O cuidado de enfermagem na promoção, prevenção, proteção e recuperação da saúde.

O cuidado de enfermagem perpassa pela promoção, prevenção, proteção e recuperação da saúde; assim, julga-se pertinente conhecer os temas transversais, propostos na Política Nacional de Promoção da Saúde (2015/2016), por serem referências para a formulação de agendas e para a adoção de estratégias e temas prioritários. São Temas Transversais dessa Política:

A

Ambientes e territórios saudáveis; Produção de saúde e cuidado; e Cultura da paz e direitos humanos.

B

Territorialização; Rede de Atenção à Saúde; e Gestão.

C

Educação e formação; Participação e controle social; e Produção e disseminação de conhecimentos e saberes.

D

Alimentação adequada e saudável; Enfrentamento do uso abusivo de álcool e de outras drogas; e Formação e educação permanente.

REVISÃO TEÓRICA

O papel do enfermeiro e as recomendações para a promoção da saúde da criança nas publicações da enfermagem brasileira*

El papel del enfermero y las recomendaciones para la promoción de la salud del niño en las publicaciones de la enfermería brasileña

Elaine Alano Guimarães MedeirosI; Astrid Eggert BoehsII; Ivonete Teresinha Schülter Buss HeidemannII

IEnfermeira. Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Florianópolis, SC - Brasil
IIEnfermeira. Professora do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFSC. Florianópolis, SC - Brasil

Autor correspondente


RESUMO

Esta pesquisa objetivou identificar nas publicações da enfermagem brasileira o papel do enfermeiro e as recomendações para a promoção da saúde da criança. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica descritivo-exploratória com abordagem qualitativa realizada através de buscas em bases de dados. Foi levantado o conteúdo das publicações que foi analisado por meio da proposta operativa de Minayo. As categorias foram descritas e discutidas à luz das publicações analisadas e do referencial da promoção da saúde. Como resultado obteve-se duas categorias: o papel do enfermeiro na promoção da saúde da criança e as recomendações para o cumprimento do mesmo. Conclui-se que os papéis do enfermeiro identificados nas publicações da enfermagem brasileira relacionam-se diretamente a três campos de ações da Carta de Ottawa para a promoção da saúde: o desenvolvimento de habilidades pessoais, o reforço da ação comunitária e a reorientação dos serviços de saúde. Porém, indiretamente também se relacionam à implementação de políticas públicas saudáveis e a criação de ambientes favoráveis à saúde. A superação das dificuldades para o cumprimento do papel do enfermeiro na promoção da saúde da criança ocorrerá com a intensificação das atividades de educação em saúde. As recomendações apresentadas refletem a preocupação dos enfermeiros com a promoção da saúde e guiam estes profissionais no cumprimento do seu papel. Porém ainda existe a necessidade de que estas sejam feitas especificamente à enfermagem, contribuindo para a visibilidade da profissão.

Palavras-chave: Enfermagem; Promoção da Saúde; Educação em Saúde; Criança; Saúde da Criança.


RESUMEN

Esta investigación buscó identificar en las publicaciones de la enfermería brasileña el papel del enfermero y las recomendaciones para la promoción de la salud del niño. Se trata de una investigación bibliográfica descriptivo-exploratoria con enfoque cualitativo realizado a través de búsquedas en bases de datos. Fue levantado el contenido de las publicaciones. El contenido fue analizado por medio del protocolo operativo de Minayo. Las categorías fueron descriptas y discutidas a la luz de las publicaciones analizadas y del referente de la promoción de la salud. Como resultado se obtuvieron dos categorías: el papel del enfermero en la promoción de la salud del niño y las recomendaciones para su cumplimiento. Se concluye que los papeles del enfermero identificados en las publicaciones de la enfermería brasileña se relacionan directamente a tres campos de acción de la Carta de Ottawa para la promoción de la salud: el desarrollo de habilidades personales, el refuerzo de la acción comunitaria y la reorientación de los servicios de salud. Sin embargo, indirectamente también se relacionan a la implementación de políticas públicas saludables y a la creación de ambientes favorables a la salud. La superación de las dificultades para el cumplimiento del papel del enfermero en la promoción de la salud del niño ocurrirá con la intensificación de las actividades de educación en salud. Las recomendaciones presentadas reflejan la preocupación de los enfermeros con la promoción de la salud y guían estos profesionales en el cumplimiento de su papel. Sin embargo, estas deberían ser específicas para los a la enfermeros, lo cual podría contribuir a la visibilidad de la profesión.

Palabras clave: Enfermería; Promoción de la Salud; Educación en Salud; Niño; Salud del Niño.


INTRODUÇÃO

Há mais de duas décadas a Carta de Ottawa que é o marco do movimento da promoção da saúde em todo o mundo. É discutida como forma de melhorar a qualidade de vida dos indivíduos e comunidades, tendo seus conceitos e práticas implementados em sistemas de saúde, como no Sistema Único de Saúde no Brasil.1

A promoção da saúde é definida pela Carta de Ottawa2 como "o processo que capacita as pessoas para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo". Para isso, são propostos cinco campos de ações: implementação de políticas públicas saudáveis, criação de ambientes favoráveis à saúde, reforço da ação comunitária, desenvolvimento de habilidades pessoais e reorientação dos serviços de saúde.

A referida carta tem influenciado as políticas públicas brasileiras e a elaboração de projetos, programas e documentos em favor da saúde da criança. Em 2006 o Ministério da Saúde deu um importante passo em relação à promoção da saúde, lançando o Pacto pela Saúde. A partir daí foi elaborada e implementada a Política Nacional de Promoção da Saúde.

Analisando brevemente as publicações ministeriais em favor da saúde da criança, constata-se o que já é defendido por Brasil3 como atribuição do enfermeiro, sendo elas prestar o cuidado integral na promoção da saúde, proteção dos agravos, diagnóstico, tratamento e reabilitação aos indivíduos e famílias em todas as etapas do seu desenvolvimento. Uma das publicações ministeriais é a Agenda de Compromissos para a Saúde Integral da Criança e Redução da Mortalidade Infantil4, que traz as ações coletivas com ênfase na promoção da saúde como prioritária. Esse é um exemplo de documento que pode ser utilizado com êxito pelos enfermeiros na promoção da saúde das crianças, indicando os caminhos para as principais ações que devem ser desenvolvidas por todos os profissionais de saúde, em todos os níveis, no sentido da integralidade da atenção à criança, o que inclui as ações de promoção da saúde.

As políticas públicas brasileiras e os projetos, programas e documentos em favor da saúde da criança guiam a prática dos profissionais de saúde, inclusive dos enfermeiros e da equipe de Enfermagem. Essa prática está cada dia mais sendo revelada na produção de conhecimento da Enfermagem brasileira. Sendo assim, pergunta-se: qual é o papel do enfermeiro na promoção da saúde da criança expresso nas publicações da Enfermagem? Quais as recomendações que essas publicações trazem para auxiliar os enfermeiros na promoção da saúde? Assim, o objetivo deste estudo foi identificar o papel do enfermeiro e as recomendações para a promoção da saúde da criança nas publicações da Enfermagem brasileira.

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica descritivo-exploratória, com abordagem qualitativa realizada a partir de buscas nas bases de dados eletrônicas LILACS, BDENF e SCIELO que, por sua vez, foram acessadas por meio da Biblioteca Virtual em Saúde.

Para a obtenção do material, valeu-se dos critérios de inclusão: a) tipo de publicação: artigos científicos de pesquisa e relatos de experiência com autoria de pelo menos um enfermeiro em periódicos brasileiros considerados da área da Enfermagem pelo WebQualis; b) período de publicação: artigos publicados desde a Constituição Federal de 1988 e a implantação do Sistema Único de Saúde até o ano de 2010. O ano de início para a busca das publicações se justifica, pois tanto a Constituição Federal quanto o Sistema Único de Saúde sofreram influências do referencial teórico que norteia este estudo, a saber, a Carta de Ottawa; c) estratégia: foram utilizados os descritores DECS/MESH e respectivos descritores boleanos (enfermagem em saúde comunitária OR cuidados de enfermagem OR enfermagem pediátrica OR enfermagem OR enfermagem em saúde pública OR enfermagem neonatal OR enfermagem familiar) AND (promoção da saúde OR educação em saúde) AND (criança OR pré-escolar OR lactente OR recém-nascido). Os critérios de exclusão aplicaram-se às publicações do tipo editoriais, cartas, artigos de opinião, comentários, ensaios, notas prévias, publicações duplicadas, manuais e estudos que não contemplem os critérios de inclusão.

Os 210 artigos obtidos (23 SCIELO, 106 LILACS e 81 BDENF) passaram por duas etapas de seleção. A primeira aconteceu a partir de uma leitura exploratória dos títulos e resumos que verificou em que medida a obra interessava à pesquisa. Desta, restaram 104 artigos (17 SCIELO, 44 LILACS e 43 BDENF) que foram submetidos à segunda etapa de seleção por meio de uma leitura integral das obras. Após as leituras seletivas, o material bibliográfico, que consistiu de 53 artigos (16 SCIELO, 36 LILACS e 1 BDENF), foi organizado em pastas eletrônicas e posteriormente iniciou-se o processo de coleta de dados propriamente dito mediante a leitura analítica e interpretativa, ordenando e sumarizando as informações contidas nas fontes, utilizando-se de um instrumento criado com o auxílio do programa Microsoft Excel 2010®. A Tabela 1 caracteriza as publicações que tiveram seus dados coletados.

O cuidado de enfermagem na promoção, prevenção, proteção e recuperação da saúde.

Para a análise dos dados valeu-se da proposta operativa de Minayo5, que se desdobra em três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados obtidos com sua interpretação. As categorias que emergiram foram descritas e posteriormente discutidas à luz das próprias publicações analisadas e do referencial teórico adotado. Ao final, foram tecidas considerações finais respondendo aos objetivos da pesquisa.

O projeto de pesquisa foi enviado ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina, que afirmou no ofício nº 27/CEPSH/PRPE/11 que a pesquisa não fere princípios éticos em relação a seres humanos.

RESULTADOS

Os resultados deste estudo referem-se à análise do conteúdo das publicações da Enfermagem brasileira na promoção da saúde da criança que deram origem a duas categorias: o papel do enfermeiro e as recomendações para a promoção da saúde da criança.

Papel do enfermeiro na promoção da saúde da criança

Essa categoria foi dividida em quatro subcategorias: o papel do enfermeiro como educador, cuidador e supervisor e as dificuldades para o cumprimento do papel do enfermeiro na promoção da saúde da criança.

A primeira subcategoria, o papel do enfermeiro como educador, é uma das principais funções do enfermeiro, permeando suas ações na interação com as crianças e seus familiares. A educação em saúde deve ser desenvolvida em vários momentos e em qualquer oportunidade, como durante as consultas de Enfermagem e as visitas domiciliares, que possibilitam contato contínuo com as famílias, favorecendo o estabelecimento de vínculo e uma relação de ajuda; no contato do enfermeiro com a criança e sua família, acolhendo e orientando; na atuação do enfermeiro no sistema escolar, contribuindo na solução de problemas de saúde do escolar; entre outros.

A segunda subcategoria revelou outro papel importante do enfermeiro na promoção da saúde da criança, o papel como cuidador. Os estudos mostram que o enfermeiro cuida integrando as diferentes dimensões do viver e do conviver das famílias, prevenindo doenças e agravos, educando em saúde e promovendo saúde. Sendo assim, o enfermeiro é importante na realização de um cuidado ampliado e na promoção de mudanças na vida de quem é cuidado.

A terceira subcategoria, o papel do enfermeiro como supervisor da equipe de saúde, é importante para guiar, inclusive, o desenvolvimento de atividades de educação permanente.

Por fim, a quarta subcategoria revelou as dificuldades para o cumprimento do papel do enfermeiro na promoção da saúde da criança, sendo a primeira delas a visão que ainda existe do trabalho do enfermeiro relacionado ao procedimento técnico. Sendo assim, o enfermeiro age apenas no sentido de aliviar demandas médicas e do serviço em geral, o que impede o estabelecimento de vínculos, confiabilidade, sistematização da assistência, entre outras questões necessárias à educação e à promoção da saúde.6 Outra dificuldade encontrada foi o suporte informacional deficiente dado pelos enfermeiros às famílias, porém o estudo não aprofunda o tema, limitando-se a fornecer recomendações no sentido da promoção da saúde.

Recomendações para a promoção da saúde da criança

Essa categoria foi dividida em duas subcategorias: as recomendações para a Enfermagem e para os profissionais de saúde em geral. Na primeira foram encontradas recomendações para a promoção da saúde e, mais especificamente, para a educação em saúde, organização do processo de trabalho e tratamento da doença/combate aos problemas. As recomendações para a enfermagem no sentido da promoção da saúde destinam-se a promover a saúde da família e da criança, entre outras. Para promover a saúde da família, é necessária avaliação da mesma pelo enfermeiro, de modo que este possa reconhecer necessidades, identificar parcerias e incentivar a utilização e aumento das redes de apoio. Para promover a saúde da criança, o enfermeiro, deve valer-se da consulta de Enfermagem para a visualização do estado de saúde e, assim, planejar ações que promovam saúde. Além disso, esses profissionais devem atuar em uma equipe multiprofissional para atender integralmente à criança. Para promover a saúde, a Enfermagem precisa ter a promoção da saúde inserida em seus currículos, desenvolver uma relação de troca e comprometimento, refletir em sua maneira de cuidar e buscar uma prática humanizadora e engajar-se na melhoria da qualidade dos serviços.

Os estudos trouxeram recomendações para que a Enfermagem possa contribuir com a educação em saúde dos cuidadores de crianças e das próprias crianças, além de trazerem recomendações gerais.

Para a educação em saúde do cuidador, foram apresentadas recomendações que expressam o como e para quê este deve ser educado. Para educar em saúde, a Enfermagem deve preocupar-se com a melhoria e ampliação das ações educativas, utilizar uma linguagem simples, ser sensível para escutar e identificar a real dificuldade do cuidador e estar aberta para quando a família questiona e pede que sejam repetidas/confirmadas algumas orientações. Recomenda-se também que a Enfermagem utilize a educação em saúde para a criação de vínculo entre os cuidadores e as crianças, para que estes adquiram habilidades, autonomia e consciência crítica que lhes permitam estar emancipados/empoderados para cuidar da saúde de suas crianças.

Em relação à educação em saúde com as crianças, a Enfermagem precisa familiarizar-se com as fases de desenvolvimento das mesmas, mergulhar e valorizar o mundo em que elas vivem, conhecer seus hábitos, cultura e preferências, para criar uma identificação com elas e educar de forma eficaz. As recomendações gerais são para que os enfermeiros conquistem espaço e, assim, com motivação, criatividade para desenvolver tecnologias, comunicação eficaz e atenção à influência dos familiares na transmissão dos ensinamentos, possam trabalhar com uma pedagogia diferenciada, considerando cada ator social com seus potenciais e dificuldades e que esteja voltada para a construção de sentidos, abrindo caminhos para transformações.7

Para a organização do processo de trabalho do enfermeiro e da equipe, é recomendado que se realize uma ponte entre a família e os membros da equipe de saúde e que se dominem os procedimentos que integram a consulta de Enfermagem, desempenhando, assim, um cuidado sistematizado, ordenado, autêntico e solícito.8

Por fim, foram encontradas recomendações à Enfermagem para o tratamento da doença e combate aos problemas da família, criança e binômio mãe-bebê. Quanto à família, recomenda-se que o enfermeiro busque a criação de vínculo para auxiliar a família na convivência diária, na compreensão e no enfrentamento da doença, estabelecendo meios para facilitar o processo de tratamento. Em um dos estudos foram dadas recomendações para um problema mais específico, o da violência doméstica. Nesse estudo, Algeri e Souza9 ressaltam a importância de o enfermeiro envolver-se em grupos de pesquisa para estudar e enfrentar o desafio de cuidar de famílias em situação de violência e agir decisivamente frente à realidade diária da mesma. Quanto à criança, foram dadas recomendações bem específicas para a Enfermagem, em se tratando de problemas. O estudo de Feitosa et al10 sugere que a Enfermagem elabore roteiros levando em consideração as rotinas das crianças, para facilitar a administração dos medicamentos. E Oliveira et al11 recomendam que haja estímulo tátil do enfermeiro ao recém-nascido prematuro, amenizando os efeitos da ambiência inadequada e intervenções desconfortáveis e permitindo que o recém-nascido vivencie mais qualidade no cuidado de Enfermagem oferecido. Esse mesmo estudo sugere que a Enfermagem trabalhe junto ao binômio mãe-bebê para que ocorra efetiva adesão ao tratamento.

As recomendações para os profissionais de saúde em geral são muito semelhantes àquelas feitas aos enfermeiros. No sentido da promoção da saúde, foi recomendado que combinassem diferentes intervenções.

Para a educação em saúde preconizou-se que os profissionais desenvolvessem programas de atenção e apoio aos cuidadores, lançassem mão de compreensão, sensibilidade e empatia, enfatizassem a necessidade de capacitação de profissionais e realizassem encaminhamentos quando necessário. Os profissionais de saúde precisam estar atentos às oportunidades de educação em saúde e esta, por sua vez, deve permitir um preparo eficaz, emancipatório e responsável dos cuidadores leigos e profissionais.

Para a organização do processo de trabalho foi recomendado aos profissionais realizar reuniões de equipe, incentivar e incorporar iniciativas de construção de um instrumento facilitador do processo de aprendizado que busque a promoção da saúde a partir do empoderamento da equipe.

Por fim, para o tratamento das doenças das crianças foram orientadas a identificação e compreensão dos fenômenos que influenciam na qualidade de vida e no contexto social no qual a criança está inserida, preservando sempre as potencialidades e minimizando as fragilidades.

DISCUSSÃO

Os dados que emergiram dos estudos analisados mostram que o papel do enfermeiro na promoção da saúde da criança contempla os cinco campos de ações apresentados na Carta de Ottawa.2 Para o desenvolvimento de habilidades pessoais e o reforço da ação comunitária, é imprescindível a divulgação de informações para que se tenha educação em saúde, portanto, o enfermeiro, como educador, contribui diretamente com esses dois campos de ações. Além disso, a Carta de Ottawa2 afirma que a tarefa de educar em saúde pode ser realizada nas escolas, nos lares, nos locais de trabalho e em outros espaços na comunidade, por intermédio de organizações educacionais, profissionais, comerciais e voluntárias e também pelas instituições governamentais, o que está de acordo com os estudos que afirmam que a educação em saúde deve ser desenvolvida em vários momentos e em qualquer oportunidade.

O papel do enfermeiro como cuidador é muito mais abrangente, se for considerado que cuidar é uma característica humana influenciada pelas experiências vividas, uma questão moral que compromete o enfermeiro a manter a dignidade ou integridade dos indivíduos, um ato de afeto, um relacionamento e também uma intervenção terapêutica.12 Analisando o estudo de Eriksson e Lindström13, pode-se inferir que, para a promoção da saúde, deve-se pensar em cuidados de Enfermagem curativos, protetivos e preventivos, além dos educativos, desde que se tenha o foco na concepção positiva da saúde. Esses cuidados podem ter a função de melhorar a qualidade de vida das pessoas, afastando-as dos riscos à sua saúde até que adquiram, por meio da educação em saúde, a capacidade de avaliar suas fortalezas para promover a saúde.

O papel do enfermeiro como supervisor vem ao encontro do desenvolvimento de habilidades pessoais dos membros da equipe de saúde e também contribui diretamente para a reorientação dos serviços, de modo que estes trabalhem adotando uma postura coerente e de respeito às diversidades culturais existentes na sociedade.2

As dificuldades encontradas nos estudos para o cumprimento do papel do enfermeiro na promoção da saúde da criança, ou seja, a visão que ainda existe do trabalho do enfermeiro como procedimento técnico e o suporte informacional deficiente dado pelos enfermeiros às famílias, poderiam ser resolvidas por meio da educação em saúde. É necessária a educação em saúde, de forma mais visível, com usuários dos serviços e com a comunidade na qual este está inserido, para que seja percebida a importância do papel e trabalho do enfermeiro e da equipe de Enfermagem. A educação permanente para a equipe de Enfermagem também é importante, visando a capacitação da mesma para que esta esteja apta a prestar informações e orientações de forma eficiente às famílias.

As recomendações apresentadas nos estudos, tanto aos enfermeiros quanto aos profissionais de saúde em geral, refletem a preocupação dos autores da Enfermagem com a promoção da saúde. Essas recomendações expressam o que ainda precisa ser feito ou intensificado em relação à promoção da saúde da criança, guiando, desse modo, os profissionais no cumprimento do seu papel. Alguns autores fizeram suas orientações no sentido da promoção da saúde de forma mais abrangente, outros fizeram recomendações mais específicas, como, por exemplo, para o tratamento de doenças/combate aos problemas. Pode-se pensar que as recomendações para o tratamento e/ou combate aos problemas não têm relação com a saúde e sim com a doença. Mas, como já foi dito, desde que se tenha o foco na concepção positiva de saúde, pode-se pensar em cuidados de Enfermagem curativos, protetivos e preventivos, além dos educativos.13

Outra questão importante constatada nas recomendações aos enfermeiros e outros profissionais de saúde é que existe a consideração da importância da família e cuidadores na promoção da saúde da criança. Os estudos consideram que o bem-estar destes interfere diretamente na qualidade do cuidado que prestam às crianças.14,15 Portanto, o enfermeiro, ao cuidar da criança juntamente com a família, deve trabalhar a educação em saúde com esses atores de modo que se tornem parceiros na luta pela promoção da saúde infantil.

É importante ressaltar que as recomendações quanto aos cuidados de Enfermagem são destacadas em apenas 24 dos 53 estudos analisados. Isso contribui para a invisibilidade profissional da Enfermagem, tão marcada pelo modelo biomédico de atenção à saúde do qual o médico é o protagonista. Em outras palavras, a visibilidade da Enfermagem já está comprometida por esse modelo, no qual a atuação da Enfermagem acaba por oferecer apenas sustentação às práticas médicas, constituindo-se de um trabalho complementar, subordinado aos profissionais da Medicina, voltado para a caridade e com pouca ou nenhuma autonomia. Para reverter esse quadro, a Enfermagem precisa ocupar espaços e ter o reconhecimento como uma das profissões essenciais da saúde. Para isso, faz-se necessário o investimento em estudos e pesquisas para a formação de um corpo teórico próprio que a visibilize e a projete como ciência.16 No entanto, não basta apenas investir em pesquisas, mas investir em pesquisas que levem o "nome" da Enfermagem. Então, nesse contexto de promoção da saúde e Enfermagem, poderiam ser feitas recomendações a todos os profissionais de saúde, mas também aos enfermeiros e equipe de enfermagem, como é o caso de apenas seis dos 24 estudos já citados, que referiram à Enfermagem.

É importante, ainda, salientar que as recomendações apresentadas nos estudos, tanto aos enfermeiros quanto aos outros profissionais de saúde, contribuem para o cumprimento de três campos de ações da Carta de Ottawa: o desenvolvimento de habilidades pessoais, o reforço da ação comunitária e a reorientação dos serviços de saúde, auxiliando esses profissionais no cumprimento o seu papel. Os outros dois campos de ações, implementação de políticas públicas saudáveis e criação de ambientes favoráveis à saúde não estão tão palpáveis a esses profissionais, refletindo na necessidade encontrada em alguns dos estudos analisados de realizar recomendações a quem cabe implementar essas políticas e criar esses espaços no sentido da promoção da saúde da criança.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os papéis do enfermeiro identificados nas publicações da Enfermagem brasileira relacionam-se diretamente a três campos de ações da Carta de Ottawa para a promoção da saúde, sendo elas: o desenvolvimento de habilidades pessoais, o reforço da ação comunitária e a reorientação dos serviços de saúde. Os estudos não relacionam o papel do enfermeiro à implementação de políticas públicas saudáveis e à criação de ambientes favoráveis à saúde. Isso pode ser devido ao fato de esses dois campos de ação ainda serem pouco explorados na área da saúde. Porém, trabalhando com o desenvolvimento de habilidades pessoais e o reforço da ação comunitária, indiretamente o enfermeiro pode contribuir com esses dois campos, pois empoderam os indivíduos e comunidades para que estes requeiram das outras instâncias a criação de políticas e espaços promotores de saúde.

A superação das dificuldades para o cumprimento do papel do enfermeiro na promoção da saúde da criança ocorrerá com a intensificação das atividades de educação em saúde, entre outras.

As recomendações apresentadas refletem a preocupação dos enfermeiros com a promoção da saúde e guiam esses profissionais no cumprimento do seu papel. Porém, ainda existe a necessidade de que essas pesquisas sejam feitas relacionadas especificamente à Enfermagem, contribuindo para a visibilidade da profissão.

REFERÊNCIAS

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2. World Health Organization WHO. The Ottawa Charter For Health Promotion. Ottawa; 1986.

3. Brasil. Ministério da Saúde. Departamento de Atenção Básica. Atenção básica e a saúde da família. Brasília: Ministério da Saúde; 2006.

4. Brasil. Ministério da Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Agenda de Compromissos para a Saúde Integral da Criança e Redução da Mortalidade Infantil. Brasília: Ministério da Saúde; 2005.

5. Minayo MCS, organizador. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12ª ed. São Paulo: Hucitec; 2010.

6. Rios CTF, Vieira NFC. Ações educativas no pré-natal: reflexão sobre a consulta de enfermagem como um espaço para educação em saúde. Ciênc Saúde Coletiva. 2007;12(2):477-86.

7. Marcelino G, Parrilha VA. Educação em saúde bucal para mães de crianças especiais: um espaço para a prática dos profissionais de enfermagem. Cogitare Enferm. 2007 jan/mar; 12(1):37-43.

8. Oliveira VC, Cadete MMM. A consulta de enfermagem no acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil. REME Rev Min Enferm. 2007;11(1):77-80.

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10. Feitosa AC, Lima HJA, Caetano JA, Andrade LM, Beserra EP. Terapia anti-retroviral: fatores que interferem na adesão de crianças com HIV/AIDS. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2008 set; 12(3):515-21.

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O cuidado de enfermagem na promoção, prevenção, proteção e recuperação da saúde.
Autor correspondente:
Elaine Alano Guimarães Medeiros
E-mail:

Submetido em: 02/08/2012
Aprovado em: 09/10/2012

* Este artigo é parte da dissertação de mestrado intitulada "Análise da produção de conhecimento da Enfermagem brasileira na promoção da saúde da criança", de autoria de Elaine Alano Guimarães Medeiros, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina em fevereiro de 2012 na cidade de Florianópolis - SC.

Qual o papel da enfermagem na promoção e prevenção da saúde?

Os estudos mostram que o enfermeiro cuida integrando as diferentes dimensões do viver e do conviver das famílias, prevenindo doenças e agravos, educando em saúde e promovendo saúde. Sendo assim, o enfermeiro é importante na realização de um cuidado ampliado e na promoção de mudanças na vida de quem é cuidado.

Quais são os cinco cuidados de enfermagem?

Quais são os principais cuidados de enfermagem?.
Monitorar sinais vitais é o básico em cuidados de enfermagem. ... .
Aplicar medicamentos é feito nos cuidados de enfermagem. ... .
Promover a segurança do paciente. ... .
Prevenir complicações de doenças. ... .
Realizar procedimentos básicos são cuidados de enfermagem. ... .
Prevenção de lesões por pressão..

O que é prevenção na enfermagem?

É a ação tomada para remover causas e fatores de risco de um problema de saúde individual ou populacional antes do desenvolvimento de uma condição clínica. Inclui promoção da saúde e proteção específica (ex.: imunização, orientação de atividade física para diminuir chance de desenvolvimento de obesidade).

Qual a importância do técnico de enfermagem no processo de promoção de saúde?

O técnico de enfermagem auxilia no processo desse mapeamento e territorialização, com o objetivo de mapear e atuar sobre esses riscos. Cuidados preventivos: com atuação voltada para o paciente, à família e à comunidade, o profissional foca na prevenção de agravantes e melhora na saúde.