IntroduçãoO Câncer de Próstata (CP) é o mais incidente na população masculina, com exceção do câncer de pele não melanoma. Possui como possibilidades de tratamento cirurgia, radioterapia e terapia hormonal. Essas opções podem causar efeitos indesejáveis como disfunção erétil, perda de libido e incontinência urinária (IU), que também implicam em alterações emocionais, ainda que temporariamente11 Ministério da Saúde (BR). Instituto Nacional de Câncer
José Alencar Gomes da Silva. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Estimativa 2018: Incidência de Câncer no Brasil. Rio de Janeiro (RJ): INCA; 2017. [Acesso 2 dez 2018]. 128p. Disponível em: http://www1.inca.gov.br/estimativa/2018/estimativa-2018.pdf Show A prostatectomia radical (PR) é a opção de tratamento considerada padrão ouro para
casos de CP localizado33 Mata LRF, Carvalho EC, Gomes CRG, Silva AC, Pereira MG. Postoperative self-efficacy and psychological morbidity in radical prostatectomy. Rev. Latino-Am. Enfermagem. [Internet]. 2015 [cited Dec 2, 2018];23(5):806-13. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v23n5/0104-1169-rlae-23-05-00806.pdf
A IUPPR é mais severa na fase inicial do pós-operatório. Contudo, a recuperação da continência pode ocorrer nos primeiros três a seis meses ou tardiamente (um ano ou mais), conforme
descrito em meta-análise que avaliou a efetividade de exercícios para musculatura pélvica no controle da IUPPR22 Wang W, Huang QM, Liu FP, Mao QQ. Effectiveness of preoperative pelvic floor muscle training for urinary incontinence after radical prostatectomy: a meta-analysis. BMC Urol. [Internet]. 2014 [cited Dec 2, 2017];14(99):1-8. Available from:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4274700/ Por sua vez, o problema pode gerar sentimentos de baixa autoestima, ansiedade e depressão que estão normalmente presentes em homens após cirurgia devido à
incerteza sobre como lidar com esses efeitos indesejáveis33 Mata LRF, Carvalho EC, Gomes CRG, Silva AC, Pereira MG. Postoperative self-efficacy and psychological morbidity in radical prostatectomy. Rev. Latino-Am. Enfermagem. [Internet]. 2015 [cited Dec 2, 2018];23(5):806-13. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v23n5/0104-1169-rlae-23-05-00806.pdf
A QV relacionada à saúde é um construto multidimensional que envolve aspectos relevantes na vida do paciente, como a situação de saúde em geral, os sintomas relacionados ao tratamento da doença, a capacidade física, o estado psicológico e os fatores sociais66 Xie JF, Ding SQ, Zhong ZQ, Yi QF, Zeng SN, Hu JH, et al.
Mental health is the most important factor influencing quality of life in elderly left behind when families migrate out of rural China. Rev. Latino-Am. Enfermagem. [Internet]. 2014 [cited Jul 5, 2018];22(3):364-70. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v22n3/0104-1169-rlae-22-03-00364.pdf Ao considerar estratégias para avaliação da capacidade fisiológica de controle da continência urinária, têm-se os testes objetivos como estudo urodinâmico, Pad Test e teste de esforço, que classificam o grau de IU pela quantificação da perda urinária77 Stievano LP, Olival GS, Silva RAP, Toller VB, Carabetta EG, Cunha ETS, et al. Validation
survey of the impact of urinary incontinence (IIQ-7) and inventory of distress urogenital (UDI-6) - the short scales - in patients with multiple sclerosis. Arq Neuropsiquiatr. [Internet]. 2015 [cited Dec 2, 2017];73(1):46-51. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X2015000100046&lng=en&nrm=iso
No entanto, esses parâmetros não avaliam o impacto da IU nos aspectos pisicológicos e compormentais a partir da percepção do paciente. Portanto, questionários foram criados para avaliar os aspectos subjetivos da disfunção miccional que podem influenciar na QV77 Stievano
LP, Olival GS, Silva RAP, Toller VB, Carabetta EG, Cunha ETS, et al. Validation survey of the impact of urinary incontinence (IIQ-7) and inventory of distress urogenital (UDI-6) - the short scales - in patients with multiple sclerosis. Arq Neuropsiquiatr. [Internet]. 2015 [cited Dec 2, 2017];73(1):46-51. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X2015000100046&lng=en&nrm=iso
Dentre os instrumentos existentes para avaliação da QV associada à IU, destacam-se o International Consultation on Incontinence Questionnaire - Short Form (ICIQ-SF) e o King Health Questionnaire (KHQ), ambos traduzidos e validados para o contexto brasileiro99 Tamanini JTN, Dambros M, D’Ancona CAL, Palma PCR, Netto NR Júnior. Validation of the “International Consultation on Incontinence Questionnaire - Short Form” (ICIQ-SF) for
Portuguese. Rev Saúde Pública. [Internet]. 2004 [cited Dec 2, 2017];38(3):438-44. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102004000300015&lng=en&nrm=iso&tlng=en Assim, conhecer como a IUPPR pode influenciar na QV possibilita o direcionamento de ações educativas de enfermagem e o referenciamento desses indivíduos para o acompanhamento multiprofissional, bem como otimiza a comunicação entre profissional e paciente com foco para os problemas vivenciados por esses homens. Com a intenção de contribuir com o conhecimento na área da IUPPR, torna-se relevante a realização do presente estudo que tem o objetivo de avaliar o nível de IU e o seu impacto na QV de pacientes submetidos à PR. MétodoEstudo transversal, realizado com pacientes submetidos à PR em serviço de referência no estado de Minas Gerais (MG) vinculado ao Instituto Nacional do Câncer (INCA), o qual possui uma equipe de cirurgiões urologistas que realizam PR pelo Sistema Único de Saúde (SUS), convênios ou particular. O cálculo do tamanho da amostra foi definido a partir da população de homens atendidos na instituição em um intervalo de dois anos, equivalente a 242 homens, margem de erro de 5% e um nível de confiança de 95%, que resultou em um tamanho mínimo de 149 indivíduos1111 Almeida LS, Freire T. Metodologia da investigação em psicologia e educação. 5 ed. Braga: Psiquilibrios Edições; 2017. 159 p.. Os
participantes foram selecionados a partir dos seguintes critérios de inclusão: adulto submetido à PR há no mínimo dois meses e no máximo dois anos, uma vez que estudos apontam para uma alta taxa de IUPPR relatada a partir do segundo mês após a PR que pode perdurar até dois anos1212 Santos AS, Silva J, Silva MC, Latorre GFS, Nunes EFC. Electrical stimulation on urinary incontinence after radical prostatectomy. Fisioter Bras. [Internet]. 2016 [cited Dec 2, 2017];17(1):50-5.
Available from: http://perineo.net/pub/santos2016.pdfC:\Downloads\23-872-1-PB.pdf A coleta de dados ocorreu no período de dezembro de 2016 a agosto de 2017. Os dados foram coletados por duas pesquisadoras previamente treinadas quanto às técnicas de entrevista a fim de garantir padronização. Para fins de caracterização sociodemográfica, elaborou-se um instrumento que contemplou dados como idade, escolaridade, renda per capita, profissão, situação conjugal e tempo pós-cirurgia. Visando quantificar de forma objetiva a perda urinária, utilizou-se o Pad Test de uma hora, recurso validado e preconizado pelo
International Continence Society (ICS)1414 Ferreira CHJ, Bo K. The Pad Test for urinary incontinence in women. J Physiother. [Internet]. 2015 [cited Apr 26, 2018];61(2):98. Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1836955314001775?via%3Dihub Para avaliar o impacto da IU em diferentes domínios da QV, considerando os aspectos físico, social e emocional, utilizou-se o instrumento KHQ, o qual apresenta coeficiente α de Cronbach de 0,7 em sua versão
original99 Tamanini JTN, Dambros M, D’Ancona CAL, Palma PCR, Netto NR Júnior. Validation of the “International Consultation on Incontinence Questionnaire - Short Form” (ICIQ-SF) for Portuguese. Rev Saúde Pública. [Internet]. 2004 [cited Dec 2, 2017];38(3):438-44. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102004000300015&lng=en&nrm=iso&tlng=en
Com o objetivo de complementar as informações obtidas pelo KHQ, também foi utilizado o instrumento ICIQ-SF para avaliação geral e breve do
impacto da IU na QV. O ICIQ-SF é um questionário curto e autoaplicável, composto por quatro questões que avaliam frequência, gravidade e impacto da IU, além de oito itens relacionados às causas e situações de IU vivenciadas pelo paciente. O instrumento foi desenvolvido na língua inglesa e em 2004 foi validado na língua portuguesa, apresentando alta capacidade psicométrica e coeficiente α de Cronbach de 0,999 Tamanini JTN, Dambros M, D’Ancona CAL, Palma PCR, Netto NR
Júnior. Validation of the “International Consultation on Incontinence Questionnaire - Short Form” (ICIQ-SF) for Portuguese. Rev Saúde Pública. [Internet]. 2004 [cited Dec 2, 2017];38(3):438-44. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102004000300015&lng=en&nrm=iso&tlng=en
Os dados foram processados e analisados por meio do programa Statistical Package for Social Science (SPSS), versão 23.0 para Windows. Utilizou-se o teste Shapiro-Wilk para testar a normalidade1111 Almeida LS, Freire T. Metodologia da investigação em psicologia e educação. 5 ed. Braga: Psiquilibrios Edições; 2017. 159 p. das variáveis explicativas, sendo aquelas com distribuição normal apresentadas por média e desvio padrão (DP), e as demais em mediana e intervalo interquartílico (p25-p75). Foram definidas três categorias referentes ao tempo pós-cirurgia: dois a
seis meses - grupo 01 (G1); mais de seis meses a um ano - grupo 02 (G2); mais de um ano a dois anos - grupo 03 (G3)22 Wang W, Huang QM, Liu FP, Mao QQ. Effectiveness of preoperative pelvic floor muscle training for urinary incontinence after radical prostatectomy: a meta-analysis. BMC Urol. [Internet]. 2014 [cited Dec 2, 2017];14(99):1-8. Available from:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4274700/ A fim de identificar possíveis relações entre os domínios de QV mensurados pelo KHQ e a perda urinária avaliada pelo Pad Test, aplicou-se o teste de correlação de Pearson. As forças das correlações foram analisadas considerando valores até 0,30 como de fraca magnitude, entre 0,31 e 0,59 moderada e acima de 0,60 de forte magnitude1111 Almeida LS, Freire T. Metodologia da investigação em psicologia e educação. 5 ed. Braga: Psiquilibrios Edições; 2017. 159 p.. Foram atendidas as recomendações éticas nacionais sobre pesquisas com seres humanos, preconizadas pelo Conselho Nacional de Saúde, e o projeto foi aprovado pelo comitê de ética da instituição proponente, parecer nº 1.866.160/2016. ResultadosA amostra do estudo foi composta por 152 pacientes, sendo 68 participantes do G1, 40 do G2 e 44 do G3. No que se refere à idade, os participantes apresentaram média de 66,8 (±7,8) anos, variando entre 47 e 83 anos. Quanto à escolaridade, os participantes apresentaram uma média de 3,9 (±2,9) anos de estudo, variando de zero a 11 anos. A média da renda per capita foi 898,30 (±525,7) reais, variando entre zero e 3.748,00 reais. No que concerne à situação profissional, 78,9% estavam em situação inativa (aposentado ou desempregado) e 21,1% em situação ativa. Quanto à situação conjugal, 80,3% dos participantes tinham companheira. Não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos G1, G2 e G3 para as variáveis idade (p= 0,394), escolaridade (p= 0,190), renda per capita (p= 0,826), situação profissional (p= 0,547) e situação conjugal (p= 0,951). Quanto ao nível de IU avaliado pelo peso do absorvente a partir do Pad Test, observou-se que o G1 apresentou maior média de IU (5,7gramas ±13,7), seguido de G3 (2,0 gramas ±3,7) e, por fim, o G2 (2,0 gramas ±3,7). Constatou-se, por sua vez, que a diferença não foi estatisticamente significante entre os grupos (p= 0,310). A Tabela 1 apresenta a classificação da IU por meio do peso de absorvente. Tabela 1 Na classificação dos pacientes incontinentes, destaca-se a categoria IU leve como a mais frequente entre os pacientes dos três grupos, sendo a IU severa mais prevalente entre homens do G3 (4,5). Na análise do impacto da IU na QV pelo ICIQ-SF, o G1 apresentou média de 9,6 (±5,5) classificada como muito grave, o G2 6,9 (±5,5) e o G3 7,3 (±5,4), classificados como grave. Ao comparar a média entre os grupos, houve diferença estatisticamente significativa no impacto da IU na QV nos primeiros seis meses pós-cirurgia (G1) em comparação ao período de seis meses a um ano (G2) (p=0,022). A Tabela 2 apresenta os domínios da QV avaliada pelo instrumento KHQ em função dos diferentes tempos pós-cirurgia. Tabela 2 Ao analisar os domínios da QV pelo questionário KHQ, observa-se diferença estatisticamente significativa entre os três grupos nos domínios: Impacto da IU, Limitações de Atividades Diárias, Limitações Físicas, Medidas de Gravidade e Limitações Sociais. Considerando a correção de Bonferroni para obter maior clareza da origem das diferenças entre os três grupos, identifica-se diferença estatisticamente significativa entre os grupos G1 e G2 nos domínios Impacto de IU (p=0,014), Limitações de Atividades Diárias (p=0,019) e Limitações Sociais (p=0,012), sendo piores os resultados em G1 quando comparado a G2. O domínio Medidas de Gravidade quando controlada pelo erro tipo 1 (teste post-hoc Gabriel’s) apresentou diferença significativa do G1 em relação ao G2 (p=0,020) e ao G3 (p=0,021), ou seja, a QV devido às Medidas Gravidade de IU (uso de absorventes, limitação da ingesta de líquidos, necessidade de troca de roupa íntima molhada, vergonha, odor de urina) é pior nos primeiros seis meses pós-cirurgia. A Tabela 3 apresenta as forças de correlação entre os domínios da QV do instrumento KHQ com a perda urinária quantificada pelo Pad Test. Tabela 3 Na análise da correlação entre os domínios da QV do KHQ e a perda urinária, os domínios Impacto da IU, Limitações Físicas, Limitações Sociais e Medidas de Gravidade apresentaram relação positiva de moderada magnitude com a IU, ou seja, quanto maior a perda urinária, maior o seu impacto nestes domínios da QV. A Tabela 4 apresenta os sintomas de IU avaliados por meio do instrumento KHQ de acordo com os diferentes tempos de pós-operatório. Tabela 4 Nota-se que os sintomas que se destacam como “muito presentes” pelos participantes dos três grupos foram frequência urinária (G1 = 32,4%; G2= 30,0%; G3= 29,5%), noctúria (G1 = 20,6%; G2= 12,5%; G3= 18,2%) e urgência miccional (G1 = 20,6%; G2= 12,5%; G3= 15,9%). Os sintomas classificados como “muito pouco presentes” com menor destaque nos três grupos foram enurese noturna (G1 = 4,4%; G2= 10,0%; G3= 11,4%), IU durante a relação sexual (G1 = 4,4%; G2= 7,5%; G3= 6,8%) e dor na bexiga (G1 = 7,4%; G2= 10,0%; G3= 15,9%). Ressalta-se que o item “IU durante a relação sexual” não foi respondido por 119 participantes (78,3%), uma vez que eles relataram não ter relação sexual devido à ausência de ereção. DiscussãoNo presente estudo, observa-se que o Pad Test de uma hora foi capaz de detectar perda involuntária de urina em participantes dos três grupos categorizados conforme o tempo pós- cirurgia. Destaca-se a perda urinária classificada como leve com maior frequência entre os pacientes incontinentes de dois a seis meses pós-cirurgia, embora não tenha
havido diferença estatística significativa entre os grupos. Estudos apontam maior prevalência de IU nos primeiros seis meses e a tendência de diminuição da perda urinária ao longo do tempo22 Wang W, Huang QM, Liu FP, Mao QQ. Effectiveness of preoperative pelvic floor muscle training for urinary incontinence after radical prostatectomy: a meta-analysis. BMC Urol. [Internet]. 2014 [cited Dec 2, 2017];14(99):1-8. Available from:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4274700/ Verifica-se que, entre os pacientes com pós-operatório de dois a seis meses, a IU causou um impacto muito grave na QV segundo o
ICIQ-SF, enquanto que entre pacientes com mais de seis meses de pós-operatório (G2 e G3) o impacto na QV foi grave. Dados semelhantes foram encontrados em estudo brasileiro que obteve média de 10,6 pontos na QV geral de pacientes incontinentes pós-PR no terceiro mês de pós-cirúrgico e uma média de 9,2 pontos no sexto mês, classificando o impacto como muito grave1515 Cornick S, Corrêa SA, Girotti M, Zambon J, Alves R, Almeida F. Impact of radical prostatectomy on
urinary incontinence, erectile dysfuntion and general quality of life. J Biosci Med. (Irvine). [Internet]. 2015 [cited Dec 2, 2017];3:62-75. Available from: http://file.scirp.org/pdf/JBM_2015082613313261.pdf Em relação aos domínios da QV- Impacto de IU, Limitações de Atividades Diárias e Limitações Sociais, percebe-se maior impacto nesses
domínios em pacientes entre dois e seis meses de pós-operatório em relação àqueles com mais de seis meses a um ano. Nesse sentido, a IUPPR compromete significativamente o estilo de vida dos homens. A ansiedade causada pela perda urinária interfere na QV, restringe o contato social e familiar, gerando sentimentos de perda do controle da vida. O constrangimento e desconforto são relatados devido à incapacidade de controlar a bexiga na presença de seus parentes e amigos. Os pacientes relatam
constrangimento e incômodo ou por ter que usar fralda ou por ter que trocá-la fora do domicílio. Há também pacientes que não usam fralda diariamente, mas por segurança sempre a levam em sua bolsa quando saem de casa, com receio de escape urinário mediante algum esforço físico1616 Kollberg KS, Thorsteinsdottir T, Wilderäng U, Hugosson J, Wiklund P, Bjartell A. Social constraints and psychological well-being after prostate cancer: a follow-up at 12 and 24 months after
surgery. Psychooncology. [Internet]. 2018 [cited Feb 28, 2018];27(2):668-75. Available from: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/pon.4561/full Os resultados do estudo apontaram significância estatística na diferença entre os grupos
para o impacto da IU no domínio Medidas de Gravidade de IU (uso de absorventes, limitação da ingesta de líquidos, necessidade de troca de roupa íntima molhada, vergonha, odor de urina), sendo mais severo nos primeiros seis meses. A literatura corrobora com esse achado e aponta maior impacto da IU na QV durante os primeiros meses pós-cirurgia, principalmente devido à necessidade de uso de absorvente e sentimento de vergonha, com melhoria espontânea e progressiva ao longo do
tempo22 Wang W, Huang QM, Liu FP, Mao QQ. Effectiveness of preoperative pelvic floor muscle training for urinary incontinence after radical prostatectomy: a meta-analysis. BMC Urol. [Internet]. 2014 [cited Dec 2, 2017];14(99):1-8. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4274700/ Em relação aos resultados de
correlação entre a QV e o nível de IU, observa-se relação positiva da perda urinária com os domínios Impacto da IU, Limitações Físicas, Limitações Sociais e Medidas de Gravidade. O aumento da perda urinária implica no aumento do número de absorventes diários e isso impacta na percepção do paciente sobre a sua QV, visto que autores apontam que pacientes que usam um absorvente por dia se consideram continentes e, portanto, têm sua QV preservada quando comparados aos que usam dois ou
mais1717 Hikita K, Honda M, Kawamoto B, Tsounapi P, Muraoka K, Sejima T, et al. Evaluation of incontinence after robot-assisted laparoscopic radical prostatectomy: using the International Consultation on Incontinence Modular Questionnaire Short Form and noting the number of safety pads needed by japanese patients. Yonago Acta Med. [Internet]. 2017 [cited Dec 2, 2017];60(1):52-5. Available from:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5355845/ No que concerne à correlação positiva da IU com os domínios Limitações Físicas e Sociais, é possível apontar que atos decorrentes da intensidade da perda urinária como odor de urina e roupas molhadas afetam o emocional e social desses homens por se sentirem estigmatizados gerando uma
autoimagem prejudicada55 Higa R, Lopes MHBM, D’ancona CAL. Male incontinence: a critical review of the literature. Texto Contexto Enferm. [Internet]. 2013 [cited Dec 2, 2017];22:231-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/tce/v22n1/12.pdf É importante considerar que parte do comprometimento do bem-estar mental que afeta a QV está relacionada à falta de apoio e suporte social, assim como aos temores associados às relações psicoafetivas, com destaque para o medo do abandono das esposas, que pelo menos metade dos pacientes relata enfrentar1818 Oliveira RDP,
Santos MCL, Rocha SR, Braga VAB, Souza AMA. Emotional aspects of prostate cancer post-treatment: an integrative literature review. Online Braz J Nurs. [Internet]. 2014 [cited Feb 25, 2018];13(4):699-707. Available from: http://www.objnursing.uff.br/index.php/nursing/article/view/4760/html_320. Esses resultados reforçam a necessidade de os profissionais de saúde refletirem e atuarem sobre o problema de modo a organizar um atendimento que oriente os homens com IU de forma acolhedora e individualizada, no âmbito dos aspectos físicos e psicossociais alterados. Os sintomas mais prevalentes referentes à IU nos diferentes tempos pós-PR em todos os grupos foram frequência urinária, noctúria e urgência miccional. Esses sintomas são característicos da hiperatividade do detrusor e quando associados à disfunção
esfincteriana representam a causa de 23% a 42% dos casos de IUPPR1919 Hoyland K, Vasdev N, Abrof A, Boustead G. Post-Radical Prostatectomy Incontinence: Etiology and Prevention. Rev Urol. [Internet]. 2014 [cited Feb 25, 2018];16(4):181-8. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4274175/ Já entre os sintomas classificados como “muito pouco presentes”, ressalta-se o achado referente ao item “IU durante a relação sexual” que não foi respondido pela maioria dos participantes (78,3%) devido à ausência de ereção. Corroborando com os resultados encontrados, pesquisadores
identificaram uma taxa de 83%1515 Cornick S, Corrêa SA, Girotti M, Zambon J, Alves R, Almeida F. Impact of radical prostatectomy on urinary incontinence, erectile dysfuntion and general quality of life. J Biosci Med. (Irvine). [Internet]. 2015 [cited Dec 2, 2017];3:62-75. Available from: http://file.scirp.org/pdf/JBM_2015082613313261.pdf A literatura traz importantes sugestões para o aumento da QV de pacientes com IUPPR, como a terapia cognitivo-comportamental no treino de habilidades de enfrentamento, a realização de grupos de apoio e informativos, intervenções voltadas para a imagem corporal alterada, expressão e regulação das emoções, assim como terapias conservadoras que podem
otimizar o tempo que o paciente precisa para voltar a ser continente1818 Oliveira RDP, Santos MCL, Rocha SR, Braga VAB, Souza AMA. Emotional aspects of prostate cancer post-treatment: an integrative literature review. Online Braz J Nurs. [Internet]. 2014 [cited Feb 25, 2018];13(4):699-707. Available from:
http://www.objnursing.uff.br/index.php/nursing/article/view/4760/html_320. Estudo de revisão, que teve como objetivo explorar a percepção dos homens sobre o impacto das consequências físicas da PR em sua QV,
sugere que melhorar a QV deve ser o objetivo final de qualquer tratamento ou intervenção, sendo que a experiência exitosa do paciente com o tratamento é fator primordial. Além disso, os resultados da revisão também recomendam o desenvolvimento de intervenções psicoeducacionais relacionadas à IU e à disfunção erétil antes e após a PR para aumentar a compreensão e adaptação dos homens a esses sintomas no pós-operatório2222 Morgan L, Carrier J, Edwards D. Men’s
perceptions of the impact of the physical consequences of radical prostatectomy on their quality of life: a qualitative systematic review protocol. JBI Database System Rev Implement Rep. [Internet]. 2015 [cited Dec 2, 2017];13(12):37-46. Available from: https://insights.ovid.com/pubmed?pmid=26767814 Nesse contexto, a enfermagem atua diretamente
no cuidado aos pacientes submetidos à PR, tanto no aspecto físico quanto no psicológico, e possui um papel fundamental para proporcionar um preparo adequado para a PR e as implicações potenciais na QV pós-operatória1818 Oliveira RDP, Santos MCL, Rocha SR, Braga VAB, Souza AMA. Emotional aspects of prostate cancer post-treatment: an integrative literature review. Online Braz J Nurs. [Internet]. 2014 [cited Feb 25, 2018];13(4):699-707. Available from:
http://www.objnursing.uff.br/index.php/nursing/article/view/4760/html_320. Ao analisar os resultados do presente estudo, deve-se considerar o perfil da amostra, caracterizada pela baixa escolaridade, e a possibilidade de não percepção da perda de urina e do seu real impacto devido à falta de conhecimento sobre a fisiologia do seu próprio corpo. O desconhecimento pode ser associado também ao constrangimento e vergonha dos homens em manifestarem a sua percepção sobre a perda urinária. Culturalmente, esse grupo também pode interpretar a perda urinária como parte natural do processo de envelhecimento, uma vez que há um predomínio de idosos. Portanto, tais fatores podem limitar um preenchimento mais fidedigno dos instrumentos subjetivos ICIQ-SF e KHQ. Dessa forma, é importante a reprodutibilidade dos estudos em amostras com perfis sociodemográficos diferentes, inclusive em relação ao nível de escolaridade, para ampliação e maior generalização dos resultados. ConclusãoOs resultados possibilitaram evidenciar que a perda urinária avaliada pelo Pad Test teve predomínio da classificação IU leve entre os pacientes incontinentes nos três grupos. A IU causou impacto muito grave na avaliação geral da QV nos primeiros seis meses e grave após seis meses de cirurgia. Os domínios da QV que apresentaram diferença estatisticamente significativa entre os três grupos foram: Impacto da IU, Limitações das Atividades Diárias, Limitações Físicas, Medidas de Gravidade e Limitações Sociais. Identificou-se também que quanto maior a perda urinária, maior o impacto nos domínios Limitações Físicas, Limitações Sociais, Impacto da IU e Medidas de Gravidade. A maioria dos participantes relatou ausência de ereção após a cirurgia e por isso não respondeu à questão referente à presença de incontinência urinária durante a relação sexual. Espera-se que esses achados instiguem a necessidade de implementar intervenções multifacetadas, pautadas em uma melhor compreensão das implicações físicas e emocionais do paciente submetido à PR. Ressalta-se a importância da atuação do enfermeiro, de modo a subsidiar o planejamento e implementação de ações que tenham como objetivo melhorar a continência urinária desses indivíduos e, consequentemente, a QV. Porque a prostatectomia radical pode levar a incontinência urinária é a impotência?A próstata está na região da bexiga e do esfíncter. Noventa por cento dos casos de incontinência em pacientes com câncer de próstata ocorrem por causa de lesão no esfíncter durante a cirurgia. O estágio da doença e a idade do paciente também influenciam. “Após a cirurgia, o homem fica de 7 a 14 dias com sonda.
Porque a retirada da próstata causa impotência?Após a realização da cirurgia, é comum haver perda da capacidade natural de ereção em decorrência da remoção dos nervos cavernosos, responsáveis por permitir que o pênis fique ereto, mas isso, normalmente, não ocorre pelo resto da vida do paciente.
Qual o impacto da cirurgia de prostatectomia radical incontinência urinária?Conclusão: o estudo evidenciou a ocorrência da incontinência urinária após prostatectomia radical em diferentes níveis e o seu impacto significativo na qualidade de vida dos homens merecendo intervenções para o seu controle.
Como a retirada de próstata pode impactar na função urinária de um homem?Incontinência urinária após a cirurgia de próstata: o que é e como o problema ocorre. A próstata localiza-se em uma região próxima à bexiga e ao esfíncter. Nesse sentido, cerca de 90% dos casos de incontinência urinária após a cirurgia de próstata ocorrem pela lesão causada no esfíncter durante a cirurgia.
|