Qual é o método que Descartes utiliza para chegar a uma certeza inabalável?

Por meio destes exercícios sobre o tema da Razão Cartesiana, você poderá testar seus conhecimentos acerca do impacto das concepções filosóficas de Descartes no mundo moderno. Publicado por: Cláudio Fernandes

É o caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por essa mesma dúvida.

SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado).

O Discurso do Método é uma obra sem dúvida mundialmente famosa. Esse título nunca devemos deixar de ter em mente ao lê-la. Ao iniciarmos essa leitura sem ter em mente o título e aonde o autor quer chegar, facilmente nos perderemos pelo caminho, e é isso justamente que Descartes não quer que aconteça e que ajuda a motivá-lo a escrever e publicar o Discurso.

Ora, ao começarmos a ler o Discurso do Método poderemos facilmente ser iludidos a pensar que o assunto sobre o qual trata o autor seja a razão (bom sendo) ou o fato de ela estar bem distribuída entre os seres humanos. Isso não seria algo de outro mundo, pois estamos acostumados a ler e escrever redações guiando-nos desde o começo exatamente pela primeira frase da introdução: o tópico frasal. Entretanto, não podemos proceder assim com o Discurso do Método, pois com uma leitura mais atenta poderemos concluir que, embora o tópico frasal nos proponha a “boa distribuição da razão entre os seres humanos”, essa não é a tese do autor nesse texto. O que será então?

Pois bem, antes de tratarmos sobre o tema do texto de Descartes, vamos analisar algumas noções-chave que, identificadas, nos ajudarão a entender também a tese que quer nos propor o Discurso.

Primeiramente, debrucemo-nos sobre o próprio conceito de razão, que é nossa primeira ilusão a respeito do que venha a ser o tema da obra. Razão, que Descartes identifica com bom senso é “o poder de bem julgar e de distinguir o verdadeiro do falso”, como ele mesmo define. Ora, se esse fosse mesmo o tema do texto seria grande incoerência do autor simplesmente mudar de assunto na metade do parágrafo.

Outro conceito com o qual Descartes trabalha é o de espírito, já no segundo parágrafo. Para ele o espírito é justamente o que nos dar a especificidade entre nós, pois a diferenciação da espécie humana para as demais se dá justamente por termos a razão e os outros não. Então o espírito para ele é o pensamento, a imaginação e a memória, que, recorrendo a Aristóteles, são os acidentes que nos constituem também, juntamente com a razão, que escolasticamente é a essência - a forma - dos seres humanos. Mas com facilidade veremos que também não é sobre isso que trata o texto do Discurso do Método. Ainda estamos num impasse.

No entanto, ainda há um outro conceito, aliás, de suma importância, para verificarmos. O que está presente exatamente no título: método. Ainda no primeiro parágrafo Descartes nos fala sobre sua importância. Olhando sob esta ótica, veremos que ele nos diz claramente que, como razão todos têm – portanto não se pode afirmar um ter mais que o outro – o mais importante é bem conduzi-la. É a isso, pois, que ele se propõe: encontrar um método para si próprio que o levasse a descobrir tantas verdades (certezas) quanto lhe fosse possível, e apresentar esse método aos outros para que lhes valesse alguma contribuição. Mais do que caminhar, Descartes quer mostrar que o que é necessário é saber caminhar e caminha bem, bem conduzir o espírito. Para ele é melhor caminha bem lentamente mantendo-se no percurso do que, a passos largos, extraviar-se.

Dessa forma, René Descarte dialoga com o homem de seu tempo e, em larga escala, com o de todos os tempos, pois discute com a escolástica, sem propriamente renegar todo o seu legado, ao mesmo tempo em que sua obra vai repercutir em toda uma cosmovisão que ainda permanece até hoje.

O método de Descartes é o método da dúvida: a dúvida metódica ou dúvida cartesiana. Para a razão bem funcionar, é necessário limpar o terreno da mente de todo preconceito, é preciso, num primeiro momento duvidar de tudo, principalmente o que já se tem estabelecido como verdade absoluta. A partir de então, devem-se buscar verdades elementares, verdades que se bastem a si, e não precisem de outras verdades precedentes. Pois, duvidando de tudo, aquilo que conseguir se estabelecer como verdade depois disso, ter necessariamente que ser uma verdade absoluta. O que se quer com esse método é a garantia de idéias claras e distintas.

Descartes resume a Lógica e enumera apenas quatro regras, quatro passos a serem dados no caminho de seu método:

“O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal; isto é, de evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção. E de nada incluir em meus juízos que não se apresentasse tão clara e distintamente a meu espírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida”.
O segundo, o de dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas quantas possíveis e quantas necessárias fossem para melhor resolvê-las.

O terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e supondo mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros.

E o último, o de fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais, que eu tivesse a certeza de nada omitir”1.

É a isso que se propõe, portanto, o autor. Seguir um passo de cada vez, por menor que seja o passo. Não complicar o problema – ele toma da Geometria a aplicação do método, para, a partir dela, aplicá-lo também às outras ciências – mas sim permanecer fiel ao percurso a ser feito.

Assim, muitas críticas podem ser feitas à obra de Descartes. E muitas são feitas de fato. Entretanto, é inegável sua contribuição e seu papel em seu contexto. Se no nosso tempo as críticas devem ser feitas e os modelos refeitos, nas circunstâncias em que viveu Descartes temos que reconhecer o grande valor que teve sua obra.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

DESCARTES, René. Discurso do método. São Paulo: Abril Cultura, 1973. Col. Os Pensadores, vol. XV.

OBRAS CONSULTADAS

ABAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
FOLSCHEID, Dominique; WUNEMBURGER, Jean-Jacques. Metodologia filosófica.

1 Discurso do Método, 2ª parte.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Publicado por: Saulo Maurício Silva Lobo

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. O Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor. Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: http://www.brasilescola.com.

Quais as três certezas de Descartes?

Certezas de DescartesDescomplicadas: Resumo Na verdade, ele encontrou três certezas. Por mais que elas sejam um encadeamento de ideias, elas acontecem meio que ao mesmo tempo: Eu existo, Deus existe, a Realidade existe. Por que para Descartes o cogito é a primeira certeza?

Qual é o método de Descartes?

Toda sua filosofia é construída com o auxílio desse método, desde a descrição de um arco-íris até admitir o movimento da terra e tentar demonstrar a existência de Deus e da alma de forma racional. No entanto, seus admiradores valorizaram mais o seu método do que suas descobertas. O método de Descartes é também conhecido como dúvida metódica.

Qual a importância de Descartes para a descoberta da verdade?

Na primeira parte, buscando a autonomia do conhecimento, sem depender de autoridades prévias, Descartes se dispõe a investigar um método seguro para a descoberta da verdade. Pode ser que nossos sentidos tenham sido enganados por um gênio malicioso.

Qual a diferença entre o método de Descartes e o racionalismo cartesiano?

Os elementos das coisas racionalmente demonstradas não existiriam em isolamento. frequentemente o racionalismo cartesiano é apresentado como atomista, mas ao contrário disso, o método de Descartes pressupunha um sistema, mathesis universalis, que conjugava os múltiplos elementos verdadeiros.

Qual foi o método utilizado por René Descartes para alcançar as suas certezas?

Buscando verdades irrefutáveis, o filósofo moderno René Descartes (1596-1650) estabelece o método cartesiano, que consiste em quatro regras: evidência, análise, ordem e enumeração. Esses preceitos são baseados no conhecimento matemático, dominado pela razão e não pelos sentidos.

Qual foi a primeira certeza de Descartes e o método utilizado?

Pensando, é coisa pensante, sendo coisa, existe. Desta forma, Descartes declara: penso, logo existo (cogito ergo sum). Foi alcançada, então, a primeira certeza, a certeza da existência própria.

Qual é o método que Descartes usa para chegar à verdade eu penso logo existo?

René Descartes é responsável pelo desenvolvimento do racionalismo cartesiano, segundo o qual o homem não pode alcançar a verdade pura através de seus sentidos: as verdades residem nas abstrações e em nossa consciência, na qual habitam as ideias inatas.

Como Descartes entende o que é o método?

O método, desenvolvido por Descartes, tenta obter uma forma gradativa de aumentar o conhecimento no qual o objetivo maior e sair da mediocridade nesta vida. Relata, outrossim, que a forma adotada é apenas elucidativa e não taxativa.