O assistente social “afirma-se socialmente como um trabalhador assalariado, cuja inserção no mercado de trabalho passa por uma relação de compra e venda de sua força de trabalho especializada com organismos empregadores, estatais e privados” (IAMAMOTO, 2007, p.96). Este profissional tem como desafio desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho que sejam criativas e capazes de ampliar, preservar e
efetivar direitos sociais de acordo com as demandas que são lhe impostas. Show
O Serviço Social é uma profissão inserida na divisão sócio-técnica do trabalho e que nos últimos anos tem optado por um compromisso ético-político vinculado às lutas das classes subalternas, apesar do cenário econômico e político fortemente neoliberal que tem impacto sobre as políticas sociais nos últimos anos, favorecendo os interesses capitalistas, tendo o grande desafio de se posicionar criticamente frente às
desigualdades sociais.
O Código de Ética de 1993 representa uma reafirmação dos
avanços trazidos pelo Código de 1986, além de um amadurecimento teórico da categoria profissional buscando construir seu projeto Ético Político de acordo com os interesses da classe trabalhadora e com o desejo de mudanças, e tem como um dos pontos de grande reflexo a luta travada desde o “Congresso da Virada”. I - elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração pública, direta ou
indireta, empresas, entidades e organizações populares; E em seu Art. 5º aponta como atribuições
privativas do Assistente Social como por exemplo a de coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social; realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social; treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social; fiscalizar o exercício profissional através dos Conselhos Federal e Regionais; ocupar cargos e funções de direção e
fiscalização da gestão financeira em órgãos e entidades representativas da categoria profissional (CRESS, 2010, p. 14-15). A motivação primária foi o meu engajamento na igreja, por eu sempre querer ajudar as pessoas, então era o curso que ao meu ver mais se encaixava naquilo que eu queria e pela minha identificação com as ciências humanas (ÁGUA MARINHA, PESQUISA DE CAMPO, 2016). Foi porque aqui não tinha a área que eu queria fazer, eu lembro que nós tivemos uma palestra sobre os cursos que a Ufam estava oferecendo e foi o qual mais me identifiquei, tanto é que antes da palestra eu queria administração, mas aos poucos eu gostei do serviço social, mas não era o que eu queria, hoje eu gosto da nossa profissão, sabemos que tem dificuldade como qualquer outra profissão, mas eu gosto (RUBI, PESQUISA DE CAMPO, 2016). Eu sempre quis ser assistente social, eu gosto do que faço que eu faço, quando eu vim trabalhar na instituição eu já pensei muito em fazer direito, eu ate acho que todos que trabalham com pessoas precisariam fazer o curso de serviço social (TURMALINA, PESQUISA DE CAMPO, 2016). Constata-se que as principais motivações para a entrada no Curso de Serviço Social foi a atuação na igreja, através da visão conservadora da “moça boazinha” que ajuda os pobres do inicio da profissão, desmistificada na academia; a opção da realização do curso em Parintins por não terem condições financeiras de manutenção em outra cidade; por
curiosidade, por arriscar e com o passar dos anos se identificar com a profissão; e por fim, aquelas que sempre quiseram trabalhar como assistente social, motivações essas que revelam o prazer de ser assistente social:
Raichellis (2011) assinala que em um contexto societário de transformações no mundo do trabalho, caracterizado pela subcontratação, terceirização, precarização, retração dos direitos sociais e trabalhistas, é importante considerar as relações entre trabalho e adoecimento, que repercutem na saúde do trabalhador, nas formas de objetivação e subjetivação do trabalho, tornando-se fundamental que se entenda as metamorfoses do trabalho
profissional, pois “mascará-los é tornar indecifrável a precarização do trabalho, o elevado grau de sofrimento e frustração, a dilatação e a intensificação da jornada de trabalho, a decadência geral das condições de vida” (ALENCAR; GRANEMANN, 2009, p. 167). O sofrimento é entendido como uma instância pertencente à subjetividade, e a sua compreensão se faz por meio do deciframento das formas como o individuo apreende e expressa as experiências no âmbito do trabalho. Por meio da vivência e da experiência, os trabalhadores vivencia sua atividade, suas relações pessoais e hierárquicas, o ambiente de trabalho e, enfim, uma serie de outros elementos que compõem o cotidiano de trabalho. Entende-se que o sofrimento no mundo do trabalho aparece como um ponto alarmante e que vem sendo motivo de estudo nos últimos anos. É a partir da vivência do trabalhador, a partir das suas condições de
trabalho, da sua gestão, do seu cotidiano profissional é que se pode entender essa questão. O que se observa com maior frequência — certamente em função da centralidade da classe operária na produção capitalista e dos inúmeros estudos sobre os impactos da reestruturação produtiva nas relações e condições de trabalho desta classe — é o assistente social analisar (e indignar‑se) frente à exploração e ao desgaste a que são submetidos os trabalhadores assalariados, mas estabelecendo com estes uma relação de exterioridade e de não pertencimento enquanto um segmento desta mesma classe. A autora
explicita que, muitas vezes, o assistente social indigna-se com as condições de trabalho dos trabalhadores, porém não se coloca nessa situação, já que é também um trabalhador assalariado e faz parte da mesma classe. Quem vive de contrato está sempre sobre pressão, é complicado porque você não tem estabilidade. Quando você não tem um vínculo mais seguro, isso vai influenciar no seu exercício profissional, não estimula [a fazer um trabalho melhor], as vezes é difícil dar continuidade às ações porque a qualquer momento podem me mandar embora. A minha contrapartida é dar o meu melhor para que os gestores continuem percebendo que eles vão precisar de mim (ESMERALDA, PESQUISA DE CAMPO, 2016). O agravamento desse quadro estrutural mescla-se e consequentemente aprofunda-se em pequenos municípios onde a cultura paternalista, meritocrática e do “favor” condicionam a (des) continuidade e a qualidade dos serviços prestados a população bem como o vínculo empregatício fragilizado dos assistentes sociais a partir da “boa vontade” política da gestão pública em vigor, realidade esta, evidenciada no município de Parintins, como podemos ver nas falas das assistentes sociais Topázio Azul e Turmalina: Por ser contratada, por muitas vezes alguns serem “puxa saco” do prefeito, algumas situações a gente acaba falando algo eles já levam de outra forma e agente acaba se inibindo de certas situações com medo de ser derrubada (TOPÁZIO AZUL, PESQUISA DE CAMPO, 2016). Quem vive de contrato esta sempre sobre pressão porque você não sabe até quando vai ficar, não tem estabilidade, esse é o grande problema, concursos a gente espera pra ter estabilidade, porque eu não posso viver a mercê de situações ou de ser demitida a qualquer hora, não é justo com a profissional que eu sou e nem comigo enquanto pessoa (TURMALINA, PESQUISA DE CAMPO, 2016). Quando perguntadas sobre quais seriam os principais desafios encontrados nas diversas instituições para o desenvolvimento do trabalho elencaram: os vínculos empregatícios, em especial os contratos temporários que interferem na continuidade das atividades realizadas; o transporte, pois na maioria das instituições não há um transporte próprio das instituições, que faz om que muitas
vezes o profissional utilize seu próprio transporte; a falta de uma sala própria para o atendimento dos usuários; a falta de qualificação profissional da gestão, municipal e da instituição; valorização salarial; fazer com que a família dos usuários participe das atividades desenvolvidas pela instituição. Problematizar o trabalho do assistente social na sociedade contemporânea supõe pensá-lo como parte alíquota do trabalho da classe trabalhadora, que vende sua força de trabalho em troca de um salário, submetido aos dilemas e constrangimentos comuns a todos os trabalhadores assalariados, o que implica ultrapassar a visão liberal que apreende a prática do assistente social a partir de uma relação dual e individual entre o profissional e os sujeitos aos quais presta serviços. O debate sobre trabalho e saúde, em especial sobre o adoecimento dos trabalhadores que decorrem das condições de trabalho são relações problematizadas a partir da sua incidência na classe trabalhadora, incluindo aí o assistente social como “sujeito vivo” do trabalho social. a) Percepções de sintomas de adoecimento: o desanimo, a tristeza, a desmotivação e o estresse, como efeito do excesso de trabalho e restrito contingente de recursos humanos disponíveis nas equipes, da desvalorização salarial, da violação do direito da redução da jornada de trabalho, da insatisfação com as diferenças na organização da categoria, etc. Em meio ao mundo do trabalho vemos trabalhadores com sintomas de adoecimento que se expressam como o estresse, a tristeza e o desanimo, que são gerados a partir da desvalorização salarial, na violação de direitos trabalhistas, na alta jornada de trabalho, e que muitas vezes levam esses trabalhadores ao afastamento de suas
atividades. Eu fui fazer uma visita e na hora de orientar, o responsável pelo idoso se alterou bastante, falou as piores coisas para mim, quase fui agredida fisicamente por ele, porque verbalmente fui agredida, aí eu fui à delegacia para registrar um boletim de ocorrência. Acabei “deixando para lá” porque foi um caso que me chamou muito a atenção e entendi ser muito mais viável fazer um acordo com ele do que levar a situação adiante porque eu queria acompanhar aquele idoso e se eu levasse o caso mais a frente contra o agressor, eu não poderia acompanhar mais aquele caso. Fizemos um acordo para eu continuar indo lá visitá-lo (RUBI, PESQUISA DE CAMPO 2016). Em um dos atendimentos aqui na instituição por pouco eu não fui agredida em um caso de violação de direitos, mas ainda bem que meu colega estava próximo e conseguimos acalmar o usuário. Às vezes dá medo de fazer visitas por esses casos de ameaça, principalmente a partir de denúncias (CRISTAL, PESQUISA DE CAMPO 2016). Essas
ameaças comprometem a segurança das profissionais, pois muitos usuários entendem que o trabalho do assistente social tem cariz de “ajuda” que deve ser viabilizada a qualquer custo e, quando isso não acontece, a profissional é acusada como “culpada” por não viabilizar o acesso ao benefício, o que faz com que muitas assistentes sociais recorram a manobras diversas até resolverem o caso em questão, como parte de uma missão heroica. A maioria dos casos a gente leva pra casa, tem casos que nos deixam frustrados, tem casos que a gente chora que agente sofre junto não na frente da pessoa, mas que a gente leva pra casa muitas vezes a gente fica abalado pois muitas vezes não temos como ajudar a não ser a pessoa auto se ajudar, a gente faz o nosso papel mas a família tem que fazer o papel dela também. Eu me lembro de um caso que agente atendeu recentemente que era uma família que tinha sido despejada e que a gente precisava alugar uma casa pra eles e agente não achava, andávamos sábado e domingo, por mais que não fosse o dia do nosso trabalho a gente ia por conta do compromisso que a gente tinha com aquela família era muito grande, no primeiro e segundo dia não achamos, mas no terceiro dia a gente achou uma casa e foi nesse dia que eu fiquei super estressada, eu já estava adoecendo e foi aliviar toda a minha tensão toda a preocupação quando eu cheguei em casa e chorei, agradeci a Deus e pronto (TOPÁZIO AZUL, PESQUISA DE CAMPO, 2016). Percebe-se que em algumas vezes as demandas do trabalho interferem na vida
pessoal do profissional, o que faz com que ele deixe de lado seus afazeres pessoais para dedicar-se ao trabalho, o que faz com que esse profissional adoeça algumas vezes, como podemos ver no relato da profissional. a) Que a insuficiência técnica de recursos humanos, não restringe-se à área do Serviço Social, mas abrange o conjunto estruturante das equipes multiprofissionais nos serviços das
entidades e organizações socioassistenciais; A falta de recursos humanos sejam eles assistentes sociais ou outros profissionais, o excesso de demandas nas instituições, a falta de qualificação profissional aparecem como elementos do cotidiano que interferem num bom desempenho do Serviço Social nas várias instituições. Esse quadro tem sido fonte de angustias e questionamentos sobre o nosso papel profissional, diante da dificuldade de criar e recriar e implementar propostas de trabalho, podendo estimular a burocratização e o vazio profissional. Alguns buscam, como “tabua de salvação”, o discurso do mero “compromisso com a população”, seja em sua versão mais politizada, seja em sua versão dialógica do respeito ao homem, como o apoio possível, mas incapaz, por si só, de enfrentar as demandas materiais e socioculturais da população trabalhadora. Percebe-se a partir disso, como bem explicita a autora, que a realidade se torna um obstáculo impossibilitando o trabalho, porém não podemos ser levados ao imobilismo, à descrença, à desilusão por mais precária que seja a atual situação em que se encontra.
Os assistentes sociais vêm de uma formação comprometida a olhar para o outro, lutar junto ao outro, mas que muitas vezes essa relação dual entre aquele que sabe (o assistente social) e aquele que necessita de intervenção (o
usuário) se dá em uma perspectiva de alteridade que pouco corresponde à luta coletiva e solidária rumo a uma sociedade justa.
ALENCAR, Mônica Maria Torres de; GRANEMANN Sara. Ofensiva do capital e novas determinações do trabalho profissional. Revista Katálysis.
Florianópolis v.12 n. 2p. 161-169 jul./dez. 2009; SILVA, Solange dos Santos. Transformações nos processos de trabalho e configurações do trabalho do serviço social: contribuições a partir da região noroeste do Rio Grande do Sul/Brasil. Porto Alegre, 2014; * Acadêmica do 8º Período do Curso de Serviço Social do Intituto de Ciências Sociais Educação e Zootecnia (ICSEZ) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) – Campus Parintins-AM. ** Doutoranda em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e Mestre em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia (UFAM). Professora do Curso de Serviço Social do Instituto de Ciências Sociais Educação e Zootecnia (ICSEZ) da Universidade Federal do Amazonas – Campus Parintins-AM. Quais as condições de trabalho do assistente social?O assistente social trabalha sob o controle direto do empregador, a quem pertence o uso da sua força de trabalho por um tempo determinado. No percurso, identificou-se que a grande parte dos trabalhadores está inserida em uma jornada de trabalho de 30 a 40 horas, mas também por meio das subcontratações chegam a 55.
Como ocorreu a legitimação do Serviço Social como profissão?O Serviço Social, como profissão institucionalizada, configura-se no cenário mundial a partir da década de 1920, após a Primeira Guerra Mundial, quando se caracteriza de forma mais evidente e abrangente a questão social, bem como formas de organização da classe trabalhadora, que contextualizam o surgimento de ...
Qual o contexto que se expressa o agravamento das condições de trabalho do assistente social no contexto atual?profissionais à mercê da precariedade, contratação por tempo determinado, redução de salários, dentre outras questões presentes no trabalho profissional. Por outro lado, as mudanças trazidas pelo capitalismo faz com que haja novas exigências sejam impostas no campo das políticas sociais e públicas.
Qual o papel fundamental do assistente social em sua prática profissional?Segundo o Conselho Federal de Serviço Social, “o assistente social analisa, elabora, coordena e executa planos, programas e projetos para viabilizar os direitos da população e seu acesso às políticas sociais, como a saúde, a educação, a previdência social, a habitação, a assistência social e a cultura.”
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