Qual é a origem da palavra letramento?

Afinal, o que é letramento?

Objetivos

1) Utilizar o conceito de letramento para organizar a prática escolar e aperfeiçoar o processo ensino-aprendizagem da língua portuguesa e dos demais códigos.

2) Por meio da reflexão sobre o conceito de letramento na prática educativa, contribuir para o debate sobre as condições de letramento no Brasil.

Ponto de partida

É possível afirmar que não existe "grau zero de letramento" ou "iletramento", pois todo sujeito, independentemente de condição socioeconômica ou intelectual, faz algum tipo de uso da escrita e de sua prática social.

As controvérsias acerca do conceito de letramento e as dificuldades empíricas de sua mensuração transformam-se na verdade em ferramentas de suma importância para o debate em torno das condições de letramento no Brasil.

Comentário

As transformações socioeconômicas, políticas, históricas e/ou culturais provocam o surgimento de novos conceitos e/ou termos para designar fenômenos recém-surgidos e que ainda se encontram em processo de recepção e compreensão pela sociedade na qual se inserem.

Desse modo, a adoção do vocábulo "letramento" vem atender a uma nova realidade, já que só recentemente a sociedade brasileira passou a preocupar-se com o desenvolvimento de habilidades para utilizar a leitura e a escrita nas práticas sociais e não somente com o saber ler e escrever mecanicamente. Contudo, essa transformação traz consigo problemas de delimitação de sentido, de definição e também de mensuração.

Segundo Magda Soares, letramento seria a tradução para o português da palavra inglesa "literacy", que etimologicamente se origina da forma latina "littera", cujo significado é "letra". Ao latim "littera" foi adicionado o sufixo "-cy", que expressa estado ou condição, para formar o vocábulo inglês "literacy". Parece que do mesmo modo se fez em português, ou seja, ao radical "letra-" foi acrescentado o sufixo "-mento", formando assim a nova palavra.

Alguns autores argumentam que o termo literacia, utilizado em Portugal, seria mais apropriado que letramento. Outros propõem, ainda, o vocábulo leiturização. Há também aqueles que defendem ser desnecessária a adoção de um novo termo, já que acreditam ser a palavra alfabetização própria para abarcar também o novo conceito.

Embora letramento seja equivalente, no Brasil, ao termo "literacy", trata-se de palavras que apresentam conceitos distintos, uma vez que o vocábulo inglês significa capacidade ou habilidade para ler e escrever, e não condição ou estado resultante da utilização da leitura e da escrita nas práticas sociais.

Assim, a acepção de "literacy" parece estar mais próxima de alfabetização e não de letramento, fato que acaba acarretando outro problema em relação a essa terminologia, já que a concepção de sujeito alfabetizado nos países que se valem do termo "literacy" parece estar um pouco distante daquela adotada atualmente no Brasil.

Isso ocorre porque, ainda que atualmente questões relacionadas à capacidade de leitura e interpretação de textos e do uso eficiente da leitura e da escrita preocupem tanto países periféricos ou em desenvolvimento, como o Brasil, quanto países ricos e desenvolvidos, como os EUA, França e Alemanha, percebe-se que existe uma grande diferença no que se refere às exigências de letramento entre eles.

Atualmente a definição mais difundida é a apresentada por Magda Soares: "Letramento é o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever, o estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como conseqüência de ter-se apropriado da escrita." Desse modo, letramento seria resultado ou conseqüência do processo de alfabetização.

Enquanto se utiliza o termo analfabeto em oposição a alfabetizado, não é possível, de maneira análoga, aplicar a mesma relação entre letrado e iletrado. Mesmo o indivíduo que não sabe ler nem escrever de alguma maneira faz uso da escrita quando se relaciona com outros atores sociais, seja pedindo que outro leia para ele uma carta ou bula de remédio, seja tentando chegar a algum bairro da cidade, o qual ele ainda não conheça, ou mesmo relatando um fato ou acontecimento a alguém.

Para saber mais

A professora Magda Becker Soares, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), coordena grupos de pesquisa sobre alfabetização e letramento.

Qual é a origem da palavra letramento?

Estamos falando de um livro publicado em 1995, há 25 anos apenas! O século passado parece distante e, no terreno das pesquisas acadêmicas, representa mesmo um longo período, no qual trabalhos diversos podem ser realizados para aprofundar temas relevantes. De fato, desde a primeira edição de Os significados do letramento, muitos estudos sobre o tema foram feitos e muitos artigos e livros foram publicados. O termo 'letramento' também foi ressignificado; hoje, inclusive, é mais comum falar em letramentos, no plural, ou multiletramentos! Sobre isso falaremos futuramente.

O livro, organizado por Angela Kleiman, é uma coletânea de artigos. O primeiro deles, assinado pela organizadora, intitula-se Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola. Nele, a autora nos conta que os estudos sobre letramento eram, naquele momento, incipientes e que o conceito de letramento surgiu para demarcar um terreno distinto daquele relacionado aos estudos sobre alfabetização. Segundo ela, a alfabetização remetia (e ainda remete) a competências individuais no uso da escrita. Por outro lado, letramento surgiu para aludir aos usos sociais da escrita, os quais são heterogêneos. Tão variados quantos os contextos em que se concretizam.

Kleiman explica que a palavra letramento ainda não estava dicionarizada em 1995 e que o termo havia sido cunhado por Mary Kato, em 1986, no livro No mundo da escrita (editora Ática). Acrescenta que se trata de conceito complexo, podendo ser interpretado de maneiras diferentes segundo as pesquisas desenvolvidas.

O capítulo é particularmente significativo pelas informações que aporta sobre os modelos de letramento identificados por Brian Street (1984): autônomo e ideológico. Falarei sobre esses modelos brevemente, em outro texto. Por ora, podemos distinguir os dois, dizendo que o autônomo é aquele associado a uma maneira convencional e universal de ler e escrever; ou seja, uma vez aprendida a tecnologia da escrita, o estudante alfabetizado estaria habilitado para compreender e produzir textos. Textos de modo geral, sem nenhuma relação com contextos e com condições de produção, circulação e recepção. Já o ideológico concebe que

"as práticas de letramento, no plural, são social e culturalmente determinadas, e, como tal, os significados específicos que a escrita assume para um grupo social dependem dos contextos e instituições em que ela foi adquirida" (KLEIMAN, 2012 [1995], p. 21)

A autora aborda no artigo vários assuntos vinculados ao tema principal, tais como: letramento e desenvolvimento cognitivo, a dicotomização da oralidade e da escrita, qualidades intrínsecas da escrita, práticas discursivas e eventos de letramento, as práticas de letramento na escola, letramento e alfabetização de adultos. Como se pode ver, trata-se de um texto imprescindível para quem se interessa por conhecer mais sobre letramento, especialmente para entender o contexto em que o conceito surgiu e começou a se fortalecer. De lá pra cá, passou-se a falar de letramento(s) com muita frequência, não só no âmbito acadêmico, mas também e, principalmente, na escola. Hoje, já não é mais possível falar de práticas de leitura e de escrita sem fazer referência ao conceito. É bem verdade que talvez se fale mais sobre letramento do que efetivamente se realizem práticas fundamentadas teorica e metodologicamente no conceito.

O livro tem outros capítulos de autoria de pesquisadoras que atualmente contam com uma larga produção acadêmica: Roxane Rojo, Stella Maris Bortoni, Inês Signorini e Maria de Lourdes Matencio, dentre outras.

Angela Kleiman é uma referência no campo de estudos sobre letramento e muitos de seus textos estão disponíveis on-line:

Alfabetização e letramento: implicações para o ensino

Letramento e suas implicações para o ensino de língua materna

Os estudos de letramento e a formação do professor de língua materna

Letramento na contemporaneidade

Preciso ensinar o letramento?

Veja o episódio 12 no Canal Saber Ler!

Qual é o significado da palavra letramento?

Letramento é o resultado da ação de ensinar ou aprender a ler e escrever: é a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como conseqüência de ter se apropriado da escrita, (Soares, 2001). Nessa perspectiva, o letramento é um conceito que surgiu para ampliar o termo alfabetismo.

Quem foi o criador do termo letramento?

Kleiman explica que a palavra letramento ainda não estava dicionarizada em 1995 e que o termo havia sido cunhado por Mary Kato, em 1986, no livro No mundo da escrita (editora Ática).

Quando surgiu o termo alfabetização e letramento?

Definindo alfabetização e letramento A palavraletramento” foi introduzida por volta de 1980 no Brasil, na França (illettrisme) e em Portugal (literacia) para definir práticas sociais de leitura e escrita que decorrem do processo de aprendizagem da leitura e escrita [8].

Quais são os tipos de letramento?

O letramento é um processo muito amplo e complexo, e envolve diversos aspectos: pessoais, sociais, culturais, históricos, econômicos, tecnológicos, entre outros.