Que medidas econômicas marcaram o governo de Vargas Quais eram seus objetivos

O segundo governo de Getúlio Vargas estendeu-se de 1951 até 1954, ano de sua morte. Foi caracterizado por uma política econômica que priorizou o nacional-desenvolvimentismo. Isso foi o motivo que causou uma grande crise política em seu governo – além da insatisfação da população com o aumento do custo de vida. O término do segundo governo ocorreu de maneira trágica, com o suicídio do presidente em 24 de agosto de 1954.

Eleição presidencial de 1950

Após ser deposto do cargo de presidente em 1945, Getúlio Vargas apoiou a candidatura de Eurico Gaspar Dutra a partir de novembro de 1945 e, pouco tempo depois (dezembro de 1946), rompeu apoio com Dutra e partiu para articulação política como parte dos planejamentos para seu retorno para o cargo de presidente do Brasil.

A partir daí, Vargas costurou sua base política, garantindo o apoio de Ademar de Barros, um importante político paulista que tinha grande capacidade de obter o voto popular. Ademar de Barros era o líder do Partido Social Progressista (PSP). Como parte dessa aliança, Vargas lançou Café Filho, filiado do PSP, ao cargo de vice-presidente. Vargas também se aliou com políticos da UDN e tratou de conseguir o apoio de parte do PSD.

Em seu discurso, Getúlio Vargas manteve a sua posição como defensor do direito dos trabalhadores e afirmou que priorizaria também o desenvolvimento do país e a promoção do bem-estar da população, combatendo, principalmente, a inflação. Sobre a candidatura de Vargas para a eleição de 1950, as historiadoras Lilia Schwarcz e Heloisa Starling afirmam que:

[…] sua candidatura não se apresentou identificada com um único partido e sim como uma fórmula suprapartidária que combinava novas e velhas lideranças políticas regionais, e misturava os empresários interessados nos benefícios da industrialização com a força eleitoral dos operários, dos trabalhadores e dos setores de baixa classe média, em expansão nas grandes cidade|1|.

Os adversários de Getúlio Vargas na eleição de 1950 foram, pelo PSD, Cristiano Machado, e, pela UDN, o Brigadeiro Eduardo Gomes. No entanto, ambas as candidaturas não tiveram a força suficiente para derrotar Getúlio Vargas. No caso de Cristiano Machado, isso aconteceu porque o seu próprio partido abandonou sua candidatura e deu apoio em peso para a candidatura de Vargas.

Já o brigadeiro Eduardo Gomes, que já estava sensivelmente enfraquecido pela derrota na eleição de 1945, cometeu um deslize durante o discurso. Em junho de 1950, ele afirmou que era a favor da extinção da lei do salário-mínimo – o que, naturalmente, era visto como absurdo entre as classes trabalhadoras.

O resultado final da eleição de 1950 determinou a vitória de Getúlio Vargas com 48,7% dos votos, totalizando quase 4 milhões de votos contra 29,7% de Eduardo Gomes e 21,5% de Cristiano Machado. A candidatura e a vitória de Getúlio Vargas enfureceram a UDN, notório partido conservador e antigetulista da época. A postura da UDN nos anos seguintes pode ser entendida a partir da fala de um de seus maiores representantes, o jornalista Carlos Lacerda:

“O senhor Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar”|2|.

Iniciavam-se aqui os anos de forte crise política que caracterizaram o segundo governo de Getúlio Vargas.

Segundo governo de Vargas

Um forte debate sobre o desenvolvimento do Brasil dividiu o país ao longo da década de 1950 entre aqueles que defendiam uma postura que priorizasse o desenvolvimento do país a partir de empresas e capital nacional e com grande intervenção do Estado na economia (nacional-desenvolvimentismo) e aqueles que defendiam a priorização do capital e empresas estrangeiras com predominância do livre mercado.

No caso de Getúlio Vargas, desde a sua campanha eleitoral, o seu discurso defendia uma maior priorização para a opção nacionalista do desenvolvimentismo. Essa postura de Vargas refletiu-se em duas importantes áreas da economia brasileira: a exploração do petróleo e a produção de energia elétrica.

No caso do petróleo, surgiu durante o segundo governo de Vargas a Campanha do Petróleo, na qual se defendia que a exploração do petróleo brasileiro deveria ser realizada por empresas nacionais. Essa campanha teve adesão de diferentes grupos da sociedade brasileira sob o lema de “o petróleo é nosso”. Essa campanha resultou na criação da Petrobras a partir de 1953, que passou a ser a detentora do monopólio de exploração do petróleo no Brasil a partir de 1954.

No caso da energia elétrica, o projeto do governo de Vargas de criar uma empresa estatal não teve o mesmo sucesso, e a criação da Eletrobras só aconteceu em 1962. Ambos projetos de criação de empresas estatais desagradaram profundamente à UDN, defensora ardorosa de que o desenvolvimento econômico e industrial do Brasil deveria acontecer a partir de capital estrangeiro e sem a interferência do Estado.

Esse projeto político-econômico de Vargas, portanto, entrou em choque com o interesse de grupos internos que estavam alinhados com o capital internacional, tais como da Standard Oil, Light and Power Co. e American & Foreign Power Co. Além disso, havia muito grupos econômicos poderosos do Brasil que não viam com bons olhos a postura interventora do Estado nos assuntos da economia.

A UDN, durante todo o segundo governo de Vargas, manteve-se atuante na oposição às propostas do governo varguista. Sua atuação ganhou repercussão à medida que a população se tornava mais insatisfeita com o aumento no custo de vida. A insatisfação popular reforçou-se especialmente a partir de 1953, quando manifestações populares de grande repercussão aconteceram.

Primeiramente, pode ser destacada a Marcha das Panelas Vazias, quando cerca de 60 mil pessoas manifestaram-se na cidade de São Paulo. Pouco tempo depois, houve a Greve dos 300 mil, quando cinco sindicatos convocaram uma greve que paralisou trabalhadores em São Paulo durante quase um mês. A mobilização dos trabalhadores chamou a atenção do governo, que, em resposta, nomeou João Goulart para o posto de Ministro do Trabalho.

A nomeação de Jango, como era conhecido João Goulart, foi estratégica, pois ele tinha uma boa relação com os trabalhadores e com as lideranças sindicais. A atuação de Jango no Ministério do Trabalho logo acalmou o ânimo dos movimentos trabalhistas, no entanto, por outro lado, acirrou o dos opositores de Vargas.

A nomeação de Jango fez com que a oposição udenista acusasse o governo de Getúlio Vargas de querer implantar uma “República sindicalista” no Brasil (espécie de ditadura dos trabalhadores), uma vez que João Goulart era visto pelos conservadores como um comunista. A denúncia da oposição, naturalmente, era falsa, pois não havia sombra disso no governo varguista.

A permanência de João Goulart no Ministério do Trabalho foi curta – oito meses. Além de controlar os ânimos dos trabalhadores, Jango propôs algo que foi polêmico na época: aumento de 100% no salário-mínimo dos trabalhadores. A proposta de Jango era uma forma de compensar o desgaste na renda do trabalhador causado pela inflação.

A proposta de aumento do salário-mínimo em 100% enfureceu diferentes grupos do Brasil, como representantes das elites econômicas, membros da UDN, além do exército brasileiro. A insatisfação do exército com a medida foi tamanha que 82 coronéis e tenentes-coronéis publicaram o “Manifesto dos Coronéis” em fevereiro de 1954, tecendo duras críticas ao governo e à medida de aumento salarial.

A postura dos coronéis é vista pelos historiadores como uma demonstração de insubordinação clara da corporação, que já manifestava uma tendência para o golpismo. É importante lembrar que muitos dos coronéis envolvidos com o manifesto de 1954 envolveram-se com o golpe que deu início à Ditadura civil-militar em 1964.

Como forma de contornar a situação, Getúlio Vargas tomou medidas para agradar aos diferentes lados: para acalmar a oposição, demitiu Jango; para acalmar a população, ratificou o aumento salarial; para manter o exército sob controle, substituiu o posto de Ministro do Trabalho nomeando Zenóbio da Costa.

Fim do governo de Vargas

Apesar da forte crise política, a oposição não tinha força suficiente para derrubar Vargas. Carlos Lacerda usava o seu jornal (Tribuna da Imprensa) para denunciar diariamente os atos de corrupção do governo, sendo as denúncias verdadeiras ou não. Uma tentativa de impeachment foi realizada e fracassou.

Vargas estava acuado, mas se sustentava de alguma forma. No entanto, o dia 5 de agosto de 1954 trouxe o elemento que a oposição precisava: o Atentado da Rua Tonelero. Nesse dia, foi realizado um ato contra a vida de Carlos Lacerda, maior opositor de Vargas. Lacerda sobreviveu, contudo, seu guarda-costas, o major da Aeronáutica Rubens Vaz, morreu.

A morte do major da Aeronáutica enfureceu as forças armadas brasileiras, que atropelaram o processo da Justiça e a Constituição e abriram um inquérito por conta própria para investigar a morte de Rubens Vaz. Carlos Lacerda engrossou o coro acusando Vargas como mandante do crime. As investigações realizadas chegaram ao nome do mandante do crime: Gregório Fortunato, chefe de segurança do palácio presidencial.

A partir daí, novas investigações foram feitas e descobriram atos de corrupção praticados por membros do governo. Apesar disso, as investigações nunca conseguiram incriminar diretamente o presidente. De qualquer forma, o exército deu um ultimato e passou a exigir a renúncia do presidente. Vargas, isolado politicamente, optou por cometer um ato extremo: na manhã de 24 de agosto de 1954, atirou contra o próprio peito.

Deixou uma carta-testamento acusando seus opositores e colocando-se como mártir da nação. A comoção popular foi imediata, e os relatos contam que as pessoas saíram às ruas para chorar a morte de Vargas. Inconformada, a população passou a atacar os opositores de Vargas, jornais, sedes da UDN etc. Carlos Lacerda precisou fugir às pressas do país. A sucessão presidencial foi realizada pelo vice, Café Filho, e a UDN saiu enfraquecida.

|1| SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 400-401.
|2| Idem, p. 401.

Aproveite para conferir as nossas videoaulas relacionadas ao assunto:

Qual era o objetivo de Vargas sobre a economia?

Nessa fase, a política econômica de Vargas concentrou-se em combater os efeitos da Crise de 1929 no Brasil. Para isso, agiu comprando milhares de sacas de café e incendiando-as como forma de valorizar o principal produto da nossa economia.

Quais as principais medidas econômicas do governo Vargas?

Na área econômica, o governo Vargas incentivou a produção cafeeira para superar as consequências da crise econômica de 1929. Criou, em 1931, o Conselho Nacional do Café, que adotou como política a compra e estocagem da produção para poder controlar os preços.

Qual era o objetivo do governo de Vargas?

A ideia de Vargas era, a princípio, reformar todo o modelo político brasileiro, pois temia que as oligarquias tradicionais retomassem o poder, caso fossem convocadas novas eleições de imediato. Sendo assim, uma das marcas do governo de Vargas, já manifestada no Governo Provisório, foram as medidas centralizadoras.

Quais foram as primeiras medidas do governo Vargas?

As primeiras medidas do governo provisório foram: o fechamento do Congresso e do Senado, a suspensão da Constituição de 1891 e a destituição dos antigos presidentes de províncias (governadores). Também foram criados o Ministério da Educação e Saúde, bem como o Ministério do Trabalho, da Indústria e do Comércio.