Quem morre em Rua do Medo Parte 1?

Quem morre em Rua do Medo Parte 1?

14 ANOS 105 minutos

  • Direção

    Leigh Janiak

  • Título original

    Fear Street

  • Gênero:

  • Ano:

    2021

  • País de origem:

    EUA

Crítica


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Sinopse

Em 1994, um grupo de adolescentes vive em Shadyside, uma das cidades com maiores índices de criminalidade nos Estados Unidos. Quando uma vendedora é atacada dentro de um shopping center por um homem mascarado, os jovens começam a suspeitar que a morte esteja conectada a crimes lendários que aconteceram no local. Juntos, precisam descobrir porque tantos assassinatos acontecem especialmente ao redor deles.

Crítica

A proliferação dos serviços de streaming nos últimos anos tem produzido um risco considerável ao cinema, sobretudo aquele compreendido enquanto espetáculo coletivo, dentro de uma sala com alta qualidade de som e imagem. Entretanto, as vantagens destas plataformas são inegáveis: para além de abrirem uma nova janela de exibição aos filmes, permitem o lançamento de uma saga atípica como Rua do Medo. Nos cinemas, teria sido impossível lançar três longas-metragens de uma franquia em três semanas seguidas – neste caso, 2 de julho, 9 de julho e 16 de julho. O cinema passa a investir na experiência de consumo acelerado das séries – agora, até as sagas de longas-metragens precisam ser maratonadas. Além disso, no circuito tradicional, o filme baseado numa série de livros juvenis, e interessada em conquistar os jovens, jamais poderia trazer tanto sangue, vísceras, palavrões e insinuações potentes de sexo. Rua do Medo 1994: Parte 1 (2021) possui classificação etária 18 anos, o que excluiria seu público-alvo das sessões convencionais. Nas casas (e também nos computadores, nos celulares etc.), a menção à idade se torna mera sugestão. Os adolescentes não precisam mais se esconder para assistirem a uma obra violenta deste tipo: o conteúdo está disponível com alguns cliques.

Quem morre em Rua do Medo Parte 1?

Além disso, a produção reúne épocas e estilos de cinema que só seriam possíveis numa pós-modernidade veloz, amante das colagens, das referências e nostálgica pelo passado. O primeiro filme aposta na trilha sonora, nas roupas e tendências dos anos 1990, já o segundo filme voltará a 1976, e o terceiro, a 1666 – o que deve permitir o desenvolvimento de estéticas autônomas, ainda que interligadas pelo modus operandi das mortes e pela cidade fictícia de Shadyside. No entanto, trata-se claramente de um produto de 2021. As cenas e os conflitos possuem a velocidade da Internet, concebidos ao público que se entedia com rapidez, habituado a mudar de conteúdo nas timelines das redes sociais. Apesar da duração considerável de 107 minutos, a narrativa apresenta um ritmo ágil, sem contemplação nem espaço para dúvidas: os personagens têm uma ideia para combater o inimigo, e num corte simples, estão executando os planos. Com mais um corte, colhem os resultados da tentativa. O trabalho de iluminação, favorecendo as cores neon, e os amplos movimentos de câmera (vide o ataque com uma navalha de madrugada, e o clímax dentro de um supermercado) favorecem a impressão de um cinema cuidadoso, endinheirado e alinhado à estética do século XXI. Em paralelo, a presença de uma cineasta mulher, pouco conhecida mundialmente, à frente de uma iniciativa deste porte (Leigh Janiak dirige os três filmes) teria sido inviável décadas atrás.

A maneira de combinar referências e estilos de terror também corresponde a uma percepção contemporânea das imagens. A jornada se inicia com os prazeres típicos do slasher, semelhante a uma nova versão de Pânico (1996 - 2011) – o assassino mascarado com uma faca na mão remete à produção de Wes Craven. Embora as passagens obrigatórias deste subgênero se mantenham, as explicações psicológicas primárias de décadas atrás (“Vou matar todo mundo porque o seu pai fez sexo com a minha mãe”) soam pouco verossímeis nos nossos tempos. Agora, as justificativas precisam combinar a estrutura do slasher com ferramentas dos filmes de mortos-vivos (os assassinos ressuscitam depois de cortados e queimados), do horror sobrenatural (a presença de uma bruxa secular cujo túmulo foi profanado), do terror-tortura nos moldes de Jogos Mortais (vide a carnificina rumo à conclusão) e das obras de possessão (conforme revelado na cena final). As críticas ao consumo, típicas dos filmes de mortos-vivos, marcam este retrato da miséria social, iniciado num shopping center e concluído num supermercado. A juventude abandonada pelos adultos, precisando amadurecer por si própria, lembra projetos que vão de Corrente do Mal (2014) a Verão de 84 (2018), Stranger Things (2016 -) e Os Goonies (1985). Pelo caminho, há referências a O Iluminado (1980), Crepúsculo dos Deuses (1950), O Massacre da Serra Elétrica (1974) e produções trash de monstros. Assim como os blockbusters de super-heróis buscam conquistar adultos e adolescentes, de todas as origens, raças e posições ideológicas, Rua do Medo 1994: Parte 1 tenta representar a “soma de todos os terrores”, apelando aos mais diversos públicos do cinema de gênero.

É interessante que as duas protagonistas sejam um casal de meninas lésbicas (na verdade, uma lésbica e outra bissexual), cercadas por personagens negros, de origem latina e asiática, percebidos como integrantes de um núcleo homogêneo. A homofobia desempenha um papel discreto, deixando que a paixão entre Deena (Kiana Madeira) e Samantha (Olivia Scott Welch) se instaure com leveza. Em paralelo, desenha-se o fundo de luta de classes: os protagonistas são marginais, sejam eles a garota pouco popular, a cheerleader que vende drogas e o garotinho negro aficionado por homicídios famosos. A produção situa Shadyside, exemplo de cidade degradada e perigosa, ao lado de Sunnyvalle, um oásis burguês de beleza e arrogância, contrapondo ambos de modo didático. Não se trata de um recurso muito sutil, porém a sutileza também passa longe das escapadas libidinosas dos cinco protagonistas simultaneamente, e das sequências de discursos inspiradores pré-clímax, em paralelo. O filme possui um roteiro tão funcional quanto quadrado, clássico. Cada cena possui um início, meio e fim, além de um propósito evidente. A diretora e a Netflix possuem preocupações maiores do que reinventar a linguagem cinematográfica ou propor subversões e ambiguidades. Por isso, cada sugestão se transforma em certeza no minuto seguinte: “Talvez exista uma maneira de salvar Sam! Existe uma mulher que sobreviveu aos ataques! Mas ela morreu antes! Então é preciso morrer e ressuscitar!”. Os personagens pensam enquanto agem.

Quem morre em Rua do Medo Parte 1?

Rua do Medo 1994: Parte 1 apresenta um mecanismo eficaz, para o bem e para o mal. Por um lado, possui um nível de produção, iluminação, cenários, figurinos e elenco que um terror de baixo orçamento jamais alcançaria. As imagens são lindas de ver, e seriam ainda mais impressionantes na tela grande. Por outro lado, perde o aspecto sujo, visceral, ambicioso e libertário que apenas uma obra independente e autoral poderia ter. Quando foram lançados, os slashers clássicos dos anos 1970 e 1980 constituíam pequenos gestos inovadores, capazes de chocar os padrões da época. Ora, a produção da Netflix está mais próxima dos terrores refinados da nova franquia It (2017 - 2019) e de Histórias Assustadoras para Contar no Escuro (2019) – com os quais compartilha o encontro de lendas distintas numa única trama, a fábula traumática de passagem à fase adulta e a paixão pelos corredores vazios (de hospitais, escolas e mercados), convertidos em palcos privilegiados do terror. O saldo é certamente positivo, revelando o talento impressionante de Kiana Madeira, interpretando uma jovem lésbica com notável respeito, além da desenvoltura cômica de Fred Hechinger como Simon e a fragilidade de Benjamin Flores Jr. no papel de Josh. A jornada se encerra sem um final propriamente dito, pois a sequência está prestes a chegar. Teria sido mais interessante que a narrativa funcionasse de modo autônomo, fechando-se por si própria ao invés de lançar novos ganchos a serem resolvidos. No entanto, a saga Rua do Medo possui a aparência de um projeto que só ganhará sentido quando as três obras forem descobertas e interpretadas em conjunto.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.

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Quem morre em Rua do Medo Parte 1?

Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.

Quem morre em Rua do Medo Parte 1?

  • A Morte Habita à Noite - 15 de dezembro de 2022
  • Sol - 8 de dezembro de 2022
  • Deus Tem AIDS - 1 de dezembro de 2022

Grade crítica

Quem morre em Rua do Medo 1?

A Morte do Simon e Kate Enquanto isso, o Simon, a Kate e o John tentam distrair os monstros. Mas o Simon e a Kate morrem, e eu não sei vocês mas eu sofri com a morte deles, eu gostava dos dois, e fiquei bem pra baixo, quando eles morreram.

Quem morre no filme a Rua do Medo?

Kiana Madeira, a Deena, escolheu a morte de Kate (Julia Rehwald) no fatiador de pão, uma das mais explícitas da trilogia: “É o tipo de coisa que você pensa que nunca iria acontecer, mas no filme acontece”.

O que acontece em Rua do Medo Parte 1?

Ambientado em 1994, um grupo de adolescentes descobre que os eventos aterrorizantes que assombram a cidade há gerações podem estar todos conectados — e que eles podem ser as próximas vítimas. É aí que descobrem que todas as mortes estão ligadas à lenda local de um bruxa do século 17 chamada Sarah Frier.

Quem morre no filme Rua do Medo 1994?

O que aconteceu com Sam no final de Rua do Medo? O final de Rua do Medo 1994 é extremamente radical: após uma batalha furiosa com os assassinos sobrenaturais, Kate (Julia Rehwald) e Simon (Fred Hechinger) são brutalmente mortos no mercado.