Qual é a relação entre a presença de aglutininas e aglutinogênios para a definição dos tipos sanguíneos?


Por Priscilla Moniz

Pós graduanda em Hematologia pela UFRJ

Introdução

Landsteiner foi um cientista que, ao observar muitos acidentes em transfusões,  provou entre 1900 e 1901 que a espécie humana possui grupos sanguíneos diferentes. Notou-se em testes que as hemácias do doador, em alguns casos, aglutinavam em contato com plasma do sangue do paciente.

A partir disso, foi possível relacionar o fenômeno das reações entre anticorpos e antígenos.

Antígenos são todas as substâncias que nosso organismo entende ser um “invasor”, podendo ser uma proteína ou um polissacarídeo e os anticorpos são proteínas encontradas no plasma sanguíneo e têm a função de neutralizar ou destruir a substância invasora. Isso só é possível, pois o anticorpo tem uma forma complementar à do antígeno, sendo a reação antígeno-anticorpo específica.

Grupos sanguíneos

Os seres humanos apresentam quatro grupos sanguíneos:

o Grupo A: Possuem antígeno chamado aglutinogênio A;
o Grupo B: Possuem antígeno chamado aglutinogênio B;
o Grupo AB: Possuem os dois antígenos, aglutinogênio A e B;
o Grupo O: Não possuem nenhum dos dois antígenos.

O gene A (ou IA) determina a formação do aglutinogênio A, o gene B (ou IB) determina a formação do aglutinogênio B, o gene O (ou i) não forma nenhum aglutinogênio e os genes A e B determinam a formação dos alutinogênios A e B. O plasma também possui anticorpos chamadas aglutininas são estas que causam os acidentes em transfusões, pois indivíduos do grupo A possuem aglutininas Anti-B, do grupo B possuem aglutininas Anti-A e os do grupo O possuem as duas aglutininas e os indivíduos AB não possuem nenhuma dessas substâncias (TABELA 1).

GENÓTIPOS GRUPO  AGLUTINOGÊNIO (nas hemácias)  AGLUTININA (no plasma) 
IA IA - IA i  Aglutinogênio A Anti-B
IB IB - IB i B  Aglutinogênio B Anti-A
IA IB  AB  Aglutinogênios AB Nenhuma 
ii O  Sem aglutinogênio  Anti-a e anti-b

Qual é a relação entre a presença de aglutininas e aglutinogênios para a definição dos tipos sanguíneos?
Figura 1: pode ser observada aglutinação nos grupo A e AB ao adicionar o soro anti-A e aglutinação do grupo B e AB no soro anti-B (Foto: Reprodução/Colégio Qi)

Para verificar a presença do grupo sanguíneo de um indivíduo, são feitos  testes, como se vê na imagem ao lado (Figura 1), colocando uma gota de sangue do indivíduo a ser verificado nas extremidades de cada lâmina e adicionando soro contendo aglutinina Anti-A em uma das extremidades e o soro com aglutinina Anti-B no outro. Assim, pode ser observada a  aglutinação de alguns grupos na presença do soro anti-A e/ou anti-B.

TRANsFUSÕES e Paternidade

Em caso de erro na transfusão, o sangue do doador será aglutinado pelo plasma do paciente resultando na obstrução de vasos sanguíneos, contudo os glóbulos brancos do paciente destruirão as hemácias que seriam como “invasoras” para as nossas células  de defesa. Ao destruir as hemácias, hemoglobina e outras substâncias são liberadas podendo causar lesões renais, reações alérgicas e outras, o que pode resultar em morte.

Qual é a relação entre a presença de aglutininas e aglutinogênios para a definição dos tipos sanguíneos?
Figura 2: cruzamentos possíveis relativos ao sistema ABO (Foto: Colégio Qi)

É possível fazer o cruzamento dos grupos sanguíneos em casos de paternidade duvidosa, contudo não é possível afirmar que o indivíduo é o pai mesmo da criança e sim que o indivíduo não pode ser pai. Por exemplo, fazendo o cruzamento de monoibridismo, a mãe sendo do grupo AB e o suposto pai do grupo O jamais poderão ter um filho AB ou O, no entanto se a criança for do grupo A ou B, não é possível provar que esta é realmente filho desse suposto pai. Também se pode fazer o cruzamento monoibridismo do sistema ABO para verificar os possíveis grupos dos filhos, como no caso na Figura 2.

fator Rh

O fator Rh depende de um antígeno nas hemácias, é diferente dos aglutinogênios. O Rh+ é responsável pela presença de antígenos, e possui o alelo dominante D (ou Rd) e o Rh- é responsável pela ausência do antígeno e possui alelo d (ou rh). Quando em um casal, um indivíduo possui Rh- possuindo alelo dd e o outro Rh+, Dd há duas possibilidades, sendo 50% Dd (Rh+) e 50% dd (Rh-).

Em casos em que a mãe possua Rh- e o filho Rh+, as hemácias do filho passam para a circulação da mãe, durante a gravidez e, principalmente, durante o parto. O organismo da mãe, então,  estimula a produção do anticorpo anti-Rh.  Por não ter uma produção rápida, o primeiro filho nascerá sem problemas, mas, em uma próxima gestação, os anticorpos concentrados no sangue da mãe, atravessam a placenta resultando na aglutinação das hemácias do feto. A criança desenvolve uma doença chamada eritoblastose fetal ou doença hemolítica do recém-nascido (DHRN).

Essa doença nos casos mais graves pode levar à morte, pois ocorre aborto involuntário. Se a criança nasce, é submetida a troca gradativa de seu sangue por sangue Rh-, e serão substituídas naturalmente. Outra forma de prevenção é a mãe Rh-,  logo após o parto, receber uma aplicação de anti-Rh. Dessa forma, os anticorpos destroem as hemácias positivas deixadas pelo feto e a mãe que continuará sendo Rh- poderá novamente engravidar sem correr risco para o feto, mesmo ele sendo Rh+, pois será como se fosse a primeira gravidez.

Exercícios

(FGV-SP-2009) AUSTRALIANA MUDA DE GRUPO SANGÜÍNEO APÓS TRANSPLANTE.
A australiana Demi-Lee Brennan, 15, mudou de grupo sanguíneo, O Rh–, e adotou o tipo sangüíneo de seu doador, O Rh+, após ter sido submetida a um transplante de fígado, informou a equipe médica do hospital infantil de Westmead, Sydney. A garota tinha nove anos quando fez o transplante. Nove meses depois, os médicos descobriram que havia mudado de grupo sangüíneo, depois que as células-tronco do novo fígado migraram para sua medula óssea. O fato contribuiu para que seu organismo não rejeitasse o órgão transplantado.(Folha on-line, 24.01.2008)

Sobre esse fato, pode-se dizer que a garota

a) não apresentava aglutinogênios anti-A e anti-B em suas hemácias, mas depois do transplante passou a apresentá-los.
b) apresentava aglutininas do sistema ABO em seu plasma sanguíneo, mas depois do transplante deixou de apresentá- las.
c) apresentava o fator Rh, mas não apresentava aglutininas anti-Rh em seu sangue, e depois do transplante passou a apresentá-las.
d) quando adulta, se engravidar de um rapaz de tipo sanguíneo Rh–, poderá gerar uma criança de tipo sanguíneo Rh+.
e) quando adulta, se engravidar de um rapaz de tipo sanguíneo Rh+, não corre o risco de gerar uma criança com eritroblastose fetal.

Resposta: E

(Unesp-2008) Observe as figuras.

Qual é a relação entre a presença de aglutininas e aglutinogênios para a definição dos tipos sanguíneos?
Figura (Foto: Reprodução)

No caso específico dos pacientes que ilustram os cartazes, ambos usuários de banco de sangue, pode-se dizer que Rafael pode receber sangue de doadores de:

a) quatro diferentes tipos sangüíneos, enquanto que o sr. Roberto pode receber sangue de doadores de dois diferentes tipos sangüíneos.
b) dois diferentes tipos sangüíneos, enquanto que o sr. Roberto pode receber sangue de doadores de quatro diferentes tipos sangüíneos

c) dois diferentes tipos sangüíneos, assim como o sr. Roberto. Contudo, os dois tipos sangüíneos dos doadores para o sr. Roberto diferem dos tipos sangüíneos dos 
doadores para Rafael.
d) dois diferentes tipos sangüíneos, assim como o sr. Roberto. Contudo, um dos tipos sangüíneos dos doadores para o sr. Roberto difere de um dos tipos sangüíneos dos 
doadores para Rafael.
e) um único tipo sangüíneo, assim como o sr. Roberto. O doador de sangue para Rafael difere em tipo sangüíneo do doador para o sr. Roberto.

Resposta: A
O Rafael por ser do tipo A+, pode receber transfusão de indivíduos A+, A-, O+, O-, enquanto o Sr. Roberto pode receber transfusão de apenas dois tipos, B-, O-. 

(Uerj-1999) No quadro a seguir, as duas colunas da direita  demonstram  esquematicamente  o  aspecto  “in vitro” das reações no sangue dos indivíduos de cada grupo sanguíneo ABO aos anti-A e Anti-B.

Qual é a relação entre a presença de aglutininas e aglutinogênios para a definição dos tipos sanguíneos?
Figura (Foto: Reprodução)

a) Explique o fenômeno que ocorreria com as hemácias de um indivíduo do grupo A ao receber sangue de um indivíduo do grupo B.
b) Sabe-se que o aglutinogênio é uma proteína da membrana das hemácias. explique por que a aglutinação não ocorreria se o aglutinogênio fosse uma proteína citoplasmática.

Resposta:
a) Sofreria a reação com as aglutininas A.
b) Porque o aglutinogênio não estaria acessível às aglutininas.


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Qual a relação entre aglutinina e aglutinogênio?

Aglutininas e aglutinogênios As substâncias do plasma foram chamadas de aglutininas, e aquelas que estavam presentes na parede das hemácias foram chamadas de aglutinogênio. Essas aglutininas nada mais são do que anticorpos, os quais reagem com os aglutinogênios nas hemácias.

O que são aglutininas e aglutinogênios Qual a sua relação com as transfusões sanguíneas?

A aglutinina atua como um tipo de anticorpo que pode levar à aglutinação de células uma vez que sejam identificadas como um antígeno. Trata-se de uma proteína que tem como função combater o aglutinogênio que é estranho ao organismo. Pode gerar a aglutinação de microrganismos e hemácias que possuem o aglutinogênio.

Quais são as aglutininas e os aglutinogênios presentes no sangue B+?

Existem dois tipos de aglutinogênios, o A e o B. O aglutinogênio A está presente no sangue A, enquanto o B está no sangue tipo B. As pessoas com sangue AB possuem ambos aglutinogênios: A e B. Já as pessoas de sangue tipo O não possuem aglutinogênios em suas hemácias.

O que são as aglutininas e os aglutinogênios?

Os aglutinogênios são antígenos encontrados na superfície das hemácias. Existem dois tipos de aglutinogênios: A e B. As aglutininas são anticorpos presentes no plasma sanguíneo e existem em dois tipos: anti-A e anti-B.