Quanto os desafios de abordagem e a formação do professor de Geografia?

1. Introdução

O espaço escolar e o ensino da geografia devem ser discutidos de forma clara e objetiva, já que diferentes foram as formas de se abordar os conteúdos da geografia nas instituições de ensino e nos diferentes ambientes de aprendizagem, principalmente nas escolas que possuem grandes dificuldades de conseguir passar, não só os conteúdos, e sim fazê-lo de forma crítica e contextualizada, permitindo o aluno a participar do processo de ensino, tornando-o protagonista na construção do conhecimento geográfico. Torna-se difícil concretizar o processo de ensino da forma como é defendida: na proposta de um professor pesquisador. Devido a diversos fatores que muitas vezes fogem ao controle do professor que envolve a estrutura escolar e as condições de ensino: a infraestrutura, falta de material pedagógico adequado, o não acesso a internet de forma estável, os baixos salários entre outros.

O estágio para os professores em formação é uma oportunidade de termos contato com os sujeitos alunos e o palco da nossa profissão que podermos nos familiarizar com os acontecimentos mais corriqueiros e desafiadores que são constantes na profissão de professor. A ideia que o estágio é uma oportunidade de o aluno colocar em prática o que vê na teoria já não é mais adequada, uma vez que a prática não é dissociada da teoria, pois as situações ocorridas na sala de aula muitas vezes não estão previstas nas teorias da educação, já que cada aluno é um ser único e com vivências diferentes, devemos então encarar de uma forma diferente. O estagiário como um sujeito ativo, como um pesquisador, não deve tentar no estágio aprender técnicas instrumentalizadas e nem imitar fórmulas para passar conteúdos, que num primeiro momento se mostram eficientes, mas sim buscar as melhores formas de tornar o ensino para o aluno algo significativo, o que o professor pesquisador defendido aqui como o profissional mais adequado para atuar na educação atual baseado no construtivismo.

2. Metodologia

A presente pesquisa tem como abordagem investigativa uma natureza qualitativa e explicativa, pois levam em consideração as relações sociais imbricadas no objeto da pesquisa que é o ensino da geografia como pesquisa, conduzidas por um professor estagiário, tendo como objeto de análise o ambiente escolar rico em manifestações sociais diversas com diferentes características a serem apreendidas, na qual dificilmente podem ser traduzidas em números, reconhecendo as contradições existentes nas escolas. A pesquisa deve proceder-se dentro do rigor científico e da abordagem qualitativa nas ciências humanas e sociais sendo a que melhor se adequa, pois para Gerhardt e Silveira (2009) “os pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa opõem-se ao pressuposto que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências, já que as ciências sociais têm sua especificidade, o que pressupõe uma metodologia própria”. Todos os fenômenos observados produzem diversas formas de analisar os resultados obtidos que favorecem a este tipo de abordagem.

O método é dedutivo, uma vez que reconhece a existência de relações sociais estruturais que influenciam todos os níveis de organização social existente, partindo do macro para o microssocial. E também como Shitsuka (2018) nos lembra de que esse método procura confirmar hipóteses, prevendo a ocorrência dos fenômenos. O tipo de pesquisa desenvolvida é uma Pesquisa bibliográfica e documental, já que se deu uma pesquisa dos principais autores que refletem sobre o ensino de geografia numa abordagem crítica e como sujeito pesquisador, como Straforini, (2004), Sato, (2007) e Pimenta; Lima e Lucena (2009).

3. Resultados e discussões

A geografia é uma ciência que incorre em considerado preconceito devido a sua epistemologia histórica voltada a servir como instrumento de dominação por parte dos países considerados desenvolvidos, contra os ditos subdesenvolvidos, como Moraes (2003) explica e também seu caráter conteudista e decorativa como finalidade primeira da ciência geográfica. Atividades e pesquisas que mostrem o caráter dialético da geografia são fundamentais para desmitificar tais estigmas, defendendo a geografia como uma ciência que busca fazer relações dos fenômenos que ocorrem no espaço geográfico inclusive e principalmente nas instituições de ensino.

A geografia tornou-se desinteressante para os alunos e muitas vezes sem um propósito claro, mesmo estando alinhadas as teorias dos métodos de investigação mais utilizadas no campo crítico, que é a geografia crítica baseada no Marxismo. Entretanto, o que provocou essa perda de interesse pela geografia? Para Straforini (2004) existem três motivos basilares: o modelo neoliberal que valoriza a meritocracia e a competividade que tem sua representação máxima no ensino do português e da matemática, ocasionando a desvalorização no próprio currículo escolar da carga horária destinada ao ensino de geografia; O segundo seria a perda da identidade da geografia ao entrar no campo do materialismo histórico dialético, o que era do domínio da sociologia e da filosofia, causando um estranhamento por parte dos professores e dos alunos de qual seria os objetivos de ensino; O terceiro seria a questão do método teórico, já que não houve uma concatenação do método da geografia crítica baseada no marxismo com a teoria pedagógica da educação denominada de construtivismo, na qual é a teoria da educação que melhor se adequa para o ensino de geografia e forma participativa e crítica.

O conhecimento sobre a estrutura escolar é de fundamental importância para a atuação do estagiário como professor pesquisador, pois “conhecer a organização do espaço escolar e as relações entre os sujeitos é uma necessidade, na medida em que a aula não é um acontecimento isolado de uma sala, mas está inserido no espaço social” (...) (Sato, 2007. p. 53). Revela-se aí a importância de uma infraestrutura adequada para o desenvolvimento do aluno como protagonista, já que problemas de infraestrutura influenciam na concentração dos mesmos.

O processo de ensino-aprendizagem dos conteúdos da geografia nas séries iniciais do ensino fundamental tem sofrido transformações e já se realiza de maneira mais próxima daquilo que estudiosos da área consideram adequado, mas que ainda se materializa de forma limitada, como Straforini (2004) define que o ensino da geografia tem se dado de forma fragmentada, pois não leva em consideração e de forma conjunta as bases da geografia e das teorias educacionais. Devemos ensinar o aluno partindo da realidade para a totalidade do fenômeno que tendem a constantes transformações sócio-espaciais, pois são dinâmicos e quando não fazemos uma abordagem integrada e preocupada com essas transformações, caímos na armadilha do ensino se tornar vazio de significado.

Para Mosé (2013) a forma de ensino baseada na educação bancária que tem a concepção do aluno como um indivíduo sem nenhuma contribuição a oferecer não deve ser reproduzido na escola e sim uma educação conjunta não fragmentada, buscando, além de oferecer educação a todos, promover o desenvolvimento de cidadãos capazes e sagazes para o debate, o raciocínio, o questionamento de verdades absolutas, principalmente em tempos de descentralização da verdade, por meio da internet, como plataformas digitais de opinião. O estágio é a oportunidade de começarmos a colocar em prática a forma como compreendemos a ciência geográfica e as práticas de ensino mais adequada, pois:

Compreendemos que o estágio supervisionado é o lugar por excelência para trazermos à tona estas questões e aprofundar os nossos conhecimentos e discussões sobre elas. É o momento de revermos os nossos conceitos sobre o que é ser professor, para compreendermos o seu verdadeiro papel e o papel da escola na sociedade. O estágio não é a hora da prática! É a hora de começar a pensar na condição de professor na perspectiva de eterno aprendiz. É a hora de começar a vislumbrar a formação contínua, como elemento de realimentação dessa reflexão. (Lima, 2003. p.8).

A teoria e a prática, portanto estão continuadamente em um processo de ressignificação sempre uma inspirando a outra a se tornarem cada vez mais eficientes e mutualistas, ambas cada vez mais indissociáveis, atuando como uma verdadeira práxis.

A renovação no ensino da geografia segundo Pontusckha; Paganelli e Cacete (2007) teve início no movimento de renovação curricular dos anos 80 visando, entre outras coisas, a melhoria da qualidade de ensino. O surgimento de uma nova escola para o século XXI é uma realidade que os gestores da educação e os políticos necessitam atentar para promover a modernização da educação, uma vez que a crescente influência da tecnologia nos jovens é perceptível e não devemos jamais imaginar, como Libâneo (2011) explica que a escola detém sozinha o monopólio do saber, sabemos que a educação ocorre em diversos espaços, sendo que a escola precisa se readequar a esse novo processo de ensino-aprendizagem. As metodologias ativas e métodos inovadores se mostram cada vez mais adequadas para um ensino significativo da geografia, como “a aprendizagem ativa é compatível com uma prática reflexiva, desde que sejam providas atividades que incluam oportunidades de reflexão, como algo que seja parte do próprio processo de aprendizagem ativa” (de Moraes, 2017, p. 81). Percebemos aí, que uma prática sem reflexão não é suficiente para que os objetivos da aula sejam alcançados de forma crítica e reflexiva.

O estágio sempre teve como conceito histórico, sendo a parte prática dos cursos de formação para professores e para as faculdades das universidades, principalmente dos cursos e licenciatura, mas hoje se sabe que o estágio é compreendido como um campo de conhecimento da educação, tendo uma base epistemológica consolidada. O estágio servia para os futuros docentes como a oportunidade de serem meros observadores, aprendendo a profissão pela imitação de modelos. Para Pimenta e Lima (2009) “em que pese à importância dessa forma de aprender, ela não é suficiente e apresenta alguns limites. Nem sempre o aluno dispõe de elementos para essa ponderação crítica“ (...). Problemas com esse método de imitação de modelos e a decoração de fórmulas para saber ensinar surgem na formação de professores. O estágio deve, portanto, ser entendido por outro viés, como sendo compreendido como teoria e prática e não a equivocada noção de apenas a prática baseada naquilo que foi visto em sala e aula. O estágio deve ser desenvolvido como pesquisa, por meio de projetos, pois conseguem dessa forma analisar de forma crítica e problematizar as situações que observam, devendo buscar novos conhecimentos na relação entre os problemas existentes e a realidade encontrada na escola (Ibidem, 2009). A pesquisa tornando o estagiário através de sua vivência e tentar modificá-la, nem que em pequena escala, a realidade local, na qual o pesquisador estagiário atua.

4. Considerações finais

O ensino da geografia passa por um processo de perca de identidade e diversos são os desafios que estão imbricados nessa relação dicotômica existente entre: passar os conteúdos necessários de forma que os alunos participem do processo e também permita o desenvolvimento de um pensamento crítico, questionador. Os desafios são ainda maiores quando o responsável pela mediação dos conteúdos e dos conflitos entre os alunos são profissionais em formação, como o estagiário.

A geografia é uma ciência que era tratada como um saber fragmentado, não havia uma visão totalizante dos saberes geográficos e o método positivista estava impregnado no processo de ensino-aprendizagem, o que torna-se urgente a efetiva implementação da geografia crítica, baseado no marxismo, promovendo o pensamento crítico questionador e o construtivismo sendo o método de aprendizagem, na qual o aluno é protagonista. Sabe-se que esse profissional tem responsabilidades bem relevantes e não deve mais assumir o papel de simples observador.

O estagiário pode desenvolver um papel de um professor pesquisador, que busca desenvolver projetos na escola, fazendo pesquisas sobre o ambiente escolar, as deficiências e possíveis soluções, analisando os melhores processos de metodologia de ensino, atuando como um curador de conteúdos, filtrando os assuntos mais relevantes e com fontes confiáveis. A pesquisa tem importância acadêmica, já que irá contribuir para o processo de ensino-aprendizagem da geografia de forma crítica conjugada com o construtivismo, que é o caminho teórico-metodológico que julgamos adequado para uma consistente formação dos alunos dentro da sociedade moderna. Contribui também para o meio social, pois os sujeitos da pesquisa em formação, os alunos, em sua maioria são das classes sócias menos favorecidas e se de alguma forma pudermos modificar um pouco a percepção dos alunos quanto ao ensino da geografia, nossa pesquisa terá obtido êxito e, além disso, a ciência geográfica é uma ciência que tem relevância em geral contribuindo com a educação crítica e a formação dos alunos, pesquisas como esta tem valor pessoal, pois o espaço escolar faz parte do cotidiano da minha rotina de trabalho e poder modificá-la minimamente para torna a aprendizagem mais produtiva e significativa tem um valor importante.

Referências

Libâneo, José Carlos. (2011). Adeus professor, adeus professora?: novas exigências educacionais e profissão docente. São Paulo: Cortez, (p.9-54).

Lima, Maria Socorro. (2003). Métodos de pesquisa Lucena. et al. A hora da prática: reflexões sobre o estágio supervisionado e a ação docente. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha,

Gerhardt, Tatiana Engel; Silveira, Denise Tolfo. (2009). Método de pesquisa. Porto alegre: editora: Plageder.

Pereira, A. S., Shitsuka, D. M., Parreira, F. J., & Shitsuka, R. (2018). Metodologia da pesquisa científica. Brasil. 1. Ed. – Santa Maria, RS: UFSM, NTE.

Pimenta, Selma Garrido & Lima, M.Socorro Lucena. (2009). Estágio: diferentes concepções. In: Estágio e Docência. São Paulo: Cortez, (p. 23-57).

de Moraes, J. V. (2017). O papel das metodologias ativas no processo de alfabetização científica em geografia. Percursos de Formação Docente e Práticas na Educação Básica, 80. Belo Horizonte: IGC.

Moraes, A. C. R. (2003). Geografia: pequena história crítica. Editora: Annablume.

Mosé, Viviane. (2013). A escola e a fragmentação da vida. In: A escola e os desafios contemporâneos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,. p.47-52.

Pontusckha, N. N.; Paganelli, T.I.; Cacete, N. H. (2007). Para ensinar e aprender Geografia. São Paulo: Cortez.

Sato, E. C. M.; Fornel, S. R. (2007). Conhecimento do espaço escolar. In: PASSINI, E.Y. Prática de ensino e estágio supervisionado. São Paulo: Contexto, p.52-57.

Straforini, Rafael. (2004). Crise na Geografia escolar. In. Ensinar geografia: o desafio da totalidade do mundo na séries iniciais. Annablumme, p. 47-73.

Porcentagem de contribuição de cada autor no manuscrito

Aldayr de Oliveira Monteiro – 25%

Sandro César Silveira Jucá – 15%

Solonildo Almeida da Silva – 15%

Luciana Braga de Oliveira Freire – 15%

Patrícia Ribeiro Feitosa Lima – 15%

Paulo César da Silva Rocha – 15%

Quanto os desafios de abordagem e a formação do professor de Geografia?

A dificuldade encontrada em passar os conteúdos de geografia de forma mais clara e interessante no ensino fundamental e médio, especialmente nas escolas públicas, tem sido atribuída a alguns aspectos que precisamos superar, entre eles a deficiência da formação ou desatualização dos professores, falta de material ...

Qual a importância do ensino de Geografia para a formação do professor?

O ensino de geografia deve permitir que o aluno se aproprie dos conhecimentos geográficos de modo a entendê-los, questioná-los e empregá-los como instrumento do pensamento, necessita vir acompanhado de saberes cotidianos, partindo daí um olhar crítico para fazer relação entre o espaço geográfico e o lugar pesquisado.

Quais são os principais desafios para o ensino de Geografia nos anos iniciais do ensino fundamental?

O ensino de geografia tem sido marcado por intensos debates, no processo de aprendizagem, no entanto vale ressaltar uma dessas principais dificuldades, a falta de recursos suficientes para trabalhar a geografia no ensino fundamental, a metodologia voltada as novas tecnologias e a qualificação do Profissional para atuar ...

Qual é o papel do professor de Geografia na formação do aluno para a sociedade?

O papel do Geógrafo-educador é de despertar nos alunos a importância dos aspectos sociais, de forma que o mesmo não fique limitado aos conhecimentos geográficos, pelo contrário, que use os mesmos para ampliar sua percepção acerca do mundo que o cerca. Um dos principais objetos de estudo da Geografia é o território.