Por que uma parte do território da Rússia se localiza na Ásia e outra na Europa?

A tensão entre Rússia e Ucrânia culminou em ataques que começaram nesta quinta-feira (24). Dias após uma série de ameaças e do reconhecimento da independência de duas províncias separatistas, tropas russas invadiram o país vizinho.

Por que uma parte do território da Rússia se localiza na Ásia e outra na Europa?

Saiba onde fica a Ucrânia

Localizada na Europa, a Ucrânia também faz fronteira com a Polônia, Eslováquia, Hungria, Romênia, Moldávia, Belarus, Rússia e Crimeia (território anexado pelos russos em 2014). A distância em linha reta entre o centro geográfico do Brasil e o centro geográfico da Ucrânia é 10.686 km.

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Áreas alvo de ataque

Cidades como Kiev – a capital – e Kharkiv, as duas maiores do país, foram atacadas com mísseis e bombas. Tropas russas também desembarcaram em Odessa, que fica às margens do Mar Negro, e cruzaram a fronteira até Kharkiv.

Mapa da Ucrânia mostra locais que foram atacados pela Rússia — Foto: Arte g1

A bacia de Donbass é a mais importante fonte de energia e a maior região industrial da Ucrânia, segundo a "Encyclopedia of Ukraine", portal criado por pesquisadores do Instituto Canadense de Estudos Ucranianos (CIUS). Ela conta com indústrias de carvão altamente desenvolvidas, além de metalúrgicas e empresas diversas.

É nessa região do território ucraniano que ficam Luhansk e Donetsk, províncias separatistas que fazem fronteira com a Rússia.

Áreas de Donetsk e Luhansk, reconhecidas como independentes pela Rússia — Foto: Arte g1

Por que uma parte do território da Rússia se localiza na Ásia e outra na Europa?

Entenda os movimentos separatistas na Ucrânia

A conexão territorial entre os dois países – ambos ex-membros da União Soviética – garante à Rússia uma espécie de "zona de segurança", uma fronteira ocidental para proteger o território russo de possíveis invasões, da mesma forma que ocorreu durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.

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VÍDEOS: entenda conflitos entre Rússia e Ucrânia

Descrição: A questão sobre se a Rússia é um país basicamente europeu, asiático, eurasiático ou uma civilização única tem dividido os próprios russos há séculos. Estes debates sobre a "real" identidade russa se institucionalizaram em três escolas de pensamento principais: os ocidentalistas (para os quais a Rússia é um país basicamente europeu e, portanto, deve seguir o desenvolvimento ocidental), os eslavófilos (para os quais a Rússia não é nem europeia nem asiática, e sim uma civilização única, sem igual, e portanto deve seguir seu caminho próprio) e os eurasianistas (que defendem que a Rússia é uma síntese de Europa e Ásia, do princípio eslavo europeu com o princípio turco-mongólico asiático e desta síntese é que provém sua força). A pesquisa investiga historicamente estes debates e projeta uma utilização destes paradigmas para explicar as diferentes correntes de pensamento da Rússia atual.

Docente responsável: Angelo de Oliveira Segrillo

14 junho 2022

Por que uma parte do território da Rússia se localiza na Ásia e outra na Europa?

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Cidade portuária fundamental no mar Báltico, Kaliningrado possui o único porto da região que permanece livre de gelo durante todo o ano

Após a invasão militar russa na Ucrânia, dois países nórdicos tradicionalmente neutros reverteram sua política e pediram para ingressar na Otan, a aliança militar do Ocidente: Finlândia e Suécia.

Alguns analistas acreditam que a decisão é um "desastre" para Moscou, que sempre considerou a expansão da aliança uma ameaça para sua segurança.

Mas o presidente russo, Vladimir Putin, surpreendeu a muitos em maio de 2022, ao afirmar que não há "nenhum problema", desde que os novos membros da Otan não abriguem infraestrutura militar no seu território, especialmente armas nucleares.

O que ficou claro é que o mapa estratégico da região será totalmente diferente quando a Finlândia e a Suécia ingressarem na Otan.

"O mar Báltico será efetivamente convertido em um lago da Otan", segundo declarou recentemente Andrey Kortunov, chefe do Conselho de Assuntos Internacionais da Rússia, um centro de estudos sediado em Moscou, afiliado ao Ministério das Relações Exteriores russo.

De fato, com a Suécia e a Finlândia passando a integrar a Otan, a Rússia conservará cerca de 200 km no litoral do mar Báltico. Já os países da aliança ocuparão 90% dos outros 8.000 km de costa: Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Alemanha, Dinamarca e os novos membros, Suécia e Finlândia.

Mas, incrustado entre a Polônia e a Lituânia, fica o oblast de Kaliningrado - um exclave, região russa ladeada por outras nações.

Com pouco menos de um milhão de habitantes, Kaliningrado tornou-se um ponto estratégico nas divisões cada vez mais profundas entre o Ocidente e a Rússia.

Existem analistas que garantem que esse pequeno território é fundamental, tanto para a ofensiva de Moscou contra a Ucrânia, quanto para garantir suas defesas contra eventuais hostilidades dos países da Otan. E há até relatos de que a Rússia já instalou armas nucleares no local.

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O presidente russo Vladimir Putin, em visita a Kaliningrado em 2019

De Königsberg a Kaliningrado

Kaliningrado é atualmente um dos 46 oblasts da Rússia, mas é o único que não tem fronteira terrestre com o país. Além da sua importância estratégica e militar, Kaliningrado tem grande importância histórica, tanto para a Europa, quanto para a Rússia.

As origens históricas do território remontam a muito tempo atrás e apresentam estreita relação com o destino da Prússia Oriental e sua capital, Königsberg. A antiga cidade foi fundada em 1255 pelos Cavaleiros Teutônicos - uma cruzada católica de origem alemã que governou a Prússia.

Quando a Prússia Oriental se separou da Alemanha após a Primeira Guerra Mundial, o território seguiu sendo parte da Alemanha até princípios de 1945. No final da Segunda Guerra Mundial, ele foi conquistado pelo Exército Vermelho da União Soviética.

A Conferência de Yalta definiu a divisão do território entre a Polônia e a URSS, que foi formalizada em Potsdam, em 1945. Seu nome russo é derivado de Mikhail Kalinin, que foi um dos principais membros do movimento comunista bolchevique e chefe de Estado da União Soviética entre 1922 e 1946.

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Exercícios militares envolvendo a Frota Báltica vêm sendo regularmente realizados em Kaliningrado

Entre a Rússia e o Ocidente

Kaliningrado abriga o único porto do mar Báltico livre de gelo durante todo o ano. Por isso, a cidade portuária é fundamental, tanto para a Rússia quanto para os Estados bálticos, para garantir o transporte e o comércio em toda a região, onde as temperaturas costumam ficar abaixo de zero durante grande parte do inverno.

Mas, além do transporte e do comércio, Kaliningrado é uma região estrategicamente vital para a Rússia, devido à sua posição geográfica no mar Báltico e sua proximidade com a Otan. Ela abriga a Frota Báltica da Rússia e é o território mais ocidental de Moscou, perto do coração da Europa.

Em maio de 2022, a Frota Báltica anunciou que realizaria uma série de ataques com mísseis simulados do seu sistema Iskander, que possui capacidade nuclear. O sistema de mísseis Iskander foi introduzido pela primeira vez na região em 2016 e atualizado em 2018, como parte de uma estratégia russa para contrabalançar o desenvolvimento de um escudo de defesa antimísseis balísticos na Europa pela Otan.

Exercícios militares regulares com a participação da Frota Báltica vêm ocorrendo em Kaliningrado desde a invasão da Ucrânia.

"Kaliningrado é um ponto central das preocupações de segurança da Rússia desde que foi anunciada a primeira onda de ampliação da Otan, na década de 1990", segundo Ruth Deyermond, professora de segurança pós-soviética do Departamento de Estudos da Guerra do King's College de Londres.

"Inevitavelmente, nos períodos em que aumentam as tensões entre a Rússia e a Otan, também aumentam as preocupações sobre Kaliningrado", declarou ela à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.

Kaliningrado já é fortemente militarizada há anos, mas a presença militar russa na região foi reforçada depois da anexação da Crimeia pela Rússia em 2014. E, quanto mais se deterioram as relações entre a Rússia e o Ocidente, mais reforçada é a presença militar das duas partes na região.

"Não surpreende que essa região, que provavelmente é a parte da Europa com maior concentração de forças da Rússia e da Otan, seja agora o foco de maiores preocupações de segurança por ambos os lados", afirma Deyermond.

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O sistema de mísseis Iskander foi introduzido pela primeira vez em Kaliningrado em 2016

Os riscos

A Rússia não desmente, nem reconhece, que tenha instalado armas nucleares em Kaliningrado e costuma usar linguagem vaga sobre essas acusações.

"A instalação desta ou daquela arma, o deslocamento de unidades militares etc. em território russo são exclusivamente assuntos de soberania da Federação Russa", afirmou em 2018 o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov.

Mas algumas autoridades, como o presidente da Lituânia, Gitanas Nausėda, garantem que Moscou já instalou armas nucleares naquela região estratégica do Báltico.

Analistas militares acreditam que, se a Otan interviesse no conflito atual na Ucrânia ou se Moscou apontasse suas armas para outras ex-repúblicas soviéticas, como a Lituânia, Kaliningrado poderia ser uma plataforma de lançamento para um ataque da Rússia a esses países.

Mas Stefan Wolff, professor de segurança internacional da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, não acredita que este seja atualmente um cenário provável.

"Não tenho a impressão de que a Rússia esteja considerando seriamente uma escalada, nem que detenha os recursos para fazê-lo no momento", afirmou ele à BBC News Mundo. "Mas é uma possibilidade a longo prazo. Por isso, seria importante fortalecer agora as capacidades defensivas da Otan para dissuadir qualquer movimento da Rússia no futuro."

Os especialistas concordam que, quando a Suécia e a Finlândia passarem a ser membros da aliança, é provável que a Rússia fortaleça sua posição militar em Kaliningrado. Mas isso, segundo Ruth Deyermond, "deve ser provavelmente compreendido mais como algo de caráter defensivo. A Rússia estará protegendo seu território contra a Otan, e não se preparando para atacar a Polônia ou os estados bálticos."

Não se sabe quanto tempo pode demorar o processo de ratificação da inclusão da Suécia e da Finlândia no Otan. Normalmente, esse tipo de processo dura menos de um ano, mas já se afirmou que, neste caso, alguns membros da aliança poderiam pressionar para acelerar esse trâmite, como os Estados Unidos.

Enquanto isso, os especialistas acreditam que o território fortemente militarizado de Kaliningrado poderia tornar-se um ponto fundamental para a ofensiva da Rússia contra a Ucrânia.

"Ainda não é fundamental, mas sua importância pode aumentar se houver uma escalada entre a Rússia e a Otan ou se a Rússia iniciar operações de desestabilização nos Estados bálticos ou na Polônia", destaca Stefan Wolff.

Para Ruth Deyermond, o risco mais grave não é uma invasão deliberada, nem o uso intencional de armas nucleares. "O risco mais grave no Báltico é um erro de cálculo ou um mal-entendido que provoque uma escalada que ninguém deseja."

"A região é pequena, o terreno não oferece barreiras naturais significativas e há muito pessoal militar, muito próximos uns dos outros. Isso fornece condições favoráveis para que um acidente saia de controle", explica ela.

"Mas, enquanto todas as partes estiverem conscientes dessa possibilidade, como acredito que estejam, o risco pode ser administrado", assegura a especialista do King's College.

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Porque uma parte da Rússia se localiza na Ásia e a outra na Europa?

Por que a Rússia faz parte da Europa e da Ásia? O território da Federação Russa atravessa as fronteiras continentais entre a Europa e a Ásia. Pela convenção geográfica, a borda oriental da Europa fica nos Montes Urais e no Rio Ural, que flui dessas montanhas até a borda ocidental do Cazaquistão.

Por que a Rússia fica em dois continentes?

Os Montes Urais fazem as vezes de fronteira física aos continentes europeu e asiático, separando a Rússia em ocidental e oriental.

Qual o aspecto natural que marca a divisão do território russo entre a Europa e Ásia?

Montes Urais. Extensa cordilheira montanhosa localizada na Rússia, com cerca de 2.500 quilômetros de extensão, formam a fronteira tradicional entre a Europa e Ásia.

Que país tem uma parte do território localizado na Europa e outro na Ásia?

Os países que têm seus territórios divididos entre Ásia e Europa são: Armênia, Azerbaijão, Cazaquistão, Chipre, Geórgia, Rússia e Turquia. O maior país transcontinental do mundo é a Rússia, cujo território está em sua maior porção na parte asiática. No entanto, sua capital está na parte europeia.