Como a atividade turística transforma o lugar em seus aspectos naturais e culturais?

IX Coloquio Internacional de Geocrítica

LOS PROBLEMAS DEL MUNDO ACTUAL.
SOLUCIONES Y ALTERNATIVAS DESDE LA GEOGRAFÍA
Y LAS CIENCIAS SOCIALES

Porto Alegre, 28 de mayo  - 1 de junio de 2007.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

TURISMO, CONSUMO E PRODU��O DO ESPA�O:
O MUNDO DO TRABALHO NO PER�ODO T�CNICO CIENTIFICO INFORMACIONAL

Edvaldo Cesar Moretti
Universidade Federal da Grande Dourados/MS


Turismo, consumo e produ��o do espa�o: o mundo do trabalho no per�odo t�cnico cientifico informacional (Resumo):

O turismo como atividade econ�mica cresce como forma de ocupar o tempo fora do trabalho. Ocupar este tempo significa inserir o trabalhador no mercado, no consumo tur�stico. A atividade tur�stica transforma o tempo do �cio em um tempo aprisionado ao mercado. Os lugares que s�o definidos para a atividade tur�stica, na l�gica do per�odo t�cnico-cient�fico, s�o racionalizados para atender � necessidade de mercantilizar o tempo livre. O turismo, nesta perspectiva de racionaliza��o do espa�o, participa da transforma��o dos lugares, viabilizando-os para as a��es programadas para o lucro. Nesta l�gica, o tempo livre e o espa�o s�o racionalizados. Neste processo o que n�o pode ser contado, o que n�o pode ser valorizado pelo mercado e o que n�o est� inclu�do nas novas �necessidades� produzidas � exclu�do.

Palavras chaves: produ��o e consumo do espa�o; turismo; mundo do trabalho.


Turism, consum and production of the space: the world of the work in the scientific technical informational period.(Abstract):

The turism as economic activity grows as a form of occupy the time out of work. Occupy this time means insert the worker in the market, in the turistic consum. The turistic activity transforms the free time in a time imprisoned to the market. The places that are defined to the turistic activity, in the logic of the technician-scientific period, are rationalized to atend the necessity of mercantile the free time. The turism, in this perpesctive of rationalization of the space, participes of the transformation of the places, making possible the actions programmed to the profit. In the logic, the free time and the space are racionalized. In this process what can not be taked in consideration, what can not be valued by the market and what is not included in the new �necessity� produced is excluded.

Key words: production and consumo of space; turism ; world of work


As transforma��es no mundo do trabalho, no per�odo t�cnico-cient�fico informacional[1], e sua rela��o com o espa�o, s�o pouco estudadas pela ci�ncia geogr�fica no Brasil. As mudan�as no mundo do trabalho inserem-se em um contexto de transforma��es gerais, que nas reflex�es desenvolvidas por diferentes autores, entre eles Anthony Giddens (1991), David Harvey (1993), Boaventura de Souza Santos (1995), Milton Santos (1996) e Paul Virilio (1998), explicita-se, atrav�s de an�lises com bases te�ricas diferenciadas, o car�ter dial�tico deste processo hist�rico por que passa a sociedade contempor�nea.

Como mostra Paul Virilio (1998), o que caracteriza este novo per�odo � a acelera��o da velocidade que ocorre atrav�s das mudan�as dos motores[2], e, para Milton Santos (1994), estamos vivendo em uma �poca de passagem da sociedade industrial para a sociedade informacional:

�O fato de que o processo de transforma��o da sociedade industrial em sociedade informacional n�o se completou inteiramente em nenhum pa�s, faz com que vivamos, a um s� tempo, um per�odo e uma crise...� (p. 121).

Este processo de passagem, que tem na evolu��o tecnol�gica sua principal caracter�stica, provoca mudan�as nas rela��es sociais, nas rela��es com a natureza e, portanto, na produ��o e consumo do espa�o, exigindo um olhar cuidadoso da ci�ncia sobre a complexidade das transforma��es.

Especificamente, a reflex�o aqui proposta apresenta tentativa de leitura das quest�es: transforma��es no mundo do trabalho; aumento da velocidade e produ��o e consumo do espa�o � utilizando como exemplo a territorialidade tur�stica.

I. Id�ia de desenvolvimento

Concordando com Castoriadis, � poss�vel afirmar que o mundo moderno tem como base de constitui��o dois fatores:

(...) de um lado, a emerg�ncia da burguesia, sua expans�o e sua vit�ria final s�o acompanhadas pela emerg�ncia, a difus�o e a vit�ria final de uma nova �id�ia�, a id�ia de que o crescimento ilimitado da produ��o e das for�as produtivas �, de fato, o objetivo central da vida humana (1987:144)

Esta configura��o permitiu a consolida��o da id�ia de desenvolvimento relacionada � racionaliza��o quantitativa e fragmentada, ou como diz Castoriadis, o que conta � o que pode ser contado.

Esta perspectiva de desenvolvimento aparece conjuntamente com o capitalismo, estando intimamente relacionada � consolida��o deste sistema de produ��o e ao processo de industrializa��o, associando-se � no��o de progresso tecnol�gico.

O desenvolvimento � medido atrav�s da quantifica��o, atrav�s do crescimento linear sem fim, o que conta � o mais, principalmente mais mercadorias, mais consumo de bens produzidos.� O est�gio alcan�ado pelas sociedades ocidentais �ricas�, que estariam na maturidade industrial, possuindo a capacidade de crescer ilimitadamente, � definido como o modelo de desenvolvimento a ser atingido.

O significado alcan�ado pela no��o de desenvolvimento � crescimento indefinido, a maturidade, o crescimento sem fim � � consubstanciado por algumas no��es, entre as mais importantes podemos destacar: a onipot�ncia da t�cnica;� a ilus�o relativa ao conhecimento cient�fico e a �racionalidade� dos mecanismos econ�micos. (CASTORIADIS, 1987, p. 146).

A cren�a no crescimento � uma caracter�stica essencial da humanidade, mas o erro, na sociedade atual, � a falta de limites a este crescimento econ�mico e tecnol�gico, e a considera��o que todo crescimento � bom.� De acordo com CARVALHO:

Melhoria e bem-estar s�o usados como conceitos universais como se o bom, o melhor tivessem um sentido un�voco. No entanto, o que � melhorar do ponto de vista desse discurso? O que � estar bem, ter uma vida de qualidade na sociedade de consumo? Sabemos como esses valores s�o manejados, a fim de se tornarem signos de status e diferencia��o social, associando-se a produtos, projetos, condutas, que precisam ser vendidas.(1991:95)

Esta busca do crescimento ilimitado tem seu pre�o, que � pago pela sociedade de maneira geral, a chamada crise que passa a sociedade moderna, � o reflexo claro de que este modelo de desenvolvimento atingiu v�rios pontos limitadores.

As chamadas crises est�o presentes no cotidiano: crise educacional, crise econ�mica, crise social, crise ambiental, etc.� De fato o que temos � uma crise, � a crise dos paradigmas que sustentam o modelo de desenvolvimento capitalista, ou seja, � uma crise da sociedade moderna constru�da com o casamento da racionalidade econ�mica com a ascens�o da burguesia ao poder. Portanto, � uma crise gerada e consolidada no seio do capitalismo, pontualmente o que temos muitas vezes � o despontar de limites ao capitalismo e/ou crises do pr�prio modo de produzir que tem a sua reprodu��o, contraditoriamente, embasada nas supera��es destas crises. Mas, essa crise tamb�m significa o sucesso do modo de produzir capitalista, que t�m na explora��o social e ambiental sua base de sustenta��o, gerando mis�ria e pilhagem ambiental.

Portanto, a id�ia de desenvolvimento ligada ao tema proposto, merece reflex�o: de que desenvolvimento estamos falando? O desenvolvimento quantitativo e voltado para o crescimento econ�mico esta fadado a promover a desestrutura��o das bases que sustentam a vida, isso � claramente vis�vel nas an�lises ambientais, mas � tamb�m vis�vel quando trabalhadores morrem por estafa relacionada a quantidade de horas trabalhadas e esfor�o f�sico.

Neste processo de desenvolvimento, diferentes lugares buscam atrav�s da defini��o de vantagens comparativas, estarem inseridos na chamada globaliza��o competitividade.

No Mato Grosso do Sul, o setor agropecu�rio (com destaque para a produ��o de carne bovina e soja) s�o os motores do chamado desenvolvimento estadual. A partir da d�cada de 80 do s�culo XX atrav�s da atividade tur�stica aspectos da paisagem s�o valorizados e transformados em atrativos tur�sticos, com destaque para o Pantanal (considerado aqui como heterog�neo nos diferentes aspectos que o constitui) e para o Planalto da Bodoquena, a principio, especificamente o munic�pio de Bonito.

II. Atividade tur�stica no mundo moderno

O chamado �aumento do tempo livre�, entendido como uma das caracter�sticas do processo de constitui��o da modernidade, � analisado por autores com diferentes perspectivas te�ricas (DE MASI, VIRILIO, SOUZA SANTOS e SANTOS). De acordo com DE MASI, em entrevista ao jornal o Estado de S�o Paulo,

O s�culo 20 ficar� na hist�ria como o s�culo do trabalho. Muito provavelmente o s�culo 21 se caracterizar� como o s�culo do tempo livre.� Isto porque, �...as novidades tecnol�gicas desenvolver�o uma boa parte do trabalho executivo atualmente destinado aos trabalhadores. Ent�o o tempo livre aumentar�. Esta � uma grande ocasi�o libertadora dos confrontos do trabalho como dever, obriga��o e ideologia.(01/01/2000).

Nesta perspectiva, o turismo � entendido como uma das grandes possibilidades de atividade econ�mica para a sociedade do s�culo XXI, mas esta atividade deve ser analisada em sua complexidade inserida na realidade constru�da por rela��es sociais desiguais e excludentes. Tamb�m a id�ia de que o avan�o tecnol�gico promover� o aumento do tempo livre e possibilitar� a liberdade do homem, em rela��o ao trabalho, deve ser analisada na perspectiva da sociedade atual, dividida em classes sociais e ideologicamente centrada no consumismo.

Discutindo a quest�o do aumento da produtividade no trabalho, Boaventura de Sousa Santos (1995), contrariamente � proposi��o acima descrita, entende que o avan�o tecnol�gico n�o est� promovendo o aumento do tempo livre do trabalho. Citando pesquisa realizada nos Estados Unidos por Juliet Schor, o autor complementa:

Quanto ao argumento da produtividade enquanto geradora de lazer, os dados est�o longe de o confirmar... ao contr�rio do senso comum dos economistas e soci�logos, o lazer dos trabalhadores americanos tem vindo a diminuir constantemente nos ultimos trinta anos� (Schor, 1991).

� evidente que neste per�odo a produtividade aumentou dramaticamente, mas o contexto social em que ela ocorreu fez com que, em vez de reduzir as horas de trabalho, as aumentasse. Esse contexto foi, segundo a autora, caracterizado pela grande fraqueza do movimento sindical, incapaz de lutar pela redu��o do tempo de trabalho, e pela compuls�o do consumo, que transformou os americanos em escravos de um ciclo infernal ganhar-gastar e os levou a aceitar como natural que os ganhos da produtividade se traduzissem sempre em aumentos de rendimentos, e n�o em menores horas de trabalho, como seria poss�vel.� (SOUZA SANTOS: 308-9, 1995)

Outra quest�o relevante a ser considerada, em rela��o ao aumento do tempo livre, s�o as desigualdades entre os pa�ses e mesmo entre regi�es no interior de um pa�s.

Nos pa�ses perif�ricos, o aumento da produtividade decorrente do avan�o tecnol�gico tem significado o aumento do desemprego e o aumento de trabalho para aqueles que continuam empregados. O poder de luta dos trabalhadores empregados diminui em decorr�ncia de fatores relacionados � tecnologia: aumenta o risco da substitui��o do trabalhador pela m�quina e mesmo da substitui��o de um trabalhador por outro que se encontra desempregado, e ainda aumenta o controle sobre o trabalho, exigindo-se cada vez mais do trabalhador� qualifica��o e� disciplina.

Este contexto promove a diminui��o do poder de organiza��o dos trabalhadores. Em busca de transforma��es nas rela��es de trabalho, as organiza��es sindicais brasileiras, por exemplo, promovem a��es visando a requalifica��o da m�o-de-obra atrav�s de cursos t�cnicos, lutam pela manuten��o de postos de trabalhos nas empresas, mas pouco t�m conseguido em rela��o � diminui��o da jornada de trabalho e a aumentos salariais.

Segundo SOUZA SANTOS, neste per�odo hist�rico, ocorre a eros�o das conquistas do movimento oper�rio junto ao capital:

O dilema reside em que, num contexto ideol�gico, saturado pelo consumismo, a eros�o das concess�es e o aumento da disciplina e dos ritmos de trabalho que a acompanham eliminam, em vez de promover, a vontade de lutar por uma vida diferente e mesmo a capacidade de a imaginar. (1995: 311)

Para VIRILIO, sem trabalho o que temos � viol�ncia e n�o� o lazer:

o problema para mim n�o � o do lazer, � o da viol�ncia que se prepara para as pessoas que n�o ter�o mais trabalho.... H� a� uma maneira de tornar o homem in�til e abandon�-lo e de fazer dele um homem ocioso. E um homem ocioso � um homem que se torna violento.(1999, s.p.)

A internacionaliza��o do capital, poss�vel pelo avan�o tecnol�gico, n�o foi acompanhada da internacionaliza��o do trabalho que continua regida por legisla��o e condi��es dadas localmente. Assim, a diminui��o do tempo do trabalho em alguns pa�ses europeus n�o significa a diminui��o deste tempo globalmente.

Portanto, a reflex�o sobre a atividade tur�stica e a id�ia de desenvolvimento remete a uma an�lise complexa das mudan�as em curso no capitalismo e das suas conseq��ncias para a sociedade.

A atividade tur�stica desenvolve-se no mundo todo como forma de ocupar o tempo fora do trabalho. Ocupar este tempo significa inserir o trabalhador no mercado, no consumo: a atividade tur�stica, assim, transforma o tempo do �cio em um tempo aprisionado ao mercado. Os lugares que s�o definidos para o lazer, na l�gica do per�odo t�cnico-cient�fico, s�o racionalizados para atender � necessidade de mercantilizar o tempo livre.

Para Milton Santos(1996: 239) vivemos um per�odo de emerg�ncia do espa�o racional:

O espa�o racional sup�e uma resposta pronta e adequada �s demandas dos agentes, de modo a permitir que o encontro entre a a��o pretendida e o objeto dispon�vel se d� com o m�ximo de efic�cia. Esta tanto depende da t�cnica contida nas coisas e nas a��es. A validade mercantil da t�cnica depende das garantias de que iniciada a a��o ela vai ter a trajet�ria e os resultados programados.

Como explica este autor, ocorre a inclus�o do espa�o na l�gica da sociedade moderna:

Na verdade, com o advento do espa�o racional, este se torna uma verdadeira m�quina, cuja energia � a informa��o e onde s�o as pr�prias coisas que constituem o esquema de nossa a��o poss�vel. (1996: 241)

O turismo, nesta perspectiva de racionaliza��o do espa�o, participa da transforma��o dos lugares, viabilizando-os para as a��es programadas para o lucro. Nesta l�gica, o tempo livre e o espa�o s�o racionalizados. Neste processo o que n�o pode ser contado, o que n�o pode ser valorizado mercantilmente e o que n�o est� inclu�do nas �necessidades� do homem urbano � exclu�do.

A atividade econ�mica turismo, assume no atual per�odo hist�rico import�ncia impar na economia global. N�o � uma atividade nova ou que surge neste final de s�culo. Mas �, ap�s a d�cada de 70 do s�culo XX, com o avan�o da tecnologia de informa��o, de comunica��es e de transportes, que esta atividade atinge praticamente todos os lugares do mundo e t�m significativa import�ncia no comercio internacional.

A inclus�o de novos locais no mercado, como caracter�stica da atividade tur�stica, est� articulada aos par�metros da economia mundial baseada na amplia��o espacial do consumo e na inclus�o de segmentos das sociedades locais na divis�o internacional do trabalho gerada pelo per�odo t�cnico-cient�fico informacional.

Considerando a complexidade destas transforma��es no local, as an�lises da� rela��o capital-trabalho devem superar a simples quantifica��o do n�mero de empregos gerados pela atividade tur�stica em locais onde a economia se apresenta estagnada. � imperativo refletir sobre as formas que o trabalho assume na atividade tur�stica e em cada local especificamente.

� destacada por diferentes segmentos (Estado, empresas, m�dia, etc) a import�ncia do crescimento da atividade tur�stica para as regi�es� consideradas pobres economicamente, mas com grandes potencialidades tur�sticas, em conseq��ncia da exist�ncia, nestes locais, de atrativos naturais, que, na perspectiva do ide�rio dominante sobre a rela��o sociedade-natureza, s�o considerados ex�ticos.

Nesta perspectiva, estas paisagens transformam-se em recurso quando exploradas racionalmente, possibilitando a melhoria das condi��es de vida da popula��o local. Esta simplifica��o anal�tica esconde a import�ncia da atividade tur�stica no contexto das transforma��es verificadas localmente, mas articuladas � globalidade, e retira o turismo do contexto geral da reprodu��o capitalista.

Procurando aprofundar a reflex�o no contexto da ci�ncia geogr�fica, � necess�rio entender a complexidade da atividade tur�stica, que, al�m de consumidora, � uma atividade produtora de espa�o. Neste sentido, a atividade tur�stica � aqui entendida como explicitada por Arlete Moyses Rodrigues:

(...) esta atividade produz territ�rios, da mesma forma como todas as demais atividades do modo industrial de produzir mercadorias e na sua ess�ncia � insustent�vel, pois temos que levar em conta que toda produ��o � ao mesmo tempo destrui��o, ou seja, trata-se da chamada produ��o destrutiva. (1997:83-4).

Portanto, esta atividade humana deve ser entendida no contexto geral de consumo e produ��o da natureza, que � consumo e produ��o de espa�o. A natureza e a transforma��o de seus elementos, atrav�s do trabalho, em valor de troca est�o inseridas na produ��o do espa�o pelas leis do mercado.

III. O trabalho no Pantanal

Especificamente, tratamos de reflex�es sobre as transforma��es no trabalho, a partir da d�cada de 90,� com a intensifica��o da atividade tur�stica no Pantanal Mato-Grossense, que passa a ser a principal fonte de emprego para o trabalhador local. Portanto, ocorre, neste caso analisado, mudan�a de atividade. Nas palavras de um� trabalhador de hotel-pesqueiro: �Corumb� hoje s� tem a op��o do turismo. S� esta op��o. Dificilmente tem outra coisa para fazer, ou trabalha com turismo ou n�o trabalha.�[3]

Estas altera��es nas atividades produtivas dos habitantes do Pantanal� est�o inseridas nas mudan�as ocorridas no mundo do trabalho de maneira geral. Estas mudan�as, visualizadas no local, mas articuladas ao mercado nacional, s�o definidas pelas novas exig�ncias do capital, que busca a amplia��o da mais-valia obtida atrav�s da explora��o do trabalho.

Conforme demonstra HARVEY, apesar das transforma��es atuais no interior do capitalismo,suas proposi��es b�sicas ainda se mant�m. Dentre elas:

O crescimento em valores reais se ap�ia na explora��o do trabalho vivo na produ��o (...) o crescimento sempre se baseia na diferen�a entre o que o trabalho obt�m e aquilo que cria. Por isso, o controle do trabalho, na produ��o e no mercado, � vital para a perpetua��o do capitalismo.(1993:166)

Neste processo de transforma��o social no Pantanal Mato-Grossense, a explora��o do trabalho na atividade tur�stica tem promovido o implemento de determinadas fun��es, entre elas destaquem-se os �isqueiros�, os piloteiros, os trabalhadores de hot�is e barcos-hot�is.

A rela��o capital-trabalho na atividade tur�stica no Pantanal � constru�da com as regras comuns �s regi�es do Pa�s onde a sociedade civil se encontra com menor poder de organiza��o. Esta forma de rela��o capital-trabalho insere-se no chamado modo flex�vel de acumula��o capitalista,� com a aus�ncia do Estado enquanto regulador da rela��o, com o desrespeito aos direitos trabalhistas, com a contrata��o tempor�ria, enfim, com a precariza��o do trabalho.

Os trabalhadores da atividade tur�stica n�o est�o organizados em sindicatos, e a situa��o � agravada por deixarem atividades que t�m certa organiza��o, como a de pescador profissional, que apresenta uma hist�ria de luta e de conquistas sociais, estando organizada em cooperativas, col�nias e sindicatos, para exercerem atividades novas que se estruturam numa rela��o que aparece como fugaz, como passageira. Al�m disso, ele deixa atividades constru�das tradicionalmente, regidas por tradi��es que regulavam as rela��es sociais e com� a natureza.

GIDDENS (1997:82) entende tradi��o como sendo uma orienta��o para o passado, tendo uma grande influ�ncia sobre o presente e como uma maneira de organizar o futuro:

podemos dizer que a tradi��o � um meio organizador da mem�ria coletiva. N�o poderia existir uma tradi��o privada, como n�o pode existir uma linguagem privada.

Tradi��o � repeti��o e pressup�e uma esp�cie de verdade que � a ant�tese da �indaga��o racional� . (ibidem:85)

O trabalhador n�o se sente como um trabalhador do turismo e sim como participando de uma atividade que no momento possibilita o emprego e a sobreviv�ncia. Esta transforma��o do trabalho � permeada por conflitos, nem sempre compreendidos em sua ess�ncia, mas vis�veis no cotidiano dos trabalhadores, atrav�s do desemprego sazonal, dos baixos sal�rios, da falta de qualifica��o profissional e dos problemas advindos do fato de terem sido arrancados de suas tradi��es e de seu meio, sendo-lhes retirada a condi��o de adapta��o.

Isolados da fam�lia, transformado o seu cotidiano e sem preparo t�cnico para as novas fun��es, a refer�ncia cultural destes trabalhadores passam a ser os turistas:

�Quando vou comprar alguma roupa lembro a que os turistas usam e compro igual.� [4]

�Com a conviv�ncia com os turistas mudei o jeito de falar(...) agora eu falo certo, aprendi com os turistas.�[5]

A forma da vestimenta e de falar dos turistas � entendida como correta, e a forma de falar local � considerada como errada, ocorre uma �coloniza��o� via atividade tur�stica, descaracterizando a cultura local constru�da historicamente.� As peculiaridades do local (festas religiosas, forma de falar, crendices, rela��es com a natureza) s�o consideradas atrasadas, sendo substitu�das pelos ide�rios da sociedade de consumo e, ao mesmo tempo, estas pr�ticas s�o espetacularizadas e comercializadas como atrativos tur�sticos ex�ticos.

Ocorre a �(des)tradicionaliza��o�, estes trabalhadores deixam suas atividades tradicionais, como a pesca, o trabalho com o gado e o extrativismo vegetal, e transformam-se, com a atividade tur�stica, em trabalhadores urbanos, assalariados ou aut�nomos.

O que era tradicional deixa de ter import�ncia. Para nossa an�lise, destacam-se as tradi��es desenvolvidas na rela��o com o ambiente natural, constru�das a partir do ritmo da natureza. A pesca, por exemplo, era realizada ou n�o de acordo com as condi��es do meio natural (fases da lua; dia e noite; dire��o e intensidade do vento; etc). Com a atividade tur�stica estas condi��es naturais s�o desprestigiadas em fun��o do tempo do turista, que pagou por um determinado n�mero de dias de pescaria, respeitando seu calend�rio de folga do trabalho e n�o as tradi��es locais.

Portanto, o� Pantanal � produzido e consumido de acordo com estas perspectivas que se apresentam para a sociedade como o novo, como o moderno. Destruir as rela��es locais (sociais e com a natureza) � destruir a forma como este lugar foi produzido at� ent�o. O novo est� no fato de a produ��o deste territ�rio, que ao mesmo tempo � destrui��o, utilizar como par�metros de quantifica��o o global. Assim, o que mede o desenvolvimento da regi�o � sua capacidade de inser��o no mercado global e, consequentemente sua capacidade de competitividade econ�mica com outros locais que utilizam a atividade tur�stica como base de sua economia.

Esta l�gica � a l�gica do modelo para o Pa�s como um todo, as prioridades s�o a moderniza��o e a integra��o econ�mica do Pa�s ao mercado competitivo internacional. Em nome do mercado e da competitividade internacional, postos de trabalho s�o fechados, a produ��o interna � substitu�da pela importa��o e o uso da tecnologia substitui a m�o-de-obra.

Como a base do turismo no Pantanal � o consumo do ambiente natural e este � finito, a sua destrui��o promove a destrui��o da pr�pria atividade econ�mica.

O investimento de capital em a��es que procurem viabilizar a continuidade deste modelo de produ��o e consumo do territ�rio � feito atrav�s do financiamento de pesquisas que procurem desenvolver novas t�cnicas para o consumo deste ambiente, por exemplo: cria��o em cativeiro de animais para abate (jacar� e peixes utilizados como iscas); ado��o de normas para a atividade tur�stica, definindo limites quanto � quantidade ( de peixes pescados, de tamanho dos peixes pescados, do n�mero de turistas), a chamada capacidade de suporte.

A id�ia dominante � permitir a continuidade do modelo em um ambiente onde as condi��es de sua exist�ncia est�o sendo amea�adas.

Os trabalhadores pantaneiros (pe�o de fazenda, pescador etc) e os trabalhadores urbanos atra�dos para o Pantanal, para trabalharem no consumo deste lugar via atividade tur�stica, perdem sua condi��o de exist�ncia junto ao ambiente natural. Mesmo trabalhando junto � natureza, sua exist�ncia � baseada no trabalho com o turista e n�o mais na sua rela��o particular com a natureza, ou seja, o que conta s�o as necessidades da atividade tur�stica de maneira geral e, no cotidiano, o que importa s�o as necessidades do turista que passa a definir a rela��o do trabalhador com a natureza.

Na figura 1, a foto retrata a vida dos trabalhadores coletores de iscas moradores das margens da Rodovia BR 262 no Pantanal. Estes trabalhadores coletam iscas nas Baias pr�ximas a rodovia e comercializam o produto de seu trabalho para os turistas. Este trabalho envolve crian�as, mulheres e homens moradores das cidades de Miranda e Corumb� no Pantanal sul-matogrossense.

Figura 1. Trabalhadores nas margens das rodovias Pantaneiras. Com�rcio de iscas vivas coletadas nas Baias.

Como a atividade turística transforma o lugar em seus aspectos naturais e culturais?

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Autor: MORETTI, E.C.

Esta condi��o retira do trabalhador a possibilidade de poder definir sua rela��o com a natureza a partir de suas necessidades de exist�ncia, o fruto de seu trabalho n�o prov�m mais do ambiente natural, estar empregado ou n�o depende de sua capacidade de relacionar-se com os turistas, portanto, sua subsist�ncia n�o depende mais dos conhecimentos sobre o ambiente e as melhores formas de atuar neste ambiente, mas sim da sua capacidade de comunica��o com o outro.

A atividade tur�stica, pelo momento hist�rico em que se constitu� de forma profissional no Mato Grosso do Sul e por suas caracter�sticas pr�prias (sazonalidade; articula��o em rede; fun��es hier�rquicas em seu processo de organiza��o; etc) apresenta em sua estrutura��o caracter�sticas deste novo mundo do trabalho com destaque para a precariza��o.[6]

Figura 2. Moradia tempor�ria de trabalhador coletor de isca viva, nas margens do Rio Paraguai.

Como a atividade turística transforma o lugar em seus aspectos naturais e culturais?

Autor: MORETTI, E.C.

Nos locais onde esta atividade constitui territ�rios tur�sticos, como � o Pantanal, ocorre o processo de desterritorializa��o e de mudan�a na forma que o trabalho assume, estando esta mudan�a atrelada a inser��o destes locais na rede mundial do consumo, inclu�do o consumo do tempo livre do trabalho

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[2] Paul Virilio (1998) explica que a hist�ria moderna tem como base de organiza��o os motores que ele classifica em cinco: motor a vapor; motor a explos�o; motor el�trico; motor-foguete e o motor inform�tico. Segundo este autor � Cada motor modifica o quadro de produ��o de nossa hist�ria e temb�m modifica a percep��o e a informa��o� (p. 127).

[3] Entrevista com trabalhador do Hotel Pousada Para�so dos Dourados, realizada a 17/06/98.

Como a atividade turística transforma o lugar dos seus aspectos naturais e culturais?

RESUMO: O Turismo é um fenômeno capaz de transformar e reorganizar o espaço geográfico. Ao se inserir no espaço natural o Turismo resgata valores culturais e sociais, fortalece noções ambientais e cria mecanismos que dinamizam a economia do lugar.

Por que a atividade turística tem um papel de articulação e organização do espaço geográfico?

Resposta: O ramo turístico modifica o espaço geográfico, pois para atender o turista é preciso criar infraestrutura e direcionar mão de obra especializada, mas é importante destacar que o turismo exerce uma função importante em cidades turísticas, pois as características e a identidade do lugar são preservadas.

Como a atividade turística?

Turismo consiste nas viagens e atividades que as pessoas realizam em seus locais de destino. O crescimento econômico do setor foi duramente impactado pela pandemia em 2020. Aos deslocamentos voluntários de pessoas e às atividades que elas desempenham nas localidades de destino se dá o nome de turismo.

O que significa dizer que o turismo é uma atividade econômica e dinâmica?

6) O que significa dizer que o turismo é uma atividade econômica dinâmica? R. Incorpora novos espaços e relações, procurando sempre atender aos interesses dos turistas.