Quais elementos da Antiguidade estão presentes em nosso cotidiano?

Quais elementos da Antiguidade estão presentes em nosso cotidiano?
Imagem de divulgação. Instagram: @antigaeconexoes.

Olá, pessoal! Esperamos que estejam bem!

Hoje o post vai para a divulgação dos mais novos resultados da parceria entre o nosso grupo e a Professora Doutora Jane Kelly de Oliveira (UEPG)! Dando seguimento aos trabalhos cujo objetivo é analisar as repercussões de elementos literários greco-romanos no cinema, trazemos aqui mais alguns dos textos que resultaram da proposta. Abaixo, os quatro estudos redigidos pelas e pelos estudantes envolvidas e envolvidos poderão ser acessados e baixados em seus links específicos.

Aproveitamos a oportunidade para elogiar o trabalho empreendido por nossas e nossos colegas e agradecer pela oportunidade de continuarmos com essa cooperação. Parabéns e nosso muito obrigada!

Ensaios “Recepção da literatura clássica greco-romana no cinema” – Parte II

I – As Mil Faces do Herói em Percy Jackson: uma análise do herói moderno, de Gabriel Pedro Brigola. Link para acesso: https://drive.google.com/file/d/1BLEngZdPVu4dgfZkZmPIgOPc_BJkme4a/view?usp=sharing

II – Criação do Trágico em Lavoura Arcaica: uma breve comparação do romance e sua adaptação cinematográfica, de Mariana de Bona Santos. Link para acesso: https://drive.google.com/file/d/1An7pGKpk7Que399FXO4Vh5D0odYf4LN3/view?usp=sharing

III – Revisitando um Clássico Grego nos Tempos Modernos: OldBoy (2003) como releitura de Édipo Rei, de Rodrigo Paes. Link para acesso: https://drive.google.com/file/d/11Zv-Bx1jc2BAv3_5rKWqRa7eBfDL_jTp/view?usp=sharing

IV – Sappho – Summer Love: “devo seduzir e dar aos amores?”, de Felipe Kalinoski e Gisele F. Prado. Link para acesso: https://drive.google.com/file/d/1TPX-2oUbJk06LMOmftxxQA0H_lShErym/view?usp=sharing

Quais elementos da Antiguidade estão presentes em nosso cotidiano?
Imagem de divulgação. Instagram: @antigaeconexoes.

Olá, pessoal! Para finalizarmos os textos relativos à recepção e moda, abordaremos hoje a questão da indumentária no Carnaval brasileiro…

Nessa festividade, permanece presente a recepção greco-romana e os diálogos com a Antiguidade. Afinal, as próprias origens do carnaval têm relações com os deuses – como o deus grego da sátira, Momo (Μώμος) – e celebrações antigas – como a Saturnália romana. Os costumes festivos e “desregrados” das festas a Saturno, caracterizavam-na pelo relaxamento da ordem social, mesmo clima adotado posteriormente pela folia do calendário cristão. Não à toa, as relações com a Antiguidade aparecem nas avenidas, revisitando, discutindo e reinterpretando o passado. Na pluralidade dos carnavais, os antigos são recuperados especialmente pelas imagens mitológicas que, ao estabelecer novas conexões, desestrutura e questiona o idealismo dos “clássicos” (SETTIS, 2006). Uma das formas que ocorre a evocação ao passado no carnaval é pela indumentária – os foliões encarnam deuses, guerreiros, reis e monstros através de suas roupas!

Quais elementos da Antiguidade estão presentes em nosso cotidiano?
A Saturnália romana, gravura de John Reinhard Weguelin. Fonte: Wikimedia Commons.

Na análise do antropólogo britânico Daniel Miller (2013), o vestuário desempenha papel considerável na constituição das experiências particulares dos indivíduos. Assim, há uma vasta gama de relações possíveis entre o conceito de “eu”, a pessoa, e a indumentária – ou seja, assim como as indumentárias se transformam, os indivíduos também se modificam (MILLER, 2013, p. 61). Exemplo disso é que, durante as comemorações carnavalescas, as roupas (assim como os próprios foliões) são transformadas pelo espírito festivo, adquirindo significações diversas àquelas do cotidiano.

Durante as festas carnavalescas o vestir se torna polifônico, de modo que vários corpos de significados podem coexistir num mesmo indivíduo a partir das representações, das fantasias e do subversivo que incorporam (CUNHA JUNIOR et al, 2020, p. 391-392). O ápice dessa ludicidade insurgente do carnaval brasileiro é o desfile das escolas de samba. Seus destaques de luxo – com opulência e criatividade – emitem discursos políticos, interpretações, anseios e resistências populares. A partir do samba enredo (fio condutor do desfile) é feita a criação e a execução dos figurinos, os quais têm como foco adicionar aos demais elementos informações necessárias ao bom entendimento da história ali contada (BEIRÃO FILHO, 2015, p. 48). Não obstante, há de se cumprir uma série de quesitos predefinidos visando a avaliação dos jurados e premiação que tradicionalmente ocorrem nas maiores cidades do país.

Na avenida, a sexualidade – que cotidianamente costuma ser encobertada e velada (sobretudo aos corpos femininos) – é permitida e celebrada. A indumentária, que normalmente tem como papel pragmático “cobrir” a vergonhosa nudez e demarcar posições na sociedade, durante o carnaval se transforma em uma ferramenta de teatralidade. Os corpos são transpostos para uma outra dimensão: sensorial, cênica e utópica, como explanado por Foucault. “Quando a alegoria vira para exibição, ele deixa de ser indivíduo para ser elemento alegórico, personagem, ator, intérprete” (CUNHA JUNIOR et al, 2020, p. 398).

Ao longo do espaço coletivo da avenida transitam representações heterogêneas, permitindo (a partir das expressões artísticas) a subversão das ordens delimitadas em questões históricas, políticas, sociais, religiosas, sexuais, de gênero, etc. A indumentária das fantasias carnavalescas ratifica essa insubordinação dos enredos, permite a construção e desconstrução de identidades e, extrapolando a mera função estética, chega ao papel simbólico de comunicação (BEIRÃO FILHO, 2015, p. 48).

Questionamentos sociais tais como a relação entre gênero e moda ou os debates acerca dos direitos da comunidade LGBTQIA+ já eram levantados nos carnavais do século XX, sobretudo por figuras como Clóvis Bornay (1916-2005). Bornay – famoso artista carioca – revisitou os padrões de normatividade vigentes, expôs e celebrou as multiplicidades transitando livremente entre as fronteiras do masculino e feminino. Essas transgressões permeadas pela indumentária são características carnavalescas e expõem as rupturas com inúmeros estereótipos. Gênero, raça, sexualidade, metadiscursos e práticas sociais são questionados no Carnaval e, a partir das vestimentas e expressões artísticas, são repensados pelos grupos ditos “marginais” ou “subalternos”.

Quais elementos da Antiguidade estão presentes em nosso cotidiano?
Criaturas marinhas e Poseidon representados em desfile da escola Acadêmicos de Portela, na Marquês de Sapucaí (2011). Fonte: Rodrigo Gorosito/G1.

Referências:

CUNHA JUNIOR, M. R. et al. Trava na beleza: imaginários sobre destaque de luxo de escola de samba. Policromias: Revista de Estudos do Discurso, Imagem e Som, Rio de Janeiro, p. 389-419, dez. 2020.

BEIRÃO FILHO, J. A. Moda e Carnaval: uma abordagem criativa. Revista Moda Palavra e-Periódico, Florianópolis, v. 8, n. 15, p. 35-58, jan./jul. 2015.

MILLER, D. Trecos, troços e coisas: estudos antropológicos sobre a cultura material. Tradução: Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

SETTIS, S. The future of the “classical”. Cambridge: Polity Press, 2006.

  • Felipe Daniel Ruzene

Quais elementos da Antiguidade estão presentes em nosso cotidiano?
Imagem de divulgação. Instagram: @antigaeconexoes.

Olá! Esperamos que esteja bem!

No texto de hoje daremos continuidade à questão das relações criadas entre a roupa e a performatividade, já trabalhada em outras publicações. Como já apresentado, sustentamos que há um rompimento quanto à noção de que as roupas são meramente superficiais, não detendo significados mais profusos sobre as individualidades. Pelo contrário, concebemos, seguindo a leitura de Miller (2013), como a vestimenta é um potencial mecanismo de exteriorização de partes de si em movimentos performativos instantâneos. Nessa linha, tomamos como ideia de performance a traçada por Zumthor (2007), ao se reconhecer a momentaneidade de suas manifestações, variantes em seus aspectos históricos, sociais e subjetivos, e submetidas aos processos criativos e comunicacionais de seus agentes. 

Por conseguinte, apreendemos como o ator performático extrapola os limiares da indumentária para se conectar com a totalidade corporal ao associar o interior com o exterior a partir de inscrições corporais delimitadas pela atuação social, como teoriza Butler (2003). Por essa mesma autora, notamos como as ideologias criadas em sociedade acerca das atuações pessoais, especificamente orientadas segundo concepções de gênero, acabam por passar às corporeidades em significações próprias em jogos com “ausências significantes” (BUTLER, 2003, p. 194) na construção de identidades. Em decorrência, os conceitos generificados, ilusórios por sua caracterização social imanente, acabam por se contrapor a atuações consideradas transgressoras, tais como a ação Drag. Por esse modo, tomamos como o objeto de análise desse texto as formas de evocação da Antiguidade por essas performatividades subversivas e jocosas sobre os padrões comportamentais, contrapondo sexo, gênero e performance, tal qual expõe a autora. 

De modo a fazer esse breve estudo, tomamos como documento a promoção da quinta temporada do reality show RuPaul Drag Race, um concurso norte-americano ao qual drag queens competem pelo título de Drag Queen Superstar. Nesse vídeo, visualizamos como o mundo antigo é encarnado em uma ruptura em relação aos ideais de gênero, recuperado especialmente por imagens mitológicas e destacando-se na expressão visual pela indumentária. Desse modo, averiguamos uma dissensão nas noções tradicionais do “Clássico”, uma definição repensada e rearticulada desde a diversidade inerente ao mundo antigo e às suas recepções, conforme retrata Settis (2006). Em concordância com esse modelo de apropriação não homogeneizante do passado, a montagem audiovisual traz alguns elementos inerentes ao passado de povos egípcios, indianos e até mesmo “espaciais”. Desestrutura, zomba e ironiza os ideais de gênero e de um passado greco-romano “clássico”. 

Para além disso, mencionamos essa fonte como sendo um exemplar das construções de novos significantes linguísticos acerca do mundo antigo, em especial a partir de recepções pós-modernas sobre o passado, em consonância com o examinado por Settis (2006). Afinal, o trailer respalda-se sobre evocações fragmentárias do passado e banaliza suas noções “tradicionais” ao aliá-lo a temas cotidianos, como a discoteca e as sungas douradas. Entretanto, ao mesmo tempo, ligam-se às retomadas modernas da Antiguidade, reconhecendo de forma consciente as posições dos componentes greco-romanos, egípcios e de demais povos antigos usados em sua criação – nomeadamente no vínculo entre seus conhecimentos sobre representações visuais de deusas mitológicas manifestadas em suas formas de vestir, com os fatores tomados como disruptivos na sociedade contemporânea. 

Tendo essas considerações em perspectiva, podemos concluir, enfim, como o mundo Drag Queen tem grande espaço no trato performativo crítico do mundo antigo, especialmente em imagens que refletem a variabilidade de situações nele encontradas. Ao revestir-se de elementos pós-modernos, transpondo aspectos do passado em fragmentos e vulgarizados, constituem, afinal, movimentos conscientes em seus discursos atuais, que, críticos às postulações sociais de gênero, encontram nas vestimentas uma forma máxima de expressão. 

Trailer de promoção. RuPaul’s Drag Race. 5a temporada.

Referências:

BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução de: Renato Aguire. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 

MILLER, Daniel. Por que a indumentária não é algo superficial. In: _____. Trecos, troços e coisas: estudos antropológicos sobre a cultura material. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. p. 21-65.

SETTIS, Salvatore. The Future of the ‘Classical’. Tradução de: Allan Cameron. Cambridge: Polity Press, 2006.

ZUMTHOR, Paul. Performance e Recepção. In: ______. Performance, recepção, leitura. Tradução de: Jerusa Pires Ferreira e Suely Fenerich. São Paulo: Cosac Naify, 2007. p. 45-60.

  • Heloisa Motelewski

Quais elementos da Antiguidade estão presentes em nosso cotidiano?
Imagem de divulgação. Instagram: @antigaeconexoes.

Olá, pessoal, no texto de hoje continuaremos nossa jornada através da recepção de elementos da antiguidade greco-romana na moda, seguindo ainda o contexto do século XX, como abordado no texto anterior sobre Mariano Fortuny, porém, abordando o drapeado nas roupas da estilista Madeleine Vionnet.

 Performance, corpo e expressão são elementos que perpassam essas discussões, então pretendemos no seguinte texto tratar do movimento e das formas, partindo dos designs de Madeleine Vionnet. Nascida em 1876, na frança, Vionnet, foi um dos mais importantes nomes do cenário fashion da França no século XX, tal como Fortuny e outros designs de moda, ela buscou dar ênfase nos tecidos e formas leves, nas dobras e no caimento das roupas no corpo feminino. A estilista iniciou suas criações no mundo das vestimentas trabalhando com lingeries, o que sem dúvidas, refletiu-se em suas criações posteriores, nos elementos de sensualidade e transparência em suas criações.

No período do entre guerras, a ideia de uma antiguidade vinha sendo explorada por distintos grupos, como é o caso dos nacionalistas, (a ascensão do fascismo na Itália, é um exemplo). Mas, em contrapartida, esses elementos foram, também,  utilizados por artistas e pensadores dos nascentes movimentos de vanguarda, (já tratamos aqui da recepção dos antigos na obra de Giorgio de Chirico). Vionnet, mais se aproxima desse segundo grupo, através das dobras e dos recortes geométricos dos tecidos, ela busca exaltar o corpo feminino, contrapondo-se com a idealização do corpo masculino da antiguidade greco-romana.

Através do drapeado e do chamado “bias cut”(uma técnica de corte em 45°, que confere uma maleabilidade maior para o tecido), Madeline conseguiu criar peças que combinasse flexibilidade, fluidez e movimento. De forma que as roupas e o corpo se confundem, a roupa torna-se quase uma extensão do corpo feminino, abrindo-o para diferentes possibilidades.

Annek Smelik, traz uma reflexão interessante, entre a estética das dobras na arte e na moda. Iremos discorrer sobre tais discussões brevemente, para pensar como a antiguidade se insere nesse sistema simbólico. Pensando no drapeado utilizado principalmente nas esculturas barrocas de Bernini, e os vistos nas roupas de Vionnet e Fortuny. Smelik, aponta para um jogo entre as emoções expressas pelo drapeado, e a sensualidade que lhe é inerente. A autora, volta-se para as reflexões de Deleuze, que entende essas novas dobras nas vestimentas como uma forma de intensidade que se descola do corpo, em um jogo entre exterior e interior que estão sempre em movimento, no qual não se pode mais distinguir um do outro. 

A dobra para Deleuze, trata-se de um conceito muito mais amplo do que poderíamos descrever aqui, porém, é interessante, pois nos possibilita traçar esse jogo na própria vestimenta. Em um período de mudanças abruptas nos modos de vida na sociedade do século XX, é através das dobras e formas das vestimentas femininas, que o interior e o exterior se encontram possibilitando um movimento infinito de criações, onde o corpo torna-se mais do que só o corpo.

Referências

CLARKE, Michael. Exhibition Review Madeleine Vionnet: 15 Dresses from the Collection of Martin Kamer. Fashion Theory, v. 6, n. 3, p. 323-326, 2002.

DI TROCCHIO, Paola. Exhibition Review: Madeleine Vionnet: Fashion Purist—The World According to Madeleine Vionnet. Fashion Theory, v. 15, n. 4, p. 517-523, 2011.

SMELIK, Anneke. Fashioning the fold: Multiple becomings. In: This Deleuzian Century. Brill, 2014. p. 37-56.

  • Renata Cristina S. de Oliveira

Quais elementos da Antiguidade estão presentes em nosso cotidiano?
Imagem de divulgação. Instagram: @antigaeconexoes.

Olá, pessoal! Esperamos que estejam bem!

É com grande alegria que anunciamos que no dia 24/05, às 10h (Horário de Brasília), receberemos Natália Guerellus para uma conversa em nosso canal! Como tema da mesa, teremos a tradução feita por ela para o livro “O Riso da Medusa”, de Hélène Cixous.

A inscrição pode ser feita por meio deste link: https://forms.gle/ABJkSstptyoFptzV8

O evento contará com a emissão de certificados por meio de um formulário de presença que será disponibilizado ao longo da transmissão.

Contamos com a sua presença! Até mais!

Quais elementos da Antiguidade estão presentes em nosso cotidiano?
Imagem de divulgação. Instagram: @antigaeconexoes.

Olá, pessoal! Esperamos que estejam bem!

Hoje iniciamos a publicação de nossos textos temáticos voltados para os Estudos de Recepção na moda. Assim, decidimos por partir do contexto de evocação neoclássica das tendências na indumentária, considerando um recorte histórico que envolve os séculos XVIII e XIX. Afinal, como nos fornece a leitura de Rhinehart (2021), são esses períodos históricos marcados pela constituição de uma moda expressamente receptora de elementos greco-romanos. Tal tendência fora, conforme demonstra o autor, introduzida no mundo europeu a partir do foco napolitano setecentista, ao que refletimos sobre uma possibilidade concreta de afiliação histórica ao momento do encontro das ruínas de Pompeia. Integraria, assim, uma tendência de chamamento artístico das imagens da cidade soterrada, de criação de uma temática criativa aos oitocentos, tal qual o estudado por Romero-Recio (2010). 

É, desse modo, no entremeio desse arcabouço visual que a moda neoclássica se fundamenta, tratando da cultura material em suas criações estéticas, a exemplo do uso de colunas no vestuário à la grecque. Extrapolando os limiares europeus, a nova moda teria efetiva encarnação nas expressividades das chamadas “estátuas viventes”, pessoas que agem de modo a tomar e a incorporar na vida cotidiana a indumentária encontrada em esculturas clássicas. Porém, vale ressalvar aqui o fator de que, como todo movimento receptivo, essa apropriação não se dá em termos estritos, mas sim de acordo com leituras atuais sobre esse passado, adequando-se suas funcionalidades e ideais ao tempo presente. Sendo assim, podemos considerar como ecoam tais assimilações sob os signos de um estilo, vocábulo apropriado segundo as designações de Miller (2013). É, pois, um caminho de exteriorizar a individualidade, de convocar caracteres para uma definição de subjetividade, especialmente cunhada, aqui, a partir dos aspectos de uma época passada. 

Em tal linha, podemos encontrar, então, a relevância da agência feminina na produção modista a partir de seus desvelos para com a apropriação de elementos neoclássicos. Tendo como panorama histórico as sociedades europeias do século XVIII e XIX, notamos como essa absorção da materialidade greco-romana se dá em movimentos ora de correspondência, ora de rompimento, no que tange aos padrões comportamentais esperados às mulheres. Por conseguinte, nos deparamos, nesse grande palco contextual, com a figura de Emma Hart, também conhecida como Lady Hamilton, uma personagem essencialmente transgressora ao se revestir da Antiguidade. Isso pois, ao fazê-lo, não se limitava a manter seus componentes à superfície, mas os incorporava devidamente à orientação do agir pessoal, dando bases concretas à uma performance. 

Por essa forma, a dama inglesa usou da moda de modo a entrelaçar suas atitudes ao passado, cuja exibição faz-se sentir sob os impactos de sua encenação corporal no seio das representações teatrais e cinematográficas dos finais do século XIX e início do século XX (BREWSTER; JACOBS, 2016). Com isso, visualizamos como a roupa torna-se não apenas continuidade do corpo, como examina Miller (2013), mas peça formante da corporeidade. Estátua vivente, Emma Hart, à atuação diante de seus convidados, conforme relata Romero-Recio (2010), fingia-se alegorias e mitos de Roma e Grécia, em atitudes que seriam retratadas e a levariam a ser modelo para outras moças, de seu tempo e da posteridade. Assim, ao aliar indumentária e representação performática, fundou moldes de atuação feminina inovadoras, repensando as possibilidades de apropriação greco-romana na moda. Foi, portanto, um extrapolar do Neoclássico, um rasgar de seus tecidos entrelaçados à trama social vigente, nomeadamente efetivado com sua ação de “estátua viva”, ou seja, com sua performatividade – tema este que será aprofundado em futuras publicações. 

Referências:

BREWSTER, Ben; JACOBS, Lea Acting. In: _____. Theatre to Cinema: Stage Pictorialism and the Early Feature Film. Oxford: Oxford University Press, 2016. p. 65-110.

MILLER, Daniel. Por que a indumentária não é algo superficial. In: _____. Trecos, troços e coisas: estudos antropológicos sobre a cultura material. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. p. 21-65.

RHINEHART, Robert. Romans on the Runway: Classical Reception in Contemporary High Fashion. 2021. 86f. Tese (Senior Honor em Estudos Clássicos) – Departamento de Clássicos, University of North Carolina, Chapel Hill, 2021. 

ROMERO-RECIO, Mirella. Pompeya: Vida, muerte y resurrección de la ciudad sepultada por el Vesubio. Madrid: La Esfera de los Libros, 2010. 

  • Heloisa Motelewski 

Quais elementos da Antiguidade estão presentes em nosso cotidiano?
Imagem de divulgação. Instagram: @antigaeconexoes.

Olá, pessoal! É com grande alegria que damos início ao nosso próximo eixo temático aqui no Blog, como já havíamos anunciado em nossas redes sociais a temática será “Moda e Recepção”. Esse é o primeiro dos textos, uma breve introdução sobre assunto e o que nos levou até ele, os textos que virão em seguir abordarão questões mais específicas dentro desse eixo estabelecido.

Sabe-se que existe uma forte influência dos “clássicos” na estética, tanto na pintura, literatura, cinema, arquitetura e entre outros. Entretanto, nem sempre pensamos nas influências dessa antiguidade nos objetos que fazem parte do nosso dia a dia, como é o caso das roupas que utilizamos. Essas, são parte de como nos apresentamos ao mundo, e dizem muito a respeito de nossa cultura, sociedade, gênero, religião e assim por diante, as vestimentas podem apresentar aspectos objetivos e subjetivos de nós mesmos e dos outros, portanto é um tópico valioso de análise.

Dificilmente, em um cenário do cotidiano, veriamos alguém vestido com togas gregas portando uma coroa de louros ou coisas desse gênero, porém, nos deparamos com diversas pessoas utilizando roupas da marca Nike, a logo rapidamente vem em nossa mente, e mal nos damos conta da relação da marca com a deusa grega da vitória (Nike), está sempre representada como uma figura alada, da qual deriva a simbologia da logo utilizada pela empresa. Esse é um exemplo de recepção que podemos notar no cenário da moda, porém não se restringe a ele. 

Durante os séculos XVIII e XIX, foram diversas as influências do neoclássico na moda, o drapeado, os tecidos mais leves são vêm de uma forte influência da estética antiga, ademais, essa influência pode ser identificada na atuação de importantes figuras, como é o caso de Emma Hart, que juntou a estética antiga com a performance, tendo inspirações em achados arqueológicos e obras de arte, revolucionando não somente no campo estético mas também rompendo barreiras de gênero.

As reinterpretações da antiguidade são vistas também durante todo o século XX e XXI, em grandes marcas como Chanel, Valentino, Versace, Gucci e entre outras. O que chama atenção são, que estas reinterpretações têm o poder de causar um impacto visual, de maneira que possibilita tratar e repensar questões raciais,  de gênero, padrões estéticos e assim por diante. É claro que essas marcas não são acessíveis para uma grande maioria das pessoas, porém, elas têm grande poder de influência sobre as tendências que podem ser encontradas depois nas chamadas lojas de fast-fashion, e em outras marcas mais acessíveis, sendo assim essas marcas que dominam as passarelas e eventos possuem um grande poder de influência em todo o âmbito das vestimentas, podendo ser visto traços dessas estéticas também nos filmes e produções culturais.

Nos próximos textos abordaremos aspectos mais específicos dessa recepção, como ela se deu no século passado, como atualmente ela vem sendo retomada no movimento Drag, e em contextos marginalizados, entendendo os deslocamentos entre a alta costura, que faz parte de um mercado de luxo, até os movimentos culturais de contestação, em ambientes que se diferenciam do público alvo dessas roupas. Fiquem ligados nas próximas atividades do blog, nos sigam em nossas redes sociais para não perderem as publicações seguintes!

Referências

MILLER, Daniel. Trecos, troços e coisas: estudos antropológicos sobre a cultura material.Editora Schwarcz-Companhia das Letras, 2013.

RHINEHART, Robert. Romans on the Runway: Classical Reception in Contemporary High Fashion. 2021.

  • Renata Cristina S. de Oliveira

Quais elementos da Antiguidade estão presentes em nosso cotidiano?

Olá, pessoal! Esperamos que estejam bem!

É com grande alegria que anunciamos nossa terceira coletânea de trabalhos – resultado direto dos eixos temáticos desenvolvidos por nosso Grupo de Estudos, História Antiga e Conexões com o Presente. Neste volume de textos, produzidos ao longo do segundo semestre de 2021, buscamos trabalhar a presença da Antiguidade na música. Portanto, nossos principais objetivos, além de reunir toda a nossa produção 2/2021 em um único material, é elaborar uma forma interativa de pensar a antiguidade a partir das mídias digitais. Para isso, juntamente dos escritos apresentados, criamos uma playlist no Youtube e no Spotify, facilitando ouvir as canções citadas durante a leitura dos textos. Para acessá-la, basta baixar nosso material e escanear os QrCodes disponíveis ou entrar em nosso canal do Youtube!

Download Volume III – Recepção da Antiguidade na Música: https://drive.google.com/file/d/1Txo40KFZIN8_5wpdorjui7YkJQaAzbYv/view?usp=sharing

Quais elementos da Antiguidade estão presentes em nosso cotidiano?
Imagem de divulgação no Instagram @antigaeconexoes

Olá, pessoal! Estamos preparando as próximas publicações a partir de um novo eixo temático, a recepção da Antiguidade na Música. Dentro deste eixo, escolhemos alguns temas específicos: os usos de espaços da Antiguidade como palco para performances musicais contemporâneas; músicas que pensam a Antiguidade como temática principal; músicas que utilizam a Antiguidade de maneira mais pontual, ou seja, produzindo alusões contemporâneas a partir do que se entende sobre a Antiguidade.

A música era considerada uma das musas durante a Antiguidade. Seu nome, Euterpe, significa deleite, o que já demonstra a relação próxima entre a Música, os sentidos humanos e o prazer. Ao longo da História, a Música ocupou diferentes espaços nas mais diversas sociedades, e nas últimas décadas podemos observar o papel que esta arte ocupa em demonstrar problemas sociais, englobar identidades e, acima de tudo, divertir as pessoas. A relação entre as obras da Antiguidade e a Música não é algo novo, visto que óperas dos séculos XVIII e XIX vão se embasar em obras mitológicas sobre o período antigo. Este tipo de produção musical recupera a Antiguidade exatamente como uma continuidade da tradição clássica, algo comum no período de formação dos Estados Nacionais europeus e na construção de identidades. Entretanto, nosso foco será nas percepções da Antiguidade em músicas na contemporaneidade, ressaltando o caráter popular das apropriações do passado antigo. Nesse sentido, algumas questões norteiam nossas escolhas dentro deste eixo temático: como e por qual motivo a recuperação da Antiguidade na música popular contemporânea ocorre, quais elementos são recuperados, qual a relevância do tema dentro de gêneros musicais específicos, e por que os espaços da Antiguidade são utilizados?

A retomada da Antiguidade na música, seja a partir de músicas e álbuns totalmente dedicados ao tema, seja em referências mais pontuais, demonstra a atualidade destas temáticas e sua permanência na contemporaneidade. Sua utilização pode ser analisada como algo comum ao imaginário popular das últimas décadas, e a um conhecimento pelo passado que cada vez mais é mediado – muitas músicas, como analisaremos, terão como base produções cinematográficas e não as fontes diretamente da Antiguidade. As músicas que tratarão do tema de maneira mais exaustiva, como aquelas pertencentes ao Heavy Metal e suas vertentes, também produzirão uma leitura da Antiguidade que relaciona uma estética do estilo a alguns temas recorrentes nos relatos mitológicos e históricos. 

Além disso, a utilização de um espaço antigo em performances contemporâneas – aqui podemos citar como exemplo mais conhecido o Live in Pompeii, do Pink Floyd – demonstra de maneira bastante expressiva a relação entre passado e presente que comumente discutimos nos estudos da recepção: a retomada de um espaço antigo é sinal de sua permanência (aqui, seja em um sentido estético ou acústico), mas também sua apropriação para algo novo, um novo tipo de experiência com a arte.

Acreditamos que este eixo pode auxiliar nas discussões sobre estas diferentes leituras que a música faz da Antiguidade, promovendo sempre esta última enquanto uma permanência interessante na contemporaneidade e mostrando esta conexão entre antigos e modernos. Esperamos que vocês gostem dos textos tanto quanto nós gostamos – e nos divertimos e conhecemos coisas novas – enquanto estávamos preparando-os. E um último informe: ainda nesse mês teremos uma live no YouTube, então fiquem ligados nas nossas redes sociais!

Referências:

FLETCHER, Kristopher F. B.; OSMAN, Umurhan. (Eds.). Classical Antiquity in Heavy Metal Music. London, New York: Bloomsbury Academic, 2019.

MOORMANN, Eric M. Pompeii’s Ashes: The Reception of the Cities Burned by the Vesuvius in Literature, Music and Drama. Berlin: De Gruyter, 2015.

  • Ingrid Cristini Kroich Frandji

Quais elementos da Antiguidade estão presentes em nosso cotidiano?

Imagem: Divulgação.

Olá, pessoal! Esperamos que estejam bem!

Hoje gostaríamos de compartilhar com vocês nossas indicações sobre cinema! Para a finalização do nosso projeto sobre os estudos de recepção nas produções cinematográficas, preparamos uma listinha de recomendações especiais de filmes mudos com o enredo ligado à Antiguidade greco-romana. Repletos de drama, aventura, romance ou comédia, esperamos que façam vocês se divertir e apreciar essas leituras visuais excepcionais sobre o mundo antigo. Um bom filme!

Cabiria, de Giovanni Pastrone (1914)

Sinopse: Produção cinematográfica italiana, foi dirigida por Giovanni Pastrone em 1914. Seu enredo tem como ponto principal os conflitos entre romanos e cartagineses, especialmente expressos ao longo da história de vida de Cabiria, menina romana capturada por fenícios. É, certamente, um dos clássicos do cinema mudo italiano.

Link para acessar o filme: https://www.youtube.com/watch?v=KN4YszmBpLk

Quais elementos da Antiguidade estão presentes em nosso cotidiano?
Imagem: Pôster de Cabiria, 1914.

Quais elementos da Antiguidade estão presentes em nosso cotidiano?
Imagem: Pôster de Quo Vadis?, 1913.

Quo Vadis?, de Enrico Guazzoni (1913)

Sinopse: Por muitos considerado como um dos primeiros longa-metragens da história do cinema, o filme italiano, de direção de Enrico Guazzoni, foi produzido no ano de 1913. Sua narrativa está voltada ao governo de Nero, destacando-se em sua perspectiva sobre as histórias de martírio cristãs. 

Link para acessar o filme: https://www.youtube.com/watch?v=irmfIbMgJrk

L’Odissea, de Francesco Bertolini (1911)

Sinopse: Adaptação cinematográfica da Odisseia de Homero, a produção, dirigida por Bertolini, Padovan e De Liguoro em 1911, é igualmente um dos exemplos da indústria cinematográfica italiana. Vale ressaltar, também, que foi um dos títulos que competiram na feira mundial “Turin International”, comemorando o aniversário de unificação italiana.

Quais elementos da Antiguidade estão presentes em nosso cotidiano?
Imagem: Pôster de Three Ages, 1923.

The Three Ages, de Buster Keaton (1923)

Sinopse: Comédia de Buster Keaton, foi produzida pelo cinema estadunidense em 1923. Apresenta comparações divertidas entre as formas de amar no mundo pré-histórico, romano e moderno, revelando uma comicidade interessante sobre os dramas amorosos comuns ao cinema.

Link para acessar o filme: https://www.youtube.com/watch?v=_namYNU0wvQ

Ben Hur, a Tale of the Christ, de Fred Niblo (1925)

Sinopse: Inspirado no romance homônimo de Wallace (1880), o filme foi produzido nos Estados Unidos sob a direção de Fred Niblo. Aliando elementos romanos e cristãos, conta a conhecida história de Ben-Hur, príncipe judeu traído por seu amigo romano, Messala. Um ótimo filme para compreender os primeiros passos do cinema épico!

Link para acessar o filme: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ben_Hur_A_Tale_of_the_Christ_(1925).webm

Quais elementos da Antiguidade estão presentes em nosso cotidiano?
Imagem: Pôster de Ben-Hur, a Tale of the Christ, 1925.

  • Heloisa Motelewski

Quais são as principais características da antiguidade?

Surgimento de religiões de forma organizada (maioria politeísta); Acontecimento de várias guerras; Vasto desenvolvimento da cultura e das artes.

Quais são os objetos mais antigos?

Os 11 objetos mais antigos que foram encontrados na Terra.
Uma pulseira de 70 mil anos..
Uma goma de mascar de 5.000 anos. ... .
Um sapato de 5,5 milênios atrás. ... .
O zircão mais antigo. ... .
Máscara pré-ceramica antiga. ... .
Os primeiros banheiros com “descarga” ... .
O hino mais antigo. ... .
Antigo trabalho odontológico terapêutico. ... .

Quais foram as contribuições deixadas por esses povos até os nossos dias?

Arquitetura, grandes construções, astronomia e matemática são algumas de suas contribuições. No entanto, o maior legado dessa civilização foi o desenvolvimento do sistema de escrita ou, como todos nós conhecemos, o alfabeto.

Como a antiguidade nos influência?

Conclui-se que herdamos dos gregos vários legados, como organização do Estado, Tribunal do Júri, Direito, Cultura: Teatro, Jogos Olímpicos, conceito de democracia, enfim, a própria História, Filosofia.