedades científicas ornitológicas que deverão reconhecer esta nova classificação”, comentou, em comunicado, Juan Carlos Illera.

O trabalho dos investigadores não acaba aqui porque o tentilhão continua a levantar novas perguntas. “Falta entender melhor todo o processo de diferenciação e o próximo passo será identificar as regiões genómicas que o explicam. Para isso será necessário estudar o seu genoma completo”.


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Por que Darwin usou tentilhões para explicar a teoria da evolução?

Esse grupo de espécies ficou conhecido como “Tentilhões de Darwin”. Em suas observações, Darwin viu que variação e seleção produziram adaptações não só na estrutura dos pés, mas também na forma e no tamanho dos bicos. Observou também que as sementes eram a principal dieta dos tentilhões que viviam no solo.

Quando Darwin chegou ao arquipélago de Galápagos em 1835 observou pássaros da família?

Quando Darwin chegou ao arquipélago de Galápagos, em 1835, durante viagem a bordo do navio H. M. S. Beagle (1831-1837), observou pássaros da família Fringillidae (tentilhões) e ficou impressionado com as treze espécies dessas aves nas diferentes ilhas.

O que Darwin concluiu em relação a algumas espécies de aves encontradas em Galápagos?

Darwin descobriu que espécies similares de tentilhões, mas não idênticas, habitavam ilhas próximas a Galápagos . Além disso, ele percebeu que cada espécie de tentilhão estava bem adaptada para seu ambiente e sua função.

Como foi a chegada de Darwin a ilha de Galápagos?

Quando Charles Darwin visitou as Galápagos em 1835, durante a sua viagem no navio HMS Beagle, entre 1831 e 1836, encontrou nas diferenças dos bicos dos vários tentilhões, adaptados à alimentação, um argumento para a sua futura teoria da evolução.