O relatório mundial sobre índices de qualidade de vida divulgado hoje coloca o Brasil na posição de 8º pior país em desigualdade de renda, atrás apenas de nações africanas. O resultado é retrato do contraste entre bolsões de pobreza e riqueza no país. Show
Em Alagoas, estado com a segunda menor renda por habitante do país (atrás só do Maranhão), a marisqueira Jaqueline Araújo, 38, mora na favela Sururu de Capote, na orla lagunar de Maceió, e vive com R$ 180 por mês que recebe do Bolsa Família. Relacionadas"Desde setembro meu auxílio emergencial foi cortado e voltei para o Bolsa [Família]. Foi uma queda muito grande", disse. "Mas com o auxílio consegui comprar uma boa feira, além de comprar umas coisas para minha neta e um fogão de segunda mão." Jaqueline mora em um pequeno barraco com mais quatro pessoas: dois filhos, a nora e uma neta. A família sobrevive do que ela ganha do governo federal, além do que obtém com o trabalho de descascar o sururu (molusco típico pescado na lagoa Mundaú). "No Bolsa só consta o meu filho menor, o valor fica baixo. Agora comecei de novo a trabalhar, mas o sururu está acabando. Ele está muito pouquinho, não está rendendo. Dá menos de um quilo por lata; descasco por dia três latas, quando tem", disse. "Cada quilo descascado rende R$ 4." O índice de desigualdade de renda foi divulgado hoje pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento), em conjunto com o relatório do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Os dados dizem respeito às estatísticas referentes ao ano de 2019 e, portanto, não refletem o impacto da pandemia do novo coronavírus sobre os países. O ranking tem como base o coeficiente Gini, que mede desigualdade e distribuição de renda. O Brasil atingiu coeficiente de 53,9. Segundo o Pnud, para esse indicador, zero representa igualdade absoluta e 100, desigualdade absoluta. O país está atrás apenas de outros sete países do continente africano.
O resultado é semelhante ao registrado no ano passado, quando o país ocupou a 7ª pior posição em desigualdade. Ranking geral de qualidade de vidaApesar de ocupar o posto de oitavo país mais desigual do mundo, o Brasil tem um IDH considerado alto, de 0,765 (quanto mais próximo de 1, mais alto é o desenvolvimento humano). Os números do IDH recém-divulgados mostram que o Brasil perdeu cinco posições no ranking geral, passando do 79º para o 84º lugar, apesar do leve aumento no índice nacional, que foi de 0,762 para 0,765 entre os anos de 2018 e 2019. O IDH mede o progresso dos países em saúde, educação e renda. O ranking é liderado pela Noruega, cujo IDH é de 0,957. Na outra ponta, o Níger tem o pior índice, de 0,394. Os principais fatores que compõem o IDH são a expectativa de vida, os anos de escolaridade e o PIB (Produto Interno Bruto) per capita, que é a quantidade de riqueza produzida por um país dividida pelo número de habitantes. Elaine Maria, 28, é dona de casa e vive com os três filhos em uma pequena residência no sítio Cimapa, em Rio Largo, na Grande Maceió. Na casa, o esgoto é despejado a céu aberto. Beneficiária do Bolsa Família e desempregada, ela recebe R$ 212 para sustentar a casa. "Com esse dinheiro, só consigo comprar o que é básico", diz. Com o aumento do preço da carne, afirma, passou a fazer substituição do alimento por ovos, salame ou "o que for mais barato". RelacionadasQuem a ajuda é sua avó Júlia Maria da Conceição, 86, que recebe a aposentadoria de um salário mínimo. Entretanto, diz que não consegue bancar os remédios para diabetes e hipertensão, que custam em torno de R$ 200. A desigualdade de renda no Brasil é um dos destaques de um relatório de desenvolvimento humano divulgado hoje pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Segundo o estudo, o Brasil é o sétimo país mais desigual do mundo, ficando atrás apenas de nações do continente africano. O levantamento tem como base o coeficiente Gini, que mede desigualdade e distribuição de renda. Segundo o Pnud, para esse indicador, zero representa igualdade absoluta e 100 representa desigualdade absoluta. Os dados são de 2017 e, portanto, não dizem respeito à gestão de Jair Bolsonaro (sem partido), que assumiu a Presidência em 2019. Em 2017, o índice do Brasil foi de 53,3. O mesmo valor foi registrado por Botsuana. O país mais desigual do mundo é a África do Sul, que teve um índice Gini de 63. Lá, o apartheid, regime de segregação racial, vigorou por quase 50 anos. Entre os países no topo do ranking da desigualdade, estão Namíbia (59,1), Zâmbia (57,1), República Centro-Africana (56,2), Lesoto (54,2) e Moçambique (54) —todos países do continente africano. Segundo o relatório, o Brasil é mais desigual do que países como o Paraguai (48,8) e a Nicarágua (46,2). Na outra ponta, com um índice Gini de 25, a Ucrânia é o país com menor desigualdade entre sua população. Belarus e Eslovênia, ambos com índice Gini de 25,4, também se destacam pela igualdade na distribuição de renda. Apesar de ocupar o posto de sétimo país mais desigual do mundo, o Brasil tem um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) considerado alto, de 0,761 (quanto mais próximo de 1, mais alto é o desenvolvimento humano). Os 20 países mais desiguais do mundo
Em concentração de renda, Brasil fica atrás apenas do CatarO relatório do Pnud destaca, ainda, que apenas o Catar tem maior concentração de renda entre o 1% mais rico da população do que o Brasil. "A parcela dos 10% mais ricos do Brasil concentram 41,9% da renda total do país, e a parcela do 1% mais rico concentra 28,3% da renda", diz o texto. No Catar, a parcela do 1% mais rico concentra 29% da renda do país. Ajuste às desigualdades sociais faz IDH cair 24,5%Segundo o Pnud, o IDH mascara desigualdades. Por isso, eles criaram um índice que cruza dados de outras pesquisas para ajustar esse número. O Brasil é o país que mais perde posições no ranking quando o IDH é ajustado às desigualdades sociais. O segundo país que mais perde posições é Camarões, que despenca 22 lugares quando feito o ajuste do IDH às desigualdades. Betina Ferraz, chefe da unidade de desenvolvimento humano Pnud, demonstra preocupação com o alto índice de desigualdade verificado no Brasil. "O dado sobre desigualdade não piorou, nem melhorou, o que é muito ruim porque já é tão baixo que não tem como piorar. Temos várias 'noruegas' dentro do mesmo país, ilhas de prosperidades", disse a economista. Em nota, a assessoria da Casa Civil do governo de Jair Bolsonaro afirmou que o atual governo vem realizando transformações em todas as áreas apontadas no relatório e que o IDH divulgado hoje, que se refere ao ano de 2018, é "reflexo direto das políticas equivocadas que por décadas foram praticadas no Brasil". Onde estão localizados os países que apresentam os piores índices de distribuição de riqueza?Tem mais depois da publicidade ;) Os países menos desiguais em todo o mundo, conforme as medições do coeficiente de Gini, são Hungria (0,244), Dinamarca (0,247) e Japão (0,249). Em situação alarmante, além do Brasil e dos demais países mencionados, destacam-se a África do Sul (0,593) e a Namíbia (0,707).
Onde estão localizados os países que apresentam os piores índices de?Resposta: O Brasil possui um dos piores coeficientes de Gini do mundo, ficando empatado com Equador e estando à frente de países como a Bolívia, Camarões e Madagascar, segundo um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
Quais regiões do mundo apresentam maior e menor desigualdade?O Oriente Médio e o norte da África são as regiões mais desiguais do mundo, enquanto a Europa tem os níveis de desigualdade mais baixos.
Qual é o continente onde há maior concentração de países com desenvolvimento muito alto e baixo?Conforme dados divulgados em 2010 pela ONU, 42 das 169 nações pesquisadas possuem médias elevadíssimas, sendo que a maioria está localizada no continente europeu.
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