Qual é o papel da religião para a sociedade?

A INFLUÊNCIA DA RELIGIÃO NA SOCIEDADE

Bruno Ruiz Da Silva 

Curso de Psicologia Bacharelado

Formação de Psicólogo

Orientador: Prof. Fabio Pinheiro Santos

RESUMO

Esse trabalho tem como objetivo entender a influência das religiões nas sociedades e apontar os atrasos que podem ser causados em seu desenvolvimento. E para estudar essa influência foi necessário passar por áreas além da psicologia que se dediquem a entender o comportamento humano. Observações feitas antes da conclusão, foram que tirar a religião de um indivíduo pode colocar ele em conflito com sua própria existência, mas tirar a influência no social como um todo pode contribuir para o avanço na qualidade de vida de todos.

Palavras chave: Religião, influência, desenvolvimento.  

1-INTRODUÇÃO

 A religião é considerada um dos fatores essenciais para o tamanho da sociedade atual, já que permite que "um grande número de estranhos cooperem de maneira eficaz se acreditarem nos mesmos mitos" (HARARI, 2011, p. 32). Ela se estende pela sociedade como um fator cultural e modelo moral, não só como uma adoração divina, o sociólogo francês Émile Durkheim usa o Budismo para essa explicação, dizendo "a religião ultrapassa portanto, a ideia de deuses e espíritos e, por conseguinte não podem definir-se exclusivamente em função desta última" (DURKHEIM, 2000). E isso permite mostrar a complexidade da religião como influência na vida das pessoas.

 Essa influência na sociedade serve como um modulador social, pessoas tem seu modo de agir, pensar moldados aos valores de sua cultura. Essa influência e imposição que a religião exerce pode impactar de maneira diferente cada indivíduo, no qual pessoas que pensam diferente da maioria podem sofrer exclusão do meio social, e quando uma linha de pensamento entra em conflito com seus valores podem chegar a casos mais extremos, como ataques terroristas.

 E mesmo que ela tenha um papel central na vida de muitas pessoas e o comportamento religioso presente em todas as culturas, mesmo as isoladas geograficamente, Rampazzo enfatiza que "todas as tribos e todas as populações de qualquer nível cultural, cultivam alguma forma de religião" (RAMPAZZO, 1996 p.51). A psicologia como o estudo do comportamento humano deixou a desejar em pesquisas referente ao comportamento religioso e sua influência na sociedade, e mesmo quando abordado é de forma rasa, assim se justifica o motivo desse trabalho. E como objetivo geral demonstrar a influência da religião nas sociedades e como isso afeta em seu desenvolvimento.

1.1 RELIGIÃO NA SOCIEDADE

 Antes de começarmos a falar da influência da religião na sociedade atual, precisamos saber o que classifica uma e também saber como ela surgiu na vida do homem durante o processo evolutivo. Para definirmos o conceito vamos partir de uma questão menos etimológica e mais prática, buscando entender o que caracteriza o conceito de religião em si, existem diversas definições, para o teólogo holandês Tiele, significa “a relação entre o homem e o poder sobrehumano no qual ele acredita ou do qual se sente dependente. Essa relação se expressa em emoções especiais (confiança, medo), conceitos (crença) e ações (culto e ética), (TIELE, apud GAARDER, 2000, p.17)”.

 Já na definição do antropólogo estadunidense Gerrtz “é um sistema de símbolos que atua para estabelecer poderosas, penetrantes e duradouras disposições e motivações nos homens através da formulação de conceitos de uma ordem de existência geral e vestindo essas concepções com tal aura de fatualidade que as disposições e motivações parecem singularmente realistas (GEERTZ, 2008, p. 67)”.

 No livro O Livro das Religiões os autores levantam que para alguns pesquisadores é importante considerar o contexto histórico e cultural, “Há também pesquisadores cuja opinião é que o único método construtivo de estudar as religiões é considerar cada uma em seu próprio contexto histórico e cultural”. (GAARDEN, HELLEM e NOTAKER, 2005), mostrando que não há consenso acadêmico sobre o que exatamente constitui uma religião.

 Agora para falar de como ela surgiu na história da humanidade precisamos voltar um pouco no tempo, voltar em uma época antes mesmo do ser humano se chamar humano. Assim como qualquer outro animal o ser humano teve seu cérebro evoluído para identificar e criar padrões, nossa realidade é moldada por esses padrões e com isso podem ocorrer erros de assertividade, Skinner fez vários experimentos com animais buscando entender melhor o mecanismo de interpretação do cérebro, em um desses experimentos pombos eram colocados em caixas fechadas e para terem acesso a comida deveriam realizar uma tarefa específica, Skinner notou que certas respostas dos pombos aumentaram de frequência e passaram a ocorrer previsivelmente pouco antes do alimento ser apresentado. Assim concluiu “O pombo se comporta como se houvesse uma relação causal entre seu comportamento e a apresentação de alimento, embora tal relação não exista (SKINNER (1948) p. 171).  

 Esses experimentos revelam que até mesmo os pombos podem ser condicionados a desenvolver comportamentos supersticiosos na crença de que eles serão alimentados. A religião foi quase uma consequência obrigatória do desenvolvimento do ser humano, surgindo junto das primeiras agrupações humanas organizadas de maneira sedentária. As crenças se relacionavam com os fenômenos da natureza, logo o ser humano começou a ver as coisas a seu redor como animais, plantas, rios, montanhas, sol, lua e as estrelas continham espíritos, portanto essas “primeiras religiões” eram panteístas, aonde os fenômenos da natureza eram entendidos como uma manifestação divina.  

1.2 INFLUÊNCIA DA RELIGIÃO NO COMPORTAMENTO HUMANO

 Uma diferença do ser humano que possibilitou dominarmos as outras espécies é ter desenvolvido habilidades sociais, essas habilidades sociais permitem que um indivíduo consiga reconhecer que o outro pertence ao mesmo grupo que ele, isso varia de fatores simples, como aparência, comportamentos naturais, sons produzidos e se tem fatores mais complexos, que envolvem a cultura como vestimentas, linguagens e os rituais. Como nós evoluímos para identificarmos padrões, a religião se torna uma ferramenta essencial na manutenção do grupo social.

 A religião, portanto, não é a crença de apenas uma pessoa, mas está associada a um conjunto de crenças e percepções morais compartilhadas por um grupo de pessoas (TOLOVI, 2019). Elas se desenvolvem junto das culturas e uma influência no desenvolvimento da outra. “Com os elementos da fé não se tem como ter um controle pleno, além disso, eles exigem que se tome posição, não sendo possível ficar inerte frente as situações que a vida impõe” (SANCHES, 2010, p. 155).  

 Por ela estar atrelada a história humana, sabemos que a orientação religiosa de um indivíduo ajuda a compor o modo como ele vê a si mesmo e o mundo, como interage com outros, os seus valores morais e até suas decisões políticas. assim tendo um papel central na vida de muitas pessoas. Marx critica e acreditava que a religião deve ser combatida, pois crê que as concepções religiosas tendem a desresponsabilizar os homens pelas consequências de seus atos, surgindo para instalar as desigualdades, uma vez que ela procura dar uma explicação sobre as condições de cada ser humano, “A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, assim como é o espírito de uma situação carente de espírito. É o ópio do povo.” (MARX, 1844/2008. p. 21).

 Uma das características das religiões são os rituais. Após escavações feitas no Curdistão iraquiano, o arqueólogo Ralph Solecki encontrou registros de rituais fúnebres de nossa espécie irmã, o homem de neandertal. Solecki argumentou que, enquanto alguns dos indivíduos encontrados foram mortos por pedras que caíram do telhado da caverna, já outros foram enterrados com rituais fúnebres formais. O último grupo encontrado inclui Shanidar 4, que ficou famoso como o “enterro das flores”, chamado assim porque aglomerados de grãos de pólen de sedimentos adjacentes foram interpretados como evidência para a colocação intencional de flores com o cadáver (GOURHAN 1975; SOLECKI 1975). Os argumentos de Solecki foram dados como controversos, com a acusação de que em muitos de seus escritos tentou “humanizar” os neandertais. Agora, 50 anos depois, novos fragmentos de esqueletos encontrados acidentalmente nessa caverna fortalecem as evidências de que os neandertais praticavam rituais funerários.  

 Outro trabalho científico, agora com nossos primos, os chimpanzés, admite ter descoberto um ritual ainda não explicado, alguns chipanzés da África Ocidental desenvolveram um comportamento tanto enigmático, que consiste em atirar e acumular pedras em árvores,“Isto representa o primeiro registro de observações repetidas de chimpanzés que usam pedras para outros fins, além da alimentação” (KÜHL; KALAN et al 2016).

 Então se esse comportamento foi essencial para nossa evolução como sociedade e com esses estudos recentes entendemos que não é único da nossa espécie, por que afeta nosso desenvolvimento como sociedade?

1.3 COMO A RELIGIÃO AFETA O DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE

 Um estudo demográfico conduzido em 2010 pelo Fórum sobre Religião e Vida Pública do Pew Research Center, feito em mais de 230 países e territórios, estima que em todo o mundo, mais de oito em cada dez pessoas se identificam com um grupo religioso e que existam 5,8 bilhões de adultos e crianças religiosamente afiliados ao redor do globo, representando 84% da população mundial de 2010 de 6,9 bilhões. (Pew Research Center 2012).

 Com os dados acima mostrando que 84% da população é religiosa, se torna evidente a influência que ela exerce na vida do ser humano, e com isso se tem a influência de valores, que se dão presentes no sistema político, como na educação, economia, saúde e outras áreas que tem em vista o desenvolvimento da sociedade.

 Para Marx, entender a religião como um fenômeno social, dará as pessoas meios para superar uma alienação, alienação essa que mascara a estruturação de divisão social de classes. “A abolição da religião enquanto felicidade ilusória dos homens é a exigência da sua felicidade terrena. O apelo para que abandonem as ilusões a respeito da sua condição é o apelo para abandonarem uma condição que precisa de ilusões” (MARX, 1844/2008). 

 Skinner usa as contingências para falar de religião, afirma que “um protótipo de controle religioso surge quando contingências raras ou acidentais são utilizadas para controlar o comportamento dos outros” (SKINNER, 1953/1965. p. 351). 

 Skinner sugeriu que as religiões não seriam claramente entendidas sem considerar sua utilização para outros fins que não aqueles empregados dentro do próprio campo da religião. Controlar o comportamento de outros indivíduos, mesmo que não tenha participado do modulador da contingência “O poder conquistado pela agência religiosa depende da efetividade de certas contingências de reforço verbais” (SKINNER, 1953/1965, p. 353). Assim se reforçando como uma autoridade.

2. DISCUSSÃO

 Podemos identificar alguns padrões para definir uma religião, mas pela complexidade que tal se constitui, e entendemos que não se tem um consenso acadêmico, não há uma definição para o que é uma religião. 

 Pela forma que nossa espécie evoluiu, foi quase inevitável a criação de crenças, os experimentos feitos em animais por, Skinner (1948), mostram que até mesmo os pombos podem ser condicionados a desenvolver comportamentos supersticiosos. Essa superstição pode ser mais evidente quando olhamos para as antigas agrupações humanas e até nas sociedades mais modernas.

 Tolovi (2019), diz que as crenças religiosas não são só de um indivíduo, que na verdade são compartilhadas por um grupo, e como Harari, (2011) enfatiza, partilhar das mesmas crenças permite que estranhos cooperem em grande escala. As sociedades atuais se desenvolveram através dessas crenças, crenças que se desenvolvem juntas a cultura local, entendemos que essa cultura é uma base de controle social, buscando sempre repetir um padrão ideológico.

 A religião sempre esteve presente na vida do homem, inerente ao nosso desenvolvimento, independente da sua forma ideológica, foi um dos fatores que permitiram nossa espécie se sobressair a todas outras espécies terrestres. O desenvolvimento de uma sociedade se dá na construção de um “homem livre”, mas para isso, ela deveria ser laica, visando a formação de indivíduos independentes. Não necessitando de uma felicidade ilusória.

CONCLUSÃO

          A análise feita nesse trabalho permitiu entender a inserção da religião na vida do homem, assim como seu desenvolvimento junto a nossa espécie.  

          A religião é intrínseca ao desenvolvimento das sociedades, as crenças estabelecidas junto da cultura local, sendo que uma sofre influência da outra, serve como modulador de vida. Os indivíduos precisam de uma ilusão de realidade, buscam um abrigo, assim tornando o mundo real menos drástico.

          Se a religião é uma fuga do indivíduo, e também uma resposta daquele que tem o poder, as contingências do comportamento religioso serão reforçadas tanto do opressor, tanto do oprimido, que estará em busca de um refúgio.

REFERÊNCIAS

DURKHEIM, E. As formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 

GAARDER, J. O Livro das Religiões. Jostein Gaarde; Hellern, Victor; Notaker, Henry. Tradução: Isa Mara Lando. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.  

/C.P. TIELE, 1830-1902 apud GAARDER 2000, p. 17

GEERTZ, C. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro. Guanabara: 1989, p. 103.

HARAR, Y. Sapiens: Uma breve história da humanidade.

KÜHL, H., KALAN, A., ARANDJELOVIC, M. et al. Lançamento de pedra acumulativo do chimpanzé. Sci Rep 6, 22219 (2016). 

MARX, K. Para a Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (A. Morão, trad.). Covilhã: LusoSofia, 1844/2008. p. 21.

Pew Research Center. Global religious landscape, Dezembro 2012. Disponível em:

 <https://www.pewforum.org/2012/12/18/global-religious-landscape-exec/>. Acesso em: 24 mar. 2021.

POMEROY, E. et al. Novo Neandertal permanece associado ao “enterro de flores” na caverna Shanidar. Antiquity 94, 2020, p. 11–26. Disponível em:  

<https://www.cambridge.org/core/journals/antiquity/article/new-neanderthalremains-associated-with-the-flower-burial-at-shanidarcave/E7E94F650FF5488680829048FA72E32A>. Acesso em: 20 ago. 2020.

RAMPAZZ, L. Antropologia, religiões e valores cristãos. São Paulo:

CEDAS/Loyola, 1996. p. 51.

SANCHES, M. Religião e ciência: o porquê do diálogo. In: ROSSI, L. A. S.; KUZMA, C. A. Cultura, religião e sociedade: um diálogo entre diferentes saberes. Curitiba: Champagnat, 2010. p. 155.

SKINNER, B. Superstition in the pigeon. Journal of Experimental Psychology, 1948, p. 171.

_____________. Ciência e Comportamento Humano. Brasília: Ed. UnB/ FUNBEC, (1953), 1970.

TOLOVI, C. A Espiritualidade para além ao Mito a da Religião

Institucionalizada. Revista do Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões da UFPB, v.15, n.1, 2019 p. 262.

Qual é o papel da religião na sociedade Brainly?

Resposta verificada por especialistas A religião tem o papel de promover a paz e a união em toda a sociedade. Na prática, isso ocorre de acordo com a moral presente em cada religião.

Qual deve ser o papel da religião?

Por religião se entende um sistemas de crenças que estabelece as relações dos grupos sociais com um ser transcendente. As religiões são compostas por narrativas históricas, símbolos e tradições que se destinam a dar sentido à vida, a explicar sua origem e a do universo.

Qual o papel da religião na cidadania?

A religião está inserida na sociedade e, justamente por isso, responde e é chamada a ter uma prática de responsabilidade, seja na condução da cidadania ou no papel de possibilitar espaço e voz às minorias silenciadas pela história, que precisam ser “fomento de esperança”.

Qual o papel da religião para formação da moral e ética da sociedade?

A religião é exatamente isso: a crença em um poder superior, que resulta em uma postura moral, diante da sociedade. A ética, igualmente, é um conjunto de regras morais, visando o bem do grupo sem, no entanto, haver a crença em algo além do que é material.