Qual a importância de Shakespeare para a literatura inglesa?

Érica Montenegro

Porque sua obra alterou o rumo da literatura mundial. Harold Bloom, famoso crítico americano e autor do livro Shakespeare: A Invenção do Humano, diz que o dramaturgo inglês entendia a alma humana como nenhum outro autor jamais entendeu.

A razão para isso podem ter sido as circunstâncias em que escreveu sua obra. No século 16, Shakespeare era muito popular e encenava suas peças para todo tipo de pessoas. Nobres, letrados, prostitutas, gatunos e artesãos lotavam os teatros em busca de diversão. Entreter esse público, nada ordeiro ou silencioso, não era tarefa fácil e o jeito que Shakespeare encontrou foi representar no palco personagens com quem todos ali pudessem se identificar. “Os grandes gênios são espelhos nos quais os leitores acabam encontrando a si próprios”, escreveu Bloom.

Shakespeare escreveu os maiores clássicos do teatro e criou uma galeria de personagens que fascinam a humanidade mesmo séculos após sua morte. “Todos os produtos culturais feitos depois de Shakespeare recorrem a tipos imaginados por ele”, diz Peter James Harris, professor de Literatura Inglesa da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp).

Como Bloom e Harris, a maior parte dos críticos literários da atualidade concordam que continuamos vivendo sob o impacto das obras do bardo inglês. Chamá-lo de gênio, portanto, é fazer-lhe justiça.

Tipos inesquecíveis

Quem são os personagens eternizados na obra de William Shakespeare

A peça: Romeu e Julieta

Trama: Filhos de famílias inimigas, Romeu e Julieta se apaixonam, mas são proibidos de viver o amor. Para não ter de casar com outro, Julieta decide seguir um plano que pode mudar sua sorte: ela fingiria o suicídio tomando um líquido que altera os sentidos. Romeu seria avisado e resgataria a jovem do túmulo. Os planos dão errado e os dois jovens escolhem a morte a viver separados de seu amor

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A peça: Otelo

Trama: O mouro Otelo torna-se general e tem Iago como uma espécie de escudeiro. A lealdade dele, no entanto, dura até o dia em que é preterido numa promoção. A missão de Iago passa então a ser a derrocada do chefe. Fazendo-se de amigo conselheiro ele induz Otelo a pensar que sua esposa, Desdêmona, o trai. Otelo acaba consumido pelo ciúme doentio e joga por terra tudo que conquistara com honra e determinação implacáveis

A peça: Rei Lear

Trama: Rei Lear vivia muito bem até que pede a suas filhas que lhe façam declarações de amor para provar que merecem a herança. As duas mais velhas são hábeis em recitar belas palavras. Cordélia, a caçula, não sabe como expressar seu sincero apreço pelo soberano e é deserdada. As outras irmãs, que agora dividem o reino, passam a desrespeitar o pai. Sem a coroa, rei Lear percebe o quanto a majestade pode ser transitória

A peça: Hamlet

Trama: O príncipe da Dinamarca vive feliz, bajulado pelos amigos e pelas damas da corte. Quando recebe a visita do fantasma de seu pai, morto poucos dias antes, descobre que o tio – agora casado com sua mãe e dono do trono – é o assassino. A traição o deixa atormentado e Hamlet passa a questionar o valor da vida

A peça: Macbeth

Trama: Macbeth está prestes a receber uma promoção quando três bruxas aparecem e lhe despertam o desejo da traição. Elas garantem que Macbeth pode se tornar rei. A notícia alegra a esposa do nobre, que decide armar para que a profecia se cumpra. Ela induz o marido a assassinar o rei e assumir o trono. Mas os rastros de sangue agitam o reino, produzem inimigos para o novo soberano e, por fim, o conduzem à sua ruína

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Por que Shakespeare é considerado um gênio?

Érica Montenegro Porque sua obra alterou o rumo da literatura mundial. Harold Bloom, famoso crítico americano e autor do livro Shakespeare: A Invenção do Humano, diz que o dramaturgo inglês entendia a alma humana como nenhum outro autor jamais entendeu. A razão para isso podem ter sido as circunstâncias em que escreveu sua obra. No […]

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Qual a importância de Shakespeare para a literatura inglesa?

Prof. Nelson Viana

Há 450 anos nascia William Shakespeare, consagrado e influente nome da literatura mundial, autor de quase 40 peças, mais de 150 sonetos e dois poemas narrativos, tornando-se o maior dramaturgo de todos os tempos. Shakespeare continua moderno e, principalmente, suas peças influenciam diversas vertentes culturais, além de significantes análises e pesquisas em relação às obras deixadas pelo mestre do teatro.

Diante do vasto processo criativo, suas obras marcantes são Hamlet, Romeu & Julieta, Otelo, Rei Lear, Macbeth e A Tempestade. Suas peças foram traduzidas em todo mundo e encenadas em diversos países, permanecendo, mesmo quatro séculos e meio depois, atuais.

O professor do Departamento de Letras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Nelson Viana, atua no ensino de literaturas inglesa e norte-americana e concedeu uma entrevista para o Livre Opinião sobre o poeta e dramaturgo inglês. Para Nelson, que trabalha as obras de Shakespeare no ambiente acadêmico, “É um grande desafio ensinar, porque não consegue ensinar tudo o que quer sobre ele, pois é impossível fazer isso. Não dá para aprender tudo de Shakespeare. Shakespeare é um desenvolvimento que você faz ao longo de vários anos de estudos e continua sempre”.

O professor comentou sobre a importância de Shakespeare no processo criativo de seus personagens: “A grandeza da obra de Shakespeare e o seu alcance são certamente consequências da qualidade do seu trabalho, envolvendo a forma, a poesia dos seus textos, mas principalmente a densidade psicológica dos personagens”. Ele falou da influência dos textos de Shakespeare na sociedade contemporânea: “Muito dos dizeres da peça de Shakespeare são citações importantes no inglês contemporâneo, as frases são tão marcantes  e profundas que elas deixaram alguma coisa no contexto da peça, passando a significar muito mais em vários outros contextos contemporâneos”. Confira a seguir a entrevista na íntegra.

Qual a importância de Shakespeare para a literatura inglesa?

William Shakespeare

Livre Opinião: Para você, como é ensinar Shakespeare na universidade?

Nelson Viana: É difícil ensinar Shakespeare, porque é vasto. Por mais que a gente tente, temos aqui no curso um semestre para estudar Literatura da Era Medieval ao Romantismo, nesta disciplina está incluída as obras de Shakespeare, sendo uma boa parte de análise dos textos dele, em termos de conteúdo que é abrangido pela disciplina. Mas é muito pouco. Digo para os meus alunos: se a gente tivesse um semestre, dois ou três não serão suficientes para tratar de Shakespeare. Então, o que se consegue em um semestre é, na verdade, uma amostra de Shakespeare, mas é uma amostra muito significativa e desperta nos alunos a buscar e perceber que Shakespeare é infinito. Não tem como você trabalhar tudo de Shakespeare, porque são mais de trinta peças, sonetos compõem grande parte da obra dele, embora sejam menos difundidos que as peças. As peças são famosas como Hamlet, Romeu e Julieta, Rei Lear, Macbeth, no entanto, a difusão das peças dele são muito mais amplas do que os sonetos, mas os sonetos são igualmente profundos e importantes.

Agora, trabalhar Shakespeare em um semestre é tentar mostrar uma perspectiva das comédias – da fase inicial -, outra perspectiva boa são as tragédias e finalizando com a parte final de Shakespeare, abordando pelo menos “A Tempestade”, que é vista por muitos como uma tragicomédia. “A Tempestade” é entendida por alguns especialistas da área como a peça em que fecharia a obra de Shakespeare, tanto que no final tem Próspero se despedindo, como personagem, mas muitos entendem que seria uma despedida do próprio Shakespeare. As palavras de Próspero – Prospero’s speech – naquele final significaria a despedida de Shakespeare.

No entanto, nesta grandiosidade é impossível abordar Shakespeare em um semestre. É um grande desafio ensinar, porque não se consegue ensinar tudo o que quer sobre ele, é impossível fazer isso. Não dá para aprender tudo de Shakespeare. Shakespeare é um desenvolvimento que você faz ao longo de vários anos de estudos e continua sempre. A especialista no Brasil de Shakespeare, Barbara Heliodora, que trabalhou sobre muitas peças, fazendo traduções, ela própria deve aceitar que ainda está aprendendo muito sobre Shakespeare. Harold Bloom é outro especialista que tem uma leitura e estudos muito aprofundados sobre Shakespeare, principalmente na obra “Shakespeare – A invenção do Humano”, em que o próprio título já revela a grandiosidade de Shakespeare. Então, Bloom também é alguém que está  aprendendo, lendo, experimentando e vivenciando Shakespeare continuamente.

Resumidamente, como foi chegar a Shakespeare que o fez seguir para a carreira profissional, na maneira de ensinar Shakespeare?

De maneira geral foi no interesse em Literatura e depois pela formação em Letras-Inglês. Tive muitos cursos bons na área de literatura inglesa, focalizando Shakespeare. Acho que foi da demanda, a necessidade de ter alguém que trabalhasse com as obras dele, principalmente no Departamento de Letras da UFSCar. No entanto, esta não é a minha área de estudos da pós-graduação, a minha área na verdade é o Ensino de Línguas Estrangeiras.

Ensinar Shakespeare foi por gostar muito de Literatura e pelo envolvimento. Quanto mais me envolvia com as obras de Shakespeare algo a ensinar se vai aprendendo e, ao aprender, se envolve cada vez mais com Shakespeare, no sentido de buscar entender ele melhor, descobrindo essa grandiosidade dele e isso é o movimento sequencial. Shakespeare foi isso para mim.

Hoje em dia aparecem discussões da área s foi ele mesmo que escreveu suas obras, de quem foi essa influência e se na verdade ele teve alguma influência. Eu já pretendo pensar Shakespeare como uma entidade sagrada. Não interessa muito verificar detalhes se alguém escreveu por ele. Na verdade, Shakespeare a gente vê como uma entidade grandiosa que deve ser estudada para que se entenda a própria vida melhor.

São 450 anos de Shakespeare, a seu ver como foram as adaptações de suas peças e como é o Shakespeare na atualidade?

As adaptações são inúmeras, no cinema, desenho animado, seriados, ou seja, em várias mídias. Além disso, têm releituras dos textos de Shakespeare no próprio teatro. Muitas peças de Shakespeare são encenadas em uma perspectiva contemporânea. Ás vezes boas, outras nem tanto. Porque os textos originais são tão bons que as montagens clássicas ainda são certamente mais bem vistas. Há sempre algum arranjo novo que vale a pena, mas as encenações clássicas continuam sendo as melhores.

Agora, o cinema se aproveitou muito de Shakespeare, existem adaptações em vários países. Você vê muito Shakespeare no cinema japonês, em novelas brasileiras, por exemplo, em “O Cravo e a Rosa” que é uma adaptação de “A Megera Domada”. No entanto, no cinema americano e britânico existem muitas adaptações, a BBC filma montagens e são consumidas, no bom sentido, como encenações excelentes. Não há dúvida de que existem muitas adaptações que favorecem o uso das peças em diversas mídias.

Um dos legados de Shakespeare é o seu texto universal, como você vê a importância de Shakespeare fora do ambiente acadêmico?

Na disciplina, um dos objetivos é mostrar que Shakespeare diz nas peças faz parte da própria cultura de países de língua inglesa. No entanto, muito dos dizeres da peça de Shakespeare são citações importantes no inglês contemporâneo, as frases são tão marcantes  e profundas que elas deixaram de ser de alguma coisa no contexto da peça passando a significar muito mais em vários outros contextos. Encontramos seus enredos em contextos políticos, por exemplo, na Dinamarca sempre que se tem algum podre na política é utilizado o contexto das peças de Shakespeare. Ou seja, está tirando dali algo que ele quis dizer na peça.

A grandeza da obra de Shakespeare e o seu alcance são certamente consequências da qualidade do seu trabalho, envolvendo a forma, a poesia dos seus textos, mas principalmente a densidade psicológica dos personagens. Não podemos deixar de mencionar a densidade psicológica dos personagens, pois é essa complexidade que revela a natureza humana (e em nós).

Entrevista: Jorge Filholini e Vinicius de Andrade.

 

Qual foi a importância de Shakespeare para a literatura inglesa?

Amplamente considerado como o maior dramaturgo do idioma inglês, e do mundo pré-eminente dramático, Shakespeare transformou o teatro inglês e provavelmente as visões teatrais pelo planeta, alargando as expectativas e os limites sobre o que poderia ser conseguido através da caracterização, da história, da língua e dos ...

Porque William Shakespeare é importante nos dias de hoje?

Shakespeare é importante para nós, porque nós podemos articular novos sentidos para nossa própria experiência hoje, a partir de seus textos, ele nos ajuda a compreender melhor aquilo que vivenciamos hoje. É por isso que é maravilhoso voltar aos textos dele 450 anos depois.

Por que Shakespeare é considerado um gênio da literatura?

Porque sua obra alterou o rumo da literatura mundial. Harold Bloom, famoso crítico americano e autor do livro Shakespeare: A Invenção do Humano, diz que o dramaturgo inglês entendia a alma humana como nenhum outro autor jamais entendeu.

Por que Shakespeare revolucionou o teatro a linguagem e a literatura?

Ele inovou na linguagem ao introduzir palavras novas na língua inglesa, adaptar palavras de dialetos locais e usar várias formas da linguagem popular. Shakespeare usava um vocabulário muito vasto. Naquele tempo, a língua inglesa ainda estava em formação e contava com cerca de 150 mil palavras.