Em que Olimpíada a participação feminina se tornou mais igualitária?

Em que Olimpíada a participação feminina se tornou mais igualitária?

Esporte nunca foi considerado “coisa de mulher”. Nos tempos mais primórdios, quando os gregos criaram os Jogos Olímpicos da Antiguidade, elas já eram excluídas da competição. Depois, na oficialização da Olimpíada “moderna”, as mulheres foram orientadas a ficar “no lugar delas”. Como muita gente ainda insiste hoje em dia.

A primeira participação feminina em Olimpíadas aconteceu em 1900, e em apenas duas modalidades: tênis e golfe. Mas as proibições seguiram. No Brasil, chegaram até a oficializar um decreto-lei que proibia as mulheres de praticarem esportes “incompatíveis com a sua natureza”, como o futebol, a luta, e muitos outros. Somente em 1979 ele foi derrubado. Em 1991 foi organizada a primeira Copa do Mundo delas. E apenas em 2012 as mulheres puderam finalmente disputar todas as modalidades olímpicas que os homens disputavam.

O caminho até lá não foi fácil, mas talvez por isso seja motivo de orgulho. Cada mulher que já subiu a um pódio levou consigo muito mais do que a medalha. A conquista de uma é resultado da luta de muitas outras no passado e, ao mesmo tempo, é a semente para que tantas mais venham no futuro. Nada disso veio de mão beijada. Por isso, pedimos licença para trazer aqui um pedaço dessa história. São muitos os capítulos e não há espaço para falar de todos, então escolhemos focar nos feitos das brasileiras para fazer jus às nossas origens. É só um pouco da luta que trouxe as mulheres até aqui.

Em que Olimpíada a participação feminina se tornou mais igualitária?

1896 – Primeira Olimpíada foi proibida para mulheres

A primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna aconteceu na Grécia, em 1896, por iniciativa de um francês chamado Pierre de Frédy, mais conhecido como Barão de Coubertin, o criador do Comitê Olímpico Internacional. Ele era abertamente contrário à participação das mulheres no esporte, porque dizia que elas seriam sempre “imitações imperfeitas”. Sendo assim, a primeira Olimpíada oficial teve a participação de 241 atletas, todos homens, representantes de 14 países. Mulher só na plateia.

“Nada se aprende vendo-as agir; e assim os que se reúnem para vê-las obedecem preocupações de outra espécie (…) Talvez as mulheres compreenderão logo que esta tentativa não é proveitosa nem para seu encanto nem mesmo para sua saúde. De outro lado, entretanto, não deixa de ser interessante que a mulher possa tomar parte, em proporção bem grande, nos prazeres esportivos do seu marido e que a mãe possa dirigir inteligentemente a educação física de seus filhos”, disse o Barão.

No entanto, diz a história que houve uma mulher que desafiou essa regra. Stamata Revithi teria corrido a maratona, prova mais tradicional dos Jogos da Grécia, do lado de fora do estádio um dia depois dos homens terem competido. Foram quase seis horas correndo para percorrer os 42km, mas ela conseguiu terminar. Ela chegou a buscar testemunhas para assinar um documento atestando seu feito, mas o Comitê Olímpico não guardou qualquer registro disso.

1932 – Maria Lenk: a primeira mulher brasileira nos Jogos

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Cinemateca Brasileira/Divulgação

A história oficial do esporte feminino brasileiro começou com ela. Maria Lenk nasceu em 1915, filha de imigrantes alemães, e começou a nadar para curar problemas respiratórios. Ela treinava nas águas do rio Tietê e fez história ao se tornar a primeira mulher brasileira a disputar uma Olimpíada, em 1932, nos Jogos de Los Angeles – a natação feminina estreou na Olimpíada de 1912.

Em 1936, Maria Lenk teve outras companheiras olímpicas brasileiras, mas mais uma vez deixou seu nome marcado: ela nadou a prova dos 200m no estilo borboleta – foi a primeira no mundo a competir com esse nado, que posteriormente se tornou oficial. A nadadora pioneira poderia ter sido também a primeira mulher medalhista olímpica. No auge de sua carreira, em 1939, quando bateu dois recordes mundiais no nado peito, tinha tudo para fazer frente às principais competidoras, mas as edições Olímpicas de 1940 e 1944 foram canceladas por causa da Segunda Guerra Mundial.

De qualquer forma, Maria Lenk é exemplo de paixão pelo esporte. Ela nunca deixou a piscina. Até mesmo quando já estava bem velhinha ainda nadava competições masters e chegou ao Hall da Fama da natação. Foi a única brasileira a conseguir o feito. Morreu aos 92 anos – e nadou até o fim deles.

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Roberta Nina/Dibradoras

1941 Decreto proibiu esportes “incompatíveis” para mulheres

Após algumas iniciativas terem surgido para as mulheres ocuparem também os campos de futebol, foi em 1941 que veio o balde de água fria. O Brasil vivia a ditadura de Getúlio Vargas, e um decreto foi baixado para coibir a prática esportiva para as mulheres. “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o CND baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”, determinava o Decreto-Lei 3.199 do Conselho Nacional de Desportos (CND) em 1941.

Esportes como lutas de qualquer natureza, futebol, futebol de salão, futebol de praia, polo aquático, rugby, halterofilismo e beisebol, foram proibidos para mulheres. A partir disso, muitas declarações de especialistas e leigos surgiram para justificar o perigo que o esporte representava para elas.

“O futebol é impróprio para moças”
Manchete do jornal O Dia. Curitiba, 26 de Junho de 1940

“(…) é um esporte violento capaz de alterar o equilíbrio endócrino da mulher”
Dr. Leite de Castro, O Dia Esportivo. Curitiba, 26 de Junho de 1940

“A mulher esportiva cem por cento, a campeã, além de não ter uma saúde excepcional, a sua plástica muito fica a desejar”
Dr. Leite de Castro, O Dia Esportivo. Curitiba, 26 de Junho de 1940

“O futebol feminino, como esporte, é desaconselhável, e como passatempo, perigoso… e nocivo (…)”
Diário de Notícias. Rio de Janeiro, 12 de Janeiro de 1941

“(…) as mulheres têm ossos mais frágeis; menor massa muscular; bacia oblíqua; tronco mais longo e por isso menos resistente; centro de gravidade mais baixo, coração menor; menos número de glóbulos vermelhos; respiração menos apropriada a esportes pesados; menor resistência nervosa e de adaptação orgânica”
Folha de São Paulo, 16 de Julho de 1961

“A questão principal, entretanto, está na biologia e não no machismo”
João Saldanha – Placar. São Paulo, 14 de janeiro de 1979

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Reprodução

1964 – Aída dos Santos: única brasileira da Olimpíada faz história

Mulher, negra, pobre e muito guerreira. Assim é Aída dos Santos, uma das maiores atletas que o país já viu, principalmente por todo o preconceito que teve de enfrentar para representar o Brasil nos Jogos Olímpicos.

Aída foi a única mulher da delegação brasileira na Olimpíada de 1964, em Tóquio. Viajou sem técnico, sem tênis, sem uniforme e, mesmo assim, conseguiu um inédito quarto lugar no salto em altura. O resultado foi o melhor das mulheres brasileiras nos Jogos até Jacqueline e Sandra conseguirem a medalha de ouro em 1996, no vôlei de praia. De origem muito humilde em Niterói (RJ), Aída teve que enfrentar até mesmo o pai, que não apoiava sua dedicação ao atletismo e dizia que “pobre tinha que ganhar a vida” e que “aquilo não lhe dava dinheiro”.

Mas foram justamente as dificuldades que a tornaram mais forte. Nos Jogos de 1964, teve de implorar à fornecedora de material esportivo que lhe desse a sapatilha para competir, chegou a disputar a eliminatória com o pé torcido e não recebeu nenhuma ajuda – foi atendida por um médico da delegação cubana. E depois de sua conquista histórica, às vésperas dos Jogos de 1972, foi cortada da seleção justamente por ter feito críticas à falta de apoio do comitê olímpico.

Hoje ela tem 79 anos, é mãe da jogadora de vôlei Valeskinha, e tem um instituto para promover a inclusão social por meio do atletismo e também do vôlei.

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1984 – Maratona feminina vira modalidade oficial

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Reprodução

Essa sempre foi a prova mais tradicional da Olimpíada, mas foram necessários 88 anos e muita insistência até que o Comitê Olímpico Internacional aprovasse a participação de mulheres. A ideia que pairava no ar desde então era a de que mulheres “não eram capazes” de correr uma distância tão longa.

No entanto, no dia 5 de agosto de 1984, na primeira vez em que mulheres puderam disputar oficialmente a maratona, 50 atletas de 28 países estiveram na largada para o desafio. Destas, 44 terminaram a prova, com o tempo de 2h24min52s. A única brasileira que esteve nas pistas naquele dia foi Eleonora Mendonça, que terminou a prova com tempo de 2h52min. Mas quem mais chamou a atenção foi a suíça Gabriele Andersen, então com 39 anos. Ela terminou a prova desidratada, andando toda torta, mas recusou a ajuda porque queria chegar e mostrar que, sim, era possível.

A luta das mulheres pelo direito de disputar uma maratona foi marcada pela norte-americana Kathrine Switzer. Ela havia ouvido do técnico algo semelhante ao discurso do COI quando disse que queria disputar a tradicional Maratona de Boston: “Nenhuma dama jamais correu a maratona de Boston. Uma mulher não seria capaz de correr essa distância.” Foi o que a motivou.

Kathrine se inscreveu de qualquer maneira para a prova de 1967 e estava passando despercebida, até que o diretor da corrida viu que havia uma mulher no meio e tentou retirá-la à força. A corredora resistiu, terminou a prova e seu nome entrou para a história. A partir daí, ela começou a viajar o mundo fazendo campanha para que a maratona feminina fosse incluída nos Jogos Olímpicos.

A resistência era grande, dizia-se que não haveria mulheres interessadas em correr. A largada de 1984 provou o contrário.

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Acervo Museu do Futebol/Suzana Cavalheiro

1991 Primeira Copa do Mundo de futebol feminino

A Copa do Mundo masculina já existia desde 1930, mas a Fifa nunca havia pensado em organizar uma versão feminina do evento. O futebol de mulheres foi proibido em muitos países por décadas, e demorou até que a própria entidade máxima do futebol reconhecesse o direito delas de jogar. Em 1988, a Fifa organizou um torneio experimental na China, e três anos depois o oficializou, com a participação de 12 seleções — incluindo o Brasil, único representante da América do Sul, e que caiu logo de cara em um grupo fortíssimo formado por Suécia, Estados Unidos e Japão.

A primeira equipe brasileira a disputar um Mundial foi composta em grande parte por atletas que defendiam o carioca Radar Esporte Clube – 16 das 18 convocadas eram do clube. A meio-campista Marcia Tafarel lembra bastidores daquela Copa. “Larguei o emprego que eu tinha na Fundação Bradesco para jogar o primeiro Mundial. Tivemos dez meses de treinamento na Escola de Educação Física do Exército, na Urca, no Rio de Janeiro. Folgas só aos finais de semana e nossa diária era em torno de 15 dólares.”

O Brasil estreou com uma vitória contra o Japão. Na sequência, perdeu por 5 a 0 das norte-americanas e de 2 a 0 contra as suecas. Não se classificou para a segunda fase. Os Estados Unidos foram a primeira seleção a ganhar uma Copa do Mundo Feminina derrotando por 2 a 1 a seleção da Noruega diante de um público de 63 mil espectadores no Tianhe Stadium, em Guangzhou.

1994 – Seleção feminina campeã mundial de basquete

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Rick Rycroft/Associated Press

O impensável aconteceu em 1994. Apesar de ter três das maiores jogadoras que o mundo já viu, Hortencia, Magic Paula e Janeth, a seleção brasileira de basquete feminino foi ao Campeonato Mundial sem favoritismo ou grandes expectativas. Saiu de lá com uma conquista mais do que histórica para a modalidade.

Ninguém se importava com o basquete feminino antes delas. Na própria confederação, enfrentaram preconceito, descaso e uma atenção bem abaixo do que se dava ao masculino — a ponto de dois anos após o ouro terem recebido uniformes dos mesmos tamanhos dos homens na Olimpíada de Atlanta e terem precisado chamar uma costureira às pressas para resolver o problema.

Mas, naquele Mundial, elas iriam mostrar seu valor. Chegaram à semifinal com duas derrotas na campanha para enfrentar o poderoso Estados Unidos. Uma vitória ali era algo que soava improvável. Mas elas conseguiram: 110 a 107. Dali, foram enfrentar a China na final para soltar o grito de campeãs mundiais.

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Acervo Pessoal

1996 As primeiras medalhas

Apenas cem anos após a primeira Olimpíada da Era Moderna foi que o Brasil conseguiu sua primeira medalha olímpica no esporte feminino. Na verdade, foram logo quatro: ouro e prata no vôlei de praia, bronze no basquete e no vôlei de quadra.

O ouro teve o significado ainda mais especial, porque foi conquistado por Jacqueline e Sandra. A primeira enfrentou boicotes do Comitê Olímpico Brasileiro justamente por lutar por direitos iguais das mulheres. Ela já havia disputado duas Olimpíadas jogando como levantadora titular nas quadras (1980, em Moscou, e 1984, em Los Angeles), mas após algumas divergências e suspensões, sua carreira tomou outro rumo. A jogadora encabeçou protestos contra a Confederação Brasileira de Vôlei por conta de diferenças salariais e de tratamento entre as duas seleções: os homens recebiam parte do patrocínio que a seleção tinha, enquanto as mulheres somente vestiam a marca sem receber nada. Jackie vestiu a camisa do patrocinador do avesso e acabou punida.

Posteriormente, ela foi para os Estados Unidos e passou a jogar vôlei de praia. Aí, o próprio COB se rendeu a ela e implorou para que representasse o Brasil na Olimpíada de 1996, a primeira do vôlei de praia. Ela veio, ganhou a medalha e deixou seu nome na história.

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2012 – Primeira Olimpíada 100% para mulheres

A caminhada foi longa. Foi preciso mais de um século (com precisão: 116 anos) até que as mulheres conquistassem o direito de disputar todas as modalidades olímpicas que os homens disputavam. Foi em 2012, quando o boxe feminino estreou nos Jogos de Londres, que finalmente houve uma edição olímpica de fato igualitária, em relação à divisão entre categorias femininas e masculinas em todos os esportes.

A conquista foi além disso. Pela primeira vez, todos os países que enviaram delegações para a Olimpíada tinham representantes femininas – até mesmo a Arábia Saudita, país que é conhecido pelas restrições aos direitos das mulheres, enviou duas atletas: a judoca Ali Seraj Abdulrahim Shahrkhani na categoria 78 quilos, e a corredora Sarah Attar para a prova de 800 metros, retratada na foto acima.

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Divulgação

2018 Marta, seis vezes melhor do mundo

O futebol feminino é talvez um dos esportes que mais tenha sofrido preconceito ao longo da sua curta história de vida. Foram 4 décadas de proibição até que se derrubasse o decreto-lei que impedia mulheres de jogarem bola pelo país. Depois, foram outras tantas décadas de negligência e falta de investimento e estrutura. Até hoje se ouve que “futebol é coisa de macho”, e que o campo “não é lugar de mulher”.

Mas se teve alguém na história que quebrou todos os paradigmas quanto a isso foi Marta Vieira da Silva. A maior jogadora de todos os tempos não cansa de bater recordes e, em 2018, colecionou mais um: pela sexta vez, foi eleita a melhor jogadora do mundo. Ninguém tem mais troféus do que ela nesse prêmio. Nem Messi, nem Cristiano Ronaldo.

“As minhas vitórias vêm para continuar a motivação para desenvolver a modalidade. Então, não foi a Marta que ganhou, foi o futebol feminino. Hoje é uma noite que coloca o futebol feminino do lado do masculino. Não tem exceção. Isso é fantástico.” Ela mudou a história.

Acesse e leia nossos “Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol” 2014, 2015, 2016, e 2017 com os casos de preconceito e discriminação no esporte brasileiro aqui.

Fonte: UOL Esporte

Qual foi a Olimpíada que teve a maior participação feminina?

As mulheres roubaram a cena nas Olimpíadas de Tóquio não só por quebrarem o recorde de participação feminina em uma única edição (48,8%), mas também pelo alto nível apresentado nos mais variados esportes.

Qual foi a Olimpíada que teve a maior participação feminina e em que cidade ela aconteceu?

Um marco histórico da participação feminina nos Jogos Olímpicos aconteceu em 2016, nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, pois, dentre os 11 mil atletas participantes, 45% eram mulheres.

Qual foi a primeira Olimpíada que houve a participação das mulheres?

Durante a primeira Olimpíada em 1896, em Atenas, as mulheres participaram apenas como espectadoras, porém a grega Stamati Revithi, realizou o percurso da maratona fora do estádio no dia seguinte a prova masculina, em resposta a proibição feminina nas modalidades olímpicas (PFISTER, 2004 apud OLIVEIRA; CHEREM; TUBINO, ...

Em qual ano foi liberada a participação feminina nas Olimpíadas?

A primeira participação feminina do país se deu em 1932 com a nadadora Maria Lenk, três décadas depois da estreia das mulheres em Olimpíadas. No final dos anos 60, com o avanço da pautas feministas, as atletas de diversas partes do mundo passaram a responder por 14% do total de competidores.