Martinho Lutero foi um monge e teólogo alemão, que viveu entre 1483 e 1546

O cristianismo ao longo de sua história foi marcado por diversas polêmicas que afetaram profundamente os seus seguidores. No século XI, por exemplo, aconteceu o Cisma do Oriente que dividiu a Igreja em Católica do Ocidente e Católica do Oriente. Outra grande ruptura ocorreu no século XVI, quando surgiu o processo conhecido por Reforma Protestante, que abalou as estruturas do catolicismo e que contribuiu para o nascimento de outras religiões.

Essa reforma surgiu para criticar as práticas estabelecidas pela Igreja Católica que por muito tempo influenciaram e controlaram fiéis do mundo inteiro. Entre as medidas realizadas pelos líderes católicos que motivaram a reforma destacou-se a prática da simonia, que foi o comércio de relíquias sagradas. Essas relíquias na maioria das vezes eram falsas e os fiéis compravam pensando que eram objetos utilizados por Cristo ou por algum santo.

As vendas de indulgências também se destacaram entre as práticas realizadas pela Igreja. Os líderes católicos eram seguidores da doutrina de Santo Tomás de Aquino, que defendeu a ideia de que a salvação não se dava exclusivamente pela fé, mas sim pelas boas obras. Acreditava-se, por exemplo, que o perdão aos pecados e a salvação eterna poderiam ser conseguidos através do pagamento em dinheiro, que seria destinado para financiar as despesas da Igreja.

Outro mecanismo de poder da Igreja foi o monopólio da leitura da Bíblia, que era escrita somente em Latim. A intenção era mediar o encontro dos fiéis com o livro sagrado, que deveria ser traduzido pelos padres. Dessa maneira, a Igreja evitava interpretações em relação ao texto sagrado que não se encaixavam com o pensamento do alto escalão do clero.

Martinho Lutero (1483 – 1546) foi o grande idealizador da Reforma Protestante contra as práticas de simonia e a venda de indulgências. Lutero foi um jovem alemão que resolveu entrar para a vida religiosa após um milagre que salvou sua vida durante uma violenta tempestade. Ao entrar para a Igreja, ele obteve contato direto com as atitudes do catolicismo perante seus seguidores. Ao perceber as práticas errôneas realizadas pelos membros do clero, ele resolveu aprofundar seus estudos para criar uma maneira correta na relação entre fiel e Igreja.

Inspirado pelo versículo bíblico “O justo se salvará pela fé”, Martinho Lutero iniciou a escrita das famosas 95 teses luteranas que foram de encontro às práticas dos membros do clero. Entre as teses mais importantes, destacou-se, principalmente, a afirmativa da fé cristã como único caminho para salvação eterna e a Bíblia como única fonte para a fé. Essas ideias foram lançadas contra a postura da Igreja que em 1520 excomungou Lutero pelos seus ideais reformistas.

O surgimento de outras religiões foi uma das principais consequências da Reforma Protestante. A Reforma Calvinista na Suíça liderada por João Calvino no século XVI foi um exemplo da influência de Lutero para o surgimento de práticas reformistas contra a Igreja Católica. Posteriormente, destacou-se o Anglicanismo na Inglaterra promovido por Henrique VIII, que rompeu com o catolicismo.

Martinho Lutero promoveu através de sua reforma uma grande crise na Igreja Católica que teve seu poder diminuído com o surgimento de outras religiões. O Protestantismo, portanto, caracterizou os fiéis que não seguiam as doutrinas católicas e que deram continuidade à principal reforma religiosa realizada na Europa.


Por Fabrício Santos
Graduado em História


Aproveite para conferir nossa videoaula relacionada ao assunto:

Martinho Lutero queria apenas discutir os problemas na Igreja Católica, mas o que aconteceu na cidade alemã de Wittenberg em 31 de outubro de 1517 mudaria para sempre a Alemanha, a Europa e o mundo cristão. Para entender a agitação que Lutero desencadeou com suas 95 teses, é preciso voltar à época em que ele viveu.

No final da Idade Média e início da Idade Moderna, a fé cristã era dominada pelo monopólio da Igreja Católica. O dogma e as regras da Igreja ditavam a vida das pessoas, e Deus era visto como uma figura julgadora e rigorosa, que nunca deixava um erro impune.

Acontecimentos que não conseguiam ser explicados – como tragédias pessoais, colheitas ruins ou mesmo guerras e crises – eram vistos como consequências de pactos com o diabo. Aqueles que supostamente teriam feito tais acordos costumavam ser queimados na fogueira.

O raio determinante

Lutero nasceu na cidade alemã de Eisleben, em 1483, como filho de um mineiro. Em 1501, ele começou seus estudos na Universidade de Erfurt. Quatro anos mais tarde, ele completou um mestrado e, em seguida, começou a estudar Direito.

Martinho Lutero foi um monge e teólogo alemão, que viveu entre 1483 e 1546
A casa onde Lutero nasceu, em Eisleben, na AlemanhaFoto: picture-alliance/dpa/P. Endig

Então, um acontecimento mudou a vida de Lutero: em 2 de julho de 1505, durante uma grande tempestade, ele foi atingido por um raio. Diante da perspectiva da morte, ele temia ter que, despreparado, ficar diante de Deus. Então, ele clamou à Santa Ana, a padroeira dos mineiros, e prometeu se tornar um monge caso sobrevivesse.

Doze dias depois, Lutero bateu à porta do Mosteiro dos Agostinianos Eremitas, em Erfurt, e pediu para ser aceito na ordem.

Os primeiros anos como monge

Movido pela busca por um Deus misericordioso e pelo medo de não ter vida após a morte, Lutero viu uma oportunidade de ter uma existência plena no mosteiro. 

Desde o início, o jovem monge era visivelmente obediente. Ele orava até seis horas por dia, jejuava e praticava autorreflexão, mortificação e confissão. Mais tarde, Lutero disse: "Se alguma vez alguém conseguiu entrar no céu por ser um monge, eu quis fazer isso também."

Depois de 20 meses no mosteiro, Lutero foi ordenado sacerdote em 1507. O ensino teológico estava no centro de seus estudos, e ele se dedicou a ele com zelo.

Venda de indulgências

Em 1510, Lutero foi enviado a Roma pela ordem agostiniana para tratar de negócios – uma viagem que marcou a sua vida. A Cúria enfrentava graves problemas financeiros devido à custosa construção da Basílica de São Pedro.

Martinho Lutero foi um monge e teólogo alemão, que viveu entre 1483 e 1546
Lutero viveu e estudou no Mosteiro dos Agostinianos Eremitas, em Erfurt, de 1505 a 1511Foto: picture-alliance/dpa/M. Schutt

Para arrecadar dinheiro, os líderes da Igreja introduziram a prática da venda de indulgências, alegando que as pessoas poderiam alcançar o perdão por seus pecados fazendo boas ações ou pagando à Igreja.

Os valores foram estabelecidos de acordo com a renda dos fiéis, e mesmo aqueles que já haviam morrido poderiam supostamente ser resgatados do purgatório se seus parentes desembolsassem algumas moedas. Não demoraria muito para que Lutero lançasse uma visão crítica sobre a prática que havia testemunhado.

A busca pela aceitação de Deus

Em 1512, Lutero – já muito respeitado por seus colegas e superiores – concluiu um doutorado em Teologia e se tornou professor na Universidade de Wittenberg.

No entanto, ele ainda buscava um Deus misericordioso e continuou a se perguntar: o que devo fazer para ser aprovado por Deus? Nenhum dos rituais ou regras da Igreja foi capaz de responder a essa pergunta.

Lutero continuou a ler fervorosamente a Bíblia e ficou particularmente comovido com a carta do Apóstolo Paulo à antiga igreja romana, onde leu sobre a justificação pelo sangue de Jesus Cristo. O teólogo compreendeu gradualmente o que se tornaria o núcleo da Reforma Luterana: Deus não é apenas um juiz justo e severo, mas também um pai que ama as pessoas que criou e enviou seu filho ao mundo para pagar o preço do pecado que o estava separando das pessoas.

Como Lutero descobriu na Bíblia, qualquer um que acredita em Deus e em seu filho Jesus Cristo recebe a dádiva da justificação perante o Todo-Poderoso. O monge finalmente encontrou a resposta para a sua pergunta.

Os quatro pilares da fé de Lutero

Por meio de seu estudo da Bíblia, Lutero desenvolveu quatro princípios teológicos fundamentais. O primeiro é a Sagrada Escritura. Ele viu a Bíblia como a única referência da verdade, enquanto a Igreja na época também se baseava em textos adicionais escritos pelo papa e pelo sínodo.

O segundo princípio é o de que a salvação só vem por meio da graça de Deus e não por boas ações. Essa crença tornava a venda de indulgências obsoleta.

Em terceiro lugar, Lutero concluiu que Jesus Cristo, através de sua morte na cruz, pagou a pena por todos os pecados e é a única ponte entre os homens e Deus.

E, finalmente, o quarto princípio: Lutero acreditava que as pessoas são salvas somente pela fé. "A vida cristã é inteiramente baseada na fé", afirmou. "Pela fé, Cristo vive em nós. Pela fé em Cristo, a justiça de Cristo se torna a nossa justiça, e o que é dele passa a ser nosso."

Essas crenças revolucionaram a relação entre os seres humanos e Deus. Percebendo que seriam aceitas por Deus somente graças à própria fé, as pessoas poderiam se aproximar dele diretamente, sem um sacerdote como intermediário.

Martinho Lutero foi um monge e teólogo alemão, que viveu entre 1483 e 1546
Até hoje, as 95 teses estão perpetuadas em bronze na porta da igreja em WittenbergFoto: picture alliance/dpa

Consequentemente, a Igreja perdeu poder com os ensinamentos de Lutero, e as hierarquias dela começaram a ruir. Embora seu trabalho tenha sido revolucionário, Lutero acreditava que estava simplesmente restabelecendo princípios velhos e esquecidos, e não manifestando crenças novas e indesejáveis.

Como professor de Teologia, Lutero transmitiu sua visão teológica a seus estudantes e a pregou em missas. No começo, ele passou despercebido. Mas ele estava determinado a corrigir a teologia não bíblica da Igreja e iniciar um retorno à origem da fé cristã. Acima de tudo, ele queria colocar fim à venda de indulgências, que se tornara uma prática comum na Alemanha.

As 95 teses de Lutero

Em outubro de 1517, Lutero organizou um debate sobre a prática de vender indulgências. Ninguém compareceu, e, então, ele resolveu enviar suas teses diretamente a Alberto de Brandenburgo, arcebispo de Mainz.

Ao mesmo tempo, ele fixou as 95 teses no portão da igreja de Todos os Santos em Wittenberg, que serviu como uma espécie de outdoor na época. O movimento desencadeou um debate que abalou os alicerces da Igreja. Com a ajuda de uma imprensa ainda relativamente nova, Lutero foi capaz de espalhar sua mensagem de forma rápida.

Em 2017, o dia 31 de outubro marcará o 500º aniversário da Reforma Protestante. A partir desta segunda-feira (31/10), uma série de eventos e exposições lembrará o ato revolucionário e o nascimento do protestantismo.

Quem foi Lutero E o que ele pregava?

Martinho Lutero (1483-1546) foi um sacerdote católico alemão, o principal personagem da Reforma Protestante realizada na Europa no século XVI, que contestava o poderio da Igreja Católica, o comércio de cargos eclesiásticos, a venda de dispensas, de indulgências e de relíquias sagradas.

Qual era o objetivo inicial do monge Martinho Lutero em 1517?

Martinho Lutero queria apenas discutir os problemas na Igreja Católica, mas o que aconteceu na cidade alemã de Wittenberg em 31 de outubro de 1517 mudaria para sempre a Alemanha, a Europa e o mundo cristão. Para entender a agitação que Lutero desencadeou com suas 95 teses, é preciso voltar à época em que ele viveu.

Foi um monge e teólogo alemão que viveu entre 1483 e 1546?

Martinho Lutero foi um monge e teólogo, nascido em Eisleben, Alemanha, em 10 de novembro de 1483 e falecido em 18 de fevereiro de 1546, na mesma cidade. Foi o responsável pelo início do movimento da Reforma Protestante, no século XVI.

Qual era a ideia de Lutero?

Entre as teses mais importantes, destacou-se, principalmente, a afirmativa da fé cristã como único caminho para salvação eterna e a Bíblia como única fonte para a fé. Essas ideias foram lançadas contra a postura da Igreja que em 1520 excomungou Lutero pelos seus ideais reformistas.