Show Especialistas apontam que há uma série de ações que o poder público deveria tomar para, ao menos, reduzir o impacto de alagamentos, enchentes, deslizamentos de terra e desmoronamentos. São eventos recorrentes e catastróficos, que custam vidas e trazem transtornos de toda sorte – do trânsito travado à interrupção de serviços públicos essenciais, passando por prejuízos milionários à economia. O G1 apurou com o governo ou com a prefeitura das capitais de 5 estados quais operações já estão em curso e quais se encontram ainda em fase de planejamento para enfrentar essas situações extremas. Também foram ouvidos pesquisadores das áreas de planejamento urbano e ambiental. Estudiosos atentam para a necessidade de permeabilização das cidades. Ou seja, é preciso assegurar que a água da chuva passe pelo solo e seja absorvida – e não se acumule na superfície. São exemplos de áreas permeáveis: grandes espaços verdes (como parques) e locais com solo nu ou vegetação rasteira (jardins, gramados, arbustos). Não se deve descuidar, ainda, da manutenção das bacias de rios, da recuperação de matas ciliares (vegetação às margens de rios) e da implementação de políticas habitacionais que viabilizem a saída de moradores de zonas de risco. Em conjunto, esse apanhado de iniciativas ajudaria a enfrentar mesmo situações excepcionais, em que o volume da água da chuva supera abundantemente as previsões, como ocorrido em Belo Horizonte em janeiro, mês em que a capital mineira teve maior registro de precipitação em 110 anos. Há cidades e estados que criaram sistemas de alerta para áreas sujeitas a enchentes ou a deslizamentos. Ou que iniciaram processo de contenção de encostas, limpeza de bocas de lobo e desassoreamento de rios. São condutas indispensáveis – mas insuficientes para afastar em definitivo riscos de novas calamidades. Veja, abaixo, medidas que já foram tomadas e o que ainda precisa ser feito em cidades atingidas por fortes chuvas nos últimos meses ou anos: São Paulo
Gif mostra trecho da Ponte das Bandeiras, na Marginal Pinheiros, antes e depois de alagamento desta segunda-feira (10) — Foto: Google Street View/Reprodução; Roberto Casimiro/Fotoarena/Estadão Conteúdo Para especialistas, a construção de piscinões não é suficiente para absorver a chuva de grande intensidade nas marginais. A limpeza urbana e o aumento da calha de pequenos rios que deságuam no Tietê e no Pinheiros poderiam evitar inundações a curto prazo. A longo prazo, é preciso pensar em novo planejamento urbano e investir em soluções para os rios e córregos que deságuam no dos principais. Segundo o secretário estadual de Infraestrutura e Meio Ambiente, Marcos Penido, o sistema de drenagem e bombeamento das marginais funcionou normalmente até certo momento durante o temporal. Mas não deu conta do volume de chuva. Penido afirma que o modelo atual não foi pensado para tempestades como a desta segunda.
Secretário de Infraestrutura de SP fala sobre chuva: ‘Sistema de drenagem não deu conta’ "Não há dúvida de que problema vai continuar ocorrendo até que a cidade tenha capacidade de absorver essa água. Não tem solução mágica. É continuar trabalhando e investindo", afirmou Covas.
Para Anderson Kazuo Nakano, que foi diretor do Departamento de Urbanismo da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano da Prefeitura de São Paulo, as obras de aprofundamento do leito dos rios não ajudam a longo prazo: "A gente vai aprofundando esse leito sem resolver os problemas dos rios e córregos que deságuam lá". Segundo o especialista, é preciso:
"Sem adotar esse conjunto de medidas, você vai aprofundando os rios, mas a quantidade de água que chega neles só aumenta", diz Nakano.
São Paulo tem chuva recorde e dia de caos para motoristas e moradores Belo HorizonteCarro em rua danificada por enchentes causadas por fortes chuvas em Belo Horizonte, em imagem do último dia 29 — Foto: Cristiane Mattos/Reuters Belo Horizonte teve em 2020 o mês de janeiro mais chuvoso da história. Os temporais causaram 13 mortes na capital mineira. Houve enchentes, desabamento de imóveis, barrancos e encostas, além de destruição de vias. Entre os mecanismos que, segundo especialistas evitaram mais mortes, está o sistema de alertas e monitoramento de condições climáticas, criado pela prefeitura em 2013. Ainda assim, segundo estudiosos, a cidade precisa repensar seu atual modelo de urbanização se quiser ter melhorias significativas e controle dos danos provocados pelas chuvas. De acordo com especialistas, novos desastres serão evitados apenas com projetos e obras que mudem Belo Horizonte em favor da concepção de uma cidade mais permeável, que cuide das bacias de rios e que tenha uma política habitacional de acordo com a realidade da população. A Prefeitura, o professor do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG) Rodrigo Lemos e o ambientalista Marcus Vinicius Polignano apontaram diferentes aspectos do que foi feito para a redução dos danos causados pela chuva. Dentre as medidas que deram certo e foram citadas por eles, estão:
O novo Plano Diretor de Belo Horizonte, que entrou em vigor em 5 de fevereiro, proíbe novas canalizações e prevê uma nova política de preservação dos córregos da cidade. No entanto, para os especialistas, as mudanças previstas pelo plano diretor com relação ao que será feito na cidade daqui em diante são insuficientes. Também é preciso refazer ou repensar o modelo de obras que já estão executadas. O professor Lemos aponta que uma política de habitação precisa ser pensada para evitar mortes, já que os locais que oferecem mais riscos são justamente aqueles onde os mais pobres buscam moradias, devido à falta de condições financeiras. Doutor em geografia e recursos hídricos, ele também avalia que o atual modelo de obras da prefeitura – focado nas bacias de detenção de águas – representa apenas uma etapa. Para Lemos, essa medida não é suficiente. A questão da impermeabilização do solo, o que impede a absorção de água, precisa ser repensada. O professor cita, por fim, cuidados com as bacias de rios e córregos.
Obras pra conter inundações devem ficar prontas em 5 anos em Belo Horizonte
Imagens de drone mostram destruição na Praça Marília de Dirceu, na Região Centro-Sul de BH Rio de JaneiroToneladas de terra e pedras foram levadas por água da chuva na Região Serrana do Rio de Janeiro em janeiro de 2011 — Foto: Reprodução/TV Globo O professor da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Marcelo Miguez, dos programas de engenharia urbana e ambiental, acredita que houve medidas importantes adotadas pelo estado após a tragédia na Região Serrana, como o mapeamento do risco e a criação de sistemas de alerta, ambas promovidas pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea). Ainda assim, o pesquisador considera que as políticas públicas no estado ocorrem com lapsos, o que, segundo ele, "quebra a possibilidade de ações mais efetivas". De acordo com a Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro, as seguintes ações já foram tomadas para todo o estado:
Segundo a Secretaria de Infraestrutura e Obras do governo do estado, foram tomadas medidas como:
A Prefeitura do Rio informou ter tomado medidas como:
O também professor da Escola Politécnica da UFRJ Leandro Torres, especialista em recursos hídricos, cita estes exemplos de ações que faltam ser implementadas:
Torres avalia que mais da metade do trabalho desenvolvido pela Defesa Civil do Rio de Janeiro tem foco em medidas não-estruturais — planejamento, ações de conscientização da população etc. Como uma ação positiva do estado, o especialista citou a atuação Escola de Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro (EsDEC), que trabalha com a qualificação de profissionais do órgão no Rio de Janeiro. Mas o professor ponderou que "a gestão de risco de desastres é uma tarefa ampla, que não se inicia no momento em que o desastre ocorre". A Secretaria de Infraestrutura e Obras informou que "aguarda autorização do Ministério do Desenvolvimento Regional para o início de outras obras de contenções de encostas na região". RecifeRua Sebastião Alves, no Parnamirim, na Zona Norte do Recife, alagada em 13 de junho de 2019 — Foto: Mhatteus Sampaio/TV Globo O Grande Recife registrou 20 mortes relacionadas à chuva em 2019, quando a região enfrentou dois graves episódios de temporais (em junho e em julho). As mortes ocorreram por causa de afogamentos e de deslizamentos de barreiras. Algumas das cidades afetadas decretaram situação de emergência. Em julho, mais de 1,6 mil pessoas precisaram deixar suas casas na Região Metropolitana e na Zona da Mata devido aos alagamentos. De acordo com a Defesa Civil de Recife, depois das mortes de 2019 foram tomadas medidas como:
Com relação à aplicação de lonas em morros, secretário de Defesa Civil do Recife, coronel Cássio Sinomar, afirmou: "Isso é um paliativo, mas é necessário e é isso que tem salvado vidas e evitado maiores deslizamentos". Segundo o secretário-executivo da Defesa Civil de Pernambuco, coronel Lamartine Barbosa, o estado fez uma parceria com a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, para atualizar a "setorização de risco de deslizamentos de encostas". "Estamos focando a atualização desse mapa em Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Abreu e Lima, Camaragibe, Goiana, Barreiros e Fernando de Noronha. Foram os municípios afetados por desastres em 2019", afirmou Barbosa. De acordo com Jaime Cabral, professor de engenharia civil da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Universidade de Pernambuco (UPE), é preciso, sistematicamente, que a gestão pública:
Santa CatarinaAo longo das últimas décadas, Santa Catarina registrou diversos casos de enchentes com efeitos graves, como Tubarão em 1974; Blumenau, no Vale do Itajaí, em 1983; e inúmeras ocorrências devido a chuvas em 2011. Em 2008, entretanto, a situação foi pior: os temporais afetaram 60 municípios e deixaram 135 mortos, além de 9.390 desalojados. Segundo a Defesa Civil catarinense e especialistas, aquele ano é considerado um divisor de águas com relação aos sistemas de proteção e prevenção. Desde então, o estado:
Apesar de Santa Catarina ter mapeamento das áreas de risco, esse levantamento precisa ser atualizado. "De um lado, temos a Defesa Civil fazendo um trabalho muito bom. Do outro, [temos] os planos diretores municipais permitindo uso de áreas inadequadas. Com essas chuvas intensas e novas ocupações, fica evidente a necessidade de atualização de dados – e que se alimente uma política que realmente contemple a ideia de cidade resiliente", afirmou o doutor em recursos hídricos Júlio Leão, professor dos cursos de Engenharia da Universidade do Vale do Itajaí. As ocupações em áreas irregulares também devem ter mais atenção do poder público, avalia a professora Amanda Pires, coordenadora do Laboratório de Estudos de Riscos e Desastres (Labred) da Universidade do Estado de Santa Caarina (Udesc). "Junto com essas medidas estruturais, as medidas não estruturais devem ser adotadas. Senão o problema vai persistir. Aqui em Florianópolis, a gente sabe que tem alagamentos também. No meu ponto de vista é um problema de planejamento também, porque a gente sabe que tem períodos de mais chuvas e não tem escoamento da água, por exemplo, para as baías", afirma a professora. "São fatores do meio físico que influenciam e que tem que ser olhados de uma forma muito criteriosa quando se faz um planejamento urbano."
Tragédia climática que matou 135 pessoas em SC completa 10 anos O que poderia ser feito para evitar os desastres ambientais?Apesar das individualidade de cada empresa, o monitoramento, a prevenção, a manutenção de um levantamento de riscos, o respeito à legislação vigente, o cumprimento de condicionantes ambientais são os melhores meios para evitar desastres ambientais.
Tem como evitar os desastres naturais?Prevenção aos desastres naturais
Existem dois tipos de medidas preventivas básicas: as estruturais e as não estruturais. As medidas estruturais envolvem obras de engenharia complexas e caras, como barragens, diques e alargamento de rios.
Como os desastres ambientais podem ser evitados Brainly?Abaixo, damos exemplos de ações que podem ser realizadas para prevenir alguns tipos de desastre:. Ambiental. - Conscientização do povo; - Leis ambientais rígidas; - Fiscalização;. Econômico. - Geração de emprego; - Distribuição de renda; ... . Saúde. - Aumento da rede de saúde, hospitais e profissionais; - Capacitação e pesquisas;. Qual é a melhor maneira de prever um desastre natural?Prevendo erupções
Cientistas e técnicos monitoram a área e o comportamento do vulcão, mesmo estando inativos, na tentativa de prever um desastre. Vulcões causam tremores, mas eles tendem a aumentar quando a erupção pode acontecer. Por isso, um dos equipamentos usados pelos cientistas é o nosso conhecido sismógrafo.
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