Tarsila do Amaral (1886 - 1973)Tarsila do Amaral foi uma pintora e desenhista brasileira, uma das artistas centrais da pintura brasileira e da primeira fase do movimento modernista brasileiro, ao lado de Anita Malfatti. Seu quadro Abaporu, de 1928, inaugurou o movimento antropofágico nas artes plásticas. Show
Juntamente com Candido Portinari, Di Cavalcanti, José Pancetti e alguns outros pintores, Tarsila; dona de referência bibliográfica invejável – creio que sobre ela e sua arte todos os aspectos importantes e menos importantes já tenham sido explorados – faz parte da própria história da arte moderna brasileira. A ‘Caipirinha’ vestida por Jean Patou e (Paul) Poiret[1], viveu a prodigiosa efervescência e a desvairança dos anos ’20 no Brasil e na França, e deles tirou grande proveito. E studou com William Zadig, Mantovani, Pedro Alexandrino e Georg Elpons, no Brasil; em Paris, com Emile Renard na “Académie Julian”, André Lhote, Albert Gleizes e Fernand Léger, o qual exercerá grande influência, em virtude da poética seguida por ambos os artistas incorporarem em suas obras, a dinâmica das transformações industriais[2] na França e no Brasil com suas particulares especifidades. Relacionou-se com Pablo Picasso cuja obra não a influenciou, viu de perto a produção dos dadaístas e futuristas, pôs-se em contato com Blaise Cendrars, Ambroise Vollard, Eric Satie, Léonce Rosenberg Jean Cocteau, Jules Supervielle, Jules Romains, Arthur Rubinstein, Maurice Raynal, Paul Morand, Frederic Brancusi e muitos outros. Aracy A. Amaral[3] e Sônia Salzstein[4] e outros importantes nomes de nossas artes já deram conta do recado. Seus tons, de intensidade e força absurdas, são reminiscências de infância da pintora nascida em Capivari, interior de São Paulo. Desde então, Tarsila adota de forma quase que rebelde e contestadora, cada colorido excessivo para, assim, melhor representar um país-aquarela. Engana-se, no entanto, quem acredita ser uma pintora estritamente rural. Biografia de Tarsila do AmaralNasceu em 1 de Setembro de 1886, na Fazenda São Bernardo, em Capivari, interior de São Paulo, de lar fisiocrata, patriarcal, autoritário e legítimo representante da potente oligarquia cafeeira paulista – já herdeira de apreciável fortuna e diversas fazendas, nas quais Tarsila passou a infância e adolescência, foi-lhe ensinado a ler, escrever, bordar e falar francês. O lazer se dividia entre o piano, passeios campestres e a pesquisa minuciosa nos numerosos volumes da biblioteca paterna. Estudou em São Paulo, em um colégio de freiras do bairro de Santana e no Colégio Nossa Senhora de Sion. Completou seus estudos em Barcelona, na Espanha, no Colégio Sacré-Coeur de Jésus.[5] A figura 1 mostra o primeiro quadro pintado por “Tharcilla” conforme “Raisonné Tarsila do Amaral (vide Vol. 1, pág. 63). Primeiro casamento e maternidade1906: Casou-se com seu primo materno, o médico André Teixeira Pinto; mas André e o conservadorismo da época a impediam de qualquer desenvolvimento artístico, fazendo com que esse primeiro casamento fracassasse rapidamente. Com ele teve sua única filha, a menina Dulce, nascida no mesmo ano do casamento. Tarsila se separou logo após o nascimento da filha e voltou a morar com os pais na fazenda, com a filha. Início da carreira1916: Iniciou estudos de escultura com o escultor William Zadig e Mantovani em 1916. No ano seguinte, começou a aprender pintura com Pedro Alexandrino Borges[6] e mais tarde, estudou com o alemão George Fischer Elpons. 1920: Incentivada por João de Souza Lima[7] – amigo da família de Tarsila, que havia obtido bolsa de estudos da “Comissão do pensionato Artístico do Estado de São Paulo – leia-se Freitas Valle e Villa Kyrial – que estava vivendo em Paris; viaja a Paris e freqüenta a Academia Julian, onde desenhava nus e modelos vivos intensamente. Também estudou na Academia de Émile Renard. A artista estudou também com Lhote e Gleizes, outros mestres cubistas. Cendrars também apresentou a Tarsila pintores como Picasso, escultores como Brancusi, músicos como Stravinsky e Eric Satie. E ficou amiga dos brasileiros que estavam lá, como o compositor Villa Lobos, o pintor Di Cavalcanti, e os mecenas Paulo Prado e Olívia Guedes Penteado. Tarsila oferecia almoços bem brasileiros em seu ateliê e era convidada para jantares na casa de personalidades da época. Vestia-se com os melhores costureiros e, em uma homenagem a Santos Dumont usou uma capa vermelha que foi eternizada por ela no auto-retrato “Manteau Rouge”, de 1923. 1922: Sua tela “Passaporte” foi admitida no “Salon Officiel des Artistes Français”. Expôs no Salão de Belas Artes de São Paulo no Palácio das Indústrias. Apesar de ter tido contato com as novas tendências e vanguardas e, portanto, já ter sido apresentada ao Modernismo, Tarsila somente aderiu às idéias modernistas ao voltar ao Brasil, em 1922. Foi apresentada por Anita Malfatti aos modernistas, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia. Esses novos amigos passaram a freqüentar seu atelier, formando o Grupo dos Cinco. 1923: Em janeiro de 1923, na Europa, Tarsila se uniu a Oswald de Andrade e o casal viajou por Portugal, Espanha e Itália. De volta a Paris, estudou com os artistas cubistas: freqüentou a Academia de Lhote, de Albert Gleizes, conheceu Pablo Picasso, Blaise Cendrars e tornou-se amiga do pintor Fernand Léger, visitando a academia desse mestre do cubismo, de quem Tarsila conservou, principalmente, a técnica lisa de pintura e certa influência do modelado legeriano. Pintou a obra “A negra” que impressionou muito Léger. Fases Pau-Brasil e AntropofagiaEncontrei em Minas as cores que adorava em criança. 1924: Em 1924, em meio à uma viagem de "redescoberta do Brasil" com os modernistas brasileiros e com o poeta franco-suíço Blaise Cendrars – Carnaval no Rio de Janeiro e Semana Santa nas cidades históricas mineiras – Tarsila iniciou sua fase artística “Pau-Brasil”, dotada de cores e temas acentuadamente tropicais e brasileiros, onde surgem os "bichos nacionais" (mencionados em poema por Carlos Drummond de Andrade), a exuberância da fauna e da flora brasileira, as máquinas, trilhos, símbolos da modernidade urbana. Revolução de Isidoro[8]. 1926: Casou-se com Oswald de Andrade em out.1926[9] e, no mesmo ano, realizou sua primeira exposição individual, na Galeria Percier, em Paris. 1928: Em 1928, Tarsila pinta o Abaporu[10], cujo nome de origem indígena significa "homem que come carne humana", obra que inspirou o Movimento Antropofágico, idealizado pelo seu marido. Oswald ficou impressionado com o quadro e disse que era o melhor que Tarsila já havia feito. Chamou o amigo e escritor Raul Bopp, que também achou o quadro maravilhoso. Eles acharam que parecia uma figura indígena, antropófaga, e Tarsila lembrou-se do dicionário Tupi Guarani de seu pai. Batizou-se o quadro de “Abaporu” – a artista contou que o Abaporu era uma imagem do seu inconsciente, e tinha a ver com as estórias de monstros que comiam gente que as negras contavam para ela em sua infância – e que significava homem que come carne humana, o antropófago. Oswald escreveu o Manifesto Antropófago e fundaram o Movimento Antropofágico. A figura do Abaporu simbolizou a Antropofagia que propunha a digestão de influências estrangeiras, como no ritual canibal (em que se devora o inimigo com a crença de poder-se absorver suas qualidades), para que a arte nacional ganhasse uma feição mais brasileira[11]. Em julho de 1929, Tarsila expõe suas telas pela primeira vez no Brasil, no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, em virtude da quebra da Bolsa de Nova York, conhecida como a Crise de 1929, Tarsila e sua família de fazendeiros sentem no bolso os efeitos da crise do café e Tarsila perde sua fazenda. Ela perdera praticamente todos os seus bens e sua fortuna. Vale um esboço dos ciclos produtivos e as conseqüências do “crack” da Bolsa americana. O desenvolvimento brasileiro se dava aos saltos; no século XVII com os engenhos de açúcar, depois foi a vez dos mineradores de ouro de Minas Gerais, seguidos pelos barões do café em terras fluminenses até chegar aos primeiros decênios do século XX, com o domínio da oligarquia agrária do café paulista e a edição tupiniquim – mas não menos grandiosa que a européia – da “Belle Époque”. A crise do café começou em 1920; o mundo consumia cerca 22 MM de sacas de café e nós – orgulhosos da nossa monocultura – produzíamos 21 MM que representava 75 ca., das nossas exportações fato motivador de muitas e muitas falências antes da quebra de “Wall Street”. Em 1929, a safra chega a 21 MM de sacas e as exportações continuam a cair. A crise americana no período 19 – 24.10.29 com a quebra da Bolsa de Valores de NYC, provocou a falência de milhares de empresas norte-americanas, arruinou a produção agrícola e provocou um brutal desemprego. A depressão econômica nos Estados Unidos repercutiu imediatamente no mercado mundial, levando o capitalismo internacional à maior crise de sua história. O Brasil e São Paulo não poderiam ficar imunes, mercê de nossa fraqueza econômica. A economia brasileira – agrário-exportadora – não podia resistir à retração mundial e a crise econômica se alastrou por todo o país[12]. E a Tarsila? Em 1930, Oswald de Andrade separou-se de Tarsila porque decidiu se casar com a revolucionária Patrícia Galvão, conhecida como Pagú. Tarsila sofreu demais com a separação e com a perda da(s) fazenda(s), o que a levou a entregar-se ainda mais a seu trabalho no mundo artístico. Conseguiu o cargo de conservadora da Pinacoteca do Estado de São Paulo e deu início à organização do catálogo da coleção do primeiro museu de arte paulista. Porém, com o advento da ditadura de Getúlio Vargas e a queda de Júlio Prestes, perdeu o cargo. Viagem à URSS e fase social1931-1932[13]: Em 1931, Tarsila vendeu alguns quadros de sua coleção particular para poder viajar a União Soviética com seu novo marido, o psiquiatra paraibano Dr. Osório César, que a ajudaria a se adaptar às diferentes formas de pensamento político e social. O casal viajou a Moscou, Leningrado, Odessa, Constantinopla, Belgrado e Berlim. Por fim Paris, onde Tarsila sensibilizou-se com os problemas da classe operária. Sem dinheiro, trabalhou como operária de construção, pintora de paredes e portas. Logo conseguiu o dinheiro necessário para voltar ao Brasil. 1933: No Brasil, por participar de reuniões políticas de esquerda Tarsila é considerada suspeita e é presa, acusada de subversão. Em 1933, a partir do quadro, “Operários”, a artista inicia uma fase de temática mais social, da qual são exemplos as telas, “Operários” e “Segunda Classe”. Em meados dos anos 30, o escritor Luiz Martins[14], vinte anos mais jovem que Tarsila, torna-se seu companheiro constante, primeiro de pinturas, depois da vida sentimental. 1934: Participou do 1º. Salão Paulista de Belas Artes, separou-se de Osório e se casou com Luiz, com quem viveu até os anos 50. 1940-1950: A partir da década de 40, Tarsila passou a pintar retomando estilos de fases anteriores. Expôs nas 1ª e 2ª Bienais de São Paulo; na primeira (1951) ganhou o “Prêmio Aquisição”. Retrospectiva no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) em 1950, com apresentação de Sérgio Milliet. 1960-1970: É tema de sala especial na Bienal de São Paulo de 1963 e, no ano seguinte, apresenta-se na 32ª Bienal de Veneza. Em 1965, separada de Luís e vivendo sozinha, foi submetida a uma cirurgia de coluna, já que sentia muitas dores, e um erro médico deixou-a paralítica permanecendo em cadeira de rodas até seus últimos dias. Em 1966, Tarsila perdeu sua única filha, Dulce, que faleceu de um ataque de diabetes. Nesses tempos difíceis, Tarsila declara, em entrevista, sua aproximação ao espiritismo. A partir daí, passa a vender seus quadros, doando parte do dinheiro obtido a uma instituição administrada por Chico Xavier, de quem se torna amiga. Ele a visitava, quando de passagem por São Paulo e ambos mantiveram correspondência. Em 1969, com curadoria de Aracy Amaral[15] é apresentada ao público sua Retrospectiva “Tarsila, 50 anos de pintura”, no MAM-RJ e MAC-SP. Tarsila do Amaral, a artista-símbolo do modernismo brasileiro, faleceu no Hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo, em 17 de janeiro de 1973 devido a depressão. Foi enterrada no Cemitério da Consolação de vestido branco, conforme seu desejo. Representações na culturaTarsila do Amaral já foi retratada como personagem no cinema e na televisão, interpretada por Esther Góes no filme "Eternamente Pagu" (1987), Eliane Giardini nas minisséries "Um Só Coração" (2004) e "JK" (2006). A artista também foi tema da peça teatral Tarsila, escrita entre novembro de 2001 e maio de 2002 por Maria Adelaide Amaral. A peça foi encenada em 2003 e publicada em forma de livro em 2004. A personagem-título foi interpretada pela atriz Esther Góes e a peça também tinha Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Anita Malfatti como personagens. Tarsila do Amaral foi homenageada pela União Astronômica Internacional, que em 20 de novembro de 2008 atribuiu o nome "Amaral" a uma cratera do planeta Mercúrio. Em 2008, foi lançado o Catálogo Raisonné Tarsila do Amaral, uma catalogação completa das obras da artista em três volumes, em realização da “Base Projetos Culturais”, com patrocínio da Petrobras, numa parceria com a Pinacoteca do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura e Governo do Estado de São Paulo. EntrevistasRevista Veja (23/02/1972) - Leo Gilson Ribeiro Veja: A senhora estava na Europa, durante a Semana. Mesmo assim, é considerada uma de suas figuras principais. Por que? Veja: Mas a Semana… Veja: Como a senhora descobriu o seu talento? Veja: São Paulo era muito provinciana nas artes? Veja: A senhora achou um ambiente hostil quando voltou? Veja: A senhora era
uma mulher muito bonita… Veja: Ele brigou também com Mário de Andrade? Veja: O famoso Aba-Puru partiu daí? Veja -Então, a senhora foi a origem do movimento antropófago? Veja: Daí ele passou a datar documentos a partir do ano em que os índios tinham comido na Bahia aquele bispo, o bispo Sardinha? Veja: O Aba-Puru com aquela figura deformada, monstruosa, parece coisa de pesadelo. Veja: Assim como o movimento antropofágico tinha relações com as culturas
primitivas, dos índios, da África, etc., o Fernand Léger, com a sua temática de máquinas, fábricas, sociedade moderna, teve influência na sua pintura também? Veja: A senhora na sua infância morou em São Paulo ou no interior? Veja: E na sua pintura também está essa força da terra, do campo? Veja: Em Paris a senhora estava em contato com Picasso, com Apollinaire, com Breton? Veja: A senhora teve uma vida muito rica; quando foi que a senhora se sentiu mais feliz? Veja: De onde a senhora tira tanta força para viver? Uma queda a deixou presa na cama a maior parte do dia. Recentemente, perdeu a única
filha. Logo depois, morreu sua única neta, afogada. A senhora é religiosa? Veja: O Portinari começou também copiando santos. Veja: Além do sentimento religioso, há um tom de lembrança em sua pintura… Veja: A sua pintura, tão poética, é então uma evocação enternecedora de uma infância feliz? Comentário crítico"O Rio de Janeiro vai descobrir Tarsila e vai ter com essa descoberta a exata sensação de um maravilhoso encantamento.
Tarsila é o maior pintor brasileiro. Nenhum, antes dela, atingiu aquela força plástica - admirável como invenção e como realização - que ela só possui, entre nós" (...) "Nem também nenhum penetrou tão bem quanto ele a selvageria de nossa terra, o homem bárbaro que é cada um de nós, os brasileiros de verdade que estamos comendo, com a ferocidade possível, a velha cultura de importação, a velha arte imprestável, todos os preconceitos, em suma, com que o Ocidente, através das manhas da catequese,
nos envenenou a sensibilidade e o pensamento". "As fases pau-brasil e antropofágica de Tarsila são, sem sombra de dúvida, os pontos culminantes de sua carreira como pintora e as responsáveis pela sua inscrição na história da arte
no Brasil. Elas sintetizam, plasticamente, o seu relacionamento genuíno com a terra, e sua picturalidade, como bem afirmou Haroldo de Campos, atualizada pelo contato com o cubismo, permitiu-lhe 'extrair essa lição não de coisas, mas de relações, que lhe permitiu fazer uma leitura estrutural da visualidade brasileira. Reduzindo tudo a poucos e simples elementos básicos, estabelecendo novas e imprevistas relações de vizinhança na sintagmática do quadro, Tarsila codificava em chave cubista a nossa
paisagem ambiental e humana, ao mesmo tempo que redescobria o Brasil nessa releitura que fazia, em modo seletivo e crítico (sem por isso deixar de ser amoroso e lírico), das estruturas essenciais de uma visualidade que a rodeava desde a infância fazendeira' (...)". "Através de sua atitude e obra, em particular nos anos 20 e 30, processa-se a redescoberta do Brasil, depois de séculos de alheamento e de subserviente absorção de modelos metropolitanos. Com ela, mundo e Brasil dialogam de igual para igual, e criadoramente. À geometria de angulosidade cubista acrescenta ritmos sinuosos e envolventes de uma tradição barroca mais nossa, tropicalizada; mescla também a recuperação de temas, iconografia e cores das manifestações genuinamente populares com o refinamento autoconquistado da técnica de tratá-los no âmbito de uma pintura que nunca pretendeu o ingenuísmo formal, ainda que vez ou outra indique atração pelo lirismo infantilmente fantástico de Henri Rousseau ou pelo humor quase caricatura, característico da irreverência modernista inicial. Na pintura deixada por Tarsila, o universal se particulariza, o popular se refunde no erudito, a maturidade revisita a infância. Transformando-se em nosso o que a princípio não nos pertencia, mas que pelo contágio e ingestão consciente passou a incorporar-se à nossa individualidade em
termos de nação, tudo se explica de novo, como se fosse pela primeira vez". "A relação de Tarsila com a obra de Léger demonstra bem a inteligência com a qual analisa a arte francesa. O que ela irá absorver de determinante no sistema de Léger é a utilização do modelo da máquina.
Mas a metáfora segundo a qual Léger irá desenvolver seu trabalho tem por objeto a sociedade industrial. Tarsila fará da 'brasilidade' o seu traço distintivo dessa formulação, adotando a 'linguagem de máquina' (assim como Oswald de Andrade se utiliza da linguagem telegráfica) como um desejo de atualização, no sentido de situar a percepção do Brasil a partir da ótica aberta pela industrialização. A máquina no seu trabalho não será apenas uma referência ao presente, será igualmente a tentativa de
apreender o universo simbólico brasileiro, por um olhar compatível com seus aspectos mais contemporâneos. Em termos formais, as distinções que esta sua postura produzirá afastarão Tarsila de uma atitude servil diante do modelo de Léger. Neste último, as cores, quase sempre primárias ou com tonalidades metálicas, procuram o máximo de contrastes, como se apresentam na vida urbana. Seu desenho segue o mesmo sentido da sua pintura, sendo a cor substituída por claros e escuros que mantêm o contraste
e sugerem volumes, como se fossem uma preparação para a tela. Já o desenho de Tarsila opera mais como uma anotação que busca, através da linha, revelar a estrutura definidora do objeto. Assim, o traço se desenvolve numa linha que flui e vai num ritmo suave construindo o objeto, ao mesmo tempo em que ocupa e organiza a superfície do papel". "Feitas as contas, a maior qualidade da pintura de Tarsila é também a razão de sua assustadora fragilidade - aí está uma superfície discrepante (Torre Eiffel + carnaval em Madureira, como vemos em uma de suas telas...), mantida no fio da navalha, cheia de brechas, articulando um sem-número de polaridades. A bem da verdade, mesmo nos trabalhos mais admiráveis da artista, é possível assistir aos torneios formais em que ela se engalfinha para manejar com naturalidade o vocabulário moderno: freqüentemente as telas divergem entre a descrição quase naturalista dos tipos étnicos, das peculiaridades da paisagem regional, e a geometrização mais decidida das formas, respondendo à exigência moderna de uma franqueza construtiva. Reconheçamos que em virtude dessa atitude dúplice (que quer abraçar ao mesmo tempo o mundo e o vilarejo natal) muitos detalhes de sua pintura tocam o pitoresco: Tarsila acaba astuciosamente trapaceando a lógica cubista, que aconselharia a redução da figura humana aos tipos anônimos da civilização urbana, e se entretém prazerosamente nos detalhes. Ela oscila, por exemplo, em meio a uma dezena de maneiras de pintar pés e mãos, e isto, como se vê, é quase um capricho sentimental para quem aspira à (alguma) generalização da forma, à percepção estrutural do espaço pictórico. (...) falar em incompletude e incongruência em face da obra de Tarsila talvez seja também especular em torno de um modo específico de produtividade poética na arte brasileira que, como a pintura da artista revelou, seria movida pela disposição construtiva aprendida da arte moderna tanto quanto pelo seu inverso, a vocação para a tábula rasa, para embaralhar tudo, relativizar o peso excessivo e já normativo de determinada influência, recombinar e buscar novas sínteses
culturais". Depoimentos"Encontrei em Minas as cores que adorava em criança. Ensinaram-me depois que eram feias e caipiras. Segui o ramerrão do gosto apurado... Mas depois vinguei-me da opressão passando-as para minhas telas: azul puríssimo, rosa
violáceo, amarelo vivo, verde cantante, tudo em gradações mais ou menos fortes conforme a mistura de branco. Pintura limpa, sobretudo, sem medo de cânones convencionais. Liberdade e sinceridade, uma certa estilização que adatava a época moderna. Contornos nítidos, dando a impressão perfeita da distância que separa um objeto de outro". "O abstracionismo, cujos princípios se dirigem ou devem dirigir-se cem por cento à inteligência, não me comove hoje. Já fui partidária dele em 1923, quando estudei com Albert Gleizes o “cubismo integral”, cuja essência corresponde perfeitamente ao abstracionismo. Todo calculado, pesos e contrapesos, equilíbrio, dinamismo convencional, linhas e cores variando ao infinito, mas sempre linhas e cores. Depois de um certo tempo a
gente começa então a desejar evadir-se dessa eternidade artística, que só se dirige ao intelecto e a reagir com a volta ao sentimental, ao humano, já que no complexo humano os sentidos também têm seus direitos". Características de suas obrasUso de cores vivas: Tarsila foi uma modernista, pintou o Brasil,
desrespeitou normas clássicas da pintura tradicional e encheu suas telas de cores, muitas cores. Tarsila conseguiu traduzir em cores vibrantes todas as sombras de um país. Principais obras de TarsilaPátio com Coração de Jesus (Ilha de Wright) - 1921 Significado das telasChapéu Azul: Esta tela foi realizada depois de Tarsila frequentar o ateliê de Emile Renard. As telas dessa época possuem uma grande suavidade e uma atmosfera lírica. Auto-retrato ou Manteau Rouge: Em Paris, Tarsila foi a um jantar em homenagem a Santos Dumont com esta maravilhosa capa (Manteau Rouge, em francês, significa casaco, manto vermelho). Além de linda, usava roupas muito elegantes e exóticas, e sua presença era marcante em todos os lugares que freqüentava. Depois desse jantar, pintou este maravilhoso auto-retrato. A Negra: Esta tela foi pintada por Tarsila em Paris, enquanto tomava aulas com Fernand Léger. A tela o impressionou tanto que ele a mostrou para todos os seus alunos, dizendo que se tratava de um trabalho excepcional. Em A Negra temos elementos cubistas no fundo da tela e ela também é considerada antecessora da Antropofagia na pintura de Tarsila. Essa negra de seios grandes, fez parte da infância de Tarsila, pois seu pai era um grande fazendeiro, e as negras, geralmente filhas de escravos, eram as amas-secas, espécies de babás que cuidavam das crianças. EFCB (Estação de Ferro Central do Brasil): Este quadro foi pintado depois da viagem a Minas Gerais com o grupo modernista. Foi então que Tarsila começou a pintura intitulada Pau-Brasil, com temas e cores bem brasileiros. Esta tela foi pintada para participar da exposição-conferência sobre modernismo do poeta Blaise Cendrars realizada em São Paulo, em junho de 1924. Carnaval em Madureira: Tarsila veio de Paris e passou o carnaval de 1924 no Rio de Janeiro. É curioso ver que ela colocou a famosa Torre Eiffel no meio da favela carioca. A Cuca: Tarsila pintou este quadro no começo de 1924 e escreveu à sua filha dizendo que estava fazendo uns quadros “bem brasileiros”, e a descreveu como “um bicho esquisito, no meio do mato, com um sapo, um tatu, e outro bicho inventado”. Este quadro é também considerado um prenúncio da Antropofagia na obra de Tarsila e foi doado por ela ao Museu de Grenoble na França. O Pescador: Este quadro tem um colorido excepcional e trata de um tema bem brasileiro: um pescador num lago em meio a uma pequena vila com casinhas e vegetação típica. Este quadro foi 8 exposto em Moscou, na Rússia em 1931 e foi comprado pelo governo russo. Religião Brasileira: Certa vez Tarsila chegou de viagem da Europa, desembarcou no porto de Santos e foi comprar doces caseiros em uma casinha bem simples de pescadores. Ao entrar observou um pequeno altar com vários santinhos, enfeitados por vasinhos e flores de papel crepom. Achou aquilo tão pitoresco e pintou esta maravilhosa tela. Manacá: Linda tela, com um colorido forte. Esta flor é representada por Tarsila de uma maneira particular, bem típica da obra dela. Abaporu: Este é o quadro mais importante já produzido no Brasil. Tarsila pintou um quadro para dar de presente para o escritor Oswald de Andrade, seu marido na época. Quando viu a tela, assustou-se e chamou seu amigo, o também escritor Raul Bopp. Ficaram olhando aquela figura estranha e acharam que ela representava algo de excepcional. Tarsila lembrou-se então de seu dicionário tupi-guarani e batizaram o quadro como Abaporu (o homem que come). Foi aí que Oswald escreveu o Manifesto Antropófago e criaram o Movimento Antropofágico, com a intenção de “deglutir” a cultura européia e transformá-la em algo bem brasileiro. Este Movimento, apesar de radical, foi muito importante para a arte brasileira e significou uma síntese do Movimento Modernista brasileiro, que queria modernizar a nossa cultura, mas de um modo bem brasileiro. O “Abaporu” foi a tela mais cara vendida até hoje no Brasil, alcançando o valor de US$1.500.000. Foi comprada pelo colecionador argentino Eduardo Costantini. O Lago: Maravilhosa tela da fase Antropofágica, com o colorido e o tema tão típicos de Tarsila. Seu sobrinho Sérgio comprou a tela e permaneceu com ela por muitos anos. O Ovo ou Urutu: Nesta tela temos símbolos muito importantes da Antropofagia. A cobra grande é um bicho que assusta e tem um poder de “degluti- ção”. A partir daí, o ovo é uma gênese, o nascimento de algo novo e esta era a proposta da Antropofagia. Esta tela pertence ao importante acervo de Gilberto Chateaubriand e está sempre sendo exibida em grandes exposições. A Lua: Este quadro era o preferido de Oswald de Andrade, seu marido quando pintou a tela. Ele conservou o quadro até sua morte (mesmo já separado de Tarsila). Cartão Postal: Vemos a lindíssima cidade do Rio de Janeiro nesta tela, que é o maior Cartão Postal do Brasil. O macaco é um bicho Antropofágico de Tarsila que compõe a tela. Antropofagia: Nesta tela temos a junção do “Abaporu” com “A Negra”. Este aparece invertido em relação ao quadro original. Trata-se de uma das telas mais significativas de Tarsila e o colecionador Eduardo Costantini, dono do “Abaporu”, está muito interessado no quadro e já ofereceu uma soma muito alta por ele (que foi recusada pelos atuais donos). LivrosTARSILA DO AMARALFormato: Livro Autor: BRAGA, ANGELA Autor: REGO, LIGIA MARIA DA SILVA Editora: MODERNA EDITORA Ano: 1998 TARSILA DO AMARAL Formato: Livro Autor: AMARAL, ARACY Editora: ACTAR – USA Assunto: ARTES – ACERVOS E CATÁLOGOS TARSILA DO AMARAL Formato: Livro Coleção: CADERNO DE DESENHO Autor: RODRIGUES, ANTONIO CARLOS Organizador: ELUF, LYGIA Editora: IMESP Assunto: ARTES – DESENHO TARSILA DO AMARAL Formato: Livro Coleção: BIOGRAFIAS BRASILEIRAS Autor: SANTA ROSA, NEREIDE SCHILARO Editora: CALLIS Assunto: INFANTO-JUVENIS – ARTES E OFÍCIOS TARSILA DO AMARAL Formato: Livro Autor: AMARAL, ARACY A. Editora: FINAMBRAS Assunto: ARTES TARSILA DO AMARAL A PRIMEIRA DAMA DA ARTE BRASILEIRA Formato: Livro Coleção: APRENDENDO COM ARTE, V.1 Autor: AZEVEDO, HELOIZA DE AQUINO Editora: MECA Assunto: INFANTO-JUVENIS – ARTES E OFÍCIOS TARSILA DO AMARAL – A MODERNISTA Formato: Livro Autor: GOTLIB, NADIA BATTELLA Editora: SENAC SAO PAULO Assunto: ARTES BRINCANDO COM ARTE – TARSILA DO AMARAL Formato: Livro Coleção: BRINCANDO COM ARTE Organizador: BRAGA-TORRES, ANGELA Editora: NOOVHA AMERICA Assunto: INFANTO-JUVENIS – ARTES E OFÍCIOS CORRESPONDENCIA MARIO DE ANDRADE TARSILA DO AMARAL Formato: Livro Coleção: CORRESPONDENCIA Autor: ANDRADE, MARIO DE Organizador: AMARAL, ARACY A. Editora: EDUSP Assunto: BIOGRAFIAS/AUTOBIOGRAFIAS/DIÁRIOS/MEMÓRIAS/CARTAS O ANEL MAGICO DA TIA TARSILA Formato: Livro Autor: AMARAL, TARSILA DO (1964-) Editora: CIA DAS LETRINHAS Assunto: INFANTO-JUVENIS – LITERATURA INFANTIL AI VAI MEU CORAÇAO – CARTAS DE TARSILA DO AMARAL E ANNA MARIA MARTINS PARA LUIS MARTINS Formato: Livro Autor: MARTINS, ANA LUISA (1953-) Editora: PLANETA DO BRASIL Assunto: BIOGRAFIAS/AUTOBIOGRAFIAS/DIÁRIOS/MEMÓRIAS/CARTAS CRONICAS E OUTROS ESCRITOS DE TARSILA DO AMARAL Formato: Livro Organizador: BRANDINI, LAURA TADDEI Editora: UNICAMP Assunto: LITERATURA BRASILEIRA – CONTOS E CRÔNICAS Formato: Livro Coleção: LER ARTE Autor: DUARTE, NEIDE Editora: EDITORA DO BRASIL -D Assunto: INFANTO-JUVENIS – LITERATURA INFANTIL CATALOGO RAISONNE – TARSILA DO AMARAL, 3 VOLUMES EDIÇAO BILINGUE – PORTUGUES/INGLES Formato: Livro Organizador: SATURNI, MARIA EUGENIA Editora: BASE 7 Assunto: ARTES A INFANCIA DE TARSILA DO AMARAL Formato: Livro Autor: CARUSO, CARLA Editora: CALLIS Assunto: INFANTO-JUVENIS – ARTES E OFÍCIOS CONTANDO A ARTE DE TARSILA DO AMARAL Formato: Livro Coleção: CONTANDO A ARTE Autor: TORRES, SYLVIA Editora: NOOVHA AMERICA Assunto: INFANTO-JUVENIS – ARTES E OFÍCIOS ENCONTRO COM TARSILA Formato: Livro Coleção: ENCONTRO COM A ARTE BRASILEIRA Autor: ACEDO, ROSANE Autor: ARANHA, CECILIA Editora: FORMATO Assunto: INFANTO-JUVENIS – ARTES E OFÍCIOS TARSILA POR TARSILA Formato: Livro Autor: AMARAL, TARSILA DO (1964-) Editora: CELEBRIS Assunto: ARTES Exposições Individuais1926 - Paris (França) - Individual, na Galerie Percier Exposições Coletivas1922 - Paris (França) - Salon Officiel des Artistes Français Exposições Póstumas1973 - São Paulo SP - 12ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação
Bienal - sala especial BibliografiaAMARAL, Aracy. Tarsila: sua obra e seu tempo. 3. ed. rev. ampl. São Paulo: Edusp: Editora 34, 2003. 512 p., il. p&b. AMARAL, Tarsila do. Tarsila cronista. Organização Aracy Amaral. São Paulo: Edusp, 2001. 241 p. AMARAL, Tarsila do. Tarsila do Amaral. São Paulo: Finambrás, 1998. 225 p., il. color. (Projeto Cultural Artistas do Mercosul). ANDRADE, Mário de ; AMARAL, Tarsila do. Correspondência Mário de Andrade & Tarsila do Amaral. Organização Aracy Amaral. São Paulo: Edusp: IEB, 2001. 237 p., il. p&b., 18 x 25 cm. (Correspondência de Mário de Andrade, 2). ARTE no Brasil. Apresentação de Pietro Maria Bardi e Pedro Manuel. São Paulo: Abril Cultural, 1979. BIEZUS, Ladi (org.). 5 mestres brasileiros: pintores construtivistas, Tarsila, Volpi, Dacosta, Ferrari, Valentim. Tradução Judith Hodgson. Rio de Janeiro: Kosmos, 1977. 175p. il. p.b. color. BRASIL Europa: encontros no século XX. Apresentação Francisco Knopli, Alain Rouquié. Brasília: Conjunto Cultural da Caixa, 2000. 79 p., il. color. CHIARELLI, Tadeu. Arte internacional brasileira. São Paulo: Lemos, 1999. 311 p., il. color. GOTLIB, Nádia Battella. Tarsila do Amaral: a modernista. São Paulo: Senac, 1998. 216 p., il. color. LEITE, José Roberto Teixeira. 500 anos da pintura brasileira. Produção Raul Luis Mendes Silva, Eduardo Mace; design Alessandra Gerin; trilha sonora Roberto Araújo. [S.l.]: Log On Informática, 1999. 1 CD-ROM. LEITE, José Roberto Teixeira. Pintura moderna brasileira. Rio de Janeiro: Record, 1978. 162 p., il. p&b., color. PEDROSA, Mário. Semana de arte moderna. In: ______. Acadêmicos e modernos: textos escolhidos III. Organização Otília Beatriz Fiori Arantes. São Paulo: Edusp, 1998. 429 p., il. p&b. PONTUAL, Roberto. Arte brasileira contemporânea: Coleção Gilberto Chateaubriand. Apresentação Pereira Carneiro; tradução Florence Eleanor Irvin, John Knox. Rio de Janeiro: Edições Jornal do Brasil, 1976. 478 p., il. color. PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Prefácio Gilberto Chateaubriand; apresentação M. F. do Nascimento Brito. Rio de Janeiro: Edições Jornal do Brasil, 1987. 585 p., il. color. SCHWARZ, Roberto. A carroça, o bonde e o poeta modernista. In: ______. Que horas são? : ensaios. São Paulo : Rio, 1987. 180 p. SESI (org.). Tarsila, anos 20. Tradução Yara Nagelschmidt, Ann Puntch. São Paulo: Página Viva, 1997. 157 p., il. color. SPANUDIS, Theon. Construtivistas brasileiros. São Paulo: Ed. do Autor, [19]. 19 p. Tarsila. Edição Marcos Antonio Marcondes. São Paulo: Art, 1991. 24 p., il. fig. p.b. (Grandes artistas brasileiros). ZANINI, Walter, org. História geral da arte no Brasil. Apresentação de Walther Moreira Salles. São Paulo: Instituto Walther Moreira Salles, Fundação Djalma Guimarães, 1983. ZILIO, Carlos. A querela do Brasil: a questão da identidade da arte brasileira: a obra de Tarsila, Di Cavalcanti e Portinari: 1922-1945. 2. ed. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1997. 139 p., il. p&b., color. [1] “Pau-brasil”; Oswald de Andrade, 1925. In: “Tarsila: sua obra e seu tempo”; Aracy Amaral – Co-edição: Editora 34/EDUSP, São Paulo, 2003. [2] “A Querela do Brasil; a questão da identidade da arte brasileira”; Carlos Zilio; Relume-Dumará; RJ, 1997. [3] “Tarsila: sua obra e seu tempo”; Aracy A. Amaral – Co-edição: Editora 34/Edusp, São Paulo, 2003. Trata-se do mais importante ensaio crítico sobre Tarsila e um clássico dos estudos sobre o Modernismo, publicado pela primeira vez em 1975, após uma pesquisa de 10 anos ca. Aracy Amaral refaz, em 500+ páginas, o percurso biográfico da artista, destacando a década de 1920 e os movimentos Pau-brasil e Antropofagia. Um monumento! Diz-nos Aracy: “Quando nos dedicamos a uma investigação sobre um artista ou sobre um tema, acabamos nos tornando um pouco ‘reféns’ do assunto em questão. Assim foi que, durante os últimos trinta anos, escrevi inúmeros textos sobre a artista, para simpósios e catálogos, além de organizar exposições sobre seu trabalho.” [4] “Tarsila; Anos 20”; Sônia Salzstein et allis; Galeria de Arte do SESI; São Paulo, 1997. [5] Aos 16 anos, pintou uma cópia de um “Sagrado Coração de Jesús”, recentemente leiloado pelo “James Lisboa, Escritório de Arte”. Leia mais em www.tarsiladoamaral.com.br [6] Pedro Alexandrino Borges (SP, 1856-1942) foi um pintor, desenhista, decorador e professor brasileiro. Foi discípulo de Almeida Júnior, em São Paulo, depois de cursar a Academia Imperial de Belas-Artes, no Rio de Janeiro onde foi aluno de José Maria de Medeiros, em desenho, e de Zeferino da Costa, em pintura. Em 1897 viajou a Paris, onde permaneceu nove anos. De volta ao Brasil, realizou individual com 110 quadros, 84 deles naturezas-mortas, gênero que o consagrou. Foi professor particular de alguns modernistas como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Aldo Bonadei. [7] João de Sousa Lima (São Paulo, 1898-1982) foi um conceituado pianista, compositor, maestro e professor brasileiro. Iniciou os estudos de piano com seu irmão, José Augusto e depois com Luigi Chiaffarelli, que considerou o jovem muito talentoso e ofereceu-lhe aulas gratuitas. Foi apresentado por um amigo ao doutor José Estanislau do Amaral, pai da pintora Tarsila do Amaral, cuja casa passou a freqüentar. Foi também freqüentador da casa do Senador José de Freitas Valle, chamada de Villa Kyrial, e que foi um importante centro da vida cultural paulistana. Por sua relação de amizade com o Senador, que também era presidente da “Comissão do Pensionato Artístico do Estado de São Paulo”, obteve uma bolsa de estudos viveu em Paris durante o período 1922-1935 ca. Leia mais: http://pt.wikipedia.org/wiki/JoC3A3o_de_Sousa_Lima [8] A Revolta Paulista de 1924, também chamada de 'Revolução Esquecida', "Revolução do Isidoro", "Revolução de 1924" e de "Segundo 5 de julho", foi a segunda revolta tenentista; foi o maior conflito bélico já ocorrido na cidade de São Paulo. Comandada pelo general reformado Isidoro Dias Lopes, contou com a participação de vários tenentes, dentre os quais Joaquim do Nascimento Fernandes Távora (que faleceu na revolta), Juarez Távora, Miguel Costa, Eduardo Gomes, Índio do Brasil e João Cabanas. Deflagrada na capital paulista em 5 de julho de 1924 (2º aniversário da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, primeira revolta tenentista), a revolta ocupou a cidade por 23 dias, forçando o presidente do estado, Carlos de Campos, a fugir para o interior de São Paulo, depois de ter sido bombardeado o Palácio dos Campos Elíseos, sede do governo paulista na época. No interior do estado de São Paulo aconteceram rebeliões em várias cidades, com tomada de prefeituras. Os revoltosos entraram em contato com o vice-presidente do estado coronel Fernando Prestes de Albuquerque em Itapetininga convidando-o para assumir o governo revolucionário em São Paulo. O coronel Prestes que já organizara um batalhão em defesa da legalidade, na região da Estrada de Ferro Sorocabana, respondeu aos revoltosos... [9] O pai conseguira a anulação do primeiro casamento em 1925. [10] Abaporu é um quadro em pincel sobre tela da pintora brasileira Tarsila do Amaral. Hoje, é a tela brasileira mais valorizada no mundo, tendo alcançado o valor de US$ 1,5 milhão, pago pelo colecionador argentino Eduardo Costantini em 1995. Encontra-se exposta no Museu de arte latino-americana de Buenos Aires (MALBA). Abaporu vem dos termos em tupi aba (homem), pora (gente) e ú (comer), significando "homem que come gente”. O nome é uma referência à antropofagia modernista, que se propunha a deglutir a cultura estrangeira e adaptá-la ao Brasil. Foi pintado em óleo sobre tela em 1928 por Tarsila do Amaral para dar de presente de aniversário ao escritor Oswald de Andrade, seu marido na época. Tarsila do Amaral valorizou o trabalho braçal (pés e mão grandes) e desvalorizou o trabalho mental (cabeça pequena) na obra, pois era o trabalho braçal que tinha maior importância na época. [11] Oswald de Andrade ironizava em suas obras a submissão da elite brasileira aos países desenvolvidos. Propunha a "Devoração cultural das técnicas importadas para reelaborá-las com autonomia, convertendo-as em produto de exportação". Unindo ao primitivismo brasileiro um certo primitivismo herdado de Breton (com aproximação ao Marxismo) em um enfoque da psicanálise de Freud, Oswald iria prosseguir aprofundando o seu pensamento neste sentido. Na maturidade, Oswald buscou fundamentação filosófica para a antropofagia, ligando-a a Nietzsche, Engels, Bachofen, Briffault e outros autores, tendo escrito a respeito até teses, como a Decadência da Filosofia Messiânica. [12] “A Cafeicultura na Crise de 1929 e a Revolução”; Lúcia Helena Storto e Sidney Aguilar Filho. Fontes: H. Schlittler Silva; A Villanova Vilela A e W. Suzigan. Citados por Paul Singer. "O Brasil no contexto do capitalismo internacional". Em Boris Fausto. (História Geral da Civilização Brasileira. 2a. ed., São Paulo, Difel, 1977. v. 8, p.355) [13] A Revolução Constitucionalista de 1932, Revolução de 1932 ou Guerra Paulista, foi o movimento armado ocorrido no Estado de São Paulo, Brasil, entre os meses de julho e outubro de 1932 - todo estado de São Paulo e sul do Mato Grosso (atualmente Mato Grosso do Sul), Minas Gerais e Rio Grande do Sul - que tinha por objetivo a derrubada do Governo Provisório de Getúlio Vargas e a promulgação de uma nova constituição para o Brasil. Foi uma resposta paulista à Revolução de 1930, a qual acabou com a autonomia de que os estados gozavam durante a vigência da Constituição de 1891. A Revolução de 1930 impediu a posse do ex-presidente (atualmente denomina-se governador) do estado de São Paulo, Júlio Prestes, na presidência da República e derrubou do poder o presidente da república Washington Luís colocando fim à República Velha, invalidando a Constituição de 1891 e instaurando o Governo Provisório, chefiado pelo candidato derrotado das eleições de 1930, Getúlio Vargas. A lei 2.430, de 20 de junho de 2011, inscreveu os nomes de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, o MMDC, heróis paulistas da Revolução Constitucionalista de 1932, no Livro dos Heróis da Pátria. Foi a primeira grande revolta contra o governo de Getúlio Vargas e o último grande conflito armado ocorrido no Brasil. No total, foram 87 dias de combates (de 9 de julho a 4 de outubro de 1932 - sendo os últimos dois dias depois da rendição paulista), com um saldo oficial de 934 mortos, embora estimativas, não oficiais, reportem até 2200 mortos, sendo que numerosas cidades do interior do estado de São Paulo sofreram danos devido aos combates. São Paulo, depois da revolução de 32, voltou a ser governado por paulistas, e, dois anos depois, uma nova constituição foi promulgada, a Constituição de 1934. [14] Luis Martins (Rio de Janeiro 1910 - São Paulo 1981) foi um escritor, jornalista, crítico, memorialista e poeta brasileiro. Em 1928, escreveu seu primeiro romance. Mais tarde, publica "Lapa", em 1936, que foi apreendido pela polícia. Este fato influenciou sua mudança para São Paulo, em 1938, assim como sua longa e tumultuada relação amorosa com Tarsila do Amaral. Quando foram apresentados, ele tinha 26 anos, ela 47. Antes de se radicar em SP, Luís Martins estreia como crítico de arte, publicando "A Pintura Moderna no Brasil", em 1937. Em 1941, começa a escrever como crítico de arte para o jornal Diário de S. Paulo. Como crítico, aproximava-se da linhagem de Mario de Andrade, Sergio Milliet, e Geraldo Ferraz. Ganhou o Prêmio Jabuti de 1965 na categoria "Biografia e/ou memórias" com a obra "Noturno da Lapa". Também venceu o mesmo prêmio, na categoria Romance, em 1972, por A Girafa de Vidro. Foi cronista do jornal O Estado de São Paulo por 36 anos, assinando como L.M. Morreu em um acidente quando viajava de São Paulo ao Rio de Janeiro, em 1981. [15] Aracy Abreu Amaral, São Paulo, 22 de fevereiro de 1930 é crítica e curadora de arte. Professora-titular de História da Arte pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, também foi diretora da Pinacoteca do Estado de São Paulo (1975-1979), do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (1982-1986) e membro do Comitê Internacional de Premiação do Prince Claus Fund, em Haia, na Holanda. Historiadora, crítica, curadora de arte, foi professora titular de História da Arte da FAU-USP. Graduou-se em jornalismo pela PUC-SP (1959), conforme o currículum Lattes realizou seu mestrado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1969) e seu doutorado em Artes pela mesma universidade. Seus exames de Livre Docência (1983) e de Titular foram realizados na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (1988). Prêmios: Recebeu o John Simon Guggenheim Fellowship e em 2006 ganhou o prêmio Fundação Bunge (antigo prêmio Moinho Santista) por sua contribuição à área de Museologia. Além de ter organizado diversas exposições importantes foi coordenadora-geral do Projeto "Rumos" Itaú Cultural (2005-6). Realizou também a curadoria da 8ª Bienal do Mercosul e da Trienal do Chile. Por que Tarsila do Amaral foi importante para a arte brasileira?Tarsila do Amaral foi uma pintora e desenhista brasileira, uma das artistas centrais da pintura brasileira e da primeira fase do movimento modernista brasileiro, ao lado de Anita Malfatti. Seu quadro Abaporu, de 1928, inaugurou o movimento antropofágico nas artes plásticas.
Qual é o principal motivo de Tarsila do Amaral ter ficado famosa?Tarsila do Amaral (1886-1973) foi uma pintora e desenhista brasileira. O quadro "Abaporu" pintado em 1928 é sua obra mais conhecida. Junto com os escritores Oswald de Andrade e Raul Bopp, lançou o movimento "Antropofágico", que foi o mais radical de todos os movimentos do período Modernista.
Qual foi a importância de Tarsila do Amaral na Semana da Arte Moderna?Tarsila não participou da Semana, mas é muito lembrada pois chegou de Paris em junho e logo integrou-se ao grupo modernista. Eles queriam uma arte genuína brasileira, e a construção de uma identidade nacional.
Por que essa obra foi considerada o símbolo do modernismo brasileiro?O Abaporu foi pintado por Tarsila do Amaral como um presente para o seu então marido, o escritor e poeta Oswald de Andrade. A obra inspirou um novo movimento dentro do modernismo brasileiro: o movimento antropofágico. A obra foi duas vezes vendida como a obra brasileira mais cara.
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