O início da guerra de libertação de Angola 1961

Fevereiro de 1961: Início da Guerra Colonial

A 4 de fevereiro, o Movimento Popular e Libertação de Angola (MPLA), que era apoiado pela União Soviética e por Cuba, atacou a prisão de São Paulo, em Luanda, e uma esquadra da polícia. Foram mortos sete polícias. E no norte do território, a UPA (União das Populações de Angola), que se dedica sobretudo à guerrilha rural, desencadeou vários ataques contra a população branca. Angola foi a primeira colónia onde se iniciou a luta armada organizada contra o domínio português.

Março de 1961: Massacres em Angola

São perpetrados massacres nas regiões de São Salvador e Dembos e nos distritos coloniais de Luanda, Kwanza Norte e Uíge, em Angola, depois da agitação da UPA. Fontes da época falam na morte de 1.200 brancos e 6.000 negros. Assistiu-se à destruição de fazendas, postos administrativos e destacamentos da polícia por parte de bakongos. As operações do Exército português contra a UPA prolongaram-se durante oito meses.

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Resgate de baixas do exército português em Angola (1962)Foto: casacomum.org/Arquivo Mário Soares

Abril de 1961: Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias

Sob os auspícios do rei Hassan II, a Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP), criada por iniciativa do MPLA, do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) e da Liga de Goa, reuniu-se pela primeira vez em Casablanca (Marrocos), de 18 a 20 de abril. O seu objetivo era “coordenar os esforços dos movimentos nacionalistas e estabelecer os meios efectivos para iniciar a luta contra o colonialismo português”. Em Portugal, o mês de abril fica também marcado pela “Abrilada”, a tentativa falhada de golpe militar contra Salazar liderada por Botelho Moniz, ministro da Defesa.

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A CONCP voltou a reunir-se em Dar-Es-Salam, em 1965, para a II Conferência (da esq. para a dir.) Agostinho Neto, Gaston Sumialat, Amílcar Cabral, Mohamed Babu, Eduardo Mondlane e Mohamed MeghracuiFoto: casacomum.org/Arquivo Mário Soares

Junho de 1961: A fuga dos estudantes de Portugal para a luta de independência

Um grupo de 60 estudantes de Angola, Moçambique, Cabo Verde e de outras colónias fogem de Portugal e da ditadura de Salazar para se juntarem à luta de libertação. A fuga clandestina mudou o futuro dos países africanos de expressão portuguesa. Alguns destes nacionalistas viriam a ser presidentes, ministros, generais ou médicos e teriam um papel relevante na condução do destino dos seus países. Os ex-Presidentes de Cabo Verde, Pedro Pires, e de Moçambique, Joaquim Chissano, fazem parte dos jovens que deixam Lisboa, Coimbra e Porto, com o apoio do Conselho Mundial das Igrejas. A fuga passa por Espanha, França e Alemanha.

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Muitos estudantes que fugiram de Portugal, em 1961, passaram pela cidade alemã de BonaFoto: picture-alliance/dpa/P.Almasy

Agosto de 1961: Perda da Fortaleza de Ajudá

O recém-criado Daomé (atual Benim), antiga colónia francesa na África Ocidental, ocupa a Fortaleza de São João Baptista de Ajudá. Com 4,5 hectares, era uma das colónias mais pequenas do mundo. A fortaleza foi fundada em 1680 pelos portugueses e serviu, sobretudo, como entreposto comercial, nomeadamente de escravos. Portugal só reconheceu a soberania do Benim sobre a fortaleza em 1975. Foi o primeiro território ultramarino em África que Portugal perdeu no século XX.

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A Fortaleza de São João Baptista de Ajudá, também conhecida como Feitoria de Ajudá, localiza-se na cidade de Uidá, no BenimFoto: cc by sa Tienstwatrankil

Dezembro de 1961: Fim do domínio português na Índia

Os mais de 450 anos de domínio português na Índia terminam a 18 de dezembro, quando as tropas indianas entram em Goa, Damão e Diu, quase sem resistência. A integração da Índia Portuguesa na União Indiana era exigida pelo primeiro-ministro indiano, Jawaharlal Nehru, desde a independência do império britânico, em 1947. “Não prevejo possibilidade de tréguas nem prisioneiros portugueses, assim como não haverá navios rendidos, pois sinto que apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos”, tinha escrito Salazar numa mensagem enviada ao governador do Estado Português da Índia, General Vassalo e Silva. Porém, os soldados recusam-se a lutar perante o poder militar da Índia.

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Jawaharlal Nehru foi o primeiro primeiro-ministro da Índia, de 1947 até 1964Foto: Getty Images

1962: Criação da FPLN

No decurso da I Conferência de Forças da Oposição, a decorrer em Argel, em dezembro, é criada a Frente Patriótica de Libertação Nacional (FPLN), organização de inspiração comunista e de luta armada. É a partir de Argel que emite a Rádio Voz da Liberdade, emissora clandestina da FPLN dirigida por Piteira Santos e Manuel Alegre (foto), que teve um papel importante na luta contra o colonialismo português. No norte de Angola, os portugueses constroem os primeiros aldeamentos estratégicos para controlar melhor a população indígena, que é obrigada a abandonar as suas terras e é concentrada em novas aldeias vigiadas pelos militares. A estratégia é repetida nos anos seguintes noutras colónias.

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Manuel Alegre foi locutor da Rádio Voz da liberdade” até 25 de abril de 1974Foto: M.Riopa/AFP/GettyImages

1963: Luta armada alarga-se à Guiné

A 23 de janeiro de 1963, face à intransigência do regime fascista português, a luta armada nas colónias portuguesas alarga-se à Guiné-Bissau. A guerra inicia-se com o ataque do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) ao quartel de Tite, no sul do país. O PAIGC conta com o apoio da Guiné-Conacri, independente desde 1958.

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Guerrilheiros do PAIGC deslocando-se num carro blindado na Guiné-BissauFoto: casacomum.org/ Documentos Mário Pinto de Andrade

1964: Batalha da Ilha do Como na Guiné-Bissau

A Ilha do Como torna-se num dos símbolos da luta do PAIGC devido à operação realizada, no início de 1964, pelas tropas portuguesas que pretendiam reocupar a ilha. A maior batalha das guerras africanas de Portugal durou 72 dias. Os combatentes do PAIGC conseguiram impedir o regresso dos militares à base estratégica na ilha.

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Guerrilheiros do PAIGC na ilha guineense do Como (1964)Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral

Setembro de 1964: Início da guerra em Moçambique

Perante a intolerância do regime português, a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) inicia a luta armada em Moçambique (foto) em 25 de setembro de 1964 com o ataque a Chai, em Cabo Delgado. Antes desta primeira ação armada, a guerrilha tinha já iniciado a sua propaganda política, especialmente entre os macondes, etnia de religião animista que ocupa aquela zona. A Organização da Unidade Africana (OUA) reconhece o MPLA como “único representante legítimo do povo de Angola” e concede-lhe auxílio diplomático e logístico. No mesmo ano, é criada em Genebra, na Suíça, a Ação Socialista Popular (ASP), que elege Mário Soares como secretário-geral.

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Guerrilheiros e população em Moçambique durante a Guerra Colonial (c. 1968)Foto: casacomum.org/Arquivo Mário Soares

Outubro de 1964: MPLA abre Frente Leste

Depois da independência da Zâmbia, o MPLA abre a Frente Leste, aumentando, desta forma, a sua zona de influência. Antes operava principalmente em Cabinda e a norte de Luanda. Já a FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), outro movimento independentista, tinha a sua área de atuação no norte de Angola, junto à fronteira com o Zaire (atual República Democrática do Congo). O MPLA abandonará a Frente Leste em 1973 devido a problemas de abastecimento.

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Mário Pinto de Andrade com guerrilheiros do MPLA na Frente Leste, em Angola (1971)Foto: casacomum.org/Fundo Mário Pinto de Andrade

Fevereiro de 1965: Assassinato de Humberto Delgado

No dia 13 de fevereiro, o general Humberto Delgado é raptado e assassinado pela PIDE, os serviços secretos portugueses, em Vila Nueva del Fresno, perto de Badajoz, Espanha, com a colaboração da polícia política do regime fascista de Franco. O “general sem medo” tinha regressado clandestinamente a Portugal para participar numa reunião que alegadamente se destinava a preparar um novo golpe militar contra o regime de Salazar.

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A transladação dos restos mortais de Humberto Delgado para o Panteão Nacional aconteceu a 5 de outubro de 1990Foto: Arquivo Fotográfico Humberto Delgado/Torre do Tombo

Junho de 1965: ONU endurece posição

Com o agravamento da situação em Angola, na Guiné-Bissau e em Moçambique, aumentam as condenações da política colonial portuguesa por parte da Assembleia-Geral, Conselho de Segurança e Comissão de Descolonização da ONU. No dia 10 de junho, a Comissão passa a falar em “territórios sob dominação portuguesa” e reconhece a legitimidade das lutas de libertação nacional. Aos Estados é pedido que não forneçam armas a Portugal enquanto o país mantiver a sua política colonial.
Apesar de alguns estudos para expandir a guerra a Cabo Verde, o PAIGC prefere manter a luta no continente na Guiné-Bissau devido ao difícil acesso às ilhas.

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A Organização das Nações Unidas (ONU) endureceu as críticas à política colonial portuguesaFoto: DW/F. Görner

Janeiro de 1967: Salazar aceita reivindicações de Pequim

Depois de confrontos em Macau entre o Exército português e manifestantes influenciados pelo Governo da República Popular da China, Salazar cede e aceita as reivindicações de Pequim. Liberta todos os presos políticos, proíbe no território atividades do Governo de Taiwan e aceita reconhecer a soberania chinesa. A República Popular da China usa Macau como porta de entrada e saída de divisas e opõe-se à sua descolonização.

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Macau foi administradao por Portugal durante mais de 400 anosFoto: Getty Images

Julho de 1967: Rádio Libertação do PAIGC inicia emissões

Em julho, o PAIGC inicia as emissões da sua Rádio Libertação na Guiné-Bissau. A emissora foi um dos vários meios criados pelo partido fundado por Amílcar Cabral para difundir informação. Para divulgar os seus objetivos e êxitos militares, o PAIGC também criou boletins informativos e estabeleceu contactos com a imprensa internacional.

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Operador de rádio do PAIGC, no interior da Guiné-BissauFoto: casacomum.org

1968: Novo Governo em Portugal

Aos 79 anos, Salazar sofre um acidente ao cair de uma cadeira e é afastado do Governo. É substituído no cargo por Marcelo Caetano (foto), antigo ministro das Colónias (1944-47) e fervoroso ativista do “Estado Novo”. Em 1962 tinha defendido uma tese federal para as colónias como “Estados Unidos Portugueses”. Esta nomeação cria a expectativa de uma possível solução política para a questão ultramarina, mas não houve mudanças fundamentais. O general António de Spínola assume o comando militar na Guiné, onde inicia uma operação político-militar designada “Para Uma Guiné Melhor”. O objetivo era conquistar a simpatia dos habitantes através da sua promoção socioeconómica e, dessa forma, acabar com a sublevação que tinha transformado a Guiné-Bissau na colónia militarmente mais difícil para os portugueses.

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Marcelo Caetano apresenta o seu governo ao Presidente da República, Américo Tomás, após a substituição de Oliveira Salazar (1968)Foto: casacomum.org/Arquivo Mário Soares

Fevereiro de 1969: Assassinato de Eduardo Mondlane

Em 3 de fevereiro, Eduardo Mondlane (à dir. na foto), um dos fundadores e primeiro presidente da FRELIMO, é assassinado em Dar-es-Salam, Tanzânia, ao abrir uma encomenda que continha uma bomba. Apesar das circunstâncias da sua morte nunca terem sido esclarecidas, acredita-se que a PIDE, a polícia política portuguesa, tenha sido a autora do ataque. Mondlane estudou antropologia e sociologia nos Estados Unidos e trabalhou para as Nações Unidas. O seu sucessor é Uria Simango, que será substituído na liderança do partido por Samora Machel em 1970. Simango abandona então a FRELIMO e junta-se ao Comité Revolucionário de Moçambique (COREMO), criado em 1964 e com bases na Zâmbia.

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Eduardo Mondlane (à dir. na foto), primeiro presidente da FRELIMO, na II Conferência da CONCP, em Dar-Es-Salam (1965)Foto: casacomum.org/ Documentos Mário Pinto de Andrade

Abril de 1969: Marcelo Caetano visita colónias

Em abril desse ano, Marcelo Caetano (foto) visita Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Durante o seu Governo, Salazar nunca chegou a sair da Europa. A Acção Nacional Popular (ANP), o partido único, vence as eleições de 26 de outubro para a Assembleia Nacional. Caetano faz campanha a favor da manutenção das colónias e nega qualquer negociação com os movimentos independentistas: “Portugal não pode ceder, não pode transigir, não capitular na luta que se trava no Ultramar.” O nome da polícia política portuguesa muda de PIDE para DGS.

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Marcelo Caetano no seu programa semanal "Conversas em Família", transmitido pela Radiotelevisão Portuguesa (RTP)Foto: casacomum.org/Arquivo Mário Soares

Setembro de 1969: Início da construção de Cahora Bassa

O consórcio hidroelétrico do Zambeze (ZAMCO) inicia a construção de Cahora Bassa, na província de Tete. Um dos objetivos da barragem é tornar o rio Zambeze impermeável, evitando o avanço da FRELIMO para o sul. No consórcio participam empresas de Portugal, Suíça, África do Sul, França, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos da América. Seria a maior barragem em África e uma das maiores do mundo com uma potência de 3000 MW. A albufeira de Cahora Bassa começaria a encher em dezembro de 1974.

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A barragem de Cahora Bassa situa-se no Rio Zambeze, na província moçambicana de TeteFoto: DW/M. Barroso

BIBLIOGRAFIA:

Afonso, Aniceto/Gomes, Carlos de Matos, Os Anos da Guerra Colonial - 1961.1975, Lisboa, Quidnovi, 2010.

Cervelló, Josep Sánchez, A Revolução Portuguesa e a sua Influência na Transição Espanhola (1961-1976), Lisboa, Assírio & Alvim, 1993.

Marques, A. H. Oliveira, Breve História de Portugal, Lisboa, Editorial Presença, 2006.

Rodrigues, António Simões (coordenador), História de Portugal em Datas, Lisboa, Temas e Debates, 2000 (3ª edição).

Agradecimento especial:

Casa Comum (Fundação Mário Soares)

Quais são os principais movimentos de libertação de Angola?

A independência de Angola foi estabelecida a 15 de Janeiro de 1975, com a assinatura do Acordo do Alvor entre os quatro intervenientes no conflito: Governo português, FNLA, MPLA e UNITA. A independência e a passagem de soberania ficou marcada para o dia 11 de Novembro desse ano.

Qual o nome do fundador do Movimento pela Libertação de Angola?

Assim, em 10 de dezembro de 1956, numa reunião em Luanda, Viriato da Cruz e Mário Pinto de Andrade redigem o "Manifesto de 1956" por um "amplo Movimento Popular de Libertação de Angola", como um programa de reagrupamento das lutas nacionalistas.

Como foi a guerra da Angola?

A Guerra Civil Angolana foi um conflito armado interno, que começou em 1975 e continuou, com interlúdios, até 2002. A guerra começou imediatamente depois que Angola se tornou independente de Portugal em novembro de 1975.

Quais foram as consequências da independência da Angola?

Consequências. Logo depois da declaração da independência reiniciou-se a Guerra Civil Angolana (já estava em curso desde fevereiro de 1975) entre os três movimentos, uma vez que a FNLA e, sobretudo, a UNITA não se conformaram nem com a sua derrota militar nem com a sua exclusão do sistema político.