Como a agricultura pode influenciar no ciclo da água?

A maior parte da irrigação de plantações é feita com água das chuvas, diz Alexandre Nepomuceno, da Embrapa

Para produzir tudo o que é consumido gasta-se uma quantidade enorme de água. Uma xícara de café, por exemplo, requer 140 litros. Para um quilo de tomate, são necessários 185 litros – e, para um quilo de carne, lá se vão 15 000 litros de água, segundo a organização holandesa The Water Footprint Network. Essa é uma das formas de se medir o consumo do produto final (há outras metodologias, que podem indicar valores diferentes). Não à toa, a busca pelo desenvolvimento sustentável representa um dos maiores desafios da humanidade. A expectativa é que a população mundial passe dos atuais 7 bilhões de pessoas para 9 bilhões até 2050. Esse crescimento – e o consequente aumento da demanda por água, energia e alimentos – vem fazendo com que toda a cadeia produtiva procure soluções que permitam o uso mais racional dos recursos hídricos.

No Brasil, a agricultura é responsável por 70% do consumo de água, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente. Embora pareça muito, esse gasto precisa ser relativizado e não pode ser equiparado ao consumo industrial, que representa 20% do montante, ou mesmo ao consumo humano, de 10%. Isso por uma razão simples: boa parte da água usada no campo retorna à natureza. “O que não é consumido pela planta permanece no ciclo hidrológico, seja por meio da evaporação ou da penetração no solo, que devolve essa água para o lençol freático”, diz o pesquisador Alexandre Nepomuceno, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O especialista ressalta ainda que a maior parte da irrigação de plantações é feita com água das chuvas. “É justamente esse retorno da água para a natureza que completa o ciclo e faz com que chova”, diz.

O plantio direto — nome dado à técnica de manter a terra sempre coberta com a palha decomposta de safras anteriores — também é usado para evitar a rápida evaporação da água e a erosão do solo, uma vez que a infiltração se torna mais lenta. “O Brasil é líder mundial no uso desse sistema, que já ocupa cerca de 60% da área plantada”, afirma Nepomuceno.

Os ganhos socioambientais da biotecnologia

Um estudo feito pela Céleres, consultoria focada na análise do agronegócio, sobre o impacto dos transgênicos nas lavouras destaca os principais benefícios da biotecnologia. Os resultados se baseiam em pesquisas de campo e entrevistas com mais de 360 produtores de soja, milho e algodão — as três culturas geneticamente modificadas atualmente comercializadas no país — e apontam que o primeiro ganho é financeiro. Segundo esse estudo, os transgênicos geram um retorno adicional de até R$ 3,49 para cada R$ 1 investido na semente.

O segundo ganho é ambiental. Depois de analisar os resultados acumulados entre 2007 e 2011, a Céleres projeta que a redução do uso da água decorrente da menor necessidade de aplicações de defensivos e da introdução de variedades mais resistentes a pragas pode poupar, no Brasil, 149 bilhões de litros de água ao longo de 10 anos. O volume é capaz de abastecer 3,4 milhões de pessoas nesse mesmo período. “Essa economia vem, principalmente, da redução do número de pulverizações”, diz Anderson Galvão, sócio-diretor da Céleres. “Graças ao milho transgênico, que teve seu primeiro plantio em 2008, os agricultores economizaram o equivalente a 2,7 mil toneladas de ingredientes ativos de defensivos agrícolas na safra 2009/2010”.

Nesse contexto, a projeção mostra que a soja deve liderar a participação nos benefícios ambientais (70%), principalmente pela maior área ocupada. O milho, por sua vez, responderá por 27% do benefício e o algodão, por 3%. “Quando reduzimos a frequência das aplicações de defensivos, ocorre uma queda não só no uso da água, como também do óleo diesel que move as máquinas agrícolas, o que por sua vez impacta em uma menor emissão de gás carbônico, o gás que mais contribui para o aquecimento global”, afirma Galvão.

Plantas mais resistentes à seca

O desenvolvimento de plantas adaptadas às mudanças climáticas também é, na opinião dos especialistas, uma forma de estender a área de plantio a regiões mais áridas, minimizando o risco de perdas em períodos de estiagem. “Nos Estados Unidos, já foram plantados mais de 10 milhões de hectares de milho geneticamente modificados com esse intuito”, diz Nepomuceno. A Austrália é outro exemplo de nação que conseguiu driblar um período de dez anos de seca com técnicas como o uso de plantas geneticamente modificadas, o controle de irrigação e o aperfeiçoamento do sistema de recolhimento de água das chuvas.

“O Brasil precisa modernizar a agricultura e investir em tecnologia para continuar alimentando cada vez mais pessoas sem que, para isso, tenha que aumentar a área produtiva”, diz Galvão. “O setor é totalmente dependente da água e tem ciência da necessidade de usá-la de uma forma racional. Nesse sentido, a biotecnologia pode contribuir muito para que se consiga aumentar a produção agrícola e ao mesmo tempo reduzir os prejuízos ambientais”.

Com agricultores hábeis e recursos tecnológicos, defende o sócio-diretor da Céleres, o agronegócio continuará alimentando o mundo de forma cada vez mais sustentável.

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Como a atividade agricultura pode influenciar o ciclo da água?

Esse crescimento – e o consequente aumento da demanda por água, energia e alimentos – vem fazendo com que toda a cadeia produtiva procure soluções que permitam o uso mais racional dos recursos hídricos. No Brasil, a agricultura é responsável por 70% do consumo de água, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente.

Como as plantas contribuem para o ciclo da água?

Como mencionado, as plantas liberam água de volta ao ambiente por meio da transpiração. Além disso, eliminam água no estado líquido em um processo conhecido como gutação. Os animais, por sua vez, devolvem a água para o meio por meio de urina, fezes, respiração e transpiração.

O que pode afetar o ciclo da água?

O ciclo da água, também chamado de ciclo hidrológico, ocorre por meio das mudanças dos estados físicos e da movimentação da água pelos seres vivos e pelo meio ambiente. Esse ciclo depende diretamente da energia solar, dos movimentos de rotação da Terra e, até mesmo, da gravidade.

Por que a agricultura é uma atividade que depende diretamente da água?

A água de irrigação na agricultura é absolutamente necessária para produção de alimentos. O que se propõe é o uso da água de forma racional e com eficiência para beneficiar o conjunto da sociedade. A irrigação agrícola feita com eficiência e economia pode beneficiar o uso urbano.