Diferenciar para incluir ou para excluir por uma pedagogia da diferença

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Diferenciar para incluir ou para excluir por uma pedagogia da diferença

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para o enfrentamento das 
ciladas da inclusão está se impondo aos poucos e, cada vez mais, 
destacando-se e promovendo a inclusão total. Tal processo de dife-
renciação implica a quebra de barreiras físicas, atitudinais, comu-
nicacionais, que impedem algumas pessoas, em certas situações e 
circunstâncias, de conviverem, cooperarem, estarem com todos, 
participando, compartilhando com os demais da vida social, escolar, 
familiar, laboral, como sujeitos de direito e de deveres comuns a todos.
Ao diferenciarmos para incluir, estamos reconhecendo o sentido 
multiplicativo e incomensurável da diferença, que vaza e não 
permite contenções, porque está se diferenciando sempre, interna 
e externamente, em cada sujeito. Essa forma de diferenciação, na 
concepção de Burbules e de outros autores voltados para o estudo 
da diferença, é * uida e bem-vinda, porque não celebra, aceita, 
nivela, mas questiona a diferença!
Enfrentar as ciladas da inclusão é reagir contra os valores da 
sociedade dominante e rejeitar o pluralismo, entendido como 
uma incorporação da diferença pela mera aceitação do outro, sem 
con* itos, sem confronto. A inclusão desestabiliza a diferença tole-
rada e coloca em xeque a sua produção social, como um valor 
negativo, discriminador e marginalizante.
Os que se envolvem na defesa dos preceitos inclusivos precisam 
estar atentos ao sentido da diferença como padrão produzido pelos 
que procuram diferenciar-se cada vez mais para manter a estabili-
dade de sua identi/ cação ou diferença. Aí mora o perigo.
Há muitas formas de se contribuir para a con/ rmação do sentido 
desestabilizante da diferença, no qual a inclusão se fundamenta, 
para que continuemos a progredir na direção de uma sociedade 
verdadeiramente democrática.
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Diversidade, Diferença e De" ciência
Deslizes que possam ocorrer no entendimento do direito à dife-
rença, com base no que esta signi" ca e durante os processos de 
diferenciação, criam problemas e caminhos equivocados para os 
que buscam construir uma pedagogia alinhada aos preceitos inclu-
sivos. Os processos de diferenciação precisam ser cuidadosamente 
observados, para que, na intenção de acertar, as escolas não acabem 
se perdendo e caindo em armadilhas difíceis de escapar.
Diferenciar para incluir é possível, quando o aluno ou bene" ci-
ário de uma ação a" rmativa qualquer estiver no gozo do direito de 
escolha ou não dessa diferenciação. Um exemplo desse direito é o 
aluno que pode optar pelo lugar que ocupará em uma sala de aula, 
quando usa cadeira de rodas. Ele não é obrigado a se sujeitar à impo-
sição de sentar-se sempre na frente de todos, em um lugar especial, 
de" nido por especialistas, se sua turma de colegas está localizada 
mais ao fundo.
Um aluno cego ou com baixa visão que é o único a usar um 
computador na sala de aula não está sendo diferenciado e excluído 
em relação aos seus colegas, se o computador o faz participar das 
aulas com autonomia e independência, por meio de um leitor de 
tela, por exemplo. Ele também tem o direito de estudar os conteúdos 
escolares em braille, ampliados na fonte, em MP3, e essas diferen-
ciações são aceitáveis, porque não são recursos que o discriminarão 
em sala de aula.
Nos exemplos de diferenciações citados, que envolvem inclusão 
nos processos educativos, estão resguardados: o direito à igualdade – 
estudar e compartilhar conhecimentos com os colegas de turma – e 
o direito à diferença – que assegura ao aluno equipamentos, apoio 
da tecnologia na sala de aula e outros suportes, facultando-lhe a 
liberdade de escolhê-los, de modo que se sinta melhor assistido 
para participar das aulas e aprender.
Há alunos que são diferenciados por participarem de progra-
mas de reforço escolar e outros, cujos estudos são realizados de 
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Diferenciar para Incluir ou para Excluir?
acordo com atividades, conteúdos e avaliações adaptados e limi-
tados, que professores e especialistas lhes prescrevem, na ilusão de 
serem capazes de de% nir e controlar o aprendizado e/ou para não 
se decepcionarem diante do que ensinam. Há mesmo intervenções 
realizadas por professores de Educação Especial que acontecem na 
sala de aula, durante as atividades diárias, e que também diferen-
ciam alunos, excluindo-os da turma, mesmo temporariamente.
Muitos poderão entender que essas diferenciações são para 
incluir, pois do contrário os alunos seriam relegados pela escola, 
por falta de atenção às suas necessidades. Ocorre que tais progra-
mas, por restringirem conteúdos e atividades escolares, são consi-
derados discriminatórios e excludentes e atentam para a liberdade 
de o aluno aceitá-los ou não, no período de aula.
Na boa vontade de “customizar” o processo educativo, de modo 
que se ajuste ao feitio de cada um, a exclusão se manifesta, embora 
estejamos pretendendo o contrário.
A escola tem poderes para diferenciar e para identi% car os alunos, 
submetendo-os a mecanismos de inclusão e de exclusão educacional.
Uma Pedagogia das Diferenças
A tendência de diferenciar o ensino escolar comum para certos 
grupos de alunos ou mesmo para um único aluno é uma prática 
que não corresponde a uma educação verdadeiramente inclusiva.
Os aparatos pedagógicos que visam tornar menor ou maior o 
grau de di% culdade do ensino nas salas de aula, associar exclusi-
vamente algumas atividades e níveis de di% culdade/desempenho 
a certos alunos, realizar a escolarização de alguns, seguindo uma 
programação à parte, mesmo que estejam gozando igual direito de 
estar com todos nas salas de aulas do ensino comum, continuam 
sendo excludentes e, portanto, descumprindo o direito à diferença.
Para que uma pedagogia da inclusão seja exercida nas escolas, 
ela deverá acolher a diferença de todos os alunos como próprias da 
natureza multiplicativa da diferença, que se reproduzem, não se 
repetem, ampliam-se e não se reduzem ao idêntico e ao existente.
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Diversidade, Diferença e De" ciência
Esse acolhimento impede que o ensino e a aprendizagem esco-
lares de alguns alunos sejam restritos a currículos adaptados, obje-
tivos educacionais reduzidos, critérios de avaliação abrandados, 
terminalidade especí" ca para certi" cação escolar e facilitação de 
atividades, sempre levando em conta o nosso poder de decidir 
sobre o que nossos alunos têm ou não capacidade de aprender.
Tais procedimentos diferenciam para excluir e são próprios de 
um ensino diferenciado que chega ao nível de sua individualização, 
ou seja, a ser proposto sob medida para cada um!
A pedagogia a que queremos chegar não seria jamais concebida 
como uma pedagogia que congela identidades e que, em função 
dessa estabilidade construída, estabelece um campo especí" co, 
uma fórmula padrão para atuar com cada uma delas. São típicas 
desse congelamento as pedagogias para alunos com de" ciência 
intelectual, com surdez, com problemas de linguagem, em que 
a “customização” do ensino considera o cliente como um sujeito 
abstrato, desencarnado, para os quais se destinam procedimentos 
universalizados, generalizados.
A essa maneira de fazer educação escolar comum e especial 
podemos chamar de “pedagogia da diversidade”, em que a dife-
rença é redutível à identidade, a um dado cultural, à natureza.
Na linha da diversidade, estão as pedagogias das etnias, das religiões, 
de gênero e das minorias, que têm um caráter estático e celebram 
identidades estáveis, prontas, que se impõem como representativas 
de grupos que buscam, entre outros objetivos, a a" rmação social.
Essas pedagogias diferem da pedagogia da diferença, construída 
no entendimento pleno da inclusão, destinada a alunos que 
não se repetem e para os quais é impensável sugerir qualquer 
“customização” educativa. No âmbito dessa pedagogia, inclusiva 
por natureza, é o aluno que introduz a cunha da diferença ao 
ensino e à aprendizagem, trazendo para a sala de aula mudanças 
substanciais, que atingem o papel do professor, sugerindo 
moderação: na sua função explicativa e na

O que é a pedagogia da diferença?

O trabalho colaborativo, próprio da pedagogia da diferença, organiza-se em redes, onde o saber circula horizontalmente, sem hierarquia. Todos têm o que ensinar e aprender em um ambiente escolar caracterizado pela diferença de capacidades, as quais circulam e diluem a autoria do conhecimento conferida a um único aluno.

Qual é a diferença entre inserir e incluir?

Grosso modo, INSERIR é matricular um aluno com deficiência na escola. Já INCLUIR é fazer com que as necessidades deste aluno sejam respeitadas e adequadas, de modo que ele consiga realizar as mesmas atividades da maioria de seus colegas.

Como podemos incluir sem excluir?

Incluir sem excluir, no processo ensino aprendizagem, significa contemplar a todos, sem excluir de nenhuma forma os elementos do processo. Ter um aluno com NEE, em uma classe com 30 crianças dita “normais', não significa que esta está incluída, ela pode estar meramente ''inserida” ou integrada''.

O que é inclusão Segundo Freire?

Freire (2008) afirma que a inclusão, enquanto forma de flexibilizar a resposta educativa de modo a fornecer uma educação básica de qualidade a todos os alunos, tem sido apontada como uma solução para o problema da exclusão educacional.