Quais foram para a Roma as consequências económicas sociais e políticas da conquista do Mediterrâneo?

A civilização romana conseguiu formar o mais vasto e organizado império ocidental da Antiguidade. A função da guerra foi crucial para o desenvolvimento romano desde a época arcaica. Basta lembrarmos que, no mito sobre a fundação da cidade Roma, os dois irmãos gêmeos, Rômulo e Remo, são filhos do deus Marte, o deus da Guerra, com a humana Reia Sílvia, descendente do herói Eneas, participante da Guerra de Troia e que teria fugido para a Península Itálica.

Os romanos, desde os primeiros monarcas até a fase imperial, passando pela fase da República, sempre estiveram em guerra. Muitos de seus grandes líderes políticos foram também comandantes militares, como Júlio César, Marco Antônio e Octávio Augusto – todos generais. A necessidade de um exército forte provinha do próprio modo de se conceber a organização política romana. O exército era garantidor da ordem dentro da cidade e nas colônias. À medida em que Roma foi se expandindo, a organização do exército tornou-se cada vez mais complexa – a incorporação de povos estrangeiros conquistados, por exemplo, passou a ser uma prática corrente do exército romano.

A importância do exército para a sociedade romana podia ser vista também na própria evolução urbana e infraestrutural da cidade. Como diz a historiadora Renata Senna Garraffoni em seu ensaio sobre as Guerras Púnicas (os principais conflitos travados pelos romanos):

Em uma cidade bastante militarizada, o exército desempenha um papel fundamental. Paul Petit, em seu livro A paz romana, nos lembra que a força dos romanos estava nas conquistas territoriais. Seu exército, composto por infantes armados de escudos e lanças, acabou por superar outros tipos de armada antiga. Além disso, desenvolveram táticas militares elaboradas como a construção de estradas e de acampamentos fortificados. [1]

A fim de garantir a ordem dos domínios da cidade e de conquistar mais territórios, o exército romano tornava-se cada vez mais complexo e bem preparado. Em se tratando de expansão territorial, Roma só conseguiu expandir-se de fato após derrotar sua principal inimiga: Cartago.

A civilização cartaginesa desenvolveu-se no norte da África, na atual região onde estão localizados os países Tunísia e Marrocos. Os cartagineses eram descendentes dos fenícios, notórios navegadores e impunham uma grande barreira à expansão romana por controlarem o Mar Mediterrâneo. Nesse contexto, o conflito entre Roma e Cartago era inevitável.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Como os cartagineses eram conhecidos pelos romanos como punis, o nome dos conflitos entre eles acabou sendo Guerras Púnicas, que foram três no total (Primeira Guerra Púnica, Segunda Guerra Púnica e Terceira Guerra Púnica).Seguindo ainda as informações da historiadora Renata Garraffoni, podemos entender melhor a importância das Guerras Púnicas para Roma:

As Guerras Púnicas ocupam um lugar de destaque entre os vários conflitos em que Roma se envolve no período republicano. A partir dessas guerras, os romanos vão, gradualmente, desenvolvendo as táticas de seu exército e definindo limites de suas conquistas. Para que se tenha uma ideia da importância dessas guerras, basta pensarmos que antes da Primeira Guerra Púnica os romanos não haviam saído, ainda, da Península Itálica, e ao final da Terceira Guerra já haviam submetido o norte da África e a Península Ibérica e estavam dirigindo seus olhares para as terras mais distantes como a Britannia(atual Inglaterra) e regiões mais orientais. [2]

O momento decisivo das Guerras Púnicas foi o conflito entre Cipíão e Aníbal na Batalha de Zama, que decidiu os rumos da Segunda Guerra Púnica, vencida pelos romanos, que evitaram que Roma fosse conquistada pelos exércitos de Aníbal.

Muitas outras batalhas, como a batalha de Alésia, em que as tropas de Júlio César conseguiram derrotar os gauleses e fazer com que seu líder, Vercingetórix, se rendesse, estão também entre os grandes momentos das conquistas militares da antiga Roma.

NOTAS

[1] GARRAFFONI, Renata Senna.“Guerras Púnicas”. In: MAGNOLI, Demétrio. (org.) História das Guerras. São Paulo: Contexto, 2013. p 49.

[2] Idem. p. 57.


Por Me. Cláudio Fernandes

Através de um clima de desordem pública e tensão social, Roma deixou de ser uma cidade-estado e tornou-se um império, governado por Otávio Augusto (27 a.C. - 14 d.C.). Isso significou transformações significativas na estrutura política e nas relações sociais e econômicas romanas.

O domínio do Império Romano se deu por meio dos saques das regiões conquistadas, com isso o Império apoderou-se de todas as riquezas e terras, transformando-as em províncias. Cada província era obrigada a pagar altos impostos a Roma. Sem nenhum direito, as populações locais eram exploradas pelos governadores das províncias e pelos publicanos, que eram os cobradores de impostos.

As atividades econômicas romanas diversificaram-se após as conquistas. A economia, antes baseada exclusivamente na produção agrícola, foi obrigada a abrir espaço para atividades comerciais. Na realidade, após a conquista do Mediterrâneo, Roma tornou-se uma potência mercantil. O Império Romano passou a ser fundamentalmente mais comercial do que agrário.

Apesar de o governo de Otávio Augusto ser considerado um período de paz e prosperidade para Roma, a distribuição e a posse das terras continuaram sendo um problema para as camadas menos abastadas, pois as terras conquistadas continuaram concentradas nas mãos da teocracia patrícia. Além disso, os pequenos proprietários, após retornarem das inúmeras guerras, não tinham condições de retomar as suas atividades normais em razão do abandono das terras.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Otavio Augusto acreditava que os homens eram totalmente diferentes entre si, por isso estabeleceu uma hierarquia social que conferia direitos e privilégios às pessoas – no entanto, essa política hierárquica não contemplou a classe menos abastada. Os pequenos agricultores foram obrigados a pedir empréstimos, mas, sem condições de pagá-los, suas terras foram tomadas pelos patrícios. Assim, e por outras diversas razões, o latifúndio se tornou comum no Império Romano.

Posteriormente, as conquistas do Império Romano se ampliaram formando um imenso território. No entanto, por mais forte que fosse o Império, ele não possuiu condições de manter a unidade política e administrativa dessa grande região, habitada por vários povos, divididos em diversas classes sociais. Nesse contexto, o Império Romano entrou em processo de decadência.

Aproveite para conferir as nossas videoaulas relacionadas ao assunto: