Ao falarmos da utilização da informática na educação inclusiva, precisamos levar em conta que

1 INTRODUÇÃO

O debate sobre inclusão social tem tido notoriedade desde o final do século XX, no qual se presenciou a imensa revolução científico-tecnológica. Hoje o mundo está globalizado e interconectado por milhares de redes digitais, uma era com importantes desafios que exigem repensar e recriar a questão da inclusão da pessoa com deficiência na sociedade. Em julho de 2015 foi instituída a lei número 13.146 (Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência), um marco legal que garante e preserva os direitos das pessoas com deficiências.

As conquistas de PcD quanto às possibilidades de convívio social, inserção em escolas regulares, educação de jovens e adultos, cursos de educação continuada e acesso à tecnologia são notórias, eles sentem-se incluídos, considerando-se que a aprendizagem se tornou mais estimulante e igualitária. A inclusão social e digital possibilita a democratização da informação e da comunicação, sendo, dessa forma, campo fértil para nutrir uma sociedade mais inclusiva.

O SESI de Guaporé oferece cursos de Informática e Inclusão Digital para PcD desde 2011, em que  os alunos vêm alcançando, além da inclusão no mundo da informática, habilidades de leitura, escrita, cálculos, lógica e pesquisa. Com o olhar atento e cuidadoso para as necessidades educacionais de seus alunos, a equipe de educação continuada recebeu uma capacitação específica, com o objetivo de qualificar o trabalho a ser realizado com esses jovens. Dessa forma, ampliaram o olhar e ressignificaram as formas de planejar e avaliar a aprendizagem nos cursos de informática. A abordagem do curso possibilita a qualificação para o trabalho, além do aprendizado de conviver com as diferenças.

O objetivo do curso de informática e educação inclusiva do SESI é proporcionar, aos alunos com deficiência, além do contato com a informática, qualificação e melhores oportunidades de trabalho, tendo em vista a importância dessa ferramenta na sociedade atual. Assim, apresenta-se nesse artigo o desenvolvimento de um trabalho realizado com alunos PcD, analisando o processo avaliativo e as conquistas dos educandos no processo educativo.

2 CAMINHOS, PRÁTICA E DESCOBERTAS

Este artigo foi desenvolvido a partir do trabalho realizado com 12 alunos que frequentaram os cursos de Informática e Inclusão Digital do SESI em Guaporé, no período de  março até dezembro de 2013. Esses alunos possuem diferentes necessidades educacionais, sendo Síndrome de Down a que  predomina. A idade desses alunos varia de 17 anos a 41 anos, alguns deles oriundos de municípios do entorno de Guaporé.

Foram acompanhados trabalhos realizados nos cursos de PowerPoint, Microsoft Word, Internet e Windows, com fotos de todas as etapas do processo de ensino e de aprendizagem, e as diferentes estratégias para o desenvolvimento das habilidades e competência previstas em cada módulo. O trabalho com os alunos iniciou por meio de contato realizado entre o SESI e a Instituição de origem, que já atendia PcD. Desde o princípio, os alunos manifestavam interesse pela  informática voltada à alfabetização.

Grande parte dos alunos iniciaram os referidos cursos sem conhecimentos básicos em informática, como: controle da seta do mouse, criação de pastas, entendimento das funções das teclas, teclas de atalho, calculadora, entre outros. Com o passar das aulas, instigados pela Instrutora, o interesse dos alunos despertou para oficinas que contemplam aspectos do mundo do trabalho, tais como: produção de currículos, tabelas de compra e venda, organização de custos, organização de materiais, ética profissional, etiqueta profissional, netiqueta (etiqueta na internet), entre outras habilidades e conhecimentos técnicos.

Algumas adaptações foram sendo realizadas conforme a necessidade de cada aluno e turma, o que possibilitou que diversas experiências significativas ocorressem, rompendo a simples reprodução do conteúdo. A diminuição do número de discentes por turma e a extensão do período programado para as aulas foram mudanças necessárias, visando o melhor acompanhamento e aproveitamento dos cursos, o que contribuiu para que os alunos conseguissem atingir os objetivos propostos e, assim, pudessem ingressar no próximo nível do curso.

Foram necessárias duas semanas de atividades complementares nos cursos de Microsoft Word e Internet para que os alunos alcançassem os objetivos dos cursos e concluíssem as atividades, podendo receber a certificação e utilizar as ferramentas de forma plena.

Outra adaptação necessária foi a elevação da mesa do computador para um aluno cadeirante, visto que a cadeira de rodas e a mesa dificultavam a utilização do teclado e do mouse adequadamente, do ponto de vista ergonômico; após essa adaptação, o aluno pode realizar os cursos sem necessidade de troca de cadeiras. Para os alunos com deficiência visual, foi utilizado o programa Lupa do Windows, que permite ampliação de tela, impressões com letras maiúsculas e fonte ampliada.

Após o conhecimento das ferramentas digitais de interação, observou-se a ampliação da comunicação entre os alunos, bem como entre eles e seus familiares e amigos. Além disso, as estratégias que propiciaram interação e socialização atraíram significativamente a atenção dos educandos. No decorrer do curso, mandavam e-mails contando histórias do dia-a-dia, participavam de bate-papos através da linguagem escrita e de figuras, criaram perfis em redes sociais e aprenderam a realizar pesquisas em sites seguros. Essas estratégias propiciaram a interação entre os educandos, o que, para Vygotsky, é uma das principais questões implicadas no processo de aprendizagem.

Para Vygotsky, a aprendizagem sempre inclui relações entre as pessoas. A relação do individuo com o mundo está sempre medida pelo outro. Não há como aprender e apreender o mundo se não tivermos o outro, aquele que nos fornece os significados que permitem pensar o mundo a nossa volta (VYGOTSKY, 1991 apud LIMA, 2008).

No momento de trabalhar tabelas, foram introduzidas questões do dia-a-dia: a soma da idade dos familiares, a média de venda dos artesanatos que os alunos produzem em outra Instituição, a soma dos valores de determinados produtos que compramos no mercado e de produtos necessários para fazer uma receita de um bolo. Dessa forma, procurou-se capacitá-los a buscar soluções para as situações da vida prática, tornando a aprendizagem significativa.

No curso de Word, as estratégias desenvolvidas incluíram elaboração de listas de compras, produção de currículo, solicitação de uma bolsa de estudos para uma universidade espanhola, entre outras atividades que interessavam aos alunos. Já nas aulas de PowerPoint, os educandos trabalharam os países da América Latina, conhecendo a cultura, os costumes, as comidas e bebidas típicas, localização através de mapas, pesquisas por viagens, preços de hotéis, lugares turísticos, palavras cognatas e também o respeito a outras culturas.

3    INFORMÁTICA APLICADA À INCLUSÃO

No contexto educacional, os recursos de informática estão cada vez mais inseridos nos processos de ensino e de aprendizagem. As tecnologias têm possibilitado avanços na área da inclusão, por meio de novas e diferentes mídias, ampliando progressivamente a indústria da comunicação. Com isso, é importante possibilitar aos educandos a conexão com o dinamismo mundial. Não é apenas uma questão de comunicação, mas sim de oportunizar-lhes  novas percepções e possibilidades de pensar e de se relacionar com o mundo. Perrenoud ressalta que “[…] a relação com o saber é a relação com o mundo, consigo mesmo e com o outro de um sujeito, confrontando com a necessidade de aprender” (2000, p.75).

A informática auxilia o estudante a construir relações entre informações e conhecimentos, além de ser uma ferramenta importante nas primeiras etapas da aprendizagem, contribuindo para a compreensão de conceitos linguísticos, matemáticos, históricos e muitos outros. A pessoa com deficiência constrói, através de sua vivência corporal, interação com os meios midiáticos e o mundo a sua volta, segundo Pequeno e Santos (2011).

A educação inclusiva é uma área rica em experiências de aprendizagem, de modo que o educador se insere nesse contexto como mediador, adaptando as estratégias para que os alunos possam superar determinadas dificuldades de aprendizagem.

Incluir é incorporar, no currículo visível e naquele que é oculto, a diversidade como um aspecto presente e que deve ser valorizado e não excluído. É entender que não é o aluno que precisa se adaptar a tudo, mas que a escola deve mudar para adaptar-se aos diversos alunos que frequentam a instituição (MACIEL; SILVA, 2005).

Mais importante do que a formação específica em inclusão, é essencial que todos os educadores, especializados ou não em educação inclusiva, estejam abertos ao aperfeiçoamento contínuo, desenvolvendo competências que ampliem as condições de aprendizagem dos alunos com deficiência, assim como dos alunos que apresentam outras necessidades educacionais.

Isso supõe não só competências mais precisas em didática e em avaliação, mas também capacidades relacionais que permitam enfrentar, sem se desestabilizar, nem desencorajar, resistências, medos, rejeições, mecanismos de defesa, fenômenos de transferência, bloqueios, regressões e todo tipo de mecanismos psíquicos no decorrer dos quais dimensões afetivas, cognitivas e relacionais conjugam-se para impedir que aprendizagens decisivas comecem ou prossigam normalmente (PERRENOUD, 2000, p. 61).

Embora existam inúmeras maneiras de avaliar um aluno, em uma concepção pedagógica mais moderna, segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, 1996), as práticas avaliativas devem assumir um caráter diagnóstico processual e contínuo. Por isso, os cursos oferecidos foram adaptados de acordo com as necessidades dos alunos com deficiência. A flexibilização da metodologia, a adaptação de atividades e de recursos didáticos e o uso de tecnologia assistiva ampliam as condições de aprendizagem dos alunos com deficiência, incluindo-os de fato no contexto educacional.

Nessa perspectiva, o método de avaliação dos processos educativos também deve ser considerado. A avaliação nos cursos de informática do SESI refletem os preceitos educacionais atuais, contemplando o aprender a ser e o aprender a fazer. Prioriza-se a aprendizagem de mundo, a atuação em diferentes circunstâncias, o desenvolvimento da autonomia e o respeito às individualidades. Delors (2012) destaca estes preceitos como uma forma de compreensão efetiva do que o aluno pode realizar ou já realiza em seu dia-a-dia, enfatizando que não se deve deixar de explorar nenhuma habilidade, pois as diferentes competências são como tesouros escondidos no interior de cada ser humano, em suas particularidades e individualidade.

A avaliação não verifica somente o resultado final, mas o desenvolvimento das competências estabelecidas pela proposta educativa como um todo, tendo em vista o processo educativo transcorrido em um período de tempo. Observa-se dificuldades, acertos e erros, em uma perspectiva tanto coletiva quanto individual, de modo que a avaliação é, também, momento de aprendizagem. Para isso, constroem-se situações-problema, exigindo que o educando busque formas de resolvê-las, a partir dos conhecimentos que vêm adquirindo ao longo do curso.

O sucesso da aprendizagem está em explorar talentos, atualizar possibilidades, desenvolver predisposições naturais de cada aluno. As dificuldades e limitações são reconhecidas, mas não conduzem/restringem o processo de ensino, como comumente acontece (MANTOAN, 2002).

A metodologia do curso de Informática do SESI qualifica os alunos para que desenvolvam um conjunto de habilidades técnicas relacionadas ao módulo em desenvolvimento, aliando tais habilidades a outras de ordem socioemocional, que contribuem para a inclusão digital e social dos educandos, à medida que contempla estratégias relacionais que utilizam a interação como base da aprendizagem. Pensando na tecnologia como recurso disponível para a aprendizagem das pessoas que possuem algum tipo de deficiência, a inclusão digital amplia as possibilidades de comunicação e de acesso à informação para educandos que tem limitações sensoriais e/ou físicas, ou que necessitam de estratégias educativas específicas para se desenvolver.

A informática, portanto, auxilia os alunos ao que tange às vivências do cotidiano. Desta forma, o aluno PcD pode conduzir, com a mediação do educador, seu processo de aprendizagem para o âmbito que sua necessidade exige e, assim, potencializar esse processo.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A informática proporciona uma aprendizagem prazerosa e contínua ao aluno, estimulando a criatividade, iniciativa, postura ativa, a reflexão e o raciocínio lógico. Por meio da mediação do instrutor, os alunos puderam participar ativamente do processo de aprendizagem.

Ao longo do desenvolvimento da turma, observou-se a importância do diálogo entre os alunos durante as aulas e o compartilhamento das aprendizagens entre os colegas, potencializando as  conquistas de cada um, a relação e o vínculo com a turma e o auxílio aos colegas com maiores dificuldades ou limitações. Esses foram alguns dos aspectos propiciados pela mediação do educador, e que favoreceram o processo de aprendizagem desses jovens. É importante lembrar que o perfil da turma exigia a comemoração de vitórias diárias diante dos limites superados, a partir  de conquistas que, para algumas pessoas,  podem parecer singelas.

No período do curso, um dos alunos conquistou uma vaga de emprego e relatou que nem imaginava ser possível conseguir um espaço no mercado de trabalho, ficando claro que o processo de formação tem repercussões que extrapolam as questões cognitivas, envolvendo a própria percepção da capacidade do sujeito e, consequentemente, em sua autoestima.

As aprendizagens alcançadas durante o curso de informática foram fundamentais para o maior sucesso na prática das atividades realizadas no ambiente de trabalho assim como as habilidades desenvolvidas de comunicação, adaptabilidade e relacionamento interpessoal.

Concluído o curso, os alunos relataram suas experiências e aprendizagens, por meio de um vídeo: “O SESI ajudou a saber mexer no computador e na internet”; “Tenho computador em casa e no SESI aprendo tudo”; “Mando e-mail para a Professora”; “Falo melhor”; “eu pesquiso coisas”. Esses são exemplos de reflexão sobre a aprendizagem, que refletem em ações de autonomia, condição tão almejada e necessária para estes alunos, proporcionando a eles igualdade de oportunidades tanto na vida social como profissional.

O curso de Informática e Inclusão Digital do SESI possibilitou, a essa turma de alunos, avanços significativos quanto ao desenvolvimento da linguagem, do raciocínio lógico e de diversas habilidades sociais, emocionais e comportamentais. Neste sentido, considera-se que o ensino e a aprendizagem da informática para alunos PcD proporcionou a integração do universo da virtualidade na vida social e laboral.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases. Brasil: MEC, 1996.
BRASIL. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência. Brasília 2015.
DELORS,Jacques (org.). Educação um tesouro a descobrir – Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. Editora Cortez, 7ª edição, 2012
LIMA, Sandra Vaz. A importância da motivação no processo de Aprendizagem. Disponível em: <http://www.artigonal.com/educacao-artigos/a-importancia-da-motivacao-no-processo-de-aprendizagem-341600.html>. Acesso em 01/06/2016.
MANTOAN, M.T.E. Ensinando a turma toda – as diferenças na escola. ARTMED/ Porto Alegre- RS, Ano V, nº 20, Fev/Abr/2002, p.18-28.
PEQUENO, Robson; SANTOS, ligia Pereira dos; Novas tecnologias e pessoas com deficiências: a informática na construção da sociedade inclusiva? Disponível em:<http://books.scielo.org/id/6pdyn/pdf/sousa-9788578791247-04.pdf>. Acesso em 12/05/2016.
PERRENOUD, Philippe. Pedagogia Diferenciada: das intenções à ação. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
PERRENOUD, Philippe. 10 novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
SILVA, Karla Fernanda Wunder da; MACIEL, Rosângela Von Mühlen; Inclusão escolar e a necessidade de serviços de apoio: como fazer? Disponível em: <http://coralx.ufsm.br/revce/ceesp/2005/02/a11.htm>. Acesso:12/05/2016.

Qual a importância da tecnologia na educação inclusiva?

Por meio da tecnologia assistiva, como programas que ajudam na comunicação, a inclusão ganha eficiência e ajuda a explorar todo o potencial dos alunos, tendo em vista que permite que todos acessem os mesmos recursos e, portanto, participem das aulas de forma igualitária.

Como a tecnologia pode ser utilizada em sala de aula em uma escola inclusiva?

Segundo o MEC — Ministério da Educação —, essa inclusão é possível graças ao apoio da tecnologia em sala de aula, que conta com recursos multifuncionais, além do espaço físico adequado e professores capacitados. Um dos recursos disponíveis é a impressão de materiais em Braile para alunos com deficiência visual.

Quais recursos tecnológicos podem ser utilizados também para facilitar a inclusão?

Na atualidade, há diversos programas que podem ser 'adotados' pelas escolas para facilitar e promover a inclusão do aluno com deficiência. Entre as opções, estão o Teclado Virtual e o Head Mouse.

O que é mais importante no uso da tecnologia assistiva como recurso da educação inclusiva?

No uso da Tecnologia Assistiva como recurso da educação inclusiva, o mais importante é: Que o professor conheça os métodos. Que o aluno seja testado antes de começar a prática. Que a família também utilize o recurso em casa.