Voc� sabe o que � um pergaminho? Trata-se de uma pele animal, geralmente de cabra, preparada para que sobre ela se possa escrever. A Declara��o de Independ�ncia dos Estados Unidos, debatida e assinada durante o Congresso Continental instalado na cidade da Philadelphia, em 1776, foi escrita sobre um pergaminho. Show A fragilidade deste suporte levou os americanos a criarem diversos mecanismos e t�cnicas para proteger esse documento fundador da na��o. At� o in�cio do s�culo XX, o documento foi guardado no Departamento de Estado, em Washington, de onde saiu poucas vezes e era mantido longe dos olhos do p�blico. Em 1921, a Declara��o foi transferida para a Biblioteca do Congresso, tamb�m em Washington, onde foi constru�da uma balaustrada de m�rmore e ouro para que o documento pudesse ser exposto aos visitantes. Ap�s o ataque � Pearl Harbor, em 1941 , os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra Mundial e a preocupa��o com a preserva��o de seu documento-s�mbolo aumentou. Acondicionada em um container protegido por agentes do servi�o secreto, a Declara��o foi levada para a zona militar de Fort Knox, no estado do Kentucky. Com o fim da guerra, o documento voltou para Washington e nos anos 50 foi finalmente depositado nos Arquivos Nacionais, onde permanece exposto � visita��o at� hoje. Os originais da Declara��o de Independ�ncia (1776), da Constitui��o (1788) e da Carta de Direitos (que s�o as emendas constitucionais propostas em 1789) contam atualmente com as mais modernas tecnologias de preserva��o desenvolvidas por laborat�rios de pesquisa espacial. S�o expostos em molduras de bronze e containers de vidro � prova de balas e protegidos com g�s h�lio, para evitar os danos causados pela umidade e pelo oxig�nio. � noite, os documentos originais s�o guardados em uma c�mara que pesa 55 toneladas. Como t�o bem notado pela historiadora Mary Junqueira, a rever�ncia e o car�ter sagrado que os norte-americanos atribuem ao original da Declara��o de Independ�ncia �mostram a import�ncia do evento e a simbologia do texto para essa cultura�. Nesta oficina, gostar�amos de discutir evento da Independ�ncia a partir do contexto de lutas e conflitos entre as col�nias e a metr�pole inglesa, que culminou na eclos�o da guerra e da independ�ncia americana. � A l�gica da rebeli�o Te�ricos brit�nicos da �poca moderna argumentavam que o �Imp�rio ingl�s� funcionava como uma esp�cie de protetorado, formado por empreendimentos coloniais largamente privados, em contraste com as conquistas ib�ricas e francesas, que lhes pareciam ser mais diretamente reguladas pelas metr�poles. A Inglaterra propiciaria, assim, inicialmente, maiores possibilidades de autogoverno para seus colonos. � not�vel, desde a fixa��o dos primeiros colonos ingleses na Am�rica, a presen�a de uma genu�na preocupa��o com a quest�o da representa��o pol�tica. O Estado ingl�s podia at� estar ausente ou distante, mas a organiza��o das c�maras destinadas a regular a vida social e pol�tica era considerada uma tarefa priorit�ria dos colonos. A participa��o pol�tica intensamente requisitada pelos colonos livres nos diferentes assentamentos estava fortemente ligada � cultura pol�tica parlamentar inglesa, em que uma monarquia de fato deveria governar com o Parlamento, este sim detentor por direito dos poderes do Estado. Se considerarmos a maioria dos ingleses livres que ent�o migravam para a Am�rica, � razo�vel supor que faziam esfor�os para construir um sistema legal e representativo capaz de preservar as propriedades que pretendiam obter, bem como as liberdades de suas comunidades. Como afirma o historiador Jack Greene, os colonos ingleses se inspiravam fortemente nas institui��es e sistemas legais de sua terra natal, mas contavam, na Am�rica, com um benef�cio criado pela pr�pria coloniza��o. Na Europa, apenas uma pequena fra��o da popula��o masculina escapava da condi��o de depend�ncia econ�mica e social. A maioria dos homens n�o possu�a, portanto, os requisitos de propriedade e renda que garantiam o direito de voto. Nas col�nias da Am�rica, entretanto, essa situa��o se alterava em fun��o da disponibilidade de terras e das oportunidades para adquirir recursos materiais que ampliassem as possibilidades de participa��o pol�tica. Afinal, a Coroa inglesa oferecia t�tulos de terra a uma variedade de pessoas envolvidas na coloniza��o: comerciantes, idealistas religiosos, aventureiros e pessoas da nobreza, entre outros, potencializando assim o direito de participa��o pol�tica. Por volta da d�cada de 1660, entretanto, observa-se um maior empenho do poder central, a partir de Londres, na imposi��o de institui��es e leis especialmente criadas para o governo das col�nias americanas. Foi somente a partir da� que a autoridade central se fez sentir mais nitidamente nas col�nias. V�rias medidas foram adotadas para a amplia��o do controle pol�tico e financeiro dos colonos: as rela��es comerciais foram colocadas sob a tutela da C�mara de Com�rcio e Plantations; foram implementadas as primeiras tentativas de promover a expans�o da Igreja Anglicana oficial nas col�nias; os poderes dos governadores coloniais indicados pelo rei foram ampliados, entre outras medidas. Ao mesmo tempo, ainda de acordo com Jack Greene, assistia-se a um refor�o das institui��es representativas locais nas treze col�nias. Entre os anos de 1620 e 1660, todas as col�nias inglesas com popula��o substancial nas Am�ricas adotaram assembleias eletivas, empenhadas em garantir que leis e impostos n�o fossem criados sem seu consentimento. O sistema representativo em sua forma colonial consolidava-se com algumas particularidades quando comparado � Inglaterra. L�, o sistema parlamentar se assentava em uma organiza��o bicameral, que contava com uma C�mara dos Lordes (formada pelos aristocratas) e uma C�mara baixa, eleita nos v�rios condados ingleses e ent�o composta principalmente por propriet�rios rurais. Na Am�rica, cada col�nia contava com um governador e seu conselho, e as assembleias eram formadas por apenas uma c�mara, com representantes eleitos. Na pr�tica, as assembleias coloniais gozavam de grande autonomia. Mesmo quando a Inglaterra tomou medidas para ampliar o controle sobre as col�nias, a tradi��o do governo consensual, baseada nas assembleias locais, seguiu sendo muito importante. Na experi�ncia pol�tica das treze col�nias, o governo consensual significava governo representativo. Assim, os colonos, em geral, consideravam que suas assembleias deviam ser ao menos ouvidas quando novas leis eram criadas pelo Parlamento ingl�s. Tamb�m valorizavam, principalmente a partir de meados do s�culo XVIII, o direito de protestar contra leis impostas pela metr�pole que considerassem abusivas. O povo teria, ent�o, o direito de se rebelar contra uma autoridade que julgava injusta? De acordo com a l�gica da rebeli�o formulada nas treze col�nias, sim. Esta l�gica deve muito � pr�pria tradi��o pol�tica inglesa, inspirada pela no��o de um Estado de base contratual. As ideias do fil�sofo John Locke (1632-1704), parte relevante do repert�rio pol�tico da Inglaterra moderna, propunham a exist�ncia de um contrato imagin�rio entre o Estado e o povo. O objetivo deste contrato era garantir os direitos naturais dos homens, entre os quais se destacava a conserva��o da liberdade e da propriedade. Na vis�o do fil�sofo ingl�s, o povo poderia, se amea�ado, defender esses direitos atrav�s da rebeli�o. Se o Estado n�o cumprisse sua parte no contrato, portanto, a revolta seria leg�tima. Era o que afirmava Locke no Segundo Tratado sobre o governo, publicado em 1690: O objetivo do governo � o bem dos homens. E o que � melhor para eles? Ficar o povo exposto sempre � vontade ilimitada da tirania, ou os governantes terem algumas vezes de sofrer oposi��o quando exorbitem no uso do poder e o empreguem para a destrui��o e n�o para a preserva��o das propriedades do povo? Na d�cada de 1760, os sinais de abuso em rela��o �s tradicionais liberdades dos colonos mobilizaram muitos propriet�rios, pol�ticos e populares em torno do argumento da rebeli�o. O historiador Bernard Baylin, examinando os tra�os da cultura pol�tica colonial expressos nos panfletos que circulavam nas col�nias nesse per�odo, notou uma recorrente refer�ncia � quest�o da �distribui��o do poder�. Dizia-se, nas treze col�nias, que o Parlamento ingl�s, em tese independente da Coroa, estava sendo manipulado pelo monarca e por seus ministros, que tentavam impor suas vontades atrav�s da compra de votos. Al�m disso, os ministros do rei eram acusados de oferecer cargos na Am�rica aos dependentes dos parlamentares, ampliando o c�rculo da corrup��o. Ainda de acordo com B. Baylin, disseminava-se nas col�nias a ideia de que a Inglaterra estava se tornando um reino cada vez mais corrupto. As virtudes pol�ticas brit�nicas eram, igualmente, consideradas cada vez mais fracas. Tais den�ncias eram progressivamente vistas como amea�as �s institui��es, leis e costumes dos colonos, refor�ando a ideia de que as autoridades inglesas estavam agindo contra os interesses deles. Esta no��o estava diretamente ligada a eventos da segunda metade do s�culo XVIII, quando o envolvimento dos colonos nas guerras europeias travadas em frentes de batalha americanas tornavam particularmente evidentes os custos de ser parte de um Imp�rio. A Guerra dos Sete Anos, vencida pelos ingleses em 1763, era lembrada por gerar altos custos locais, uma vez que os colonos foram chamados a cooperar com a manuten��o das tropas e sentiram-se prejudicados pelos acordos de paz firmados pela Inglaterra. Al�m disso, a pol�tica fiscal inglesa para com as col�nias alterou-se muito ap�s a Guerra dos Sete Anos. Os conflitos entre os interesses da Coroa e dos colonos ficaram ainda mais evidentes nos anos seguintes, quando a Inglaterra tentou implementar uma s�rie de leis destinadas a aumentar a arrecada��o de impostos nas col�nias. A Lei do A��car (1764), a Lei do Selo (1765), as Leis Townshend (1767), entre outras medidas fiscais de semelhante teor, motivaram in�meros protestos dos colonos. Com base na ideia de que a �taxa��o sem representa��o� era ilegal, crescia entre os colonos a convic��o de que a metr�pole estava abusando de seus poderes. A historiografia sobre a independ�ncia americana oferece muitas descri��es sobre as rea��es coloniais �s leis fiscais impostas pelos ingleses. Uma dessas rea��es merece uma aten��o particular, especialmente pelo simbolismo presente no protesto. A famosa Boston Tea Party, ou Festa do Ch� de Boston, de 1773, foi organizada pelo l�der radical Samuel Adams em protesto ao monop�lio do ch� concedido � Companhia das �ndias Orientais. Essa medida obrigava os colonos a comprarem ch� apenas da Companhia e gerou um boicote colonial. O ch� passou a ser devolvido � Inglaterra, em vez de ser posto � venda. V�rios protestos coloniais daquela �poca contaram com a participa��o de organiza��es secretas constitu�das principalmente por artes�os e pequenos comerciantes. A mais famosa dessas organiza��es era a Sons of Liberty (Filhos da Liberdade), protagonista da Festa do Ch�. Na noite de 16 de dezembro de 1773, os filhos da liberdade, vestidos como guerreiros ind�genas, embarcaram em navios brit�nicos ancorados no porto de Boston e despejaram a carga de ch� ao mar. Um dado interessante nesse acontecimento est� na vestimenta ind�gena escolhida pelos colonos para a a��o, indicativa da insatisfa��o com os desmandos de Londres. Ora, os colonos em protesto vestiram-se como os �ndios mohawks, um temido grupo guerreiro, reputado pela bravura em combate. Se os colonos, com essa a��o, informavam � metr�pole sobre a disposi��o de resistir aos abusos, a Coroa n�o deixou, tamb�m, de se manifestar. O rei, Jorge III, escreveu as seguintes palavras quando recebeu as not�cias da Boston Tea Party: �A sorte est� lan�ada. Ou as col�nias se submetem, ou triunfam�. At� que ponto tais medidas seriam toler�veis? O primeiro Congresso Continental reuniu representantes de todas as col�nias (exceto da Georgia), em 1774, na cidade da Philadelphia. Os representantes das doze col�nias presentes no Congresso declararam-se unidos pela preserva��o de suas leis e liberdades atrav�s de �medidas pac�ficas�, reafirmando lealdade ao rei e ao Parlamento, desde que os abusos cessassem. No entanto, a presen�a de tropas brit�nicas acabou levando a confrontos entre as for�as inglesas e os colonos, ao mesmo tempo em que se disseminava o clima de conspira��o. Ainda assim, os s�ditos que demonstravam seu descontentamento deste lado do Atl�ntico moviam-se cautelosamente em dire��o � luta. Afinal, havia um enorme receio quanto ao futuro ap�s uma eventual ruptura. Quais seriam as consequ�ncias internas de uma luta pela liberdade pol�tica? Que forma de governo seria adotada? Parte dos colonos estava deixando de se sentir como ingleses no Novo Mundo, e este sentimento, certamente, era algo novo. Um dos panfletos mais famosos da literatura pol�tica da Independ�ncia, o Senso Comum, permite recuperar o clima imprevis�vel vivido naquele momento. Seu autor foi o ingl�s Thomas Paine, que vivia na Philadelphia desde 1774 e era descrito pelos contempor�neos como radical e ousado. Publicado pela primeira vez em janeiro de 1776, o panfleto (n�o assinado) disseminou-se pelas treze col�nias com grande velocidade, sistematizando argumentos relativos � Inglaterra como reino corrupto e decadente. Ele ressaltava a ideia de n�o haver vantagens, para as col�nias, em sua liga��o com a Inglaterra: O sangue dos assassinados, a voz lastimosa da natureza grita � tempo de separar-se. A pr�pria dist�ncia a que o Todo poderoso colocou a Inglaterra da Am�rica constitui prova forte e natural de que a autoridade de uma sobre a outra jamais foi des�gnio do c�u. Para Thomas Paine, apenas a independ�ncia pol�tica e a cria��o de uma nova forma de governo seriam capazes de manter a paz do continente e preserv�-lo de guerras civis. Notava, ainda, que a verdadeira causa de �medo� no tocante � Independ�ncia era a inexist�ncia de um plano de governo. Por esta raz�o, ele dedicou parte do panfleto para propor um sistema de governo representativo baseado em um Congresso Continental, respons�vel por eleger, atrav�s de seus delegados, um �nico presidente. As inclina��es fortemente republicanas de Thomas Paine devem ter sido recebidas com certo temor naquele contexto. O receio quanto ao novo despertava desconfian�as em rela��o � ruptura, ao mesmo tempo em que a den�ncia da corrup��o e dos abusos da metr�pole faziam pensar em formas alternativas de governo e soberania, como aquelas propostas por Thomas Paine. Os argumentos em prol da emancipa��o foram finalmente vitoriosos nos debates e vota��es realizados pelo Congresso Continental no primeiro semestre de 1776. O tom desses debates pode ser recuperado atrav�s das palavras do veemente Richard Henry Lee, delegado da Virg�nia que prop�s a seguinte mo��o ao Congresso, em junho de 1776: Que estas col�nias unidas sejam, e por direito devem ser, Estados livres e independentes, e que sejam liberadas de toda e qualquer fidelidade � Coroa brit�nica, e que todas as conex�es pol�ticas entre estas e o estado da Gr�-Bretanha sejam totalmente dissolvidas. � Equipe Larissa Viana Janille Campos ( Janille, monitora de Hist�ria da Am�rica na Universidde Federal Fluminense, em 2012, colaborou com a sele��o e identifica��o da imagem utilizada nesta oficina) Quem ocupou as Treze Colônias?As treze colônias foram formadas entre o século XVII e o século XVIII pelos peregrinos ingleses puritanos, também chamados de “pais peregrinos”.
Quem ocupou as colônias inglesas na América?O processo de colonização inglesa nas Américas começou tardiamente, na comparação com os espanhóis e portugueses. A exploração colonial iniciou-se por pequenos povoados que formaram, posteriormente, as 13 colônias na costa leste da região hoje ocupada pelos Estados Unidos.
Por que os colonos se revoltaram contra o Reino Unido?Revoltados, os colonos não aceitaram as imposições adotadas pela Coroa Inglesa. Nesse clima de insatisfação e revolta entre os colonos, surgiram os ideais libertários influenciados pelos pensadores iluministas. Conscientes de sua força, recusaram-se a pagar as taxas e fizeram vista grossa aos produtos taxados.
O que foi a opressão britânica nas treze colônias?As rixas com o governo britânico levaram à Revolução Americana, na qual as colônias colaboraram na formação do Congresso Continental. Os colonos travaram a Guerra Revolucionária Americana (1775-1783) com a ajuda do Reino da França e, em um grau muito menor, da República Holandesa e do Império Espanhol.
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