Por que as pessoas que ordenhavam vacas não pegavam à varíola humana

A varíola dos humanos

O smallpox, o vírus da varíola humana, foi considerado um flagelo da humanidade por provocar uma doença bastante grave, que causou 300 milhões de mortes no mundo no século 20. Ela foi considerada erradicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1980, após uma ampla campanha de vacinação mundial nas décadas de 1960 e 1970. 

Sua origem remonta a epidemias na Idade Média, entre os séculos 10 e 20. Ela se tornou menos mortal a partir da descoberta da vacina contra varíola pelo médico inglês Edward Jenner (1749-1823) ainda no século 18. O imunizante foi produzido com base na inoculação da varíola da vaca em humanos, depois de Jenner perceber que pessoas que ordenhavam vacas que haviam adoecido com a varíola de bovinos (cowpox) não se contaminavam com a varíola humana. 

Inclusive, o termo vacina ou vaccine, em inglês, se refere originalmente ao vírus da varíola da vaca conhecido como vaccínia. O termo ganhou o significado de vacinação quando passou a ser usado pelo cientista francês Louis Pasteur em 1884. 

No Brasil, o primeiro surto da varíola ocorreu em meados de 1555, quando a doença foi introduzida no Maranhão por colonos franceses. Anos depois ocorreu uma epidemia da doença relacionada ao tráfico de escravos africanos e, tempos depois, o vírus foi novamente trazido ao país por portugueses e se estabeleceu em cidades portuárias até chegar ao interior. 

A Campanha de Erradicação da Varíola foi criada em decreto em 1966, quando substituiu a Campanha Nacional contra a Varíola, de 1962. A vacinação em massa, que imunizava pessoas em praças públicas e em escolas, usava um injetor de pressão para aplicação da vacina, o que permitia imunizar mais pessoas em menos tempo, já que a doença se espalhava como pólvora. Com adesão de 100% da população na campanha, o Brasil recebeu a certificação internacional da erradicação da varíola em 1973, segundo dados do Ministério da Saúde

“O smallpox causava uma doença que foi bastante grave e que perdurou durante séculos sem grandes resoluções sobre o que poderia ser feito, já que ela tinha uma letalidade alta e era extremamente transmissível. Até que houve o descobrimento das vacinas que acabou levando a erradicação dessa doença graças a uma campanha enorme de vacinação em massa nas décadas de 1960 e 1970”, resume Viviane.

A varíola dos macacos

Já a varíola dos macacos (monkeypox) é considerada uma zoonose viral (vírus transmitido aos seres humanos a partir de animais) com sintomas muito semelhantes aos observados em pacientes com varíola humana, embora seja clinicamente menos grave. O período de incubação da varíola dos macacos é geralmente de seis a 13 dias, mas pode variar de cinco a 21 dias, segundo a OMS. 

Segundo Viviane Bottosso, o termo varíola dos macacos não reflete exatamente a origem do vírus, embora tenha se tornado seu nome mais popular. “Não é o correto falarmos varíola dos macacos. Esse foi o nome que ficou conhecido popularmente, porque o vírus foi detectado inicialmente em macacos que foram exportados da África para a Dinamarca e a doença foi verificada e identificada neles como um poxvírus. Porém, se sabe que roedores adquirem a doença”, conta a virologista.

Existem duas linhagens do vírus da varíola dos macacos, com diferentes níveis de gravidade: a da África Ocidental e a da Bacia do Congo (África Central). As infecções humanas com a da África Ocidental parecem causar doenças menos graves em comparação à da Bacia do Congo, segundo a OMS.

Os países onde a varíola dos macacos é considerada endêmica são Benin, Camarões, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Gabão, Gana (identificado apenas em animais), Costa do Marfim, Libéria, Nigéria, República do Congo, Serra Leoa e Sudão do Sul. 

A varíola é uma doença descrita desde a Antiguidade e que foi completamente erradicada do planeta pela vacinação. A Organização Mundial da Saúde declarou a erradicação da doença em 8 de maio de 1980, durante a 33ª Assembleia Mundial da Saúde. Antes da vacina, a varíola era responsável por um grande número de mortes. De acordo com a Agência Fiocruz de Notícias, “a doença, capaz de matar cerca de 30% dos infectados, dizimou boa parte da população do Rio de Janeiro no início do século 20”.

Leia também: Importância da vacinação – muito além da prevenção individual

Tópicos deste artigo

  • 1 - O que é a varíola?
  • 2 - Agente causador da varíola
  • 3 - Transmissão da varíola
  • 4 - Sintomas da varíola
  • 5 - Diagnóstico da varíola
  • 6 - Tratamento da varíola
  • 7 - Breve história da vacina contra varíola

O que é a varíola?

A varíola é uma doença infecto-contagiosa causada por um víruse que se destaca como uma das doenças que mais causou mortes na história da humanidade. Ela teria surgido na Índia, existindo descrições na Ásia e África antes mesmo da era cristã. No Brasil, a doença foi descrita pela primeira vez em 1563, na Bahia.

Por que as pessoas que ordenhavam vacas não pegavam à varíola humana
A varíola é provocada por um vírus transmitido, principalmente, por gotículas eliminadas pelo doente.

A varíola é classificada em dois tipos: varíola major e varíola minor.A varíola major é o tipo mais letal da doença, apresentando uma letalidade de cerca de 30%. A varíola minor, por sua vez, é um tipo mais brando, com uma letalidade inferior a 1%.

Agente causador da varíola

A varíola é uma doença causada pelo vírus Orthopoxvirus variolae, da família Poxviridae edogênero Orthopoxvírus. O vírus é de DNA e pode permanecer viável por vários meses no meio ambiente.

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Transmissão da varíola

A transmissão da varíolaocorre, na maioria das vezes, por inalação de gotículas contendo o vírus, as quais são eliminadas pelo doente ao falar, tossir ou espirrar. Apesar de menos comum, a varíola pode ser contraída ao manusear-se roupas, lençóis ou outros objetos contaminados pelo doente, por exemplo.

Sintomas da varíola

O período de incubação médio da varíola é de 12 dias. Após isso, os sintomas surgem de maneira abrupta, sendo marcados pelo surgimento de febre alta, dores de cabeça, dores no corpo, abatimento e calafrios. Esses sintomas têm uma duração de cerca de quatro dias, e, após esse período, a doença progride para a forma mais grave, com redução da febre e surgimento de erupções na pele.

Por que as pessoas que ordenhavam vacas não pegavam à varíola humana
A varíola provoca lesões na pele e pode levar à morte.

As lesões iniciam-se como máculas (lesão sem relevo), depois tornam-se pápulas (elevação sólida), e, posteriormente, tornam-se vesículas contendo líquido e cercadas por um halo eritematoso regular. As vesículas evoluem para pústulas (pequenas bolhas cheias de pus). Durante essa fase da doença, o risco de cegueira é grande, pois as lesões provocam coceira, e, ao coçar e tocar os olhos, o doente pode desencadear inflamação no órgão.

As lesões evoluem, posteriormente, para crostas e a febre regride. As crostas caem cerca de 10 dias após sua formação. Ao cairem, elas podem deixar cicatrizes permanentes na pele. As mortes em decorrência da varíola ocorriam, geralmente, devido a uma resposta inflamatória massiva que provocava choque e desencadeava a falência múltipla dos órgãos.

Veja também: Sepse – resposta inflamatória sistêmica

Diagnóstico da varíola

O diagnóstico da varíola é basicamente clínico. O exame laboratorial para diagnosticar-se a doença é feito, por exemplo, por meio do cultivo do vírus do sangue ou de lesões na pele.

Tratamento da varíola

Quando a doença ainda ocorria no planeta, nenhum tratamento era efetivo. O tratamento indicado tentava amenizar a coceira e a dor causada pelas lesões, era, portanto, exclusivamente sintomático e não curativo. A taxa de sobrevivência estava diretamente ligada ao tipo de varíola adquirida. A letalidade podia chegar a 30%.

Breve história da vacina contra varíola

A vacina contra a varíola foi a responsável por erradicar a doença do planeta, pondo fim em anos de mortes e sequelas irreversíveis.A vacina contra a varíola foi criada por Edward Jenner, um médico da Inglaterra.

Ele observou, em 1789, que pessoas que ordenhavam vacas não contraíam a varíola após adquirirem a varíola bovina. Em 1796, ele extraiu o pus presente em uma lesão de uma pessoa que tinha contraído a varíola bovina e inoculou-o em um menino saudável, o qual adquiriu a doença de forma branda.

Passado algum tempo, Jenner inoculou, no mesmo menino, o material retirado de uma pústula de uma pessoa com varíola humana. O menino não contraiu a doença, o que significou que ele estava imune a ela. Jenner, então, fez a experiência com outras pessoas, inclusive com o seu próprio filho. Os resultados do experimento foram publicados em 1798.

Por Vanessa Sardinha dos Santos
Professora de Biologia

Qual a diferença entre a varíola humana e a varíola bovina?

A varíola bovina é uma doença infecto-contagiosa, de etiologia viral caracterizada por lesões cutâneas em vacas lactentes, bezerros e no homem. Destaca-se sua importância como diferencial de doenças confundíveis com febre aftosa e por ser zoonose.

Por que vacina vem de vaca?

A palavra deriva do latim vaccinus, que significa “derivado da vaca”. O nome está relacionado a uma descoberta do médico inglês Edward Jenner, inventor da vacina contra a varíola. Ele percebeu que muitas pessoas que ordenhavam vacas não contraíam a doença, pois já haviam adquirido a varíola bovina.

Como surgiu a varíola bovina?

Inicialmente praticada na Ásia e na África antes de ser levada à Europa no século 18, e à América do Norte por um homem escravizado chamado Onesimus, a inoculação frequentemente resultava em casos brandos da doença. Mas nem sempre.

Por que não há mais vacinação contra a varíola?

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a vacina contra a varíola é capaz de proteger contra a varíola dos macacos. A questão é que esse imunizante parou de ser usado há décadas. No Brasil, a imunização de rotina para a varíola cessou em 1973, segundo informações do Ministério da Saúde.