O que Kant quis dizer com conhecimento com a experiência e conhecimento da experiência?

Conforme Kant, nosso ânimo ou aparelho representacional é constituído por três faculdades ou capacidades distintas:

- A faculdade de conhecer (ciência), que é objetiva e universal;

- A faculdade de apetecer (ética), também objetiva e universal e;

- A faculdade de julgar (estética), essa subjetiva e universal.

Na primeira faculdade, a Razão é limitada pela representação. Na segunda, a Razão determina os parâmetros da ação, já que é incondicionada, isto é, não depende da experiência. E na última, nossa subjetividade percebe (e daí vincula as outras duas e as une) a beleza na obra humana. É sentimento (de prazer e desprazer) que exprime juízos de gostos e a reflexão que exprime juízos estéticos. Vamos detalhar cada uma destas faculdades, na ordem mesma que fez Kant. Começaremos, pois, pela faculdade de conhecer.

Em sua obra “Crítica da Razão Pura”, Kant tenta resolver os problemas colocados pelas duas posturas estudadas acima, tentando compreender o papel da razão, seus usos e limites, fazendo um rastreamento desta. Para isto, ele realizou aquilo que chamou de Revolução Copernicana em filosofia. Sabemos que a revolução copernicana foi realizada na área da astronomia, alterando o sistema geocêntrico pelo heliocêntrico. Em filosofia, ela significa a mudança de enfoque no objeto, de modo que antes a mente deveria se adaptar a ele e agora, o objeto deve se adaptar à mente. Voltamos ao cartesianismo? Não. E eis a razão.

Kant faz a distinção entre noúmeno (coisa em si) e fenômeno (aparição). Esta distinção evidencia que ao homem só é possível conhecer as coisas como aparecem à mente, jamais em si mesmas (seja pelas ideias inatas cartesianas, seja pela ideia como cópia exata da sensação). O fenômeno é uma representação que o sujeito sofre quando algo o modifica. Não conheço o que me afeta, apenas sei que sou afetado por algo do qual posso criar uma imagem. Esta implica vários desdobramentos.

Em primeiro lugar, o ânimo percebe algo das sensações porque temos formas próprias para isso. A nossa intuição, como Kant chama a sensação, é determinada a priori pelas formas da sensibilidade que são o espaço e o tempo. Observem: espaço e tempo não são mais qualidades inerentes aos objetos e sim condições anteriores à experiência que possibilitam que estas ocorram. A mente não é uma cera passiva, como queria Locke, ela organiza o material que recebe da sensação segundo as formas do espaço e do tempo. Mediante a intuição, os objetos nos são dados e a doutrina que estuda os dados da sensibilidade é a Estética Transcendental.

Em segundo lugar, o ânimo ordena e classifica coisas segundo uma série de categorias que não são intuídas, mas deduzidas do intelecto. A ciência do intelecto em geral é a lógica. A Lógica Transcendental é a doutrina que estuda a origem dos conceitos e se ocupa especificamente dos conceitos a priori que se referem aos objetos que, nesse caso, não são mais meramente dados e sim pensados. Apenas a sensibilidade é intuitiva. O intelecto é discursivo e por isso seus conceitos são funções que unificam, ordenam, sintetizam o múltiplo dado em uma intuição, em uma representação comum: isso significa propriamente pensar, e pensar é julgar, sendo, pois, o intelecto, a faculdade de julgar (e não a razão).

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Ora, o êxito da Revolução Copernicana operada por Kant é que o fundamento do objeto está no sujeito, isto é, a unidade do objeto na experiência é constituído, na realidade, na unidade sintética do sujeito pensante, denominada de Apercepção Transcendental. O Eu penso é a unidade originária e suprema da autoconsciência comandada pelas 12 categorias, portanto, princípio de todo conhecimento humano. Além do mais, intuição e conceito são heterogêneos entre si (um dado, o outro pensado) exigindo um terceiro termo que seja homogêneo entre estes para possibilitar o conhecimento. Juízos feitos somente por intuição (sem conceito) são juízos cegos, vagos. Juízos feitos somente com conceito (portanto, sem intuição) levam-nos aos erros da imaginação (paralogismo). Logo, o juízo que pode ser feito para que conheçamos algo tem de aliar intuição em conceito, necessariamente. O fenômeno dado na intuição, aliado às categorias do intelecto, torna a coisa objeto para mim. Kant chama esse procedimento de Esquema Transcendental, produzido pela Imaginação Transcendental.

Dessa forma, verifica-se a possibilidade da ciência como juízos universais e necessários realizados pelos esquemas a priori da razão humana. Porém, o conhecimento limita-se ao fenomênico, evidenciando que não podemos estender nossos juízos às coisas como são em si mesmas, mas somente ao modo como elas aparecem para nós. A coisa em si (noúmenon) nos escapa, não pode ser conhecida, somente pensada. Trata-se apenas da primeira divisão da Lógica Transcendental, chamada de Analítica Transcendental. Cumpre agora passar à segunda parte.

Esta segunda divisão, chamada de Dialética Transcendental, constitui uma crítica ao uso hiperfísico do intelecto, tendo como finalidade desvelar as aparências, ilusões e enganos provocados pela pretensão de ir além dos fenômenos. A razão é o intelecto quando este se lança para além do físico, do condicionado, buscando o incondicionado, fugindo do horizonte da experiência. A Razão é a faculdade do incondicionado, isto é, é metafísica e é destinada a permanecer como pura exigência do absoluto e incapaz de atingi-lo pelo conhecimento. A Razão não conhece objetos.

Portanto, o intelecto é a faculdade de julgar, a Razão é a faculdade de silogizar, isto é, de pensar em conceitos e juízos puros, deduzindo mediatamente conclusões particulares a partir de princípios supremos e não condicionados.

Por João Francisco P. Cabral
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

Filosofia - Brasil Escola

O que Kant pensa sobre a experiência?

Kant mostra que “todo o conhecimento se inicia com a experiência, isso não prova que todo ele derive da experiência” (KANT, 1997, p. 36), ou seja, para conhecer é preciso tanto a razão com seus instrumentos, como a experiência com os fatos da realidade empírica.

O que Kant concluiu sobre o conhecimento?

De acordo com o filósofo alemão, o conhecimento tem origem em juízos universais, mas também possui influência da sensibilidade. A partir da teoria de Kant, os objetos são alvo de sensações que geram impressões.

Qual é o pensamento de Kant?

Frases de Kant.
“A missão suprema do homem é saber o que precisa para ser homem.”.
"Duas coisas que me enchem a alma de crescente admiração e respeito: o céu estrelado sobre mim e a lei moral dentro de mim.".
“O sábio pode mudar de opinião. ... .
“Não somos ricos pelo que temos, e sim pelo que não precisamos ter.”.

Qual a importância do conhecimento para Kant?

O conhecimento, para Kant, não é mero reflexo dos objetos, ele parte do sujeito, da mente humana que produz a imagem das coisas e as organiza para explicar o universo. Com isso, Kant criou a base para o "idealismo alemão", o ápice da filosofia alemã, com seus expoentes J.G. Fichte, F.W.J. von Schelling e G.W.F. Hegel.